domingo, 17 de agosto de 2025

A cerca de Vicente Vieira


Vicente Batista Vieira, pai do Padre Vieira “do jumento”, não o dos "Sermões", tinha uma fazenda no sítio Extrema, em Várzea Alegre. Seu vizinho, Antônio Rodrigues, fez queixa ao delegado e se intrigou com o velho Vicente, acusando-o de ter erguido uma cerca invadindo um metro de sua terra. A questão foi parar na Justiça.

Antônio contratou um advogado do Crato, já Vicente mandou recado a Joaquim de Figueiredo Correia (então vice-governador) e a Dário Batista Moreno (promotor público), ambos parentes próximos e advogados, para que fossem a Várzea Alegre se inteirar do caso. Na viagem, Dário disse a Figueiredo: “Figueiredo, você, que é mais próximo de Tio Vicente, assuma a condução da conversa. Eu ficarei ouvindo e dando apoio moral.”

Assim combinado, assim feito. Ao chegarem à casa da calçada alta, na Extrema, cumprimentaram o patriarca e, sentados em confortáveis cadeiras de balanço, Figueiredo pediu que ele contasse a história. Vicente Vieira despejou um rosário de críticas a Antônio Rodrigues e, por fim, admitiu ter avançado “um pouco” com a cerca que dividia os terrenos. Nesse momento, Figueiredo o interrompeu: “Tio Vicente, me desculpe, mas o senhor não tem razão.” E o velho retrucou: “Eu sei! Se eu tivesse razão, num precisava de vocês, não!”

Consta que a pendenga (e a respectiva intriga) durou mais de dez anos. Não sei como terminou, porque meu informante só contou até aí e se houver alguma inconsistência no “causo”, a culpa é dele.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O “tirador de figo”

A imagem foi extraída do "Blog do Quincuncá" - https://blogdequincunca.blogspot.com/

Quando criança, em Várzea Alegre, eu temia duas figuras igualmente assustadoras para a minha imaginação: o “tirador de figo” e os comunistas. O primeiro era uma lenda urbana repetida pelos mais velhos, segundo a qual um homem sequestrava crianças para extrair-lhes o fígado, história que, provavelmente, muitos da minha geração ainda recordam. Já os comunistas eram descritos como monstros que “comiam criancinhas”, imagem grotesca que alimentava um medo difuso.

Com o tempo, descobri duas verdades: o “tirador de figo” jamais existiu, e os comunistas não devoravam crianças. O primeiro temor desvaneceu-se por completo, relegado ao mundo das histórias inventadas para amedrontar os pequenos. O segundo, porém, persistiu de outra forma. Se não cometiam a barbárie que lhes atribuíam na infância, eram capazes de algo igualmente terrível: submeter nações inteiras a regimes opressivos, transformando a vida de milhões em um sofrimento prolongado e real.

Leia meu artigo: "Quer entender o que é o comunismo? Venha a Praga. Fale com quem viveu." - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2025/04/quer-entender-o-que-e-o-comunismo-venha.html

terça-feira, 12 de agosto de 2025

The New York Times lista acusações contra Moraes


Poderíamos classificar os principais jornais do planeta, pela ordem de importância e abrangência dos assuntos, como segue:

1. The New York Times – abrangência e influência política/cultural.
2. The Wall Street Journal – influência decisiva em economia e negócios.
3. Financial Times – foco global em economia e política internacional.
4. The Washington Post – forte influência política e investigativa.
5. The Economist (revista, mas com peso de jornal) – análises globais de impacto.

O jornal norte-americano The New York Times publicou uma reportagem que coloca o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no centro de um debate que vai além das fronteiras brasileiras, envolvendo também interesses comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

A matéria, intitulada “O Brasil manteve rígido controle sobre grandes empresas de tecnologia. As tarifas de Trump podem mudar isso”, afirma que Moraes teria adotado medidas como prisões sem julgamento, bloqueio de veículos de imprensa e remoção de contas em redes sociais. O texto ainda destaca que o ministro está atualmente impedido de entrar em território norte-americano.

O jornal insere essas acusações no contexto da crescente tensão entre autoridades brasileiras e gigantes da tecnologia, como Google e Meta, que passaram a intensificar reuniões com ministros do STF e outras lideranças políticas. Essas conversas giram em torno da regulação das plataformas digitais, liberdade de expressão e uso de inteligência artificial, especialmente após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA.

Defensor de uma postura mais rígida contra o que classifica como desinformação e ataques à democracia, Moraes tem tomado decisões diretas para impor bloqueios de contas e retirada de conteúdos considerados “antidemocráticos”, sem aprovação prévia do Legislativo. Críticos afirmam que essas ações carecem de transparência e violam garantias legais, o que, segundo o New York Times, contribuiu para o agravamento das tensões diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos.

O STF decidiu em junho que empresas de tecnologia podem ser responsabilizadas por publicações que envolvam discurso de ódio e atentados à democracia, devendo ainda monitorar conteúdo patrocinado e impedir a circulação de postagens nocivas. Essas regras aguardam definição sobre quando e como serão aplicadas, enquanto as plataformas alegam insegurança jurídica e contestam a responsabilização por material publicado por terceiros.

Link para a matéria original ===> https://www.nytimes.com/2025/08/11/world/americas/brazil-big-tech-trump-tariffs.html?searchResultPosition=5

Se você vota num cara desse...

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

WSJ - The Wall Street Journal


Considerando a influência jornalística global, o Wall Street Journal (WSJ) certamente está no topo da lista, geralmente classificado entre os três jornais mais influentes do mundo, junto com o New York Times e o Financial Times.

É referência absoluta para mercados, investimentos e negócios. Sua análise econômica influencia desde CEOs até formuladores de políticas públicas.

Governos, grandes empresas, bancos centrais e investidores internacionais usam o WSJ como fonte diária. Apesar de ser um jornal americano, tem assinantes e correspondentes em todos os continentes. Uma manchete no WSJ pode mexer com bolsas de valores e moedas no mesmo dia.

Poderíamos classificar os principais jornais do planeta, pela ordem de importância e abrangência dos assuntos, como segue:

1. The New York Times – abrangência e influência política/cultural.
2. The Wall Street Journal – influência decisiva em economia e negócios.
3. Financial Times – foco global em economia e política internacional.
4. The Washington Post – forte influência política e investigativa.
5. The Economist (revista, mas com peso de jornal) – análises globais de impacto.

Em tempo: a cobertura jornalística da edição de notícias é geralmente considerada centrista, com um foco forte em reportagens factuais sobre economia, finanças e negócios, sendo percebida como confiável e equilibrada por leitores de diferentes espectros políticos.

sábado, 9 de agosto de 2025

O Universo conspira...


No dia 21 de agosto de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão que, para muitos, soou como um retrocesso em matéria de transparência e imparcialidade no Judiciário. Por 7 votos a 4, a Corte decidiu que juízes podem julgar processos em que uma das partes seja cliente de escritório de advocacia de seus parentes ou cônjuges.

A deliberação derrubou uma regra do Código de Processo Civil que proibia tal atuação, considerando-a inconstitucional. Na prática, foi alterado o entendimento anterior sobre o impedimento de magistrados em casos dessa natureza. A norma invalidada impedia que um juiz julgasse um processo envolvendo cliente de escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente até o terceiro grau, mesmo que a causa fosse conduzida por outro escritório.

É difícil ignorar que a medida pode beneficiar diretamente ministros do próprio STF, cujos familiares atuam como advogados. Para o cidadão comum, fica evidente o risco de conflitos de interesse e favorecimentos. Na minha visão de leigo, já seria difícil imaginar um colegiado indo mais longe para aprovar algo que, em tese, pode favorecê-lo. Mas não precisei esperar muito para ver algo ainda mais peculiar.

Em abril de 2020, no auge da pandemia, o Consórcio Nordeste anunciou a compra de 300 respiradores para hospitais da região, ao custo de R$ 48 milhões. A nota de empenho, assinada pelo ex-ministro Carlos Gabas, atestava que os equipamentos haviam sido entregues “em perfeitas condições”. O problema: eles nunca foram entregues.

O contrato, redigido pelos próprios vendedores, fato inusitado por si só, recebeu aval do então governador da Bahia, Rui Costa (PT), que presidia o consórcio. Na época, o grupo incluía:

Wellington Dias (Piauí)
Belivaldo Chagas (Sergipe)
Camilo Santana (Ceará)
Flávio Dino (Maranhão)
João Azevêdo (Paraíba)
Renan Filho (Alagoas)
Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte)
Paulo Câmara (Pernambuco)

Foi instaurado um inquérito sigiloso para investigar possíveis crimes na contratação direta de uma empresa supostamente sem qualificação técnica. O valor atualizado do contrato foi de R$ 49,5 milhões.

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que inicialmente assumiu o caso por haver autoridade com foro privilegiado, foram autorizadas medidas como quebra de sigilo bancário, telefônico e telemático, além de buscas e apreensões. A Polícia Federal, por sua vez, solicitou mais prazo para concluir o relatório final da Operação Ragnarok.

Com o avanço das investigações, o Ministério Público Federal (MPF) apontou que não havia mais autoridade com foro no STJ, o que retirava a competência daquela corte. O vice-presidente do STJ, ministro Og Fernandes, determinou então que o processo fosse remetido ao STF, para que este verificasse se algum dos investigados possuía foro que justificasse assumir o caso, conforme decidido na Questão de Ordem da APn 937.

Por se tratar de processo sigiloso, o número não foi divulgado. Mas veio então a reviravolta: após o “sorteio” interno no STF, o relator sorteado foi o ministro Flávio Dino. Sim, o mesmo Flávio Dino que, à época dos fatos investigados, era governador do Maranhão e membro efetivo do Consórcio Nordeste, justamente o órgão no centro do escândalo dos respiradores.

Para quem observa de fora, é inevitável enxergar ironia, ou muita coincidência, nesse enredo. Um caso de suposto desvio milionário, envolvendo governadores, acaba nas mãos de um ex-governador integrante do próprio grupo investigado.

Longe de mim duvidar da integridade e imparcialidade do Ministro Flávio Dino. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mestrado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atuou como advogado, foi juiz federal concursado na 1ª Região, deputado federal pelo Maranhão, diretor da Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), durante o governo Dilma Rousseff. É um indivíduo absolutamente preparado!

No primeiro caso, processos são julgados por juízes com pessoas próximas como parte interessada. Neste último, a própria parte interessada faz o julgamento. O Universo nos prega cada peça...

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Lá vai fumo!

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Trump ajuda na criação de empregos no Brasil


A APEX, órgão de promoção de exportações do governo federal, atualmente comandada pelo ex-governador do Acre e ex-senador petista Jorge Viana, anunciou a abertura de um novo escritório em Washington, D.C. A justificativa oficial? Estabelecer um canal de diálogo com o governo americano para tentar reduzir os impactos do tarifaço sobre os produtos brasileiros.

Quer que eu adivinhe o que vai realmente acontecer? Mais cabides de emprego e absolutamente nenhum resultado prático. E que Deus nos livre de um novo escândalo de corrupção.

Né por nada não, só pra saber mesmo: afinal, para que serve o Setor de Promoção Comercial da Embaixada do Brasil, chefiado por um Adido Comercial, diplomata treinado especificamente para tratar de comércio exterior?

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Paulo Souza brilhante!!!!


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Supremacia Econômica dos Estados Unidos



Ao longo das últimas décadas, a ascensão econômica da China tem sido retratada como uma ameaça direta à hegemonia dos Estados Unidos. No entanto, uma análise criteriosa de dados concretos — incluindo PIB, renda per capita, desigualdade social, inovação, poder empresarial e qualidade de vida — revela que os EUA continuam, com muita folga, como a principal potência econômica global.

1. Produto Interno Bruto (PIB)
País PIB Nominal (2024)
EUA US$ 28,7 trilhões
China US$ 17,8 trilhões

Em termos nominais reais e aceitos internacionalmente, os EUA possuem um PIB quase US$ 11 trilhões maior que o chinês.

2. PIB Per Capita: O Retrato da Prosperidade
País PIB per capita (nominal, 2024)
EUA US$ 85.000+
China US$ 12.700

A renda per capita americana é mais de 6 vezes maior que a chinesa, demonstrando um nível de riqueza, consumo e qualidade de vida incomparável. Um cidadão médio nos EUA é muito mais rico do que um chinês.

3. Desigualdade Social
Ambos os países têm desafios com desigualdade, mas de naturezas distintas:

EUA: Alta desigualdade, mas com uma rede social robusta e mobilidade social considerável.

China: Gigantesco abismo entre zonas urbanas e rurais, somado à ausência de um estado de bem-estar social verdadeiro e direitos trabalhistas frágeis.

Além disso, a China possui censura estatal, controle de natalidade e sistemas de crédito social, o que agrava a percepção de desigualdade institucionalizada.

4. As 10 Maiores Empresas do Mundo (2024)
Ranking Empresa País Valor de Mercado (US$ trilhões)
1 Apple 🇺🇸 EUA 3,4
2 Microsoft 🇺🇸 EUA 3,3
3 Saudi Aramco 🇸🇦 Arábia S. 2,1
4 Alphabet (Google) 🇺🇸 EUA 2,0
5 Amazon 🇺🇸 EUA 1,9
6 Nvidia 🇺🇸 EUA 1,8
7 Meta (Facebook) 🇺🇸 EUA 1,1
8 Berkshire Hathaway 🇺🇸 EUA 0,9
9 Tesla 🇺🇸 EUA 0,8
10 TSMC 🇹🇼 Taiwan 0,7

8 das 10 maiores empresas do mundo são americanas. Nenhuma empresa chinesa figura no top 10 em valor de mercado, apesar do esforço estatal.

5. Inovação, Tecnologia e P&D
Os EUA lideram globalmente em:

Publicações científicas de impacto
Patentes registradas
Gastos privados em P&D
Startups e venture capital
As Big Techs americanas controlam o mundo digital: Google, Apple, Microsoft, Amazon, Meta, Nvidia e OpenAI.

A China depende fortemente de transferência de tecnologia e engenharia reversa, com inovação frágil e ainda fortemente centralizada pelo Partido Comunista.

6. Soft Power e Qualidade de Vida
Os EUA influenciam globalmente com:

Cultura pop
Universidades de ponta (8 das 10 melhores do mundo)
Liberdade de expressão
Atração de imigrantes talentosos

A China é vista com desconfiança em muitos países por:

Censura
Violação de direitos humanos (Tibete, Xinjiang)
Apoio a regimes autoritários

7. Energia, Moeda e Segurança
O dólar é a moeda de reserva global (≈ 60% das reservas mundiais), enquanto o yuan representa menos de 3%.

Os EUA são exportadores líquidos de energia desde 2019 (graças ao shale gas), enquanto a China é altamente dependente de importações.

Conclusão: Supremacia Estrutural
A China pode crescer mais rapidamente, mas está longe de igualar os EUA em prosperidade, inovação, liberdade e influência global. A supremacia americana não se baseia apenas em números absolutos, mas em instituições, cultura, tecnologia, e capacidade de adaptação.

A diferença entre um país rico e um país emergente não está apenas no PIB. Está na liberdade de inovar, criar, errar — e crescer com isso.

sábado, 2 de agosto de 2025

"Missão dada, missão cumprida!"

Não combinaram com os russos


Havia quase uma unanimidade entre jornalistas e analistas políticos: o confronto comercial com os Estados Unidos, protagonizado pelo governo brasileiro, seria o ponto de inflexão na curva descendente de aprovação do presidente Lula. Munido da bandeira simbólica da "defesa da soberania nacional", provavelmente articulada por seu marqueteiro Sidônio Palmeira, hoje elevado à posição de Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, o embate tarifário parecia ter chegado em hora perfeita, como um presente do destino para reposicionar Lula no tabuleiro político.

A estratégia era clara: desgastar a oposição, atribuindo-lhe a responsabilidade pelo tarifaço, e, em simultâneo, fortalecer a imagem de um Lula firme, defensor intransigente dos interesses do país. Tudo alinhado. Mas, como diria Garrincha na célebre anedota do futebol: “só esqueceram de combinar com os russos”. No caso, com o povo brasileiro.

Na virada de julho para agosto, o Datafolha divulgou uma nova pesquisa de opinião pública, realizada presencialmente com 2.004 eleitores em 130 cidades nos dias 29 e 30 de julho. Era o auge da disputa tarifária com os EUA, e o momento parecia ideal para uma virada positiva nos índices de popularidade do presidente. A expectativa era de substancial melhora.

Contudo, para surpresa quase geral entre observadores da cena política, os números permaneceram absolutamente inalterados. A avaliação negativa do governo Lula segue em 40%, e a positiva continua restrita a 29%. Nenhum avanço, nenhum recuo — um impasse congelado, em plena ebulição política.

Há uma única explicação plausível para essa estagnação: a sucessão incessante de denúncias de corrupção, que semanalmente explodem nas redes sociais. Mesmo com o esforço de parte da imprensa tradicional para minimizar ou omitir, os brasileiros têm acesso irrestrito à informação. E o que antes podia ser abafado com manchetes convenientes, hoje se espalha como fogo em roça de capim seco.

Difícil apagar da memória popular o escândalo do "Aposentão", esquema de fraudes bilionárias no INSS que atingiu milhões de aposentados e pensionistas, sem punições até o momento e sem recuperação dos valores desviados. Soma-se a isso o fato amplamente conhecido de que José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente, ocupa posição de destaque em uma das associações investigadas por facilitação de acesso indevido aos sistemas de desconto dos beneficiários.

Outros casos se avolumam: o orçamento secreto que favoreceu prefeituras aliadas com emendas sem transparência, acompanhado de alegações de superfaturamento em ambulâncias e tratores; as extravagantes viagens do presidente e da primeira-dama; o uso abusivo dos jatos da Força Aérea Brasileira; e a gastança obscura nos cartões corporativos da Presidência, que consumiram mais de R$ 55 milhões entre 2023 e abril de 2025, 99,55% desse valor mantido sob sigilo, bloqueando qualquer fiscalização efetiva.

Ainda que o IBGE insista em publicar, mês após mês, dados econômicos supostamente promissores, de credibilidade cada vez mais contestada, a população segue atenta. Sejam pelas redes, pelas conversas nas ruas, ou pelo impacto direto nas gôndolas dos supermercados, a percepção é outra: o país não está bem. E ninguém mais consegue esconder isso.

O desgaste político parece irreversível. Ainda que o governo siga institucionalmente em funcionamento, sua legitimidade perante a população sofre corrosão contínua. O cenário é de descrença generalizada, e arrisca-se dizer que, independente dos eventos que ainda virão, o governo Lula 3 chegou ao fim e de forma melancólica.

Que Deus tenha piedade do povo brasileiro!

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O fenômeno Bukele


Em 31 de julho de 2025, a Assembleia Legislativa de El Salvador, aprovou e ratificou uma reforma constitucional que autoriza a reeleição presidencial indefinida e estende o mandato presidencial de cinco para seis anos. A votação contou com 57 votos favoráveis e apenas 3 contrários A mudança também elimina o segundo turno eleitoral e sincroniza as eleições presidenciais, legislativas e municipais para 2027, encurtando o mandato atual, originalmente previsto para terminar em 2029. Vale destacar que Bukele já havia conseguido uma reeleição em 2024, com aproximadamente 84,65% dos votos, graças a uma decisão judicial de 2021 que permitiu a candidatura imediata, uma reversão da proibição anterior.

Apesar das críticas por autoritarismo, Bukele continua sendo considerado um fenômeno político. Segundo pesquisa conduzida pela TResearch em maio de 2025, 90,1% dos salvadorenhos aprovam sua gestão, com mais de 85% afirmando que o país está no caminho certo sob sua liderança. Outras sondagens também apontam índices de aprovação consistentemente entre 90% e 92%.

A reforma altera artigos fundamentais da Constituição para eliminar o impedimento à reeleição e consolidar o poder no Executivo. Ao mesmo tempo, a supressão do segundo turno eleitoral favorece candidatos com forte base majoritária, como é o caso do incumbente.

Enquanto isso, organizações de direitos humanos como Human Rights Watch e Cristosal, denunciaram a medida como um passo decisivo rumo ao autoritarismo institucionalizado.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Entre Sanções e Simbolismos


Vamos aos fatos, com a sobriedade que o tema exige e a clareza que ele permite. As recentes ações adotadas pelo Governo dos Estados Unidos em relação ao Brasil, especialmente no que diz respeito à imposição de sanções e restrições a determinadas autoridades, estão longe de configurar uma política de hostilidade aberta ou de “terra arrasada”, como alguns tentam alardear. Trata-se, antes, de um recado firme, simbólico e estrategicamente calibrado.

De um lado, há o desapreço claro pela atual condução da política externa brasileira, que parece cada vez mais desalinhada com os valores tradicionais do Ocidente. De outro, uma preocupação objetiva com práticas internas que violam princípios fundamentais, como o respeito aos direitos humanos, à liberdade de expressão e ao devido processo legal. Nesse sentido, as medidas aplicadas miram tanto a conduta institucional quanto determinados protagonistas do cenário nacional.

A mais visível entre elas e que gerou maior repercussão, foi a imposição de uma tarifa de 50% sobre cerca de 4.000 produtos exportados pelo Brasil aos EUA. A princípio, o número parece alarmante. Mas uma análise mais detida revela que há uma lista de exceções com aproximadamente 700 itens, que representam cerca de 40% do valor total exportado. Ou seja, a retaliação é parcial e seletiva, com margem suficiente para não ferir de morte setores estratégicos do comércio bilateral.

Outro ponto que causou estardalhaço foi a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, medida que implica basicamente em sanções econômicas e restrições de entrada em território norte-americano. Embora grave em termos diplomáticos, o efeito prático é limitado. Moraes, ao que tudo indica, não depende de investimentos ou contas nos Estados Unidos. Além disso, a principal provedora de recursos da família é sua esposa, a brilhante advogada Viviane Barci de Moraes, por meio de seu ativo e bem-sucedido escritório de advocacia. Em outras palavras, não se prevê abalo significativo no padrão de vida da família.

Talvez a medida mais sensível, especialmente no campo do imaginário político e pessoal, seja a proibição de entrada nos EUA de autoridades brasileiras envolvidas em ações antidemocráticas ou em abusos de poder. Para alguns membros da elite institucional, que nutrem relação estreita com destinos como Miami, Nova York e, quem sabe, com Mickey e Pateta, essa limitação territorial soa quase como um exílio forçado do seu playground preferido.

Em síntese, as ações norte-americanas representam menos uma ofensiva econômica devastadora e mais um gesto diplomático com carga simbólica robusta. O Brasil não está sob cerco, mas foi claramente advertido. O alerta está dado: há um limite para o descolamento das práticas democráticas em nome de narrativas internas. O mundo, ainda que cale em público, observa. E, como agora se vê, responde.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Veja 10 vezes em que Lula criticou Trump antes da taxação de 50% por parte dos EUA

domingo, 27 de julho de 2025

Top Momentos em que a Cara de Pau foi Elevada à Categoria de Arte



Sabe aquele momento em que tudo desmorona, o mundo inteiro enxerga o óbvio… e a pessoa aparece com um discurso como se estivesse servindo chá às cinco da tarde em Londres? Pois é. Eis a seleção definitiva dos atos mais épicos de desfaçatez da história e terceirização da culpa. Prepare-se para a ginástica facial de negação da realidade.

Hitler culpando os judeus pela derrota da Alemanha (1930s–40s)
Mesmo após a Primeira Guerra, a hiperinflação, o colapso econômico e a própria ambição expansionista da Alemanha nazista, Hitler afirmava:
“A culpa de tudo são os judeus, os marxistas e os banqueiros internacionais.”
Enquanto preparava o extermínio em massa, Hitler afirmava estar apenas "limpando a nação das forças que a sabotaram". Inverteu completamente a lógica dos fatos e convenceu milhões.

Cristina Kirchner culpando o “grupo Clarín” e o FMI pela crise argentina (2011–2015)
A economia da Argentina afundava com inflação galopante, estatísticas falsificadas e escassez de dólares. Cristina então:
“A mídia hegemônica e os abutres internacionais sabotaram nossa economia.”
Enquanto escondia índices reais de inflação e controlava o câmbio com mão de ferro, dizia que os culpados eram o FMI, o Clarín e um “complô neoliberal internacional”.

Nicolás Maduro culpando “a direita golpista” pelo apagão de 2019 na Venezuela
90% do país ficou às escuras, hospitais sem energia, pessoas morrendo por falta de atendimento. Maduro culpou:
“Um ataque eletromagnético promovido pelos EUA e sabotagem da direita fascista.”
A infraestrutura elétrica estava completamente sucateada, mas ele sugeria uma versão de ficção científica.

Dilma Rousseff culpando a “crise internacional” e a oposição por recessão e impeachment (2015–2016)
O Brasil mergulhava numa recessão recorde (-3,5% do PIB), contas públicas deterioradas, desemprego em alta.
“A crise vem de fora. E as pautas-bomba da oposição sabotam a governabilidade.”
O colapso foi construído por anos de populismo fiscal, pedaladas e intervencionismo. Mas no discurso, era culpa dos “golpistas” e da “mídia golpista”.

Sérgio Cabral culpando “um sistema” pela própria corrupção
Preso por mais de 400 anos por corrupção, lavagem e organização criminosa, disse em delação:
“Fui tragado por um sistema viciado que já existia.”
Ele era o chefão do esquema, mas pintava a si mesmo como uma vítima do meio, tipo um inocente de terno em um filme noir.

Sempre que você vir alguém dizendo “a culpa não é minha” em rede nacional, cheque se:
— Ele estava no comando.
— Tudo ao redor está pegando fogo.
— O "culpado" está fora e não tem cargo nenhum.
Se as três forem verdadeiras, parabéns: você acaba de testemunhar um novo marco da desfaçatez institucional.

O País dos Incapazes?


O País dos Incapazes?
Por Fernando Schuler


“Cheguei às 23h e dormi na calçada”, diz a moça, resignada. A fila era na frente de um sindicato na área de logística, em uma dessas zonas duras de São Paulo. Gente com cadeiras de praia, outros sem nada, encostados por ali, pedindo para ir ao banheiro em alguma loja nos arredores. O motivo? Escrever uma cartinha dizendo que não quer pagar ao sindicato. A “contribuição assistencial”, cuja lógica foi extinta na reforma trabalhista, mas ressurgiu das cinzas, dois anos atrás. Não sei se pelo país de Getúlio ou pela retórica malandra da “importância dos sindicatos”. Ou as duas coisas. A reforma votada pelo Congresso extinguiu; nosso STF foi lá e reinventou. Na prática, recriou um imposto sindical disfarçado. Em vez de o sindicato ter que obter a autorização do trabalhador, virou o contrário. É o trabalhador que tem que dizer que não quer pagar. E daí aquela fila, a complicação. O truque de ganhar no cansaço daquelas pessoas, que, apesar de tudo, não parecem dispostas a desistir.

A lógica é banal. A ideia de que o trabalhador não tem, lá no fundo, capacidade para decidir por conta própria se quer ou não contribuir para seu sindicato. E por isso precisam do Estado dando um empurrão. O caso me ficou na cabeça. A síntese quase perfeita do problema brasileiro. A indiferença retórica dos “de cima”, em Brasília; a fila na madrugada dos “de baixo”, em algum canto de São Paulo. Na essência, nossa velha e recorrente ideia da hipossuficiência dos cidadãos. Com um toque de ativismo judicial. O Supremo que vai lá e muda o que o Congresso decidiu na reforma. Isso é nosso vezo patrimonialista: a mão amiga do Estado protegendo a corporação sindical. Nos livros, lemos que isso vem do Estado Novo. Mas é só prestar atenção para ver que está mais vivo do que nunca. Está no debate infinito sobre a “pejotização”, porque não temos maturidade para definir contratos de trabalho; no “voto obrigatório”, porque não sabemos se devemos ou não votar; no “fundão eleitoral”, já que somos incapazes de decidir se doamos ou não para partidos e candidatos.

Ainda agora se discute, pela enésima vez, a liberação dos cassinos. Desde 1946, dizem que por obra de Dona Santinha, mulher do presidente Dutra, somos proibidos de jogar em um cassino, dada nossa ancestral incapacidade de manter o controle. Nesse caso, com uma ponta de cinismo, visto que apostamos em bets, o tempo inteiro, e no bicho, a cada esquina do Rio. Mas no mundo paralelo de Brasília a religião da hipossuficiência segue intacta. Vale o mesmo para o FGTS. Ainda agora vivemos a experiência curiosíssima de o governo autorizar que você utilize seu dinheiro, trancado pelo próprio governo em uma conta na Caixa, como garantia para que você tome um empréstimo nos bancos a um juro médio de 3,75% ao mês. A pergunta óbvia: por que não permitir simplesmente que as pessoas usem os 10% ou mais de seu fundo? Perguntei isso a um burocrata do governo. Resposta: “Iriam torrar o dinheiro”. Essa gente irresponsável, incapaz de usar, vejam só, seu próprio dinheiro. Na reforma da Previdência foi parecido. Surgiu a ideia de permitir a capitalização. As pessoas poderiam optar pelo sistema comandado pelo governo ou por uma conta individualizada em um fundo gerido no mercado. Nem pensar. O brasileiro seria cognitivamente incapaz de fazer essa escolha.

É o mesmo princípio que sempre impediu que se tivesse uma política de voucher educação. Se as famílias com maior renda podem escolher a escola dos filhos, no mercado, por que não tratamos de dar o mesmíssimo direito aos mais pobres? Por que obrigamos que matriculem os filhos nas escolas do governo, que, na média, terminam sistematicamente nas últimas posições do Pisa? Isso não é sequer um estado do bem-estar social. É basicamente uma condenação. Uma privação compulsória de futuro, que atinge as famílias mais pobres. Argumento? O mesmo de sempre. As pessoas não saberiam escolher, o “mercado” tomaria conta e coisas do tipo. O curioso é nos esquecermos do ProUni. Esse milagre brasileiro que rompeu com a teoria da hipossuficiência. E funciona perfeitamente bem, silenciosamente.

Nos últimos anos, foi no tema das liberdades individuais, e em especial da liberdade de expressão, que o truque da hipossuficiência mais funcionou. O ministro Lewandowski disse que sofremos de “desordem informacional”. Diante do excesso de informação, na era digital, nós, “eleitores ordinários”, seríamos incapazes de discernir entre o falso e o verdadeiro, escutar ideias de todos os lados e formar sua própria maneira de pensar. O foco, na época, era censurar um vídeo sobre a corrupção dos governos de Lula. Mas a tese é genérica. A ministra Cármen Lúcia achou por bem censurar um documentário sobre a facada em Bolsonaro e a censura passou a correr solta no país. Ainda agora, a AGU processou uma produtora de vídeos por “distorcer” informações sobre um episódio histórico, o julgamento de Maria da Penha. A mesma lógica da condenação de Léo Lins. Quem seríamos nós, brasileiros ordinários, para decidir por conta própria ir ou não a um show humorístico? Todo o debate sobre a liberdade de expressão, lá no fundo, repousa nesta dúvida bastante simples: somos capazes, afinal de contas, de pensar com a própria cabeça?

O argumento da hipossuficiência é uma espécie de ideologia nacional. E no geral é um truque. Ele não serve aos mais pobres e vulneráveis. Serve a quem concede. E, ao conceder, controla, dita as regras do jogo, impõe aos demais sua visão de mundo e um modo de viver. Ou vejamos: forçar as pessoas a pagar aos sindicatos é bom para o trabalhador ou para a burocracia sindical? Capturar 8% do salário e remunerar abaixo do mercado é bom para os assalariados ou para o governo, que administra o FGTS? Obrigar os pais a matricularem os filhos na escola do governo é bom para as crianças ou para as corporações da educação estatal? E praticar a censura, de documentários, piadas ou opiniões políticas, é bom para a sociedade ou para quem controla o aparelho de Estado, os tribunais, e não se envergonha de usar o poder para impor aos demais sua visão de mundo? Daria para ir longe nisso. Não vou. A cultura da hipossuficiência é produto de um país profundamente desigual. Foi a imagem que aquela fila gigante, à frente daquele sindicato, nos deu de bandeja. “É uma humilhação”, disse uma mulher negra, ainda jovem, numa indignação calma. Disse e sentou naquela calçada, onde passou a madrugada fria. Ela não fazia ideia de que foi a decisão fácil de uma Suprema Corte, numa tarde qualquer de Brasília, que fez com que ela tivesse que passar por aquilo. No fundo é isso que surpreende. A resignação que vem da assimetria. A ausência de poder, na base da sociedade. O desprestígio ancestral de nossa ideia de cidadania.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

O Fim da República das Togas



A carta de Donald Trump ao governo brasileiro não foi apenas um comunicado diplomático - foi uma declaração de guerra comercial cirúrgica que expôs, com precisão milimétrica, as vísceras podres do sistema político-judiciário brasileiro. O que começou como uma aparente retaliação comercial está se transformando no maior pesadelo político da história recente do STF e do governo Lula.

A Cronologia do Desastre Anunciado

Tudo começou em julho de 2025, quando Trump enviou sua famigerada carta ao Palácio do Planalto. Enquanto a imprensa tradicional - essa mesma que assinou a patética "cartinha da democracia" - focava obsessivamente nas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros previstas para 1º de agosto, o verdadeiro veneno estava nas entrelinhas: a abertura da investigação sob a Seção 301 do Trade Act.

A Seção 301, para quem não conhece, é implementada nos Estados Unidos através do IEEPA (International Emergency Economic Powers Act), um instrumento legal desenhado para investigar países considerados hostis aos interesses americanos. Sim, o Brasil agora figura ao lado de nações inimigas dos Estados Unidos. Parabéns, ministros do STF, vocês conseguiram transformar o Brasil em pária internacional.

Ontem, 15 de julho, o United States Trade Representative (USTR), comandado por Jameson Greer, formalizou o início da investigação. O documento é devastador em sua clareza: censura a empresas americanas de tecnologia, multas arbitrárias impostas pelo STF, falhas em medidas anticorrupção e - pasme - até o desmatamento recorde do governo Lula entrou na lista.

O Bravateiro que Virou Pombo

Lula, o eterno fanfarrão que prometeu "retaliar" os Estados Unidos e defender a "soberania nacional", levou menos de uma semana para transformar sua bravata em capitulação completa. Após reunião com empresários brasileiros - que finalmente perceberam o tamanho do buraco -, o governo recuou vergonhosamente e "apostou na via diplomática".

O problema? Não há ninguém no governo capaz de negociar com Washington. O Itamaraty virou um clube de militantes do Foro de São Paulo, e a única ponte real com o governo Trump são... Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que têm feito reuniões constantes no Departamento de Estado americano, inclusive estavam ontem reunidos com a cúpula do governo Trump.

A ironia é deliciosa: o governo que persegue Bolsonaro agora depende do filho dele para evitar o colapso econômico. Tarcísio de Freitas tentou se apresentar como alternativa, mas a verdade é que qualquer negociação passa necessariamente pelo fim da perseguição a Bolsonaro, anistia dos presos do 8 de janeiro e pela revogação da censura às redes sociais.

A Investigação que Vai Eviscerar o STF O que a mídia tradicional socialista ainda não entendeu é que a investigação da Seção 301 é infinitamente mais perigosa que as tarifas. Por quê? Porque ela dá ao governo americano poderes extraordinários de investigação, incluindo acesso a informações de empresas americanas operando no Brasil.

Traduzindo: todos os e-mails em Gmail, todos os documentos em sistemas Microsoft, toda a comunicação digital de autoridades brasileiras pode ser legalmente acessada. O caso dos caças Gripen, com suas suspeitas de corrupção nunca investigadas no Brasil, voltará à tona. O "amigo do amigo do meu pai" de Dias Toffoli será dissecado. As multas bilionárias impostas ao X (antigo Twitter) e à Starlink serão escrutinadas.

Mais grave ainda: os investigadores americanos perguntaram a Eduardo Bolsonaro detalhes sobre cada ministro do STF. Querem saber como cada um atua, suas conexões, seus negócios. É a Lava Jato que o STF matou, ressuscitada e turbinada com o poder de inteligência americana.

O Apocalipse de Setembro

Como se não bastasse, em 2 de setembro vem o segundo round: tarifas de 100% para países que compram petróleo russo. O Brasil, que sob Lula voltou a ser capacho de ditaduras, compra diesel da Rússia. A OTAN, através de Mark Rutte, já avisou: ou o Brasil para de financiar a guerra de Putin, ou paga o preço.

E aqui está o dilema de Lula: trair Putin, ou assistir à economia brasileira colapsar sob tarifas que não virão apenas dos EUA, mas também da Europa, já que isso faz parte do 18º pacote de sanções contra a Rússia.

Alexandre de Moraes: O Déspota Acuado

Enquanto isso, nosso ministro-imperador continua sua cruzada autoritária, agora decidindo sozinho sobre o IOF - usurpando mais uma vez prerrogativas do Congresso. Mas até quando? As sanções americanas sob a Lei Magnitsky, que permitem o congelamento de bens de violadores de direitos humanos, pairam sobre sua careca como a espada de Dâmocles.

A investigação americana vai expor o que todos sabem mas fingem não ver: que a "defesa da democracia" do STF começou em 2019, exatamente quando a Lava Jato se aproximava dos ministros. Não foi coincidência. Foi autopreservação de uma casta corrupta.

O Retorno Triunfal de Bolsonaro

O cenário está montado para 2026. Com Lula politicamente destruído pelas investigações americanas, com o STF desmoralizado internacionalmente, com a economia em frangalhos por causa das tarifas, Bolsonaro emerge como o óbvio salvador da pátria.

A anistia virá - não por bondade do Congresso, mas por necessidade econômica. A censura às big techs será revogada - não por amor à liberdade, mas por medo das sanções. Alexandre de Moraes cairá - não por justiça, mas porque alguém precisará ser o bode expiatório.

O Fim da República das Togas

O que estamos testemunhando é o fim de uma era. A República das Togas, esse constructo aberrante onde 11 ministros não eleitos governam 200 milhões de brasileiros, está com os dias contados. Trump, sem querer (ou querendo), está fazendo o que gerações de brasileiros não conseguiram: colocar o STF de joelhos.

As próximas semanas serão decisivas. O governo Lula já demonstrou que vai ceder - a questão é quanto e quão rápido. O STF já percebeu que brincou com fogo - a questão é quantos ministros vão se queimar. Bolsonaro já sabe que voltará - a questão é se será via anistia ou via o colapso total do sistema.

Uma coisa é certa: o Brasil que emergirá dessa crise será diferente. A arrogância togada que sequestrou nossa democracia está prestes a conhecer o peso da realpolitik internacional. E Trump, o "laranja malvado" na narrativa da esquerda, pode acabar sendo o libertador involuntário do Brasil.

Como diria o próprio Trump: "You're fired!" - e dessa vez, o recado é para toda a cúpula do judiciário brasileiro.

Mafinha no X

quarta-feira, 16 de julho de 2025

“Poder Moderador” na República


O Presidente da República, eleito com 60.345.999 votos segundo dados do TSE, editou um decreto presidencial, posteriormente complementado por uma medida provisória, para promover o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A iniciativa foi tomada no exercício da competência atribuída ao Executivo para regulamentar impostos previstos em lei.

No entanto, o Congresso Nacional, composto por 513 deputados federais, que juntos somaram aproximadamente 54,2 milhões de votos, e 81 senadores, eleitos por cerca de 42 milhões de eleitores, considerou que as medidas do Executivo extrapolavam os limites constitucionais. Com base no art. 49, inciso V da Constituição Federal, que garante ao Legislativo o poder de sustar atos normativos do Executivo que exorbitem do poder regulamentar, o Congresso aprovou o Decreto Legislativo nº 176/2025, anulando os efeitos dos decretos presidenciais sobre o IOF.

Até esse ponto, tudo transcorreu dentro das “quatro linhas” da Constituição. Mas, como já se tornou quase uma tradição, o partido PSOL, de pequena representatividade parlamentar, protocolou no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 7.839), questionando a validade do decreto legislativo aprovado pelo Congresso. A ação foi distribuída ao Ministro Alexandre de Moraes, que, antes de decidir, convocou uma audiência de conciliação, chamando para ela o Chefe do Poder Executivo e os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Nenhum dos titulares compareceu, mas enviaram representantes. A audiência, realizada na terça-feira, dia 15, terminou sem acordo.

Agora, a imprensa informa que o Ministro Moraes já prepara uma decisão judicial sobre o caso. Nesse contexto, tenho ouvido com frequência nos últimos anos o termo “Poder Moderador”. Buscando entender seu significado, e observando o desenrolar deste episódio, começo a ter a forte impressão de que o Ministro Alexandre de Moraes autoconcedeu-se, de forma monocrática, o papel de Poder Moderador da República. Afinal, aqueles 154 milhões de votos somados entre Executivo e Legislativo parecem não estar servindo para nada.

Será que fui eu quem não entendeu direito?

sábado, 12 de julho de 2025

sexta-feira, 11 de julho de 2025

"Eu num impinjei ele não!"


Foi mais ou menos assim...

Em 28 de dezembro de 1960, após uma campanha admirável, o Fortaleza Esporte Clube chegou à grande final da Taça Brasil, disputada no Pacaembu, em São Paulo, contra o poderoso Palmeiras. Na ponta-direita da equipe paulista e também da Seleção Brasileira, estava o consagrado Julinho Botelho, reverenciado por sua técnica refinada, dribles elegantes e cruzamentos precisos. Era chamado com respeito e admiração de “o gênio da ponta-direita”.

Do lado tricolor, coube ao lateral-esquerdo Ninoso a ingrata missão de marcá-lo.

Na chegada da delegação cearense à capital paulista, um repórter esportivo entrevistou Ninoso, questionando como ele se sentia por ter de enfrentar o afamado Julinho. Com desdém e certa ousadia, o lateral respondeu em tom de desafio:

— “Quem é esse Julinho? Não conheço, não.”

To make a long story short, antes dos 15 minutos do primeiro tempo, o Fortaleza já perdia por 3 a 0, todos os gols originados em cruzamentos perfeitos de Julinho, que havia aplicado sucessivos dribles humilhantes em Ninoso. Diante do massacre, o capitão e craque do Leão, Moésio, pediu ao folclórico volante Sapenha que ajudasse na marcação do endiabrado ponta palmeirense. A resposta veio com sinceridade cruel e inesquecível:

— “Vou não, Moésio. Eu num impinjei ele, não. Quem impinjou foi o Ninoso!”

O jogo terminou com um humilhante, Palmeiras 8 x 2 Fortaleza, e por muito tempo o clube cearense foi ironicamente apelidado pelas torcidas rivais de “Oitaleza”.

Moral da história: não venham apelar para o meu patriotismo pedindo que eu “ajude” o Lula em seu embate com o Presidente Trump. Quem impinjou ele foi o próprio Lula!

"Pato Manco"


A expressão “pato manco” na política é uma tradução do termo em inglês lame duck e se refere a um governante ou parlamentar que continua exercendo o cargo mesmo após já estar definido que não permanecerá no poder. Isso ocorre geralmente quando o político perdeu uma eleição para a reeleição ou está cumprindo o final de seu mandato sem possibilidade de renovação. Durante esse período, sua influência política costuma ser reduzida, pois ele já não representa mais com força a vontade popular ou perdeu o respaldo necessário para liderar com eficácia.

Esse termo é bastante usado em democracias consolidadas, como nos Estados Unidos, onde há um intervalo fixo entre a eleição e a posse do novo governante. Por exemplo, um presidente que perde a eleição em novembro continua no cargo até janeiro do ano seguinte, período em que é considerado um “pato manco”. Nessas semanas, ele ainda possui os poderes formais da presidência, mas seu peso político e sua legitimidade são frequentemente questionados.

Na prática, um governante em condição de “pato manco” pode encontrar dificuldades para aprovar projetos, negociar com aliados ou tomar decisões impopulares, pois seu futuro político está encerrado e sua autoridade enfraquecida. Ainda assim, alguns usam esse tempo para adotar medidas de última hora, como assinar decretos, indicar juízes ou conceder indultos, justamente por não estarem mais sujeitos às pressões eleitorais. Essas ações costumam gerar debates sobre ética, legitimidade e respeito à vontade do eleitor.

No Brasil, embora o termo “pato manco” não seja tão comum quanto em países de língua inglesa, a situação que ele descreve ocorre de forma semelhante. Após eleições (mas não apenas) é comum que prefeitos, governadores e presidentes em fim de mandato percam força política e deixem de influenciar decisões relevantes. O conceito serve, portanto, como uma metáfora poderosa para ilustrar o enfraquecimento natural de um líder que caminha para o fim de sua trajetória no poder, mesmo que legalmente ainda esteja no cargo.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

"A guerra comercial pode parecer justa, mas raramente é inteligente"


Em 2024, os Estados Unidos exportaram cerca de US$ 49,7 bilhões em bens para o Brasil, enquanto o Brasil exportou US$ 40,9 bilhões para os EUA. Isso gerou um superávit de quase US$ 8,8 bilhões para os americanos na balança bilateral. No plano global, os EUA enfrentaram um déficit comercial de US$ 1,3 trilhão, mostrando que o comércio com o Brasil é apenas uma pequena fatia de sua realidade econômica — cerca de 2% das exportações totais americanas.

Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de produtos brasileiros, atrás apenas da China. As exportações brasileiras aos EUA envolvem commodities essenciais e manufaturados sensíveis, como Soja, carnes e etanol (agronegócio), minério de ferro (mineração) e aeronaves e autopeças (indústria). Qualquer tarifa pesada sobre essas categorias comprometeria setores estratégicos da economia nacional, gerando queda nas exportações, demissões e perda de divisas.

Ao contrário dos EUA, que contam com dezenas de parceiros comerciais alternativos, o Brasil teria dificuldade para realocar rapidamente seus produtos. A China, embora grande parceira, não absorveria todo o excedente, e mercados como Oriente Médio e Europa possuem barreiras sanitárias, logísticas ou comerciais.

Se o Brasil optasse por retaliar com tarifas sobre os US$ 49,7 bilhões em produtos americanos, o impacto recairia sobre a própria população brasileira. Importamos dos EUA, maquinário, produtos químicos e farmacêuticos e trigo e combustíveis refinados entre outros. A elevação de tarifas nesses itens pressionaria a inflação e aumentaria os custos da indústria nacional, causando um abalo irrelevante à economia americana.

Para os americanos, perder o mercado brasileiro seria um pequeno incômodo. Têm outros compradores para quase todos os produtos. Possuem um mercado interno gigantesco, com US$ 28,78 trilhões em PIB. São menos dependentes do comércio exterior que o Brasil. Ou seja, os EUA podem recuar de uma guerra comercial com danos marginais. O Brasil, não.

Entrar em uma guerra tarifária com os EUA seria como atirar no próprio pé. Em um cenário de confronto tarifário com os EUA, o Brasil seria de longe a parte mais prejudicada. Mais do que orgulho nacionalista, o momento exige humildade perante os fatos e um profundo esforço de diplomacia comercial, descartando eventuais ganhos políticos com o consequente sacrifício da população brasileira.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Era uma vez...


Era uma vez uma criança de cinco anos que participou de um ensaio fotográfico com seus pais — abastados empresários do setor privado — portando uma bolsa de grife avaliada em R$ 14.000,00...

Era uma vez uma deputada do PSOL que mantém dois cabeleireiros contratados com dinheiro público, para andar sempre impecavelmente arrumada, exibindo sua bolsa de luxo italiana da marca Bottega Veneta, adquirida por R$ 27.420,00...

Era uma vez uma primeira-dama que, em um país marcado por desigualdades sociais profundas, adora ostentar luxo e riqueza, utilizando seu cartão corporativo bancado pelos contribuintes, cujos gastos permanecem sob sigilo imposto pelo governo do seu marido...

Era uma vez um professor universitário, ativista de esquerda, que — flertando com o extremismo mais hipócrita e repulsivo — expressou desejo de guilhotinar a garotinha mencionada no primeiro parágrafo, simplesmente por ela estar com a tal bolsa...

Era uma vez uma psicanalista, também ativista de esquerda, que comentou em rede social, referindo-se à mesma criança: "Tem que matar mesmo! PQP!!!!!!"

Desculpem, como podem ver já iniciei várias vezes meu artigo de hoje, mas não consigo concluir. Estou completamente sem inspiração.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Quando o Itamaraty age como comitê de campanha


A nota oficial do Itamaraty, repudiando uma reportagem da The Economist que qualificou o presidente Lula como "incoerente no exterior" e "impopular no Brasil", é um triste retrato de como a diplomacia brasileira foi degradada de instrumento de Estado a escudo partidário. O Itamaraty, tradicionalmente respeitado por sua sobriedade e profissionalismo, agora se presta ao papel de revisor de imprensa internacional, como se o prestígio da nação estivesse ameaçado por manchetes, e não pelas atitudes de seus governantes.

É preocupante que um órgão de Estado, sustentado pelos contribuintes e encarregado de zelar pelos interesses do Brasil no cenário global, se rebaixe ao papel de censor de veículos de comunicação e porta-voz da vaidade presidencial. Ao responder à crítica de uma revista estrangeira, seja ela o maior magazine do mundo ou um simples tablóide sensacionalista, o Itamaraty desrespeita sua própria tradição de compostura e confunde soberania com suscetibilidade. Países verdadeiramente soberanos não reagem a adjetivos; reagem a ameaças reais, não a análises políticas.

A frase “não temos que dar satisfação à imprensa” seria aceitável na boca de um líder autoritário. Mas é pequena, vazia e patética quando serve como norte para a diplomacia de uma nação democrática. Pior ainda: confirma a crítica da própria reportagem. Se Lula é de fato incoerente e impopular, não é por causa do The Economist, mas pelas posturas contraditórias no cenário internacional, como o flerte com ditaduras, o silêncio seletivo sobre violações de direitos humanos e a retórica arrogante que não se sustenta diante dos próprios fracassos internos.

Ao se incomodar com uma crítica, comum e corriqueira em democracias maduras, o governo brasileiro demonstra fraqueza, não firmeza; melindre, não altivez. E o Itamaraty, ao se prestar a esse papel, apequena-se como instituição. Não cabe à diplomacia proteger o ego de governantes, mas defender os interesses permanentes da República, mesmo que isso signifique suportar críticas justas e necessárias.

terça-feira, 24 de junho de 2025

O Umbigo Enterrado


O cabra pode até rodar o mundo todinho. Já andei no Shinkansen, o trem-bala de Tóquio para Yokohama no Japão, já me perdi nos becos do bairro de Alfama, em Lisboa, impressionei-me com as luzes da Times Square de Nova York, encantei-me com os cafés de Paris e com o cruzeiro de navio de Helsinque para Estocolmo. Apesar de ter morado quase sete anos nos Estados Unidos, nunca aprendi outros sotaques, outros modos, outros jeitos de dizer “bom dia”. Nunca esqueci a terra onde enterrei meu umbigo.

Essa história de enterrar o umbigo é mais que crendice de parteira. É pacto. Raiz invisível que a gente carrega no peito, feito cordão que nunca foi cortado de verdade. Quem nasceu em chão batido de terra quente, sabe: o mundo pode ser bonito, mas só um lugar tem o cheiro certo de quando éramos pequenos.

Eu conheço gente que virou doutor, político, autoridade, e mesmo assim volta todo mês de agosto pra renovar suas promessas com São Raimundo. Gente que, de terno e gravata, ainda sonha com o barulho da chuva caindo no telhado. Que carrega retrato amarelado no bolso ou na memória, da roda de conversa na pracinha da cidade, dos encontros debaixo da castanhola. 

Porque não adianta: o chão de origem não se apaga com carimbo no passaporte. E não é só saudade. É pertencimento. É saber de onde se veio pra não se perder por aí. É lembrar que, por mais que o mundo se abra, há um lugar que é só da gente, com seu silêncio particular, com suas vozes e músicas antigas ecoando dentro do peito.

E quando perguntam de onde a gente é, mesmo morando a léguas de distância, a resposta vem certeira, com um orgulho que quase treme na boca:

“Sou de Várzea Alegre, onde meu umbigo tá enterrado até hoje.”

quarta-feira, 18 de junho de 2025

"¿Por qué no te callas?"


A frase “¿Por qué no te callas?” ("Por que não te calas?") tornou-se mundialmente famosa após ser pronunciada pelo então Rei da Espanha, Juan Carlos I, durante a 17ª Cúpula Ibero-Americana, realizada em Santiago, Chile, no dia 10 de novembro de 2007.

O episódio ocorreu quando o rei se dirigiu ao então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que, durante sua fala, interrompia insistentemente o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero. Chávez, fiel ao seu estilo provocador, acusava repetidamente o ex-primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, de ser um “fascista”, referindo-se a ele com termos ofensivos.

Zapatero, apesar de ser de partido oposto a Aznar, buscou manter o tom diplomático. Em sua fala, defendeu o ex-premiê, lembrando que, embora tivessem divergências profundas, Aznar havia sido eleito democraticamente e merecia respeito como ex-chefe de governo. Mesmo assim, Chávez seguia interrompendo, insistente e desrespeitoso. Foi nesse momento que o rei Juan Carlos, visivelmente irritado, perdeu a paciência e exclamou — fora do microfone, mas claramente captado pelas câmeras —: “¿Por qué no te callas?”

A frase correu o mundo. O que mais impressionou foi o fato de um monarca — tradicional símbolo de moderação e diplomacia — reagir com tanta veemência em público. Para muitos, aquela foi uma espécie de "freada simbólica" na verborragia de Hugo Chávez, frequentemente criticado por seu estilo autoritário, provocador e sua retórica agressiva.

O episódio também evidenciou o contraste entre os líderes populistas da esquerda latino-americana e os representantes das democracias liberais europeias, num embate que ia além do protocolo diplomático.

Anos depois, um momento curioso (e constrangedor) fez ecoar essa lembrança. Em 17 de junho, durante uma cúpula do G7 em Kananaskis, no Canadá — que reúne os sete países mais industrializados do mundo —, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, convidado ao encontro, protagonizou uma cena embaraçosa.

Logo no início da reunião, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, deu início aos trabalhos explicando que “nós vamos esperar um minuto pela tradução”. Pouco depois, perguntou: “Funcionou?” Lula, então, gritou: “Tem que falar aí!”, interrompendo o anfitrião. Carney, ainda paciente, perguntou: “Posso ir?”, querendo saber se podia começar seu discurso. Foi interrompido mais uma vez por Lula, que insistia: “Tem que falar aí, a intérprete tem que falar. Não está saindo (o som).” E ainda exigiu: “Manda falar qualquer coisa pra ver se o som sai aqui.” A cena causou risos de deboche entre os líderes mundiais presentes.

Naquele momento, cofiando a barba e tossindo discretamente (não, não "me engasguei comigo mesmo"), não pude evitar um pensamento irônico: se Sua Majestade estivesse presente, talvez tivesse sacado novamente a sua célebre exclamação — “¿Por qué no te callas?”

segunda-feira, 16 de junho de 2025

"Assim não se pode trabalhar!"


Durante o governo do presidente Ernesto Geisel (1974–1979), o Brasil enfrentava os efeitos colaterais de uma crise energética global e de uma inflação galopante que ameaçava a estabilidade econômica do país. Para tentar conter os danos e evitar medidas ainda mais drásticas, o então Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, propôs uma solução criativa — e extremamente impopular: a criação do Certificado de Recolhimento Restituível (CRR), um tributo extra embutido no preço da gasolina, que passou a ser conhecido informalmente como "simoneta".

A alcunha era uma ironia amarga: uma alusão às “polonetas”, títulos públicos emitidos pelo governo da Polônia que o Brasil havia adquirido — e dos quais jamais conseguiu reaver o valor investido. A “simoneta”, portanto, carregava no nome não apenas o peso da medida fiscal, mas também o descrédito simbólico de experiências anteriores mal-sucedidas.

Coube ao senador Virgílio Távora, vice-líder do governo para assuntos econômicos no Senado, a ingrata missão de defender o novo imposto. Com sua habitual seriedade e competência, Virgílio preparou-se para justificar a medida em plenário: falou da crise internacional do petróleo, da necessidade de manter a economia girando, de conter a inflação e de evitar o temido racionamento de combustíveis. Seus argumentos, expostos com precisão na tribuna do Senado, buscavam enquadrar a “simoneta” como um remédio amargo, porém necessário.

No entanto, minutos após o discurso, a imprensa noticiava que o próprio presidente Geisel havia determinado o cancelamento da implementação do imposto, jogando por terra toda a fundamentação apresentada. Ao deixar o plenário e caminhar para seu gabinete, Virgílio teria desabafado com ironia contida e frustração sincera: "Assim não se pode trabalhar!"

E por que recordar esse episódio remoto, soterrado nas memórias do regime militar? Porque ele encontra eco em nossos dias. Ao assistir a recentes declarações do presidente Lula — especialmente aquelas que soam como “sincericídios” capazes de desautorizar toda a estratégia de comunicação governamental —, é possível imaginar Sidônio Palmeira, o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), encarregado de reverter a curva de queda da popularidade do governo, repetindo em silêncio o lamento de Virgílio Távora: "Assim não se pode trabalhar!"

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Não faz sentido falar em fuga


A acusação de que o Coronel Mauro Cid estaria planejando fugir do Brasil não se sustenta diante dos fatos. Desde que firmou seu acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, Cid tem demonstrado plena disposição em colaborar com as investigações — inclusive entregando documentos, senhas, agendas e testemunhos que se tornaram peças-chave nos inquéritos em curso. Em troca dessa colaboração, ele obteve uma série de benefícios legais, todos nas previsões da legislação penal brasileira.

Entre os benefícios pactuados, estão o perdão judicial ou a aplicação de pena branda (inferior a dois anos), a restituição de bens lícitos, a inclusão no programa de proteção à testemunha, a liberdade provisória com uso de tornozeleira eletrônica, além da extensão de garantias legais a seus familiares. Em outras palavras, trata-se de alguém que está sob vigilância, com compromissos formais firmados com o Judiciário e cujos interesses dependem da continuidade de sua cooperação com o Estado. Nenhum desses elementos é compatível com o comportamento de alguém em fuga.

A solicitação e obtenção da cidadania portuguesa, por sua vez, não pode ser confundida com uma tentativa de evasão. O processo foi iniciado em janeiro de 2023, antes mesmo da formalização do acordo de delação, e foi fundamentado no fato de que sua esposa e suas filhas já possuem essa nacionalidade. O pedido seguiu os trâmites legais internacionais, sem subterfúgios ou ocultações. Receber um documento de identidade de outro país, ainda mais quando vinculado à família, não configura crime nem infração alguma — e está muito longe de ser prova de intenção de fuga.

Em resumo, a ideia de que Mauro Cid planeja fugir é incompatível com a realidade de sua condição legal. Ele tem mais a perder do que a ganhar com qualquer atitude que possa violar o acordo de delação, inclusive sua liberdade, sua carreira e os benefícios estendidos à própria família.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

“Quer ser meu vice em 2026?”


Durante a oitiva dos réus da Ação Penal 2668, que trata dos eventos de 8 de janeiro e da suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro surpreendeu ao se dirigir ao ministro Alexandre de Moraes com a pergunta: “Quer ser meu vice em 2026?”. A frase, proferida em tom informal e inesperado, dividiu opiniões até mesmo entre seus seguidores — alguns criticaram a leveza diante da gravidade do processo; outros não compreenderam o real alcance da provocação. Contudo, no meu modesto modo de ver, o episódio está longe de ser um ato impensado ou inconsequente: ele carrega uma ironia estratégica e mensagens políticas claras.

Primeiro, a frase é uma crítica velada, mas mordaz, à falta de imparcialidade do ministro Alexandre de Moraes, que acumula as funções de julgador e parte interessada em diversas frentes que envolvem Bolsonaro e seus aliados. Ao convidá-lo para ser seu “vice”, o ex-presidente inverte os papéis e sugere que Moraes, na verdade, atua como opositor político, e não como magistrado isento. É uma acusação envolta em sarcasmo, mas extremamente grave: a de que o ministro, em vez de zelar pela legalidade, atua com viés ideológico, interferindo no jogo democrático com a toga.

Segundo, a frase reafirma — com todas as letras — que Bolsonaro não está fora do jogo político. Apesar de estar momentaneamente inelegível por decisão do TSE, o ex-presidente insinua que estará sim na disputa de 2026, direta ou indiretamente. O “convite” a Moraes, portanto, funciona como um recado duplo: ao tribunal, que não conseguiu calá-lo, e ao eleitorado, que ainda o vê como liderança de oposição viva e atuante. É a forma bolsonarista de dizer: “Ainda estou aqui, e continuo incomodando.”

É natural que o gesto tenha causado desconforto — afinal, trata-se de um julgamento. Mas ignorar a carga simbólica e política da fala seria um erro. Bolsonaro, com uma única frase, transformou a audiência em palco e lembrou aos seus adversários que quem provoca também domina narrativas. Resta saber se o Supremo saberá lidar com isso sem perder ainda mais a legitimidade diante da opinião pública.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Os capangas do Mato Grosso...


A Ação Penal 470, popularmente conhecida como "mensalão", foi o processo que julgou os envolvidos em um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do Brasil. O caso girava em torno do pagamento mensal a deputados federais em troca de apoio em votações no Congresso Nacional. As sessões do Supremo Tribunal Federal foram todas televisionadas — e eu, confesso, tornei-me completamente viciado nelas. Não perdia uma sequer. Interrompia qualquer atividade para assistir, fascinado, às defesas muitas vezes surreais dos réus, que se esforçavam em vão para livrá-los de condenações mais que merecidas.

Na presidência da Corte estava o ministro Joaquim Barbosa, o primeiro negro a ocupar uma cadeira no plenário do STF. Indicado em 2003, Barbosa fez história. Polêmico, direto, fluente em quatro idiomas e doutor em Direito Público pela Universidade de Paris II, ele impôs um novo ritmo ao tribunal, ao mesmo tempo em que provocava admiração e controvérsias. Sua atuação no julgamento do mensalão foi marcada por firmeza, impaciência com o juridiquês e uma coragem incomum para afrontar colegas — inclusive os mais poderosos.

Um dos momentos mais memoráveis — e constrangedores — do julgamento foi sua troca de farpas com o ministro Gilmar Mendes. Em meio a uma discussão acalorada, Barbosa elevou o tom e disparou: "Vossa Excelência não está na rua, não. Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso. [...] Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. O senhor respeite." A frase, até hoje lembrada, cristalizou não apenas o clima tenso do julgamento, mas também a personalidade explosiva e intransigente de Barbosa.

Lembrei-me desse episódio ao ver a recente notícia de que o ministro Gilmar Mendes teria reagido à possibilidade de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes. Ao ler, não resisti ao pensamento irônico: é melhor que o Presidente Donald Trump e o Secretário de Estado, Marco Antonio Rubio, tomem cuidado — vai que o ministro Gilmar resolve convocar os “capangas do Mato Grosso”…

Watergate: Escândalo que tentou esconder a verdade


O escândalo de Watergate não é lembrado apenas pela renúncia do presidente dos Estados Unidos (o único até hoje) — Richard Nixon — mas principalmente por ter escancarado ao mundo a capacidade de um governo de ocultar crimes, manipular instituições e mentir sistematicamente à população. O que começou como uma operação de espionagem política se transformou em um caso emblemático de encobrimento estatal deliberado, onde documentos foram suprimidos, gravações ocultadas e o próprio aparato do Estado foi mobilizado para calar a verdade.

Em 17 de junho de 1972, cinco homens foram presos ao invadir a sede do Comitê Nacional do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. A princípio, a Casa Branca negou qualquer envolvimento. Mas à medida que investigações avançavam — impulsionadas pelo trabalho investigativo de Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post —, tornou-se evidente que os invasores agiam a mando de membros da campanha à reeleição do presidente Richard Nixon, e que altos escalões do governo estavam dispostos a tudo para esconder esse fato.

O coração sombrio do escândalo não foi apenas o crime em si, mas a tentativa sistemática e coordenada de abafá-lo. O governo tentou desviar o FBI das investigações, utilizou a CIA de forma indevida para bloquear apurações, e pressionou órgãos estatais a não colaborar com a Justiça. Acima de tudo, houve a ocultação consciente de evidências: memorandos sumiram, versões foram forjadas e gravações cruciais — que documentavam conversas entre Nixon e seus assessores — foram mantidas em segredo por mais de um ano. Quando essas gravações foram finalmente reveladas, uma delas — a famosa fita de 23 de junho de 1972, o chamado “smoking gun” — mostrou Nixon ordenando que a CIA impedisse o FBI de continuar investigando.

Essa gravação provou que o presidente não apenas sabia da tentativa de acobertamento, mas comandava pessoalmente a sabotagem das investigações. A partir desse momento, não restavam dúvidas: o chefe do Poder Executivo havia usado o próprio governo como escudo para esconder a verdade e proteger seus aliados. O Congresso avançou com o processo de impeachment, e em 8 de agosto de 1974, Richard Nixon renunciou ao cargo, tentando evitar uma deposição ainda mais humilhante.

Watergate se tornou um marco global por revelar os perigos profundos da ocultação deliberada de informações pelo Estado. O caso demonstrou como um governo pode — quando não contido por instituições independentes e vigilância cidadã — transformar-se num sistema de mentiras oficiais, onde documentos desaparecem, provas são abafadas e a verdade é tratada como ameaça. Foi um lembrete duro e necessário de que a transparência é o único antídoto confiável contra o abuso de poder.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Inteligência Artificial


Recebi do meu amigo Engº Adolfo de Marinho Pontes, uma instigante entrevista de Marcelo Tas com o cientista e professor Anderson Soares. O tema central: Inteligência Artificial. A conversa, lúcida e provocadora, despertou em mim o desejo quase urgente de escrever — registrar sentimentos contraditórios que emergem quando olho para trás, ao longo dos 76 anos do exercício intenso do viver.

Sou, antes de tudo, um bem-aventurado. Desde muito jovem as oportunidades me sorriram o que me fez alimentar uma imagem de robusta autoestima. Nas escolas que frequentei, nos concursos que enfrentei, tive a felicidade de sempre estar entre os primeiros e isso de certa forma consolidou essa certeza: eu era "o fodinha". Até que encontrei a Escola de Engenharia, ou melhor dizendo, até que a Escola de Engenharia me atropelou. Ali, mais do que ser engenheiro, aprendi a ter o mínimo de humildade. Encontrei colegas de mentes brilhantes "com capacidade cognitiva tão alta que não importa quanto me esforce, não vou conseguir atingi-los". 

Sinto-me um privilegiado por testemunhar uma era de transformações profundas. Iniciei minha trajetória profissional ainda nos primórdios da computação, quando as máquinas ocupavam salas inteiras e pareciam falar uma língua indecifrável. Domá-las era um desafio quase épico — uma arte entre técnica e instinto, como quem doma cavalos bravos. Fazer parte do seleto grupo de "geniosinhos" que operavam essas caixas enigmáticas foi, admito, combustível para cultivar meu pecado capital predileto: a vaidade.

Mas a velocidade assustadora com que a tecnologia avança e a preguiça mental (ou quem sabe a inaptidão crescente para aprender devido o avançar da idade), esmagam qualquer tentativa de acompanhamento. Agora, vejo-me a braços com essa desafiadora novidade chamada "Inteligência Artificial". Aonde vamos parar? Quais são os limites éticos e técnicos para a criação de IA generalista (AGI)? A IA pode substituir completamente profissões criativas, como arte, música e literatura? A IA pode criar uma nova forma de consciência ou inteligência não humana? Qual é o risco de uma "singularidade tecnológica" descontrolada? Essas são questões que me angustiam. Não apenas pela complexidade que carregam, mas pela sensação avassaladora de impotência que provocam.

Talvez seja esse o desfecho possível: a consciência de que, por mais que tenhamos domado máquinas, o futuro jamais será completamente domável.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Se você precisa vomitar... leia!


"Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano acabaria empatado"
João Saldanha, jornalista, comentarista e ex-técnico da seleção brasileira


Disputa bilionária mobiliza parentes de ministros do STF nas defesas

Familiares dos ministros atuam ou atuaram como advogados de um dos lados de processos que tramitam no STJ, na Justiça do Paraná e na Justiça Federal

Redação Jornal de Brasília
20/05/2025 6h03

GUILHERME SETO E JOSÉ MARQUES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Uma disputa bilionária em diferentes tribunais entre gestores financeiros e Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis, das cervejas Itaipava e Petra, mobilizou nos últimos anos pelo menos dez familiares de membros da cúpula do Judiciário brasileiro, que atuam como advogados nas causas.

Entre os que defendem ou defenderam algum dos lados do litígio estão parentes dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Kassio Nunes Marques.

Também participa do processo um filho do ministro Luis Felipe Salomão, vice-presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Os familiares dos ministros atuam ou atuaram como advogados de um dos lados de processos que tramitam no STJ, na Justiça do Paraná e na Justiça Federal em Brasília. A causa tem possibilidade de chegar ao Supremo.

Caso isso aconteça, pode causar uma enxurrada de impedimentos de ministros nas ações. O motivo é que, segundo a legislação, um magistrado não pode julgar uma causa na qual seu cônjuge ou parente tenha atuado.

Walter Faria e os empresários Renato Mazzucchelli e Ruy del Gaiso brigam desde 2019 pelo controle da Imcopa, empresa paranaense de produção de derivados de soja que está em recuperação judicial desde 2013. Os créditos da recuperação foram estimados em mais de R$ 3,3 bilhões.

O primeiro acusa os demais de terem dado “um golpe” durante sua prisão na Operação Lava Jato, em 2019. Ele foi investigado por suspeita de manter uma estrutura de pagamento de propinas e de agir em conluio com a Odebrecht. Em 2022, o ministro Gilmar Mendes anulou decisões tomadas em instâncias inferiores sobre o caso e determinou o arquivamento de ações penais.

Faria diz que tinha um acordo com Mazzucchelli, Gaiso e Naede de Almeida, seu ex-braço direito, de que eles investiriam recursos seus na Imcopa, para que ele não aparecesse publicamente como interessado. Segundo Faria, o combinado era o de que ele se tornaria o dono dos créditos da Imcopa, mas passou a ser impedido de exercer esse direito por meio de uma suposta alteração fraudulenta em contrato.

Os outros negam qualquer manobra e afirmam que Faria é quem tenta modificar termos acordados previamente. Mazzucchelli e Gaiso dizem que Faria concordou que a operação seria encabeçada por eles e abriu mão, em carta, de resgatar seu investimento antes do vencimento, estipulado para 2025.

A briga judicial tem diversos ramos. No STJ, discute-se a responsabilidade de cada tribunal para tomar decisões específicas a respeito do imbróglio e da recuperação judicial.

No ano passado, o ministro Antonio Carlos Ferreira derrubou determinações feitas no Paraná, por entender que invadiam a competência da Justiça Federal no DF. O caso ainda deverá ser levado a análise de colegiado no STJ.

Atualmente, a Imcopa é administrada pelo Grupo Petrópolis, que teve decisões favoráveis em Brasília e no Paraná.

Na disputa judicial, a família do ministro do STF Gilmar Mendes tem representantes nos dois lados envolvidos.

Em setembro do ano passado, Laura Schertel Ferreira Mendes, sua filha, foi incluída como uma das advogadas do Petrópolis no processo que tramita no STJ. Um mês depois, ela deixou o caso, e entraram Maria da Conceição Sabo Mendes e Pedro Anísio Sabo Mendes, filhos do juiz federal Italo Mendes, que foi presidente do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) e é primo do ministro do Supremo.

Maria Carolina Feitosa Tarelho, enteada de Gilmar Mendes e filha da advogada Guiomar Mendes, esposa do ministro, também fez parte da equipe de advogados do Petrópolis na disputa.

Do outro lado do processo estão as representantes da Crowned, empresa criada em Luxemburgo e que foi usada para receber recursos de Faria e investir em créditos da Imcopa.

Guiomar Mendes e sua filha Daniele, irmã de Maria Carolina (advogada da Petrópolis) e também enteada do ministro, foram contratadas para compor a equipe de advogados da Crowned. As duas trabalham para o escritório Sergio Bermudes. Valeska Zanin Martins, esposa de Cristiano Zanin, ministro do STF, também foi integrada ao grupo.

A Crowned, no entanto, também atravessa briga pelo controle. Na sexta-feira (16), um dos lados da disputa, o advogado Ricardo Bocchino Ferrari, solicitou a destituição de toda a equipe jurídica da empresa para que Tiago Limongi assuma o caso no STJ.

A R2C Holdings, de Mazzucchelli e del Gaiso, protocolou uma contestação em que afirma que Ferrari não é proprietário da Crowned e não tem poderes para substituir advogados. A peça é assinada por Guiomar, Daniele, Valeska e outros advogados.

Além dos já citados, o Grupo Petrópolis também tem como advogados no processo Karine Nunes Marques e Viviane Barci de Moraes, respectivamente irmã de Kassio Nunes Marques e esposa de Alexandre de Moraes, ministros do STF, como mostrou a coluna Painel, da Folha, e Luis Felipe Salomão Filho, filho de Luis Felipe Salomão, ministro do STJ.

Procurados, os ministros do STF e do STJ não quiseram se manifestar sobre o tema. Também procurados, não se pronunciaram Valeska Zanin Martins, Karine Nunes Marques, Viviane Barci de Moraes e Salomão Filho.

Guiomar Mendes afirma que, assim como em outras áreas, filhos de advogados muitas vezes buscam seguir carreiras jurídicas e que as relações familiares não influenciam nos desempenhos profissionais dos que trabalham no caso em questão.

Ela também diz que que não atuou ao mesmo tempo que Maria Carolina (advogada do Petrópolis) no litígio, pois a filha deixou o caso ainda em 2023. Por fim, afirma que continua a trabalhar no processo, independentemente da tentativa de destituição por parte de Ricardo Ferrari.

Pedro e Maria Sabo Mendes afirmam que atuam como advogados do Petrópolis desde antes do litígio com a Crowned (no caso dele, desde 2009; no dela, há mais de cinco anos) e que quando passaram a trabalhar nos processos do grupo não havia qualquer cruzamento familiar. Eles também afirmam que não existem possíveis interferências no exercício do trabalho.

Em nota, a R2C, de Mazzucchelli e del Gaiso, que constituíram a Crowned em Luxemburgo com o advogado Ricardo Ferrari, afirma que “levou em consideração o notável saber jurídico de todos os escritórios contratados, atuantes em processos de recuperação judicial e contencioso estratégico e envolvidos nas mais complexas demandas no Brasil e no exterior”.

Em nota, o Grupo Petrópolis diz que o processo que discute o controle da Imcopa em Brasília “já foi sentenciado pela Justiça Federal e todos os pedidos do Grupo Petrópolis contra Ruy del Gaiso e Renato Mazzucchelli foram julgados procedentes” e que Ferrari, “após tomar conhecimento dos crimes praticados pela dupla, trocou os advogados que representavam a companhia”.

“Logo, nos dias de hoje, a Crowned não é representada por nenhum advogado que seja parente de ministro do STF ou do STJ”, diz a nota.

“Todas as contratações [de advogados] foram feitas pelo Grupo Petrópolis levando-se em conta critérios exclusivamente técnicos. Nenhuma dessas contratações ocorreu após o litígio objeto da matéria, mas todas elas foram feitas em momento anterior”, diz a empresa.