Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Paris
Paris oferece uma mistura rara e irresistível. É a cidade onde os cartões-postais ganham matéria: a Torre Eiffel recortando o céu, o Louvre guardando séculos de arte, o Arco do Triunfo impondo respeito ao final da Champs-Élysées. Ao mesmo tempo, é um mergulho contínuo em cultura. Museus, arquitetura, história viva em cada esquina, da Notre-Dame ao Sacré-Cœur.
Mas Paris não é só monumento. É sabor. É o croissant ainda morno pela manhã, os queijos que desafiam qualquer dieta, os cafés que convidam à conversa sem pressa. É também o vinho, talvez os melhores do mundo, e a champanhe mais sedutora da França, bebida como se fosse parte da respiração da cidade. Some-se a isso o charme de bairros como Montmartre e Le Marais, os passeios preguiçosos às margens do Sena e as compras quase obrigatórias de cosméticos franceses. Paris agrada a todos os gostos e, curiosamente, consegue fazê-lo sem perder identidade.
Minha história com Paris atravessa o tempo. A primeira vez que ali estive foi na década de 1970; a última, já no recente ano de 2023. Vi a cidade mudar, modernizar-se, tornar-se mais diversa e, em certos aspectos, mais cautelosa. Mas vi também aquilo que parecia imutável: sua capacidade de encantar.
Tive o privilégio de viver Paris em duas viradas de ano. A chamada Cidade do Amor, ou Cidade Luz (La Ville Lumière), como preferir, revela-se de maneira única no Réveillon. Centenas de milhares de pessoas tomam a Champs-Élysées. Bebem, cantam, caminham sem rumo certo, num movimento coletivo que lembra a saída do Maracanã em dia de Fla-Flu. É festa, é catarse, é comunhão.
Nessa noite específica, algo mágico acontece: desconhecidos se beijam como velhos amigos de infância. Não há constrangimento, não há cálculo. Apenas a celebração do tempo que se encerra e do que começa. Essa é a lembrança que guardo dos meus dois Bonne Année parisienses. Pelo menos era assim.
Ontem, no entanto, li que as autoridades de Paris, pressionadas pelo temor de atentados terroristas, cancelaram as grandes celebrações de Ano-Novo. Não mais beijos na Champs-Élysées. Não mais champanhe compartilhada sob as luzes. Não mais Bonne Année coletivo.
É difícil não sentir um aperto. Paris sempre foi símbolo de liberdade, encontro, alegria pública. Ver essa tradição silenciada pela insegurança do mundo moderno soa como uma perda que vai além da cidade, é um sinal dos tempos. Tristes tempos!
Ainda assim, Paris tenta resistir. Talvez mais contida, talvez mais vigiada, mas ainda Paris. A cidade da luz pode apagar algumas lâmpadas, mas sua chama cultural, histórica e afetiva permanece acesa na memória de quem a viveu.
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