Rio de Janeiro, 28/10/2025. Guerra urbana entre forças policiais e facções criminosas.
O processo de ocupação das favelas do Rio de Janeiro por organizações criminosas não ocorreu de um dia para o outro. Foi o resultado de décadas de omissões, decisões políticas equivocadas e de um Estado cada vez mais ausente. O marco simbólico desse fenômeno remonta ao primeiro governo de Leonel Brizola, no início dos anos 1980. Na época, o então governador teria determinado que a polícia não “subisse o morro”, priorizando ações sociais em vez de repressivas, uma política com boas intenções no papel, mas que, na prática, abriu espaço para o florescimento de estruturas criminosas dentro das comunidades. O Estado retirou-se das áreas de risco, e o crime preencheu o vácuo de autoridade.
Nos primeiros anos, essas organizações eram essencialmente voltadas ao tráfico de drogas, com foco na maconha proveniente de países vizinhos. Ainda que o problema fosse grave, a estrutura era rudimentar e localizada. A virada do século, porém, trouxe uma nova e mais perigosa etapa. O narcotráfico se expandiu para incluir cocaína e crack, além do contrabando de armas de grosso calibre, oriundas do exterior e entrando quase livremente pelas negligenciadas fronteiras do país. As facções, que antes eram grupos dispersos, passaram a se organizar, adotar hierarquias, controlar territórios e até estabelecer “leis próprias”. O crime, antes local, se tornou uma rede nacional com ramificações no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O Estado brasileiro, desatento e frequentemente leniente, não acompanhou o ritmo dessa evolução. Governos sucessivos em todas as esferas, subestimaram o poder do crime organizado. A omissão permitiu que essas facções se infiltrassem em novos setores da economia e da vida pública. Hoje, a influência dessas organizações ultrapassa os limites das favelas: elas dominam mercados paralelos de gás, combustíveis, internet, transporte alternativo, aluguel de imóveis e até processos eleitorais, especialmente em pequenas cidades do Nordeste, onde o poder público é mais vulnerável e dependente de estruturas locais.
Em tempos recentes, há indícios de que o dinheiro oriundo dessas atividades ilícitas já transita no sistema financeiro formal, misturado a investimentos aparentemente legítimos, inclusive em fundos e operações de mercado, o que demonstra o nível de sofisticação atingido. O crime organizado, antes limitado à periferia, agora tem acesso a capital, influência política e meios de lavagem de dinheiro que o colocam como um verdadeiro “Estado paralelo”.
O retrato é sombrio, mas necessário: o Brasil enfrenta um inimigo interno que já não se esconde — ele negocia, financia campanhas e dita regras onde o poder público falhou. Se nada for feito, a fronteira entre legalidade e ilegalidade continuará a se apagar.
Deus salve o Brasil!

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