domingo, 21 de dezembro de 2025

Um exercício de futurologia


O ano é 2030. Pela primeira vez em muito tempo, a política brasileira apresenta uma inversão curiosa: o maior problema não está do lado do fracasso, mas do êxito.

À frente do Palácio do Planalto, Flávio Bolsonaro conclui um mandato considerado bem-sucedido até mesmo por críticos moderados. Entregou estabilidade institucional, previsibilidade econômica, redução do ruído ideológico externo e um governo sem sobressaltos graves. Jovem ainda, com capital político intacto, Flávio pleiteia legitimamente a recondução para o mandato 2030 – 2034. Nada mais natural em qualquer democracia funcional.

Mas eis que surge o dilema. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas encerra seu segundo mandato como governador com uma marca inédita: torna-se, por consenso amplo, o melhor governador da história do estado. Infraestrutura entregue, contas organizadas, segurança pública em patamar recorde, obras concluídas e um modelo de gestão que extrapola fronteiras estaduais. O Sudeste, motor econômico do país, clama por sua candidatura ao Planalto.

E é exatamente aí que nasce o problema da direita. Não se trata de um embate entre incompetência e esperança, nem de um duelo entre extremos ideológicos. O impasse é mais sofisticado e, por isso mesmo, mais difícil.

De um lado, um presidente bem avaliado, no exercício do cargo, com o argumento democrático mais forte que existe: “time que está ganhando não se mexe”. De outro, um gestor consagrado, com aura técnica, capacidade comprovada e o apoio espontâneo do maior colégio eleitoral do país, capaz de ampliar a coalizão para além da direita tradicional.

Qualquer decisão gera custo: manter Flávio e frustrar a expectativa de renovação nacional em torno de Tarcísio ou lançar Tarcísio e interromper um governo que funciona, abrindo mão da continuidade. Não é uma crise. É um luxo político, algo raro na história recente do Brasil.

A esquerda, por sua vez, não enfrenta esse tipo de angústia. Em 2030, resolve o problema de forma simples, quase burocrática: vai de Lula novamente.

Aos 86 anos, Lula retorna ao discurso já testado, às narrativas conhecidas, aos símbolos de sempre. Garantirá que ao fim do seu quarto mandato, "cada brasileiro e brasileira estará tomando café da manhã, almoçando e jantando". Não há disputa interna real, nem sucessão organizada, nem novos quadros com musculatura eleitoral suficiente. A esquerda não debate projetos de futuro, debate longevidade política. É a antítese do dilema da direita: onde há escassez de opções, não há conflito.

Isso posto, não vai falar nada sobre o Ministro Alexandre de Moraes, Mãe Dinah?

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