quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Ave, Galípolo!


Justiça seja feita: Gabriel Galípolo vem se revelando um verdadeiro super-herói dos tempos modernos, desses que não usam capa, não discursam em palanques e não buscam aplauso fácil. Seu protagonismo é silencioso, técnico e, justamente por isso, raro.

Chegou ao Banco Central de mansinho, como membro da diretoria, longe dos holofotes e das paixões políticas. Com o encerramento do mandato do ex-presidente Campos Neto, acabou sendo escolhido por Lula para substituí-lo. A partir daí, muitos apostaram que o novo presidente do Banco Central seria apenas mais um elo obediente à cadeia de comando político.

Não foi o que se viu. Apesar da pressão pública e reiterada de figuras proeminentes do partido no poder, em alguns momentos, do próprio presidente que o nomeou, Galípolo tem resistido. E não apenas resistido: tem conduzido as decisões do colegiado estritamente com base em critérios técnicos, ancorado em dados, indicadores e fundamentos macroeconômicos, como manda o figurino institucional que tantos fingem respeitar, mas poucos efetivamente honram.

Agora, surgem notícias ainda mais reveladoras. Vazam informações de que, no episódio envolvendo o Banco Master, Galípolo teria sido pressionado pelo indivíduo mais poderoso da República, o ministro Alexandre de Moraes. Os desafetos do ministro, e é preciso reconhecer que Sua Excelência é particularmente hábil na arte de cultivar inimigos, o acusam de ter praticado advocacia administrativa, atuando em benefício de um cliente específico. E que cliente: o Banco Master, ligado ao escritório de advocacia de sua esposa e filhos.

Se essas pressões de fato existiram, e os veículos da grande mídia noticiam que, em um único dia, o ministro teria telefonado cinco vezes para Galípolo tratando do assunto, o desfecho fala por si. O Banco Master foi liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central.

Esse desfecho é eloquente. Ele sugere que Galípolo não cedeu à pressão ilegítima. Sugere que, mesmo diante de um dos centros de poder mais temidos do país, prevaleceu a institucionalidade, o dever funcional e a autonomia técnica. Num país em que tantos se dobram antes mesmo de serem pressionados, esse não é um detalhe menor, é um marco.

Se assim foi, Galípolo não apenas cumpriu seu papel. Ele o elevou.

“Ave, Galípolo, morituri te salutant!”

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