Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Com o pé esquerdo
A expressão idiomática “entrar com o pé esquerdo” significa iniciar algo de forma infeliz, azarada ou desastrosa, o oposto de “entrar com o pé direito”, associado a sorte e bons presságios. Sua origem remonta a antigas superstições, comuns a diversas culturas. O lado direito era tradicionalmente associado ao divino e ao auspicioso, como nos rituais romanos e cristãos, nos quais o “direito” simbolizava bênção e correção. Já o lado esquerdo foi historicamente ligado ao infortúnio e ao maligno, o que explica a palavra “sinistro”, derivada do latim sinister, que significa justamente “esquerdo”.
A força simbólica dessa crença atravessou línguas e séculos. Em inglês, a expressão equivalente é "get off on the wrong foot" (começar com o pé errado), carregando a mesma herança supersticiosa, com raízes medievais. Em espanhol, usa-se "empezar con el pie izquierdo", expressão consagrada na literatura: em Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, o protagonista “entra com o pé esquerdo” em suas aventuras ao confundir moinhos com gigantes logo no início da obra, um começo delirante que satiriza o idealismo equivocado. Em francês, há "mettre le pied dans le plat" (pôr o pé no prato), e em alemão, "mit dem falschen Fuß aufstehen" (levantar com o pé errado).
Na minha infância, em Várzea Alegre, quando começaram a aparecer as sandálias do tipo Havaianas, era comum que as tiras se soltassem, o que se chamava de “quebrou o cabresto”. A expressão remetia à ideia de algo que se desprende, que se solta das amarras, que “desembesta”. Pois bem: usando essa linguagem livre e simbólica, pode-se dizer que as sandálias Havaianas quebraram o cabresto neste final de ano e caminham para iniciar 2026 com o pé esquerdo.
Tudo começou com uma publicidade desastrosa, veiculada recentemente, em que a consagrada atriz Fernanda Torres abre o vídeo dizendo: “Não quero que você comece 2026 com o pé direito”. O problema é que Fernanda Torres é uma atriz sabidamente identificada com a esquerda. Poucos dias antes, ela havia participado de um ato público, em trio elétrico e com microfone em mãos, protestando contra o projeto de lei que propõe nova dosimetria para as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro, o episódio que parte da narrativa oficial denomina “trama golpista”.
A repercussão negativa foi intensa e imediata. Diante da enxurrada de críticas nas redes sociais, incluindo pedidos explícitos de boicote por parte de um amplo segmento da sociedade, a Havaianas decidiu retirar a campanha publicitária estrelada por Fernanda Torres de suas plataformas. Para esse público crítico, o conteúdo do vídeo possuía conotação política clara, o que motivou acusações de “politização esquerdista” da marca.
Enquanto isso, a principal concorrente agiu rapidamente. A marca Ipanema lançou um anúncio de última hora, em nítido contraste com o comercial da Havaianas. A nova campanha trouxe mulheres femininas vestindo camisas com as cores da bandeira do Brasil. O efeito foi imediato: em poucas horas, a Ipanema conquistou milhares de novos seguidores nas redes sociais, além de ampla repercussão em comentários, curtidas e compartilhamentos.
Diante desse cenário, profissionais de publicidade avaliam que a Havaianas deu um tiro no pé, e não apenas no direito. Ao que tudo indica, a marca caminha para entrar em 2026 com o pé esquerdo.
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