domingo, 7 de setembro de 2025

Correios? Salve-se quem puder!


O sistema postal brasileiro nasceu de forma rudimentar no período colonial, administrado por funcionários nomeados, muitas vezes sem controle rígido. No Império, os Correios permaneceram sob responsabilidade estatal, mas continuavam a carecer de padronização e fiscalização efetiva.

Com a Proclamação da República, os Correios foram federalizados. Mesmo assim, não estavam imunes a desvios. Jornais regionais registravam casos de carteiros que abriam correspondências ou desviavam encomendas valiosas. Em Minas Gerais, em 1912, um carteiro foi preso por furtar cédulas enviadas pelo correio. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, veículos como O Estado de S. Paulo e o Jornal do Commercio noticiavam, ocasionalmente, queixas de comerciantes sobre “encomendas valiosas sumidas”.

Na Era Vargas houve tentativas de modernizar e profissionalizar os serviços postais. Ainda assim, denúncias de corrupção e roubos persistiram, especialmente em cidades do interior e regiões de fronteira. Um episódio marcante ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial: entre 1944 e 1945, diversas famílias de soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) denunciaram que cartas e pacotes enviados da Itália jamais chegaram, muitos contendo fotos, dinheiro e objetos pessoais.

Antes da Constituição de 1988, o regime jurídico do funcionalismo federal previa a “disponibilidade” como forma de afastamento remunerado sem exercício de função. Durante o regime militar, funcionários foram sendo colocados em disponibilidade, transferidos, demitidos ou aposentados compulsoriamente.

Em 1973, os Correios viveram um marco: o primeiro grande concurso nacional, com mais de 20 mil vagas para carteiro, atendente comercial, operador de triagem, entre outros cargos. Foi a primeira seleção em grande escala com provas padronizadas e inscrições nacionais. Esse momento inaugurou uma era de profissionalização e modernização, elevando os Correios ao patamar de uma das instituições públicas mais respeitadas do país.

Por muitos anos, os Correios desfrutaram de prestígio e credibilidade, sinônimo de confiança e eficiência. Essa realidade começou a ruir quando a gestão técnica foi gradualmente substituída por indicações políticas. O ápice da deterioração ocorreu com o escândalo do Mensalão, denunciado em 2005, no qual a estatal foi usada como peça-chave no esquema de corrupção.

A decadência ganhou contornos dramáticos no episódio do Postalis, fundo de previdência complementar dos funcionários dos Correios, criado em 1990 para administrar aposentadorias, pensões e pecúlios.

O rombo bilionário começou a ser revelado em 2015–2016, embora os prejuízos se acumulassem havia mais de uma década, especialmente entre 2008 e 2015. O déficit atuarial foi estimado em R$ 19,5 bilhões, segundo a Previc e a CPI dos Fundos de Pensão.

Aplicações de alto risco, como construtoras (OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão), empreendimentos fantasmas e títulos podres; Empréstimos sem garantias reais a empresas ligadas a políticos e diretores do fundo; Gestão temerária e corrupção, com ex-diretores presos na Operação Greenfield (PF, 2016).

As consequências atingiram diretamente os trabalhadores: aumento das contribuições, congelamento de benefícios, restrição de reajustes e redução de planos de saúde vinculados. O caso do Postalis não apenas expôs o desvio de recursos, como destruiu a confiança em uma instituição que já foi símbolo de respeito e eficiência.

Em anos recentes, os números revelam a gravidade da crise. Em 2023, os Correios registraram prejuízo de R$ 597 milhões. Em 2024, o déficit disparou para R$ 2,6 bilhões, quase quatro vezes mais. Já no primeiro semestre de 2025, o prejuízo triplicou, alcançando R$ 4,37 bilhões, um aumento de 222% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A trajetória dos Correios espelha a própria história da administração pública brasileira: da precariedade inicial, passando pela fase de excelência e credibilidade, até a degradação causada pela ingerência política e pelos escândalos de corrupção dos governos do PT.

E aqui fica a questão inevitável: se tudo isso aconteceu e ainda acontece com os Correios, uma empresa de tamanha relevância e visibilidade nacional, o que pode ter ocorrido, silenciosamente, com tantos outros órgãos da administração direta e indireta no mesmo período?

Deus salve o Brasil!

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