Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
segunda-feira, 31 de março de 2025
Marine Le Pen importunou uma baleia?
When the radical left can’t win via democratic vote, they abuse the legal system to jail their opponents. This is their standard playbook throughout the world. (Elon Musk)
Marine Le Pen in France, Bolsonaro in Brazil, Imran Khan in Pakistan, Matteo Salvini in Italy, Donald Trump in America, Calin Georgescu in Romania. The criminal prosecution of every populist challenger is a dagger in the heart of the credibility of democracy. (Mike Benz)
Em 1972, Jean-Marie Le Pen fundava o Front National, partido de direita francês erguido sobre os pilares do poder de compra, do protecionismo econômico, da soberania nacional e do controle da imigração. Décadas depois, sob a liderança de sua filha, Marine Le Pen, a sigla tentou renovar sua imagem, trocando o nome para Rassemblement National (Agrupamento Nacional) em 2018 — mas sem abrir mão de sua identidade política, agora autointitulada "direita patriótica".
Desde então, Marine tem sido presença constante nas disputas presidenciais. Em 2022, chegou ao segundo turno. Em 2024, liderou seu partido a um excelente desempenho nas eleições europeias, mirando agora ampliar sua influência na Assembleia Nacional. Até aqui, tudo dentro do jogo democrático — até que deixou de estar.
Hoje, 31 de março, Marine Le Pen foi condenada a cinco anos de inelegibilidade e quatro anos de prisão por ter, segundo a acusação, participado de um "sistema centralizado e otimizado" que, entre 2004 e 2016, teria permitido ao partido economizar ao empregar assistentes parlamentares fictícios, que na realidade trabalhavam para o partido e não diretamente para os eurodeputados.
O juiz classificou a prática como um "duplo engano" — ao Parlamento Europeu e ao eleitorado — e afirmou que isso significava uma "contornagem às regras dos partidos políticos e ao funcionamento democrático". Em outras palavras, a alegação é que o partido — vejam só — utilizou funcionários pagos com dinheiro público para trabalhar em suas atividades político-partidárias.
A perplexidade é inevitável, principalmente para nós, brasileiros. É difícil compreender a rigidez da justiça francesa diante de um episódio que, cá entre nós, parece trivial diante das imoralidades rotineiras da política nacional. Recentemente, vimos um parlamentar brasileiro firmar acordo com a Suprema Corte após confessar o desvio de parte do salário de seus assessores para cobrir despesas pessoais. Nenhuma inelegibilidade. Nenhuma prisão. Apenas um acordo.
E agora, diante dos olhos do mundo, Marine Le Pen, líder das pesquisas para as eleições presidenciais francesas de 2027 — com 35% das intenções de voto, segundo o instituto Ifop — é condenada criminalmente e impedida de disputar o cargo. O segundo colocado? Um aliado do presidente Macron, com modestos 26%. Coincidência?
O advogado da deputada já anunciou que irá recorrer da sentença. Em frente à sede do partido, afirmou: “É um golpe para a democracia.” Um comentário que, mais do que uma defesa técnica, soa como alerta.
Parece que a esquerda mundial encontrou um novo e eficiente caminho para manter o poder: tornar inelegível e prender seus adversários políticos.
Não se trata mais de vencer nas urnas — trata-se de eliminar quem ameaça vencê-las. Foi assim na Bolívia, com Jeanine Añez, condenada a dez anos de prisão após assumir a presidência interinamente num momento de caos institucional; é assim na Venezuela, onde opositores de Nicolás Maduro continuam sendo silenciados atrás das grades sob pretextos diversos; é o caso da Nicarágua, onde o ditador Daniel Ortega já prendeu quase todos os que ousaram disputar o poder com ele; é a velha história em Cuba, a mais longeva ditadura do Ocidente, prestes a completar 65 anos.
Agora é a França, pátria dos direitos do homem, da liberdade e da igualdade, que entra para esse rol.
Sim, a acusação é grave. Mas diante do impacto político da sentença, da proximidade das eleições e do momento decisivo da extrema polarização que vive a Europa, é impossível não se perguntar: será que Le Pen importunou uma baleia? Porque, para estar presa, inelegível e politicamente neutralizada, só pode ter cometido um crime inédito (não tão inédito assim), exótico — ou simplesmente ser culpada do crime imperdoável de vencer nas pesquisas.
E assim caminham as democracias ocidentais: quando o voto não funciona, prende-se o adversário. Basta encontrar um motivo. Qualquer um serve. Até importunar uma baleia.
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