terça-feira, 26 de novembro de 2024

"Há algo no ar além dos aviões de carreira"


A frase "Há algo no ar além dos aviões de carreira" é atribuída ao jornalista e radialista brasileiro Apparício Torelly, conhecido como Barão de Itararé. Ele foi uma figura marcante do humor e do jornalismo satírico no Brasil, famoso por suas frases espirituosas e críticas sociais bem-humoradas.

Essa frase, em particular, foi usada como uma forma de comentar situações políticas e sociais do Brasil, sugerindo que havia algo suspeito ou oculto acontecendo.

Nos últimos dias, os maiores veículos de comunicação do Ocidente têm destacado reportagens sobre o Brasil, colocando a Suprema Corte, o governo Lula e até a política interna e externa do país sob os holofotes. O The New York Times, o maior jornal do planeta, publicou uma matéria de página inteira intitulada "Corruption Crackdown Is Unraveling in Brazil" (A repressão à corrupção está se desfazendo no Brasil), assinada pelos jornalistas Jack Nicas e Ana Ianova. A mesma matéria foi traduzida e publicada na versão em espanhol do jornal como "Una de las mayores investigaciones contra la corrupción en América Latina se desmorona", e republicada em outros veículos como o San Juan Daily Star, em Porto Rico.

Outro gigante da imprensa americana, o The Wall Street Journal, seguiu o mesmo tom crítico em seu artigo "Brazil and Latin America's Decline" (O declínio do Brasil e da América Latina). A matéria aponta diretamente para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando: "Suas políticas, estrangeiras e domésticas, desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023, correm o risco de levar seu país a um buraco cada vez mais profundo." O artigo questiona a condução política do atual governo e alega que tanto a democracia quanto a política econômica sólida estão em declínio no Brasil, influenciando negativamente o restante da América Latina.

O Financial Times, jornal inglês respeitado mundialmente, publicou uma reportagem sobre uma possível interferência do governo americano nas eleições presidenciais brasileiras de 2022. A matéria destaca uma declaração do ex-embaixador dos EUA, Thomas Shannon, que revelou ao jornal ter mantido conversas reservadas com o então vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, durante um encontro em Nova York, sobre a aceitação dos resultados eleitorais decretados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A suspeita levantada pela reportagem é de que, após esse encontro, Mourão teria atuado para influenciar militares e civis a evitar contestações ao processo eleitoral.

Essa avalanche de reportagens gera uma pergunta inevitável: por que agora? Por que as maiores democracias ocidentais demonstram tanto interesse repentino pelo Brasil, sua política interna e sua economia?

O Brasil não é apenas a maior economia da América Latina, mas também um ator crucial em blocos como o BRICS, que tem ganhado destaque global com movimentos como a inclusão de novos membros e esforços para promover moedas alternativas ao dólar.

Além disso, a Operação Lava Jato, que já foi a maior investigação anticorrupção da história recente da América Latina, está sendo desmantelada sob críticas de politização e abuso de poder. Decisões da Suprema Corte, como as anulações de condenações e a invalidação de provas, têm gerado questionamentos sobre a eficácia do combate à corrupção no Brasil. Isso atrai a atenção internacional, especialmente porque tais investigações expuseram redes de corrupção envolvendo multinacionais e políticos de vários países.

A atenção da mídia ocidental também pode ser lida como um alerta para investidores e democracias aliadas. O Brasil, sendo uma potência emergente, desempenha um papel central em acordos comerciais, ambientais e políticos. A instabilidade percebida em sua condução interna e em suas instituições pode refletir negativamente em sua reputação global e em sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros.

Independentemente da motivação, o fato é que o Brasil está sob os holofotes de uma forma que não se via desde o auge da Operação Lava Jato. "Há algo no ar além dos aviões de carreira".

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