quinta-feira, 29 de novembro de 2018

"Senta, buraco de cu"




Perdoem-me os que odeiam os Estados Unidos, desculpem-me aqueles que abominam o povo americano, mas eu preciso registrar o que testemunhei na noite passada.

Um amigo da minha filha, Mr. Peter (médico aposentado e com 84 anos) convidou-nos, a ela e a mim, para irmos assistir a um jogo de futebol americano. Ora, eu jamais gostei desse esporte. Acho-o entediante, brutal, e gerador de poucas emoções. Mesmo quando era um jogo da Dweyer High School, escola onde estudavam Carol e Samuca no início do século, eu raramente assistia. Mas para não ser deseducado, aceitei o convite de Peter.

O jogo era entre as seleções da UCLA e Berkeley. Duas universidade da Califórnia. Portanto não dos times de profissionais. E decidia, se bem entendi, uma semifinal qualquer. A primeira grande surpresa que enfrentei foi com a quantidade de pessoas, famílias inteiras completas, presentes ao evento. Era uma multidão dedicada a divertir-se, comer, beber, cantar etc, que soube no decorrer da partida eram quase sessenta mil pessoas.

No pátio ao lado do Rose Bowl, belíssimo estádio onde o Brasil sagrara-se campeão mundial de futebol em 1994, enormes toldos, ao que parece cada um patrocinado por empresas. Fomos, por orientação do amigo, até ao grande barracão do Ralph's - uma rede de supermercados do oeste americano. Contou-me Peter, que havia feito sua feira mensal e ganho três tickets de entrada para esse evento. Algo como um ticket para cada trinta e cinco dólares de compra.

No enorme espaço destinado ao Ralph's, havia uma parte descoberta onde se podia encontrar pequenas bancas com distribuição gratuita de vinho, cerveja, refrigerantes etc. Outras distribuíam petiscos, salgadinhos os mais diversos. Ainda um palco com uma banda de rock, tocava incessantemente. Na parte coberta, protegida pelo toldo, duas baterias de bifês, servidos por senhores e senhoras, constando de saladas, carne e pão de hambúrguer, coxas e asas de frango, costelas de porco assadas etc. alem de uma bem fornida mesa de doces e bolos os mais diversos.

Fui fundo no vinho. Não me preocupei em inquirir quem estava pagando por aquela farra descomunal. Uma ou outra coxa ou asa de frango assadas, e a macia costelinha de porco para acompanhamento. Eu teria ficado ali por mais tempo que a hora e meia nos permitiu, mas fomos convocados pelo amigo americano a entrar nas dependências do estádio, porque o jogo ia começar.

A solenidade de início marcada pela execução do hino nacional americano, pela banda da UCLA, com certamente mais de duzentos componentes, com exagerada quantidade de instrumentos de sopro e percussão. Os telōes do estádio, sempre veiculando mensagem de motivação aos jogadores e à torcida, e mostrando o jogo em todos os seus lances, a movimentação das "cheerleaders" de ambas as equipes, os toques das duas bandas, que em lados opostos da arquibancada executavam suas músicas, tudo aquilo era um monumental festival de luzes, cores e sons. Como podia caber tudo aquilo em um jogo que não era um FLAxFLU, sequer um Ceará e Fortaleza?

Mesmo o jogo, que me entediava, foi extremamente emocionante. Até faltando apenas oito segundos para o final do quarto e último tempo, encontrava-se empatado em 27 a 27. Naqueles oito segundos fatais, os juízes marcaram alguma coisa desfavorável ao time do Berkeley. Esse era o grande adversário do meu amigo Peter. De repente, duas filas à frente da nossa, levanta-se um torcedor do Berkeley para reclamar da marcação. Então, para coroar a noitada, meu amigo Peter, do alto dos seus oitenta e quatro anos, e da majestade da sua aposentadoria de discípulo de Hipócrates, gritou a frase definitiva que seria em tradução, rigorosamente ao pé da letra para o português, algo como: "SENTA, BURACO DE CU!"

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