sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Eu te disse, Moro!




Em 30 de outubro, quando a imprensa anunciava com insistência o convite do Presidente eleito ao Juiz Moro para ser Ministro, escrevi um texto cujo título é "Diga não, Moro" (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2018/10/diga-nao-moro.html). E encerrava com a afirmação abaixo:

A eventual ida do Juiz Moro para formar no novo Gabinete, se por um lado seria uma garantia de que o governo não flertaria com tentativas de navegar na difusa fronteira entre a lei e o autoritarismo tosco, por outro lado, poderia criar zonas de atrito entre seu garantismo e o "excesso de zelo" de setores dos vencedores. A sociedade brasileira já possui mecanismos e instituições sólidas e bem definidas para garantir a condução democrática do país, sem que seja necessária a presença de alguém com seu perfil, para servir de avalista dessa condução.

Quando do anúncio do convite e da aceitação por parte do Juiz, escrevi em outro texto no meu Blog (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/), no qual afirmava:

Na luta contra a corrupção, terá que implantar políticas de combate aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros. Esse último item certamente desagradará larga parcela do segmento político, sabendo-se que pelo menos um terço dos que compõem as casas legislativas federais encontram-se envolvidos (por razões diversas) com a justiça, sem contar com o eventual envolvimento de colegas do Executivo.

Pois bem: explode na mídia uma série de denúncias envolvendo assessor parlamentar de um filho do presidente, que teria movimentado valores para os quais não tinha renda nem patrimônios compatíveis com a movimentação. Valores apurados pelo COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, e que foi criado a partir da Lei 9.613, de 3 de março de 1998, a lei que diz respeito à prevenção e combate aos crimes relacionados à lavagem de dinheiro. A partir do novo governo, o COAF será vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, que será dirigido pelo Sr. Sérgio Moro.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin acatou pedido da Procuradoria-Geral da República para abertura de investigação contra o futuro ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Há algo mais grave, ou melhor dizendo, mais constrangedor: o COAF apurou que houve por parte do referido assessor do Deputado Flávio Bolsonaro, um cheque de R$ 24.000,00 dirigido à senhora Michelle Bolsonaro, esposa do Presidente eleito.

Evidente que é muito cedo para formarmos um juízo de valor sobre esses episódios. Mas há cheiro de enxofre no ar. Até que ponto o incorruptível e admirado juiz Sérgio Moro, na condição de Ministro, terá autoridade para investigar um assessor de Flávio Bolsonaro ("Fabrício Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança", disse o filho do presidente eleito no Twitter. "Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta"), e mais que isso, quão embaraçoso e complicado será se essa investigação respingar no "primeiro filho" Senador e/ou na "primeira dama"?

Não tenho dúvida de que o Dr. Moro é um homem de bem. De que está dedicando sua vida para tentar fazer o seu melhor pelo país. Mas todo ser humano tem fraquezas. O que me inquieta é até que ponto estaria o Dr. Moro disposto a sacrificar mais de duas décadas de uma carreira brilhante no Judiciário (uma vez que já pediu exoneração do cargo de Juiz Federal) e de uma eventual indicação para o Supremo Tribunal Federal oportunamente, para manter fidelidade aos seus princípios. Suspeito que se o Dr. Moro desconfiasse de longe que esses episódios iam "pipocar", ele jamais teria aceitado o honroso convite.

Devia ter dito "não", Moro!

Um comentário:

  1. Dr. Nilo - Eu li e reli o seu texto à época com bastante atenção e cuidado. Formei a minha opinião igual a sua. Embora, por não conhecer a história dos filhos de Bolsonaro, Queirós e amigos milicianos votei pra ele. Muita gente foi enganada por Bolsonaro nesta história, Cada dia é revelado mais corruções. Os valores descobertos são outros bem mais fornidos e volumosos. Bolsonaro é um pústula, um soldado covarde e sem honra que deixa os feridos para tras sem nenhuma sensibilidade com os já 114 mil mortos pela pandemia e seus familiares. Bolsonaro é um traidor, traiu vários personalidades honradas que convidou para fazer parte do seu ministério e traiu sobretudo o povo prometendo uma coisa e entregando outra.

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