
"Nas procissões católicas, que antigamente eram muito comuns nas cidades do interior, e ainda sobrevivem em muitas, normalmente as imagens de santos são carregadas em andores: um tablado de madeira com duas barras longas e paralelas uma de cada lado, que servem para apoiar o tablado sobre os ombros dos que carregam as imagens. Isso precisa ser feito com cuidado e calma, senão, o santo pode escorregar, cair e quebrar, pois é feito de barro (louça ou cerâmica). Assim, a expressão "Devagar com o andor, que o santo é de barro", passou a ser usada para significar: Calma! Não se apresse, pois a precipitação pode causar problemas." (Do blog de Ana Scatena - http://anascatena.blogspot.com/).
Poucos instantes depois do convite e aceitação do Juiz Moro para participar do Governo Bolsonaro, que eu não concordei, diga-se (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/), começaram a pipocar na Internet, em textos de colunistas políticos e mesmo na grande mídia, a "nomeação" de Moro como futuro presidente do Brasil. Ora, se mil outros argumentos não existissem, apenas o fato do presidente recém-eleito sequer ter assumido ainda, já desautoriza qualquer especulação sobre sua sucessão.
O Ministro Moro será responsável por uma agenda que engloba dois entre os três maiores problemas que afligem o brasileiro, conforme pesquisas recentes: a corrupção e a violência. O novo governo vai enfrentar no primeiro ano de mandato um grande deficit nas contas públicas e forte restrição orçamentária, de acordo com projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019. O projeto prevê uma meta de deficit primário de R$ 139 bilhões para o governo central. A implementação de novos programas de contenção da corrupção endêmica que infectou o tecido social, e mais grave ainda, baixar o nível de violência vigente no país, pressupõe recursos que imagino não serão de pequena monta. A mobilização de esforços para a monitoração de mais de 17 mil quilômetros de fronteira objetivando diminuir a entrada clandestina de armas e drogas, certamente a razão maior dos índices de violência existentes, será uma tarefa hercúlea. Na luta contra a corrupção, terá que implantar políticas de combate aos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros. Esse último item certamente desagradará larga parcela do segmento político, sabendo-se que pelo menos um terço dos que compõem as casas legislativas federais encontram-se envolvidos (por razões diversas) com a justiça, sem contar com o eventual envolvimento de colegas do Executivo.
Apenas por amor ao debate de ideias, imaginemos que o Ministro Moro tenha sucesso absoluto nas suas tarefas. Sua imagem está, a partir de agora, irremediavelmente vinculada ao Presidente Bolsonaro e seu governo. É necessário que este também tenha a aprovação da maioria da população ao término do seu primeiro termo, e ainda consideremos que cumprirá a promessa de campanha de empenhar-se em revogar a lei da reeleição. São tantas as condicionantes e tão distante no tempo a análise objetiva dessa possibilidade, que me remete à sabedoria popular: ”devagar com o andor que o santo é de barro”.
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