terça-feira, 6 de novembro de 2018

O velho dinossauro




Confesso que já faz muito tempo. Foi no ano de 1967 e o vestibular era dirigido para determinada faculdade. Eu havia escolhido Engenharia. Tinha uma certa facilidade para lidar com números, mas também gostava muito de ler. O curso ginasial no Colégio Cearense (Marista de primeiríssima qualidade), obrigara-me a transformar em hábito o exercício da leitura. O que no início era uma dolorosa obrigação, transformou-se em um prazeroso ocupar de tempo livre.

No cursinho pré-vestibular do Cearense, tive como professor de português o grande mestre Plínio de Sá Leitão. Seu profundo conhecimento da língua, sua extrema capacidade de motivar os alunos e o entusiasmo com que ministrava suas aulas, fizeram-me obter a nota oito em português para o vestibular de Engenharia. Registre-se que à época não existiam provas de múltipla escolha, o que (avalio) dificultava ainda mais o desafio do ingresso em curso superior.

Como disse, aconteceu há longo tempo. As coisas hoje em dia estão muito mais modernas. Já não se escolhe um texto de Machado de Assis ou uma poesia de Cecília Meireles. Creio que o surgimento da Internet, da comunicação instantânea, das redes sociais, dos aplicativos e das aulas não presenciais, a própria evolução de costumes da sociedade, deixaram-me para trás. Perplexamente para trás. Um dinossauro dos tempos.

Havia me proposto a escrever algo sobre o exame do Enem acontecido no domingo último. Após ler a prova, de reler e tentar entender seu conteúdo, não me sinto capaz de fazê-lo. Como um velho dinossauro do período do vestibular escrito vai avaliar exames preparados nestes tempos modernos? Existem questões que eu sequer compreendo o significado. E outras tantas que para mim, essa ultrapassada criatura, não caberiam num texto de avaliação de candidatos ao ingresso no ensino superior. Os "Machados de Assis" e as "Cecílias Meireles" caducaram. De minha parte, sinto-me profundamente feliz por participar da época daqueles vetustos escritores e poetas. Certamente não seria aprovado em exames que tanto exigem do raciocínio, da criatividade e do conhecimento literário dos jovens de hoje.


Um comentário: