
Apesar de estar no sétimo mandato de deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, a larga maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar em Jair Bolsonaro até recentemente. O despreparado e politicamente incorreto capitão reformado do exército, cujo nome do meio é Messias, não é personagem de um movimento específico do Brasil. Remeta-se à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, à vitória do Brexit no Reino Unido, ao fortalecimento de partidos de centro-direita e extrema-direita na Europa, etc. Mas isso, por si só, não explicaria a meteórica e surpreendente ascensão do militar ao cenário político nacional.
Após mais de 13 anos de supremacia do PT, com extraordinário sucesso no primeiro governo Lula, abalado então no final do termo pelo que se convencionou chamar de mensalão, acentuou-se para a reeleição do presidente em 2006 a imagem do "nós contra eles". Com efeito, após explorar à exaustão esse conceito na campanha eleitoral, o primeiro discurso de Lula após o resultado do pleito (ganhou a eleição em segundo turno, com 60,83% dos votos) reafirma claramente que "o andar de baixo venceu o andar de cima", ao contrário da "esperança venceu o medo" da primeira eleição.
O segundo termo do presidente Lula foi marcado pelas jogadas de marketing do competente João Santana, culminando com o lançamento do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, que quase nada tinha de novo. “O programa não se sustentava na calculadora, mas foi festejado pela militância petista, pela mídia e especialmente pelos grandes empresários, certos de que teriam acesso a muito dinheiro. O povo acreditou que Lula estava construindo um futuro de prosperidade econômica e social”. No rastro desse programa, e porque o virtual candidato a substituir Lula num próximo mandato - José Dirceu - estava sendo investigado por corrupção e outros crimes, Lula passou a "vender" a imagem da sua ministra Dilma Roussef como uma grande executiva ("mãe do PAC"). Essa seria sua candidata e substituta.
O tempo é o senhor da razão, diz a sabedoria popular. E o tempo demonstrou que nem Dilma era uma competente gestora e muito menos estava preparada para lidar com um presidencialismo de coalizão à brasileira. Some-se a isso a chegada da fatura dos gastos sem controle dos dois termos anteriores, a queda dos preços das commodities, etc. Sentindo o faro da ameaça à reeleição da presidente, Lula tentou iniciar um movimento para substituí-la, mas ela própria e seu núcleo duro que a rodeava, conseguiram neutralizar esse movimento e apesar de ter ganho a eleição, Dilma desaguou no melancólico fim que todos sabemos.
Após seu impedimento em 31 de agosto de 2016, assumiu seu vice-presidente, Michel Temer. Não há necessidade de uma análise mais aprofundada da gestão Temer. Basta que se diga que "nunca antes na história deste país", tivemos um governo tão rejeitado. "Levantamento CNI/Ibope divulgado na tarde desta quarta-feira, 26 de setembro, mostrou que 82% dos brasileiros consideram o atual governo Michel Temer (MDB) como "ruim" ou "péssimo", sendo essa a pior avaliação desde o início do governo. Em junho deste ano, o porcentual era de 79%. Já a população que avalia a administração atual como boa ou ótima manteve-se em 4%, a mesma observada em junho”.
Desenhado esse cenário somado à energia mundial de uma guinada conservadora, surge um capitão reformado que "assim como Trump, Bolsonaro agrada a muitos eleitores por ser visto como um político outsider, que está fora dos esquemas da política tradicional. Ambos não medem as palavras para se expressar e não se furtam em usar palavrões ou ofender alguém – e assim passam a sensação de estarem falando a verdade." Na esteira dos escândalos de corrupção que abalaram a república, envolvendo os maiores partidos e principalmente o Partido dos Trabalhadores, estabelece-se um candidato que em linhas gerais defende a luta contra a corrupção, o conservadorismo nos costumes e o liberalismo na economia. É pouco? Muito, muito pouco. Muito superficial. Mas o seu adversário direto, Fernando Haddad, além de ter que arcar com uma profunda rejeição ao seu partido, o PT, tem sido obrigado a fazer "flexibilizações" no seu programa de governo, de tal sorte que pela terceira vez há registrado mudanças em bandeiras históricas da esquerda brasileira.
O jornalista Josias de Sousa escreveu no último dia 10/10 em seu blog:
"O PT chega ao segundo turno da eleição presidencial um pouco como o personagem da anedota, que mata pai e mãe e, no dia do julgamento, pede misericórdia com um pobre órfão. O PT quer a compreensão de todos para formar uma “frente democrática” de combate a Bolsonaro, personagem que o partido mesmo ajudou a criar com suas cleptogestões e seus pendores hegemônicos. A diferença entre o PT e o ''órfão'' da piada é que o PT deseja que o perdoem sem pedir perdão... "
Hoje, 21 de outubro, a sete dias do segundo turno, a julgar pelas pesquisas divulgadas recentemente, a eleição encontra-se virtualmente definida. Os números do Ibope e Datafolha, quase completamente coincidentes, apontam para 18% de maioria para o candidato do PSL. O jogo está praticamente jogado. Resta-nos a nós, simples mortais, ou melhor dizendo simples eleitores, buscarmos o melhor caminho para o país e rezarmos, rezarmos muito para que aquele que venha a dirigir essa grande nação, inicie o movimento de inflexão ao caminho da paz e do desenvolvimento.
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Atualizado em 17 de maio de 2021, às 19:09h
De Diogo Mainard na Revista Crusoé:
Lula "...preparou o terreno para o triunfo de Jair Bolsonaro, seu verdadeiro poste, que cumpriu a missão de perseguir Sérgio Moro e aniquilar a Lava Jato, aliando-se aos Ministros do STF que anularam todos os seus processos."
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