A Arábia Saudita, pelo fato do “desaparecimento” ter acontecido no seu território (porque dentro de sua embaixada na Turquia), inicialmente negou veementemente o acontecido, afirmando que o jornalista havia sido atendido e saído da embaixada. Diante do clamor internacional, principalmente dos países europeus, deixaram vazar a versão de que, ao ser interrogado, aconteceu um acidente e ele havia morrido. Parece-me uma preparação para jogar a culpa em um oficial subalterno qualquer, isentando as autoridades da embaixada e mais que isso, do governo saudita, de toda e qualquer culpa. Isso poderá acontecer nas próximos dias.
Os Estados Unidos, porque o senhor Khashoggi era também cidadão americano e correspondente de um dos mais influentes jornais daquele país, inicialmente, através do seu presidente Donald Trump, cobrou a solução do episódio com veemência, insinuando até que poderia haver retaliação contra a Arábia. O leão transformou-se em um gatinho indolente, tão logo o rei da Arábia (Salman bin Abdulaziz Al Saud) falou-lhe ao telefone. A entrevista de hoje do presidente Trump, já teve um ar absolutamente conciliador, enquanto enviava seu Secretário de Estado para uma visita ao reinado. Compreensível. Mais do que estar entre os três maiores produtores de petróleo e gás do planeta e os trinta e um bilhões de dólares anuais de comércio bilateral, a Arábia Saudita é o mais fiel e longevo aliado americano naquela parte do mundo, de fundamental importância para a geopolítica dos Estados Unidos. É portanto do interesse americano, aceitar qualquer que seja a versão engendrada pelo reino árabe para justificar um eventual assassinato do jornalista.
E como fica a Turquia? Ora, esse país afirma, com rara convicção, que existem provas do assassinato do jornalista por membros da inteligência saudita. Para livrar-se da acusação de espionagem no território da Arábia Saudita (as embaixadas são consideradas território do país que as nomeia, sendo portanto invioláveis), criou uma fantasiosa versão de que áudios gravados testemunhando a tortura e assassinato do jornalista, haviam sido transmitidas pelo seu relógio para o celular que se encontrava na posse da noiva, do lado de fora da embaixada. E assim caminha a humanidade, com cada país criando as mentiras para sua conveniência. Não nos enganemos: todos vão aceitar as versões de todos. O “The Washington Post” fica sem seu colaborador e a noiva fica sem seu futuro marido.

Atualizado em 20/10/2018
O governo Saudita, pela primeira vez admite que o jornalista Jamal Khashoggi foi morto dentro do consulado, "em uma briga com agentes".
O presidente Trump acaba de dar uma entrevista afirmando que "ainda é cedo para os Estados Unidos decidirem se vão estabelecer alguma sanção ao país".
Só falta a Turquia liberar a fita gravada com a prova da tortura de Jamal. Mas deve estar esperando que a comunidade internacional venha a digerir completamente sua versão do relógio e do celular da vítima. Afinal, espionar consulado ou embaixada diz respeito à imunidade e à inviolabilidade diplomática, previstas na Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas.
Atualizado em 13/12/2018
O Senado americano acaba de aprovar nesta quinta-feira, por unanimidade, uma resolução condenando o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, aumentando a pressão sobre o presidente Donald Trump, que se alinhou ao reino saudita após o assassinato brutal.
Mais informação no site oficial da CNN em ===> https://edition.cnn.com/2018/12/13/politics/corker-saudi-crown-prince-khashoggi/index.html
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