
Madrugada de segunda feira, 29 de outubro. Em meio à excitação da eleição, insone, abro o notebook e deparo-me com a manchete do UOL: "Análise: primeiro discurso de Bolsonaro é desanimador e mantém tom bélico." Não resisti. Ironicamente, escrevi o comentário a seguir: "Ainda bem que o discurso do Haddad foi num tom conciliador e de entendimento... e depois daquela amistosa ligação telefônica que ele fez para o capitão (seguindo a tradição), reconhecendo a derrota e clamando pelo desarmamento dos espíritos pelo bem do país, tudo voltará à paz e à concórdia no seio da família brasileira." É bem verdade que no primeiro pronunciamento do capitão após o anúncio do resultado, formatado para as redes socias e claramente dirigido aos seus militantes, não havia uma mensagem clara para a oposição, um gesto magnânimo de mãos estendidas. O tom messiânico ali empregado também não me agradou. Mas as avaliações feitas na matéria do UOL, além de injustas, são exageradamente desfavoráveis ao presidente eleito.
Na varredura nas redes sociais, encontro entre os dez Brasil Trends do Twitter, as hashtags #ForaBolsonaro, #EleNaoEMeuPresidente, #EleNaoMeRepresenta e #AdolfHitler (entendo que esta última, não coincidentemente se encontra presente). Ainda no Facebook, um pequeno vídeo denunciando a agressão de um policial a jovens que se manifestavam ontem à noite (presumo), sendo debitada na conta do recém-eleito presidente. No áudio, vê-se que o episódio acontece em Salvador, capital de um estado que é um bunker do PT e cujo governador foi reeleito ainda no primeiro turno. No WhatsApp, um vídeo do candidato do Psol tentando deslegitimar a vitória do presidente eleito, conclama a população para "a luta". Vamos à rua "já na próxima terça-feira" diz ele. Essa é a esquerda que eu conheço!
Ora, a eleição passou. Agrade-nos ou não, um dos candidatos ganhou com mais de 55% dos votos dos brasileiros. Foram quase sessenta milhões de pessoas que acreditaram nas propostas do vencedor, seja por terem sido sensibilizadas por elas, seja pela fadiga dos partidos e lideranças tradicionais. Uma eleição absolutamente atípica para os padrões brasileiros, quando os caminhos trilhados anteriormente não funcionaram. Agora é a hora de "lamber as feridas", tentar reconciliar o tecido social da nação, sem prejuízo para a vigilância ao governo na direção do cumprimento das promessas de campanha e do seu programa registrado no TSE, especialmente por parte da oposição. Neste momento, quando o país se encontra claramente dividido, provocar movimentos de rua, hostilidades na imprensa e nas redes sociais, não é o melhor caminho. Não constrói. Não dirige o país para uma sociedade de paz e de desenvolvimento. Não facilitará a urgente necessidade de minorar as diferenças interpessoais, intersetoriais e inter-regionais presentes no Brasil. Muito mais inteligente e talvez mais produtivo, seria seguir o exemplo da oposição inglesa. Criem um ministério fantasma ou ministério de sombra (Official Opposition Shadow Cabinet) com quadros competentes, composto pelos membros de escalão mais alto da oposição, com a função de monitorar "titulares de cargos correspondentes no Governo, desenvolvendo políticas alternativas, e pressionando o Governo para explicar suas ações públicas."
Ah, mas isso é muito civilizado para o PT, ou melhor dizendo, para a política brasileira. O que vimos no vídeo do candidato do Psol e principalmente no discurso do concorrente vencido, bem como na manifestação de vários líderes da oposição, foi a "faca nos dentes". Em vez de um gesto de conciliação (sequer desejou felicidade ao novo governo), de um telefonema seguindo a tradição, cumprindo um protocolo republicano, o que se ouviu foram declarações bélicas, essas sim. Quem quer a reconstrução de uma sociedade de paz, o refazimento do tecido social esgarçado, não conclui um discurso de derrota com a frase "verás que um professor não foge à luta". Deus abençoe o Brasil!
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Atualizado em 29/10/2018 às 13:37h
@Haddad_Fernando
Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte!
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9:36 AM - 29 Oct 2018
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