terça-feira, 30 de outubro de 2018

Diga "não", Moro!




A imprensa divulga com insistência e o próprio presidente eleito confirmou em recente entrevista, que o Juiz Sérgio Moro será convidado para Ministro da Justiça no seu governo. Não poderia haver melhor escolha. Sérgio Fernando Moro (nascido em Maringá em 1 de agosto de 1972), e juiz federal da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, foi professor de direito processual penal na Universidade Federal do Paraná. "Moro ganhou enorme notoriedade nacional e internacional por comandar, desde março de 2014, o julgamento em primeira instância dos crimes identificados na Operação Lava Jato que, segundo o Ministério Público Federal, é o maior caso de corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no Brasil, envolvendo um grande número de políticos, empreiteiros e empresas, como a Petrobras, a Odebrecht, entre outras."

Todos temos o direito de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos pessoais sem medo de retaliação ou censura, conforme Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no seu Artigo XIX. Assim também, a Constituição brasileira de 1988 registra o direito à liberdade de expressão, como abaixo:

Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

Com as salvaguardas estabelecidas acima, atrevo-me a emitir minha opinião. O Juiz Moro tem uma tarefa que está sendo cumprida com a admiração e aplauso da grande maioria dos brasileiros. Ninguém, além do Lula de 2010, chegou tão próximo da unanimidade nacional. Fazer parte do ministério do presidente recém-eleito, certamente abrilhantaria aquele colegiado. No entanto, agora que muitos dos implicados na operação lava jato perderam o foro privilegiado, ausentar-se seria no mínimo alimentar uma forte decepção na sociedade brasileira. Apesar da sabedoria popular estabelecer que "o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis", a justiça precisa da sua mão firme e correta em defesa dos valores e leis nacionais. Ademais, vamos combinar que o Executivo pode não ser a "sua praia". Seguindo carreira no Judiciário, você terá eternamente o reconhecimento de (quase) todos. Você destemidamente deu o início a esse processo de expurgo e exorcismo dos "mal feitos" dos poderosos.

A eventual ida do Juiz Moro para formar no novo Gabinete, se por um lado seria uma garantia de que o governo não flertaria com tentativas de navegar na difusa fronteira entre a lei e o autoritarismo tosco, por outro lado, poderia criar zonas de atrito entre seu garantismo e o "excesso de zelo" de setores dos vencedores. A sociedade brasileira já possui mecanismos e instituições sólidas e bem definidas para garantir a condução democrática do país, sem que seja necessária a presença de alguém com seu perfil, para servir de avalista dessa condução.

Vida longa, Juiz Moro! Um brilhante futuro espera por você.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O Day After




Madrugada de segunda feira, 29 de outubro. Em meio à excitação da eleição, insone, abro o notebook e deparo-me com a manchete do UOL: "Análise: primeiro discurso de Bolsonaro é desanimador e mantém tom bélico." Não resisti. Ironicamente, escrevi o comentário a seguir: "Ainda bem que o discurso do Haddad foi num tom conciliador e de entendimento... e depois daquela amistosa ligação telefônica que ele fez para o capitão (seguindo a tradição), reconhecendo a derrota e clamando pelo desarmamento dos espíritos pelo bem do país, tudo voltará à paz e à concórdia no seio da família brasileira." É bem verdade que no primeiro pronunciamento do capitão após o anúncio do resultado, formatado para as redes socias e claramente dirigido aos seus militantes, não havia uma mensagem clara para a oposição, um gesto magnânimo de mãos estendidas. O tom messiânico ali empregado também não me agradou. Mas as avaliações feitas na matéria do UOL, além de injustas, são exageradamente desfavoráveis ao presidente eleito.

Na varredura nas redes sociais, encontro entre os dez Brasil Trends do Twitter, as hashtags #ForaBolsonaro, #EleNaoEMeuPresidente, #EleNaoMeRepresenta e #AdolfHitler (entendo que esta última, não coincidentemente se encontra presente). Ainda no Facebook, um pequeno vídeo denunciando a agressão de um policial a jovens que se manifestavam ontem à noite (presumo), sendo debitada na conta do recém-eleito presidente. No áudio, vê-se que o episódio acontece em Salvador, capital de um estado que é um bunker do PT e cujo governador foi reeleito ainda no primeiro turno. No WhatsApp, um vídeo do candidato do Psol tentando deslegitimar a vitória do presidente eleito, conclama a população para "a luta". Vamos à rua "já na próxima terça-feira" diz ele. Essa é a esquerda que eu conheço!

Ora, a eleição passou. Agrade-nos ou não, um dos candidatos ganhou com mais de 55% dos votos dos brasileiros. Foram quase sessenta milhões de pessoas que acreditaram nas propostas do vencedor, seja por terem sido sensibilizadas por elas, seja pela fadiga dos partidos e lideranças tradicionais. Uma eleição absolutamente atípica para os padrões brasileiros, quando os caminhos trilhados anteriormente não funcionaram. Agora é a hora de "lamber as feridas", tentar reconciliar o tecido social da nação, sem prejuízo para a vigilância ao governo na direção do cumprimento das promessas de campanha e do seu programa registrado no TSE, especialmente por parte da oposição. Neste momento, quando o país se encontra claramente dividido, provocar movimentos de rua, hostilidades na imprensa e nas redes sociais, não é o melhor caminho. Não constrói. Não dirige o país para uma sociedade de paz e de desenvolvimento. Não facilitará a urgente necessidade de minorar as diferenças interpessoais, intersetoriais e inter-regionais presentes no Brasil. Muito mais inteligente e talvez mais produtivo, seria seguir o exemplo da oposição inglesa. Criem um ministério fantasma ou ministério de sombra (Official Opposition Shadow Cabinet) com quadros competentes, composto pelos membros de escalão mais alto da oposição, com a função de monitorar "titulares de cargos correspondentes no Governo, desenvolvendo políticas alternativas, e pressionando o Governo para explicar suas ações públicas."

Ah, mas isso é muito civilizado para o PT, ou melhor dizendo, para a política brasileira. O que vimos no vídeo do candidato do Psol e principalmente no discurso do concorrente vencido, bem como na manifestação de vários líderes da oposição, foi a "faca nos dentes". Em vez de um gesto de conciliação (sequer desejou felicidade ao novo governo), de um telefonema seguindo a tradição, cumprindo um protocolo republicano, o que se ouviu foram declarações bélicas, essas sim. Quem quer a reconstrução de uma sociedade de paz, o refazimento do tecido social esgarçado, não conclui um discurso de derrota com a frase "verás que um professor não foge à luta". Deus abençoe o Brasil!

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Atualizado em 29/10/2018 às 13:37h

@Haddad_Fernando

Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte!

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9:36 AM - 29 Oct 2018

sábado, 27 de outubro de 2018

A bala de prata




Estamos a vinte e quatro horas da decisão da escolha do próximo presidente do país, em meio a uma campanha tisnada por ampla divulgação de notícias falsas (as ditas fake news), e uma preocupante e profunda divisão do tecido social brasileiro.

O candidato da esquerda, em cristalina desvantagem nas pesquisas de opinião, aposta em qualquer fato novo que o reconduza à disputa. A última “bala de prata”, depois de várias tentativas infrutíferas, é a volta do terceiro colocado no primeiro turno, o candidato Ciro Gomes.

A depender de Lula e de grande parte do PT, Ciro jamais será candidato apoiado por eles. Temem dele o talento verbal e o incontestável conhecimento do país. Não se faz três campanhas para presidente (percorrendo o Brasil), não se é deputado, governador, ministro, sem que se acumule um largo portfólio dos problemas da nação. Mas mais do que isso, Lula e o PT temem a perda do protagonismo político. Preferem perder com um "poste", a ganhar com Ciro.

Essa foi sempre a ecologia reinante no PT. É a busca da hegemonia. Estou absolutamente convencido de que Luís Inácio jamais teve um projeto político de longo prazo para o país. Sequer para o PT ou para a esquerda. Seu projeto político é absolutamente pessoal.

Hoje ouvi de um amigo, eleitor de Ciro: "por que eles agora estão desesperadamente em busca do apoio de Ciro? Por que Ciro deveria fazer campanha para que o PT perca por menos? Ele já foi enganado demais pelo Lula. Perseguido até. Agora apelam à responsabilidade democrática e ao amor ao país de Ciro Gomes."

Com efeito, trabalhar pelo candidato do PT, para eventuais projetos futuros do ex-governador cearense, é um tiro no pé. A Folha de São Paulo publica hoje declaração do ex-presidente, dizendo que "resultado apertado mudará o patamar da oposição". Mais do que o gesto de "jogar a toalha", o líder maior do PT dá o mote para sua militância: vamos encurtar a vitória dele, vamos infernizar o governo dele (como só o PT sabe fazer) e estaremos de volta em 2022.

Não há outra leitura possível. Mas quero concluir essas divagações despretensiosas, com a brilhante metáfora do jornalista Josias de Sousa no seu Blog no último dia 10 de outubro:

"O PT chega ao segundo turno da eleição presidencial um pouco como o personagem da anedota, que mata pai e mãe e, no dia do julgamento, pede misericórdia com um pobre órfão. O PT quer a compreensão de todos para formar uma “frente democrática” de combate a Bolsonaro, personagem que o partido mesmo ajudou a criar com suas cleptogestões e seus pendores hegemônicos. A diferença entre o PT e o ''órfão'' da piada é que o PT deseja que o perdoem sem pedir perdão... "



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Atualizado em 27/10/2018 às 16:57h

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A Marcha dos Desesperados


“A chamada "Marcha dos Migrantes" saiu no sábado (13/10) da cidade de San Pedro Sula, no norte da Honduras. Famílias inteiras vêm a pé, em caravana, com os olhos postos nos Estados Unidos.”

Para compreendermos essa marcha de desesperados, faz-se necessário situar a República de Honduras geográfica e politicamente. Honduras é um país da América Central, com cerca de 9 milhões de habitantes e uma área territorial de algo em torno de 112.000 km2 (o estado do Ceará possui quase 149.000 km2). Seu Produto Interno Bruto (PIB) é de menos de 23 bilhões de dólares americanos, dado referente ao ano de 2017 (apenas para referência, o PIB brasileiro em 2017 foi de mais de 2 trilhões de dólares). A nação é dividida em 18 Departamentos (divisão assemelhada a estados) e é considerada a mais violenta do mundo, com uma taxa de homicídios de 55,5 mortes por 100 mil habitantes (dado de 2017).

Nos últimos dez anos, os indicadores hondurenhos têm tido um agravamento incontrolável, fruto da instabilidade política que marcou aquele país desde o golpe que destituiu o presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009. Zelaya havia sido eleito em 2005, por uma coligação de centro direita. Ao longo do mandato, paulatinamente foi aproximando-se de Hugo Chaves. Como a constituição hondurenha não permitia a reeleição para o cargo de presidente, tentou aprovar uma emenda constitucional que modificasse esse dispositivo, considerado cláusula pétrea. A Suprema Corte considerou essa tentativa inconstitucional. Zelaya então propôs que se fizesse, quando das eleições gerais de novembro de 2009, um plebiscito sobre a mudança da constituição. O congresso (unicameral com 128 cadeiras) para obstaculizar essa manobra, aprovou uma nova lei que regulamenta os referendos e os plebiscitos e invalidava juridicamente a consulta. A nova legislação impedia a realização de consultas 180 dias antes e depois das eleições gerais. Zelaya então, nessa queda de braços com as forças políticas do país, marcou uma consulta plebiscitária com o seguinte teor: "Está de acordo com que nas eleições gerais de novembro de 2009 se instale uma quarta urna para decidir sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte que aprove uma nova Constituição política?". Era uma consulta sobre a consulta.

Essa nova manobra custou-lhe o início da crise com as forças armadas, de sorte que “destituir o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, o general Romeo Vázquez, que havia se negado a apoiar a logística para a consulta de junho, declarada ilegal pelo Congresso. Após a demissão de Vázquez, o ministro da Defesa, Ángel Edmundo Orellana, e outros comandantes militares também renunciaram. Porém a remoção de Vázquez ordenada por Zelaya foi revertida pela Suprema Corte de Justiça, que aceitou dois recursos contra a decisão do presidente. O Exército mobilizou na sexta-feira anterior à consulta efetivos para prevenir possíveis distúrbios por parte de organizações populares e indígenas, que apoiam Zelaya.”

Ao recusar-se a cumprir uma decisão da Suprema Corte (a reintegração do general Vásquez), Zelaya abriu espaço para uma intervenção militar. À véspera da controvertida consulta pública, “os militares prenderam Zelaya no palácio presidencial. Ele foi levado para uma base aérea e depois trasladado à Costa Rica. Carros blindados e tanques saíram às ruas e aviões militares sobrevoavam a capital, Tegucigalpa.” Desde então, os habitantes do pequeno país da América Central não têm tido sossego. Em abril de 2015, julgando uma ação de 16 deputados e uma outra do ex-presidente Rafael Callejas, a Suprema Corte decidiu pela “inaplicabilidade” do artigo 239 da constituição, que proibia a reeleição de presidente desde o ano de 1982. Suprema ironia! Essa foi a principal razão para o golpe militar de pouco mais de cinco anos antes. Os índices econômicos até que não são desesperadores (desemprego de 6,7% e inflação em torno de 4,5% ao ano), mas a violência com raízes diversas (captura do Estado pela elite política, concentração de renda, perseguições ideológicas, vinganças familiares, assalto a mão armada, sequestro, extorsões etc) foi profundamente ampliada por “Las maras”, violentas gangues que assolam o país.

Neste exato momento, entre 4500 e 5000 pessoas (dos quais cerca de 3000 hondurenhos) vagueiam entre a fronteira da Guatemala com o México, e no próprio território mexicano. São homens, mulheres e crianças que buscam a fronteira dos Estados Unidos, em busca de paz e de dias melhores. Terão que enfrentar uma jornada, a pé, de mais ou menos 2500 quilômetros até a fronteira do estado do Texas ou, se preferirem, 4000 quilômetros até o estado da Califórnia. Mas esse não é o maior empecilho. Ali encontrarão a polícia de Donald Trump, que em mensagem recente no twitter, escreveu: “Todos os esforços estão sendo feitos para impedir que o ataque de estrangeiros ilegais atravesse a fronteira sul. As pessoas têm que solicitar asilo primeiro no México e, se elas não o fizerem, os EUA as recusarão. Os tribunais estão pedindo aos EUA que façam coisas que não são possíveis!”


Tudo indica que o sonho de one world no border está cada vez mais distante...

domingo, 21 de outubro de 2018

Quem criou Jair Bolsonaro?



Apesar de estar no sétimo mandato de deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, a larga maioria dos brasileiros nunca tinha ouvido falar em Jair Bolsonaro até recentemente. O despreparado e politicamente incorreto capitão reformado do exército, cujo nome do meio é Messias, não é personagem de um movimento específico do Brasil. Remeta-se à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, à vitória do Brexit no Reino Unido, ao fortalecimento de partidos de centro-direita e extrema-direita na Europa, etc. Mas isso, por si só, não explicaria a meteórica e surpreendente ascensão do militar ao cenário político nacional.

Após mais de 13 anos de supremacia do PT, com extraordinário sucesso no primeiro governo Lula, abalado então no final do termo pelo que se convencionou chamar de mensalão, acentuou-se para a reeleição do presidente em 2006 a imagem do "nós contra eles". Com efeito, após explorar à exaustão esse conceito na campanha eleitoral, o primeiro discurso de Lula após o resultado do pleito (ganhou a eleição em segundo turno, com 60,83% dos votos) reafirma claramente que "o andar de baixo venceu o andar de cima", ao contrário da "esperança venceu o medo" da primeira eleição.

O segundo termo do presidente Lula foi marcado pelas jogadas de marketing do competente João Santana, culminando com o lançamento do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, que quase nada tinha de novo. “O programa não se sustentava na calculadora, mas foi festejado pela militância petista, pela mídia e especialmente pelos grandes empresários, certos de que teriam acesso a muito dinheiro. O povo acreditou que Lula estava construindo um futuro de prosperidade econômica e social”. No rastro desse programa, e porque o virtual candidato a substituir Lula num próximo mandato - José Dirceu - estava sendo investigado por corrupção e outros crimes, Lula passou a "vender" a imagem da sua ministra Dilma Roussef como uma grande executiva ("mãe do PAC"). Essa seria sua candidata e substituta.

O tempo é o senhor da razão, diz a sabedoria popular. E o tempo demonstrou que nem Dilma era uma competente gestora e muito menos estava preparada para lidar com um presidencialismo de coalizão à brasileira. Some-se a isso a chegada da fatura dos gastos sem controle dos dois termos anteriores, a queda dos preços das commodities, etc. Sentindo o faro da ameaça à reeleição da presidente, Lula tentou iniciar um movimento para substituí-la, mas ela própria e seu núcleo duro que a rodeava, conseguiram neutralizar esse movimento e apesar de ter ganho a eleição, Dilma desaguou no melancólico fim que todos sabemos.

Após seu impedimento em 31 de agosto de 2016, assumiu seu vice-presidente, Michel Temer. Não há necessidade de uma análise mais aprofundada da gestão Temer. Basta que se diga que "nunca antes na história deste país", tivemos um governo tão rejeitado. "Levantamento CNI/Ibope divulgado na tarde desta quarta-feira, 26 de setembro, mostrou que 82% dos brasileiros consideram o atual governo Michel Temer (MDB) como "ruim" ou "péssimo", sendo essa a pior avaliação desde o início do governo. Em junho deste ano, o porcentual era de 79%. Já a população que avalia a administração atual como boa ou ótima manteve-se em 4%, a mesma observada em junho”.

Desenhado esse cenário somado à energia mundial de uma guinada conservadora, surge um capitão reformado que "assim como Trump, Bolsonaro agrada a muitos eleitores por ser visto como um político outsider, que está fora dos esquemas da política tradicional. Ambos não medem as palavras para se expressar e não se furtam em usar palavrões ou ofender alguém – e assim passam a sensação de estarem falando a verdade." Na esteira dos escândalos de corrupção que abalaram a república, envolvendo os maiores partidos e principalmente o Partido dos Trabalhadores, estabelece-se um candidato que em linhas gerais defende a luta contra a corrupção, o conservadorismo nos costumes e o liberalismo na economia. É pouco? Muito, muito pouco. Muito superficial. Mas o seu adversário direto, Fernando Haddad, além de ter que arcar com uma profunda rejeição ao seu partido, o PT, tem sido obrigado a fazer "flexibilizações" no seu programa de governo, de tal sorte que pela terceira vez há registrado mudanças em bandeiras históricas da esquerda brasileira.

O jornalista Josias de Sousa escreveu no último dia 10/10 em seu blog:

"O PT chega ao segundo turno da eleição presidencial um pouco como o personagem da anedota, que mata pai e mãe e, no dia do julgamento, pede misericórdia com um pobre órfão. O PT quer a compreensão de todos para formar uma “frente democrática” de combate a Bolsonaro, personagem que o partido mesmo ajudou a criar com suas cleptogestões e seus pendores hegemônicos. A diferença entre o PT e o ''órfão'' da piada é que o PT deseja que o perdoem sem pedir perdão... "

Hoje, 21 de outubro, a sete dias do segundo turno, a julgar pelas pesquisas divulgadas recentemente, a eleição encontra-se virtualmente definida. Os números do Ibope e Datafolha, quase completamente coincidentes, apontam para 18% de maioria para o candidato do PSL. O jogo está praticamente jogado. Resta-nos a nós, simples mortais, ou melhor dizendo simples eleitores, buscarmos o melhor caminho para o país e rezarmos, rezarmos muito para que aquele que venha a dirigir essa grande nação, inicie o movimento de inflexão ao caminho da paz e do desenvolvimento.

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Atualizado em 17 de maio de 2021, às 19:09h

De Diogo Mainard na Revista Crusoé:

Lula "...preparou o terreno para o triunfo de Jair Bolsonaro, seu verdadeiro poste, que cumpriu a missão de perseguir Sérgio Moro e aniquilar a Lava Jato, aliando-se aos Ministros do STF que anularam todos os seus processos."

sábado, 20 de outubro de 2018

Jamal Khashoggi, o jornalista saudita desaparecido.

Tenho acompanhado pela imprensa internacional, o noticiário em torno do desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi. O senhor Kashoggi havia ido à Turquia para solicitar à embaixada do seu país, um documento que lhe permitiria casar com a noiva turca. Muito há de se comentar sobre esse episódio, mas gostaria de centrar minha atenção apenas no triângulo Arábia Saudita, Turquia e Estados Unidos. Como cada país eventualmente criará sua versão para os fatos, de sorte que livre o envolvimento dos seus maiores.

A Arábia Saudita, pelo fato do “desaparecimento” ter acontecido no seu território (porque dentro de sua embaixada na Turquia), inicialmente negou veementemente o acontecido, afirmando que o jornalista havia sido atendido e saído da embaixada. Diante do clamor internacional, principalmente dos países europeus, deixaram vazar a versão de que, ao ser interrogado, aconteceu um acidente e ele havia morrido. Parece-me uma preparação para jogar a culpa em um oficial subalterno qualquer, isentando as autoridades da embaixada e mais que isso, do governo saudita, de toda e qualquer culpa. Isso poderá acontecer nas próximos dias.

Os Estados Unidos, porque o senhor Khashoggi era também cidadão americano e correspondente de um dos mais influentes jornais daquele país, inicialmente, através do seu presidente Donald Trump, cobrou a solução do episódio com veemência, insinuando até que poderia haver retaliação contra a Arábia. O leão transformou-se em um gatinho indolente, tão logo o rei da Arábia (Salman bin Abdulaziz Al Saud) falou-lhe ao telefone. A entrevista de hoje do presidente Trump, já teve um ar absolutamente conciliador, enquanto enviava seu Secretário de Estado para uma visita ao reinado. Compreensível. Mais do que estar entre os três maiores produtores de petróleo e gás do planeta e os trinta e um bilhões de dólares anuais de comércio bilateral, a Arábia Saudita é o mais fiel e longevo aliado americano naquela parte do mundo, de fundamental importância para a geopolítica dos Estados Unidos. É portanto do interesse americano, aceitar qualquer que seja a versão engendrada pelo reino árabe para justificar um eventual assassinato do jornalista.

E como fica a Turquia? Ora, esse país afirma, com rara convicção, que existem provas do assassinato do jornalista por membros da inteligência saudita. Para livrar-se da acusação de espionagem no território da Arábia Saudita (as embaixadas são consideradas território do país que as nomeia, sendo portanto invioláveis), criou uma fantasiosa versão de que áudios gravados testemunhando a tortura e assassinato do jornalista, haviam sido transmitidas pelo seu relógio para o celular que se encontrava na posse da noiva, do lado de fora da embaixada. E assim caminha a humanidade, com cada país criando as mentiras para sua conveniência. Não nos enganemos: todos vão aceitar as versões de todos. O “The Washington Post” fica sem seu colaborador e a noiva fica sem seu futuro marido.



Atualizado em 20/10/2018

O governo Saudita, pela primeira vez admite que o jornalista Jamal Khashoggi foi morto dentro do consulado, "em uma briga com agentes".

O presidente Trump acaba de dar uma entrevista afirmando que "ainda é cedo para os Estados Unidos decidirem se vão estabelecer alguma sanção ao país".

Só falta a Turquia liberar a fita gravada com a prova da tortura de Jamal. Mas deve estar esperando que a comunidade internacional venha a digerir completamente sua versão do relógio e do celular da vítima. Afinal, espionar consulado ou embaixada diz respeito à imunidade e à inviolabilidade diplomática, previstas na Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas.



Atualizado em 13/12/2018

O Senado americano acaba de aprovar nesta quinta-feira, por unanimidade, uma resolução condenando o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, aumentando a pressão sobre o presidente Donald Trump, que se alinhou ao reino saudita após o assassinato brutal.

Mais informação no site oficial da CNN em ===> https://edition.cnn.com/2018/12/13/politics/corker-saudi-crown-prince-khashoggi/index.html

A DEMOCRACIA DA VENEZUELA

Em maio de 2018, mais precisamente no dia 20, o presidente Maduro foi reeleito para mais um mandato de seis anos (será presidente até 2025) à frente do governo venezuelano. A eleição, com a oposição fragmentada entre meia dúzia de líderes, foi recheada de denúncias por ter horário ampliado, suspeitas de fraude, boicote de parte da oposição, abstenção de 54% etc.

Apesar de todo o aparato paramilitar de pressão, utilização desavergonhada da máquina pública, distribuição de benesses e ameaças, o candidato à reeleição teve apenas algo em torno de 67% dos votos apurados. Pouco mais de 29% dos aptos a votar. Qual a legitimidade de um governante que é eleito com esse percentual de votos do seu povo?

Desde então, a crise do país vizinho só foi agravada. O sumiço de comidas das gôndolas dos supermercados, os constantes apagões, o caos da saúde com o desabastecimento de medicamentos, transporte, água, inflação em inimagináveis 1.000.000% (hum milhão por cento) prevista para este ano, são o retrato real da desgraça que se abateu sobre aquele povo.

Por conta desse quadro dantesco, os habitantes da Venezuela têm fugido do seu território por todos os meios e para todos os lados. É assim que, segundo a Organização Internacional das Migrações, a Venezuela tem números semelhantes aos da crise no mediterrâneo. “De acordo com porta-voz da OIM, as cerca de 40 mil pessoas por mês que deixam a Venezuela em direção à Colômbia se assemelham ao número de imigrantes que chegavam à Itália em 2015, no auge da crise de refugiados.”

O êxodo venezuelano, estimado em próximos de 2,3 milhões de pessoas desde 2014, já é razão de preocupação para toda a América Latina. A chegada maciça dessas pessoas nos países próximos, colapsando as infraestruturas locais, já começam a gerar indesejáveis surtos de xenofobia. Essa fuga incontrolável do território venezuelano, remete às fugas da Cuba de Fidel. Com a diferença substancial que Cuba é uma ilha, o governo cubano proibia a migração e sua população é muito próxima de um terço apenas (11,48 milhões de habitantes – 2016) da população venezuelana (31,57 milhões de habitantes – 2016). A Venezuela pode despejar milhões de pessoas em curtíssimo espaço de tempo nos países fronteiriços, uma vez que suas fronteiras não são fechadas.

Na edição de ontem (19/09), grande veículo de comunicação impressa do Brasil, publicou a foto abaixo:

“Venezuelano percorre 500km em cadeira de rodas até a Colômbia em busca de remédios.Trajeto feito com filho incluiu montanhas, frio e calor extremos."

Mas nem só de miséria vive a Venezuela. Recentemente, na volta de uma viagem à China, o presidente Maduro fez uma escala em Estambul para, segundo ele, “"Hicimos una parada en Estambul, de Beiging a Estambul casi 12 horas de vuelo", explicó. "Atendí una invitación para visitar el centro histórico de Estambul y almorzar con algunas autoridades de la ciudad". Nas fotos, amplamente divulgadas nas redes sociais, vê-se o consagrado chef Salt Bae, apoiado pelo não menos famoso cozinheiro Nusret Gökçe, servindo suculenta refeição ao governante venezuelano e sua esposa Cilia Flores, com direito ao final pitar um charuto cubano sacado de uma caixa de madeira identificada por uma placa de prata gravada com seu nome. E assim caminha a humanidade...




Atualizado em 14/12/2018

Êxodo venezuelano deve superar 5 milhões em 2019

A ONU afirmou hoje que o número de venezuelanos fugindo do desastre econômico e humanitário da ditadura de Nicolás Maduro deve chegar a 5,3 milhões até o fim de 2019.
Se confirmado esse número, registra a Folha, será o maior êxodo na história moderna latino-americana.
Cerca de metade desse total de refugiados deve optar pela Colômbia; outros devem rumar para Equador, Peru e outros países do Cone Sul, incluindo o Brasil.
Segundo Eduardo Stein, representante especial do Alto Comissariado da ONU, hoje cerca de 5.000 venezuelanos fogem do país todo dia. Em agosto deste ano, houve um pico de 13 mil fugas diárias.
“A região terá de responder a uma emergência que em algumas áreas foi quase semelhante a um grande terremoto”, disse Stein.
Estima-se que, desde 2015, 3,3 milhões de pessoas tenham fugido da catástrofe chavista.

Atualizado em 29/07/2019

Mujica, sobre a Venezuela: “É uma ditadura, sim, nada além de uma ditadura”

Com atraso de alguns anos, José Pepe Mujica, o velhinho amado pela esquerda latino-americana, finalmente reconheceu que o regime de Nicolás Maduro na Venezuela é uma ditadura.

“É uma ditadura, sim, nada além de uma ditadura”, afirmou o ex-presidente do Uruguai ao sair de uma reunião do Movimento de Participação Popular (MPP), grupo que integra a Frente Ampla, coalizão de esquerda que governa o país desde 2005.

Logo em seguida, Mujica citou outras ditaduras. “Mas há também ditadura na Arábia Saudita, com um rei absoluto. Há ditadura na Malásia, onde matam 25 pessoas por dia. E na República Popular da China, o que me dizem?”, perguntou.

Em maio, Mujica foi criticado por um comentário feito sobre a repressão das Forças Armadas chavistas aos manifestantes que pediam a saída de Maduro do poder. Na ocasião, o uruguaio disse que as pessoas “não deveriam ficar na frente dos blindados”.

Donald Trump, mais doido do que "pião cancão"!



O presidente dos Estados Unidos, virtualmente o homem mais poderoso do mundo, escreveu no seu twitter ontem à noite:

Donald J. Trump ‏@realDonaldTrump

Report just out: “China hacked Hillary Clinton’s private Email Server.” Are they sure it wasn’t Russia (just kidding!)? What are the odds that the FBI and DOJ are right on top of this? Actually, a very big story. Much classified information!

A prática inusitada de uma autoridade nesse nível comunicar-se com sua aldeia através de uma rede social, até podia justificar-se pelos "novos tempos, novas tecnologias". Mas envolver outras nações, tão poderosas quanto e com as quais os Estados Unidos nunca tiveram uma relação próxima, e mais que isso escrever que está brincando (just kidding!), é algo absolutamente imperdoável. O cidadão que se investe, aqui ou alhures, de cargo público de tamanha relevância, há que respeitar a majestade do cargo. Exige-se o mínimo de postura de equilíbrio e de tratamento dos assuntos de Estado com seriedade, mormente na maior democracia do planeta.

Junte-se a isso uma série de acontecimentos considerados de gravidade em qualquer país do mundo, tais como:

1 - Recentes problemas judiciais de próximos como seu ex-advogado particular Michael Cohen (que em delação premiada confessou que Trump o teria orientado a pagar para silenciar duas mulheres que teriam tido um caso com o então candidato) e Paulo Manafort, ex-coordenador da campanha de Trump, condenado por júri popular (Grande Júri) por acusação de fraude bancária e tributária, além do lançamento do livro de sua ex-auxiliar Omarose Onee Manigault, acusando-o de racista, sexista, intolerante e em declínio mental.

2 - Inquérito do Procurador Especial Robert Mueller, que investiga se a Rússia interferiu na votação de 2016, se houve um conluio da campanha de Trump com Moscou e se Trump obstruiu a justiça ao demitir o então diretor do FBI James Comey, que estava formalmente encarregado da investigação.

3 - A implantação de um regime sumário de expulsão de indocumentados, separando pais de filhos menores e enjaulando (literalmente) esses últimos em gaiolas de ferro, com grave repercussão internacional.

4 - Discussão pública com seu Secretário de Justiça, o senador republicano Jeff Sessions, por este não obedecer à sua solicitação de que deveria parar as investigações sobre a interferência russa nas eleições americanas de 2016.

5 - Divulgação de opiniões absolutamente inapropriadas, desmerecendo as instituições de inteligência dos Estados Unidos (FBI, CIA, NSA etc.).

6 - Vazamento de comentário (nunca desmentido) da prestigiada assessora de comunicação da Casa Branca, Kelly Sadler, de que a oposição do senador John McCain à nomeação da nova diretora da CIA não importa “porque ele está morrendo de qualquer maneira”. Fato grave se considerarmos que o recém falecido ex-senador John McCain (republicano como Trump) era considerado herói de guerra (ficou mais de cinco anos preso no Vietnam), de família tradicional de membros das forças armadas e um dos mais respeitados senadores do congresso americano. Por isso mesmo o senador John McCain, que planejou seu funeral nos últimos meses após ser diagnosticado com câncer no cérebro, deixou expressamente recomendado que não queria que o presidente Donald Trump participasse das cerimônias do seu sepultamento.

7 - Guerra aberta com a quase unanimidade da mídia americana, acusando-a indiscriminadamente e cotidianamente de gerar "fake news" a seu respeito.

8 - A sem precedente decisão de revogar o acesso aos documentos reservados da inteligência dos Estados Unidos, do ex-diretor geral da CIA John Brennan, e a ameaça de fazê-lo a outros ex- membros dos órgãos de inteligência do país.

Tudo isso, sem contar com as idas e vindas do seu relacionamento com a república da Coréia do Norte, a retirada do acordo de desarmamento com o Irã, a rejeição à Aliança do Pacífico (TPP), a pressão ao congresso americano para aprovar recursos para a construção do discutível muro na fronteira com o México, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris para controle do clima no planeta (assinado em 2015 por 195 países), seus inúmeros supostos casos de misoginia e racismo etc. etc. etc.

Qualquer dos episódios listados acima, de per si, já justificaria a instrução de um processo de impeachment. Não nos Estados Unidos. Para lembrar o marqueteiro de Bill Clinton, James Carville - "It's the economy, stupid". E para a aparente e temporária salvação de Donald Trump, a economia americana está "bombando", para usar uma expressão tão ao gosto dos jovens. O PIB americano está rondando os 4%, a inflação flerta com 2% ao ano e o índice de desemprego é menor do que 4%, o que é considerado pleno emprego. Com esses indicadores, é improvável que o Congresso ouse abrir um processo de impedimento, mesmo que os Democratas consigam retomar a maioria nas duas casas nas eleições de 6 de novembro próximo (midterm election). Estarão em disputa todas as 435 vagas da Câmara (House of Representatives), 35 das 100 cadeiras do Senado e eleição para governador em 39 estados.

Recentemente, em almoço com amigos em Los Angeles, provoquei um engenheiro americano (republicano apaixonado) para dar-me sua opinião sobre o governo Trump. Ele discorreu uns 15 minutos sobre como o presidente estava cumprindo os compromissos de campanha, da maravilha que vivia a economia etc. Quando terminou, perguntei o mesmo a uma senhora sentada ao meu lado: "no comments", respondeu. Quando o nosso amigo que terminara de dar seu testemunho teve um momento de distração, ela me passou o papel abaixo: assim é o Trump!