quinta-feira, 31 de julho de 2025

Entre Sanções e Simbolismos


Vamos aos fatos, com a sobriedade que o tema exige e a clareza que ele permite. As recentes ações adotadas pelo Governo dos Estados Unidos em relação ao Brasil, especialmente no que diz respeito à imposição de sanções e restrições a determinadas autoridades, estão longe de configurar uma política de hostilidade aberta ou de “terra arrasada”, como alguns tentam alardear. Trata-se, antes, de um recado firme, simbólico e estrategicamente calibrado.

De um lado, há o desapreço claro pela atual condução da política externa brasileira, que parece cada vez mais desalinhada com os valores tradicionais do Ocidente. De outro, uma preocupação objetiva com práticas internas que violam princípios fundamentais, como o respeito aos direitos humanos, à liberdade de expressão e ao devido processo legal. Nesse sentido, as medidas aplicadas miram tanto a conduta institucional quanto determinados protagonistas do cenário nacional.

A mais visível entre elas e que gerou maior repercussão, foi a imposição de uma tarifa de 50% sobre cerca de 4.000 produtos exportados pelo Brasil aos EUA. A princípio, o número parece alarmante. Mas uma análise mais detida revela que há uma lista de exceções com aproximadamente 700 itens, que representam cerca de 40% do valor total exportado. Ou seja, a retaliação é parcial e seletiva, com margem suficiente para não ferir de morte setores estratégicos do comércio bilateral.

Outro ponto que causou estardalhaço foi a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, medida que implica basicamente em sanções econômicas e restrições de entrada em território norte-americano. Embora grave em termos diplomáticos, o efeito prático é limitado. Moraes, ao que tudo indica, não depende de investimentos ou contas nos Estados Unidos. Além disso, a principal provedora de recursos da família é sua esposa, a brilhante advogada Viviane Barci de Moraes, por meio de seu ativo e bem-sucedido escritório de advocacia. Em outras palavras, não se prevê abalo significativo no padrão de vida da família.

Talvez a medida mais sensível, especialmente no campo do imaginário político e pessoal, seja a proibição de entrada nos EUA de autoridades brasileiras envolvidas em ações antidemocráticas ou em abusos de poder. Para alguns membros da elite institucional, que nutrem relação estreita com destinos como Miami, Nova York e, quem sabe, com Mickey e Pateta, essa limitação territorial soa quase como um exílio forçado do seu playground preferido.

Em síntese, as ações norte-americanas representam menos uma ofensiva econômica devastadora e mais um gesto diplomático com carga simbólica robusta. O Brasil não está sob cerco, mas foi claramente advertido. O alerta está dado: há um limite para o descolamento das práticas democráticas em nome de narrativas internas. O mundo, ainda que cale em público, observa. E, como agora se vê, responde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário