quarta-feira, 2 de julho de 2025

Quando o Itamaraty age como comitê de campanha


A nota oficial do Itamaraty, repudiando uma reportagem da The Economist que qualificou o presidente Lula como "incoerente no exterior" e "impopular no Brasil", é um triste retrato de como a diplomacia brasileira foi degradada de instrumento de Estado a escudo partidário. O Itamaraty, tradicionalmente respeitado por sua sobriedade e profissionalismo, agora se presta ao papel de revisor de imprensa internacional, como se o prestígio da nação estivesse ameaçado por manchetes, e não pelas atitudes de seus governantes.

É preocupante que um órgão de Estado, sustentado pelos contribuintes e encarregado de zelar pelos interesses do Brasil no cenário global, se rebaixe ao papel de censor de veículos de comunicação e porta-voz da vaidade presidencial. Ao responder à crítica de uma revista estrangeira, seja ela o maior magazine do mundo ou um simples tablóide sensacionalista, o Itamaraty desrespeita sua própria tradição de compostura e confunde soberania com suscetibilidade. Países verdadeiramente soberanos não reagem a adjetivos; reagem a ameaças reais, não a análises políticas.

A frase “não temos que dar satisfação à imprensa” seria aceitável na boca de um líder autoritário. Mas é pequena, vazia e patética quando serve como norte para a diplomacia de uma nação democrática. Pior ainda: confirma a crítica da própria reportagem. Se Lula é de fato incoerente e impopular, não é por causa do The Economist, mas pelas posturas contraditórias no cenário internacional, como o flerte com ditaduras, o silêncio seletivo sobre violações de direitos humanos e a retórica arrogante que não se sustenta diante dos próprios fracassos internos.

Ao se incomodar com uma crítica, comum e corriqueira em democracias maduras, o governo brasileiro demonstra fraqueza, não firmeza; melindre, não altivez. E o Itamaraty, ao se prestar a esse papel, apequena-se como instituição. Não cabe à diplomacia proteger o ego de governantes, mas defender os interesses permanentes da República, mesmo que isso signifique suportar críticas justas e necessárias.