
Guardo com imenso carinho a lembrança dos meus vinte anos, época em que eu era comunista na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Ceará. Tempo de sonhos, de projetos futuros, de sede de entender a vida. Na esteira da liberação sexual, da Guerra no Vietnã e do movimento estudantil de maio/junho de 1968 na França, esse ano também marcou um momento de grande agitação no meio universitário brasileiro. Confesso que eu era mais para "massa de manobra" do que algum traço de liderança no ambiente. Não conseguia entender bem aquele emaranhado de siglas que se propunham a ser canais alternativos ao tradicional PCB. Eram muitas correntes de pensamento, mas guardo bem na memória os colegas trotskistas, que sempre formavam na vanguarda dos desentendimentos. Se todos tínhamos como objetivo o "abaixo a ditadura", não compreendia porque as reuniões para decidir a oportunidade de uma passeata, por exemplo, ou mesmo o trajeto, gastávamos horas e horas discutindo e invariavelmente terminavam em confusão.
Estamos vivendo tempos surpreendentes. Depois de quase vinte anos no poder, Partidos Políticos ditos sociais-democratas ou socialistas, foram substituídos por uma coligação liberal conservadora para dirigir o país. O que tenho lido e assistido ultimamente, remete-me ao meu tempo de estudante. Experimentem ler determinado setor da esquerda brasileira, principalmente os identificados com o lulismo, e vejam o que eles escrevem sobre a ala mais moderada, principalmente sobre Haddad, Jacques Wagner, Tarso Genro, e Mercadante. Traidores é a palavra mais leve. Em respeito aos amigos e amigas que eventualmente se deparem com este texto, não vou registrar o que dizem de Marcelo Freixo e Ciro Gomes.
No âmbito dos vencedores, são surpreendentes os desencontros. Se por um lado você encontra segmentos com o norte bem definido, vejam-se os exemplos dos Ministros Moro, Paulo Guedes, Tarcísio Gomes de Freitas (para citar apenas três), com os quais você pode até não concordar, mas não pode negar que saibam exatamente o que querem, e de outro lado a área política numa verdadeira carnificina autofágica. Xingam-se publicamente, desautorizam Ministros, permitindo a exploração por parte dos adversários e desperdiçando energia e capital político que deveriam ser empregados no esforço de aprovar as Reformas tão necessárias.
Não vou ousar escrever sobre os dois outros Poderes da República, principalmente sobre o Judiciário e mais precisamente sobre o Supremo Tribunal Federal. Essa ousadia pode me custar um período de prisão ou no mínimo uma visita da Polícia Federal. Estranhos tempos.
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