quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Segredo de Justiça ou Justiça sem segredo?


Nos últimos dias, um novo vazamento de informações sigilosas ganhou os holofotes no cenário político nacional. Um depoimento prestado à Polícia Federal (PF) no âmbito de um processo conduzido sob segredo de justiça foi divulgado seletivamente. A informação vazada sugere que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) faziam parte do grupo mais radical que aconselhava o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. A delação foi atribuída ao ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid.

O vazamento ocorre em um momento político delicado. Apenas dois dias antes da divulgação das informações, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN, sugeriu que, caso permanecesse inelegível, Michelle ou Eduardo poderiam substituí-lo como candidato em 2026. Essa "coincidência" levanta questionamentos sobre os reais objetivos por trás da quebra de sigilo judicial. 

Diante do episódio, a defesa de Bolsonaro divulgou uma nota repudiando os "vazamentos seletivos" e criticando o que chamou de "investigações semi-secretas". Segundo os advogados, o acesso parcial e restrito a elementos de prova fere os princípios do Estado Democrático de Direito. A seleção de informações para vazamento é uma prática que gera interpretações distorcidas e impede a compreensão completa do contexto investigativo.

Apesar do conteúdo da delação, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, afirmou que não foram encontradas provas suficientes para comprometer Michelle e Eduardo Bolsonaro. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ele destacou que, embora Mauro Cid tenha mencionado os dois em seu depoimento, não há elementos concretos que comprovem a participação direta deles em qualquer ato criminoso.

Diante da gravidade da situação, surge um questionamento crucial: a PF investigará a origem do vazamento? A quebra de sigilo não apenas compromete a isenção das investigações, mas também coloca em xeque o próprio funcionamento do sistema judicial brasileiro. A população e os envolvidos aguardam respostas: quem vazou e com qual objetivo?

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Manobras Diversionistas


As manobras diversionistas são estratégias amplamente utilizadas para desviar a atenção de um objetivo principal, confundir adversários ou criar distrações. Embora comumente associadas ao contexto militar, essas táticas também são empregadas em outras esferas, como a política e as negociações empresariais. Nessas áreas, a narrativa pode ser manipulada para mascarar problemas ou redirecionar o foco para questões secundárias, muitas vezes com o intuito de aliviar pressões internas ou desviar a atenção de crises.

No cenário político, regimes autoritários — e até mesmo governos democráticos — frequentemente recorrem a manobras diversionistas para desviar a atenção de crises internas. Um exemplo histórico emblemático ocorreu durante a ditadura militar argentina, no início dos anos 1980. O governo do general Leopoldo Galtieri enfrentava uma grave crise econômica e social, com inflação galopante, desemprego e insatisfação popular. Em um esforço para unir o país e recuperar a popularidade do regime, o governo argentino decidiu invadir as Ilhas Malvinas (ou Falklands, como são conhecidas no Reino Unido), reivindicando a soberania sobre o território controlado pelos britânicos desde 1833. A Guerra das Malvinas, como ficou conhecida, foi uma clara manobra diversionista, buscando desviar a atenção da população dos problemas internos para uma causa nacionalista. No entanto, o conflito resultou em uma derrota humilhante para a Argentina, acelerando o fim do regime militar.

No Brasil contemporâneo, as manobras diversionistas também têm sido observadas. Recentes pesquisas de opinião apontam uma queda vertiginosa na aprovação do governo Lula, refletindo o descontentamento popular com uma série de problemas internos. Entre eles, destacam-se os recordes negativos em áreas como saúde (com o aumento de mortes por dengue), meio ambiente (com as queimadas descontroladas), gestão pública (com crises nas finanças das estatais), e a alta nos preços de alimentos e combustíveis. Além disso, a política externa do governo tem sido alvo de críticas, com decisões consideradas desastrosas por parte de analistas.

Diante desse cenário de crise de credibilidade, observa-se a utilização de estratégias diversionistas para redirecionar o foco da opinião pública. Um exemplo recente foi a reação do governo brasileiro à deportação de migrantes ilegais brasileiros pelos Estados Unidos. Nos últimos dias, autoridades governamentais manifestaram uma suposta "indignação" diante da chegada de um voo com brasileiros deportados, o primeiro enviado pelo governo Trump. No entanto, esse tipo de deportação é um procedimento corriqueiro e sistemático desde os anos 1980, o que levanta questionamentos sobre o timing e a motivação da reação brasileira.

Observadores sugerem que a "indignação" do governo Lula pode ser uma manobra para desviar a atenção dos problemas internos e das pesquisas de opinião desfavoráveis. A escolha do momento — coincidindo com a divulgação de dados negativos sobre a administração — reforça a hipótese de que se trata de uma estratégia diversionista. Além disso, o fato de o governo Trump ser o responsável pela deportação, em contraste com a administração anterior de Joe Biden, pode ter sido um fator adicional para a reação, buscando amenizar o descontentamento popular.

Embora as manobras diversionistas possam oferecer um alívio temporário em momentos de crise, seu uso excessivo ou mal calculado pode ter efeitos colaterais significativos. Quando percebidas como manipulações, essas estratégias podem minar ainda mais a confiança da população em seus líderes e instituições. No caso brasileiro, a tentativa de redirecionar o foco da opinião pública para a questão das deportações pode, em vez de resolver a crise de credibilidade, reforçar a percepção de que o governo está mais preocupado em manipular narrativas do que em enfrentar os problemas reais do país.

sábado, 25 de janeiro de 2025

"Pede pra cagar e sai!"


A tradição de cada cidade ter um santo padroeiro é resultado de práticas cristãs antigas, da veneração de santos e relíquias, e da necessidade social de criar símbolos de identidade coletiva. Consolidada na Europa durante a Idade Média, essa prática foi trazida para o Brasil pelos portugueses, onde se misturou às culturas locais. No Brasil, as celebrações em homenagem aos padroeiros tornaram-se eventos religiosos e culturais importantes, mesclando elementos cristãos e tradições populares.

Em Várzea Alegre, o santo padroeiro é São Raimundo Nonato. Sua igreja matriz, situada na Rua Deputado Otacílio Correia (antiga Rua Major Joaquim Alves), é uma construção imponente, recuada em um amplo terreno e adornada por uma praça agradável e bem cuidada à sua frente. No entanto, essa praça nem sempre existiu. Na década de 1950, o espaço à frente da igreja era um campo de futebol, perfeito para o lazer das crianças e pré-adolescentes da região.

Lembro-me com carinho das tardes em que nos reuníamos para formar os times. Os dois melhores jogadores escolhiam os companheiros, enquanto os menos talentosos ficavam para o final, e quem não era escolhido acabava na torcida. Quando algum jogador falhava, não era incomum ouvir alguém da plateia gritar: "Fulano, pede pra cagar e sai!".

Hoje, ao ver os desastrosos índices de desempenho do governo central, recordes negativos em saúde, meio ambiente, gestão – mortes por dengue, queimadas, alta do dólar, finanças das estatais, preço dos alimentos no supermercado, preço dos combustíveis, lei Rouanet, emendas pix, a desastrada política externa – essa lembrança me invade. Diante de tantos descaminhos, como parte da plateia, vem-me o incontrolável desejo de gritar: "Lula, pede pra cagar e sai!".

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Confesso que tenho uma certa empatia por Fernando Haddad


Admito uma inclinação pessoal favorável ao Ministro Fernando Haddad. Sua figura demonstra traços que evocam um sentimento quase paternal: um discurso calmo, uma humildade quase constrangedora, como se pedisse desculpas por existir ou por suas declarações em defesa do governo. Raramente você o vê agredindo verbalmente seu interlocutor.

Entretanto, é inegável um passado de fracassos em cargos públicos. Sua gestão como prefeito de São Paulo foi catastrófica. Nos sete anos em que liderou o Ministério da Educação (2005-2012), durante os governos Lula e Dilma Rousseff, teve uma participação considerável na deterioração do sistema educacional brasileiro, uma tragédia que conhecemos bem.

Sua falta de familiaridade com a área econômica é notória, comparável ao conhecimento de um leigo em mecânica quântica. Contudo, essa inaptidão não é exclusivamente sua, mas também do governo que o designou para o cargo. O atual governo parece seguir uma linha duvidosa de indicações, exemplificada por escolhas como Marina Silva para o Meio Ambiente, Anielle Franco para a Igualdade Racial – cujo principal atributo parece ser o parentesco com Marielle Franco – e Juscelino Filho no Ministério das Comunicações, este último inclusive indiciado pela Polícia Federal, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, para citar apenas estes três.

Se, em uma situação em que Haddad me pedisse conselhos (o que é impossível, entre outras coisas porque ele nem sequer sabe da minha existência), minha sugestão seria drástica: simule uma enfermidade e peça exoneração para cuidar da saúde. O contexto nacional se direciona para um cenário econômico aparentemente sem volta, e essa passagem pelo ministério será uma mancha indelével em sua carreira.

O sentimento pessoal de quase dó, não invalida a análise crítica de seu desempenho no governo. Haddad surge como uma figura trágica, oferecido em sacrifício em um altar político, representando mais um sintoma do que uma solução para os problemas do país.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Galinha e Sílvio Santos


Ali na Beira-Mar, nas proximidades do Náutico Atlético Cearense, tem um "cabinha" que vende picolé num Isopor da Isoplast. Ele é "freelancer", autônomo desses que não constam nas estatísticas do Sr. Pochmann do IBGE como desempregado.

O "cabinha" desempregado vende 25 picolés por dia, a R$10,00 por unidade, dos quais 20 (em média) recebe em Pix. Então ele bota diariamente no “pé do cipó”, cinquentão e duzentos vão para sua conta na Caixa Econômica. Acontece que ele paga ao patrão, dono da fabriqueta, R$5,00 por unidade. Na verdade, ele “livra” apenas R$125,00 por dia.

Esse pai de família, que é amancebado com uma morena formosa, tem dois barrigudinhos, um de 3 anos e o outro de 1 ano. Como seu único vínculo é com Deus e sua família, não tem 13º, Férias, Folga Remunerada e todos esses outros “privilégios” do Sistema empregatício brasileiro. Trabalha 30 dias por mês.

No final do mês, transitou por sua conta na Caixa o valor de R$6.000,00 brutos. Graças a Deus, a bondade do governo de Lula não permitiu que esses desumanos da Receita Federal fossem atrás do pagamento de Imposto de Renda do "cabinha" da Praia do Náutico. E ele vai poder pagar o aluguel do seu quase-barraco, levar comida para sua morena e seus barrigudinhos e até comprar um galeto no domingo. Infelizmente, nem toda felicidade é completa: o domingo feliz não mais será de “galinha e Sílvio Santos”. Falta-lhe o segundo!

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O Teatro da Desfaçatez

"Não cai uma folha da árvore se Deus não permitir" é um princípio da fé cristã que encontra eco no Alcorão: "... e não cai uma folha da árvore sem que Ele disso tenha ciência..." (6ª Surata, versículo 59)

Essa noção de controle absoluto parece encontrar reflexo no Partido dos Trabalhadores (PT), desde sua fundação em 1980, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo correndo o risco de cometer blasfêmia ou hubris ao estabelecer esse paralelo, é inegável que o Sr. Lula exerce um poder absoluto sobre seu partido, semelhante ao de um líder incontestável.

Esse autoritarismo, moldado ao longo de décadas, afastou inúmeros intelectuais, religiosos, ativistas políticos e sindicalistas que ajudaram a criar o PT. Assim como sob a nogueira (Juglans regia), onde nada cresce devido à sua sombra sufocante, Lula parece não permitir o florescimento de lideranças independentes ao seu redor. Aqueles que ousaram se destacar, acabaram abandonados, como cadáveres no caminho de sua trajetória política.

Esse estilo de liderança se reflete em episódios internacionais controversos, como o apoio velado à eleição fraudada do ditador Nicolás Maduro, na Venezuela. Apesar de evidências apontando que o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, foi o verdadeiro vencedor, o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano declarou Maduro reeleito. Enquanto democracias ocidentais rejeitavam o resultado, Lula e o presidente colombiano Gustavo Petro apelavam para que Maduro publicasse as atas eleitorais — um discurso que parecia permitir tempo para o ditador "preparar" os documentos ou acalmar a pressão internacional.

A situação se tornou ainda mais contraditória com a emissão de uma Nota Oficial pelo PT, saudando o povo venezuelano pelo processo "democrático". É difícil acreditar que tal nota tenha sido publicada sem a autorização de Lula, considerando o controle rigoroso que exerce sobre o partido. O apoio do PT foi reforçado pela presença de uma comitiva e do MST na posse de Maduro, enquanto Lula, em um movimento pendular, adotava um discurso mais cauteloso, apelando para o diálogo entre Maduro e a oposição – desta vez, aliado ao presidente da França, e não mais ao colombiano Petro, que mudou sua posição e recusou-se a reconhecer a legitimidade do processo.

A declaração do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, classificando a posse de Maduro como "ilegítima e farsante", evidencia o caos na narrativa governamental brasileira. Essa oscilação de posicionamentos parece destinada a confundir a opinião pública e minimizar o desgaste de um apoio ostensivo a um ditador amplamente repudiado pelas democracias ocidentais. No final, o que se vê é um jogo de sombras, em que cada movimento parece calculado para evitar que o verdadeiro papel de Lula e do PT nesse episódio venha totalmente à luz.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

James Carville na CNN


James Carville, renomado estrategista político democrata e figura central nas vitórias de Bill Clinton em 1992 e 1996, fez uma análise contundente sobre os desafios enfrentados pelo Partido Democrata. Em entrevista ao apresentador Michael Smerconish, na CNN, Carville destacou que os democratas perderam mais terreno no tema da criminalidade do que em questões econômicas como inflação e imigração ilegal. Ele também ressaltou a necessidade de abandonar "linguagem jargão" que afasta eleitores e focar em uma comunicação mais clara e direta.

Para Carville, o Partido Democrata deve priorizar três questões centrais para reconquistar eleitores. A primeira é a defesa intransigente do direito ao aborto, uma pauta que, segundo ele, tem o apoio de dois terços da sociedade americana. Em segundo lugar, Carville aponta a necessidade de lutar pelo aumento do salário mínimo para US$ 15 por hora, uma medida que conta com amplo respaldo popular e pode fortalecer a base trabalhadora do partido. Ambas as questões tocam em valores centrais dos democratas e podem mobilizar eleitores em busca de maior igualdade social.

A terceira proposta de Carville é relacionada à política tributária. Ele sugere que os democratas defendam a continuidade dos cortes de impostos implementados durante o governo Trump para a classe média, ao mesmo tempo em que redirecionem a receita gerada pelo fim dos cortes para os contribuintes de alta renda. Esse recurso adicional poderia ser utilizado para criar fundos de assistência habitacional, como ajuda a compradores de imóveis pela primeira vez e assistência para aluguel, atacando diretamente a crise habitacional que afeta milhões de americanos.

Carville conclui que o sucesso democrata dependerá de uma abordagem pragmática e de políticas que ressoem com as preocupações imediatas dos eleitores. Ao priorizar temas de impacto social direto, abandonar linguagens complicadas e construir uma narrativa convincente, o partido pode se posicionar melhor para as próximas eleições e reconquistar o terreno perdido.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Feliz Ano Novo aos meus três leitores acima dos 70 anos!


Parafraseando o brilhante jornalista Paulo Briguet, considero-me um cronista do cotidiano — um cronista de apenas três leitores, mas, ainda assim, um cronista. Escrever é minha forma de dialogar com a vida, de traduzir os pequenos detalhes que tantas vezes passam despercebidos. E a vocês, meus leitores fiéis acima dos 70 anos, dedico estas palavras, pois vocês, mais do que ninguém, entendem o peso e a leveza de cada passo na jornada da vida.

Nós, que já escalamos a montanha da vida e ultrapassamos praticamente todos os obstáculos, sabemos o que significa perseverar diante do inesperado e manter a fé mesmo nos momentos mais desafiadores. Cada cicatriz que carregamos é uma medalha de coragem, cada sorriso um testemunho de vitórias sobre as adversidades. Chegar até aqui é prova de força, mas também de sabedoria — a de reconhecer que cada etapa da vida é valiosa e que o topo da montanha não é o fim, mas um novo começo.

Agora, temos a nobre missão de, chegado ao topo, fincar a bandeira. Este ato simbólico é um chamado à celebração, um lembrete de que a vida continua rica em significado e propósito. Que o próximo ano traga a cada um de nós mais motivos para sorrir, mais histórias para contar e a serenidade de saber que, juntos, compartilhamos a jornada. Feliz Ano Novo! Que 2025 seja marcado por conquistas, alegrias e pela realização de nossos sonhos mais simples e mais profundos.