Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
domingo, 25 de abril de 2021
Tasso 2022
O ano era 1990. O mês provavelmente era março quando a lei estabelecia que o individuo detentor de mandato tinha o prazo limite para mudar de Partido. Num determinado dia, faltando dois dias para esse prazo limite, recebo um telefonema do Secretário do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Governo Tasso, Dr. Adolfo Marinho. Adolfo era um amigo querido, ex-colega na Escola de Engenharia, extremamente inteligente, culto e acima de tudo excelente caráter. Convidava-me para ir à sede da Secretaria para tratarmos um assunto de extrema importância.
Naquele momento eu exercia o mandato de Deputado Estadual, líder de oposição, crítico mordaz ao Governo a quem eu combatia sem trégua. Argumentei com meu amigo que nos quase quatro anos de mandato nunca tinha ido à sua Secretaria para poupá-lo de constrangimento. Dada a nossa amizade, dispensá-lo da tristeza de não poder me atender em um eventual pleito. Mas teria muito prazer em recebê-lo no meu gabinete na Assembléia. Ele gentilmente comentou que não seria conveniente sua presença na sala de um adversário tão ferrenho. Combinamos um almoço no Restaurante Trapiche, na Beira Mar.
O Restaurante Trapiche era "uma das primeiras casas climatizadas na área, manteve-se ao longo de dez anos como ponto de excelência da culinária litorânea, graças à qualidade das peixadas, das lagostas e camarões frescos." Ali encontrei meu amigo Adolfo que sem mais delongas foi direto ao assunto. Havia participado na noite anterior de uma reunião na casa do Secretário de Governo Sérgio Machado, com a presença do Governador, Assis Machado, Ciro Gomes, além do próprio anfitrião. Fora convidado para ser candidato a Deputado Estadual e declinara do convite, sob o argumento que política não "casava" com seu perfil extremamente técnico e seu temperamento reservado. (Posteriormente foi eleito Deputado Federal - 1998, desempenhando com brilhantismo seu mandato).
Continuando a conversa, disse-me que alguns nomes haviam sido analisados para receber o apoio do Governo Tasso em Fortaleza e Região Metropolitana, onde sua Secretaria exercia forte influência, e meu nome tinha surgido. Ele, pela ligação de amizade comigo, havia sido encarregado de fazer o convite. A única exigência era que eu trocasse o PDS pelo PSDB, partido recém-criado e que se estava consolidando a partir das lideranças de São Paulo (Franco Montoro, Sérgio Motta, Fernando Henrique Cardoso, Mario Covas, José Serra) e no Ceará pelo Governador Tasso Jereissati. Argumentou que com a morte do grande comandante da legenda Virgílio Távora dois anos antes, a tendência do PDS era ser extinto no Ceará e que várias lideranças desse Partido já haviam migrado para outras legendas. Respondi-lhe que eu seria o último a deixar o Partido, nao sem antes agadecer a generosidade do seu gesto. Conversamos amenidades, almoçamos e depois fomos cada um para seu destino.
O resultado da minha não aceitação foi uma perseguição implacável aos meus potenciais votos. O operador Sergio Machado, naturalmente com a anuência do Governador, competentemente derrotou todos os que se propuseram a fazê-lo (Franzé Morais, Narcelio Limaverde, Agacir Fernandes, Barros Pinho, Aquiles Peres Mota, Humberto Macário e eu). Isso teria sido mais do que suficiente para que eu nunca mais votasse em Tasso ou em candidatos indicados por ele. Não se faz política "com o fígado", ensinava Virgílio. Já votei nele para Senador. Mesmo estando aposentado, guardando da política apenas doces e amargas lembranças, ainda sou eleitor. E como eleitor posso externar minha opinião (leia "Do direito de manifestar opiniões" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/05/do-direito-de-manifestar-opinioes.html).
Apenas em exercício inóquo de futurologia, imaginemos candidatos à presidência em 2022, Lula, Bolsonaro, Tasso e outros. Não dá para votar em Lula. Apenas por amor ao debate, acreditemos que Lula foi traído e não sabia de nada no Mensalão (para ficar apenas nesse "mal feito"), como ele mesmo afirmou em cadeia de rádio e TV ("Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país.") Alguém tem dúvida de que em um eventual governo petista, voltarão Zé Dirceu, Dilma, Vaccari, Delúbio, João Paulo Cunha et caterva? Que provavelmente voltaremos a financiar obras em países "amigos"? Que é possível que voltemos a ter um "diálogo cabuloso" com o crime organizado? Que as empresas estatais sejam rateadas novamente entre os Partidos com as consequências já vividas?
Bolsonaro traz consigo alguns fatos que o comprometem, principalmente na negação do que foi "vendido" na campanha. A ideia era eleger um Presidente que perseguisse sem tréguas a corrupção, o crime organizado e que não esquartejasse o Governo, entregando cargos aos Partidos Políticos indiscriminadamente. Infelizmente a demissão do Ministro Sergio Moro apenas desnudou a verdadeira face do Governo. A interferência aberta em órgãos de controle e na Polícia Federal, sinalizavam para uma tentativa de proteger familiares e amigos de investigações. O acordo com o Centrão e a letargia no ataque à pandemia completam o quadro de decepção submetida aos seus admiradores. Não o credenciam para uma reeleição.
O espectro político de centro democrático busca desesperadamente um nome que possa fazer frente à polarização que se desenha entre os extremos. Por que não Tasso Jereissati? Tem experiência comprovada pelas suas passagens no Governo do Ceará e maturidade suficiente (dois mandatos de Senador) para lidar com o Congresso Nacional. Uma chapa Tasso/Moro ou Moro/Tasso poderia ser a pedra de toque buscada por quase 40% de brasileiros (conforme algumas pesquisas) que não estão dispostos a aceitar o pensamento conceitualmente binário de direita e esquerda (leia "A cegueira ideológica assassina a verdade e a razão" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/12/a-cegueira-ideologica-assassina-verdade.html)
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