Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
quarta-feira, 28 de abril de 2021
O Ladrão Honesto
— Pois é claro que é um desgosto! Também é verdade que há ladrões e ladrões. A mim, caro senhor, aconteceu uma vez conhecer um ladrão honesto.
— Um ladrão honesto? Como é possível existir um ladrão honesto, Astáfi Ivánovitch?
— Tem toda a razão, meu caro senhor! Como pode um ladrão ser honesto? Isso não existe. Mas eu queria apenas dizer que era um homem honesto que roubou. Tive mesmo muita pena dele.
(Fiódor Dostoiévski in "O Ladrão Honesto")
Reli o Conto desse grande escritor russo (o maior no meu pensar) para tentar entender os julgamentos recentes da Justiça brasileira. Para fazer as pazes com a compreensão das decisões últimas do Congresso Nacional.
O Ministro Fachin, no julgamento do "habeas corpus 193.726", depois de quase sete anos do início da Operação Lava Jato com foro na 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba, entendeu que esta seria incompetente para julgar os Processos instruídos a partir daquela Operação e que o então Juiz Sérgio Moro não era o Juiz Natural daqueles Processos. O STF e em particular Sua Excelência, demoraram um pouco para descobrir isso. Há quem argumente que o Ministro estava tentando salvar a Lava Jato, numa decisão surpreendentemente inesperada e inteligente, antevendo a quase certeza de que a suspeição do ex-Juiz Moro seria declarada em outro processo. Não creio e minha consciência de cidadão repele esse argumento, ainda que eventualmente tivesse objetivo nobre. Justiça não se faz com "decisões surpreendentemente inesperadas e inteligentes". E de resto sequer evitou que a sentença da suspeição fosse efetivada. O Pleno do STF referendou o entendimento do Ministro Fachin por 8 votos a 3. Ave, Thêmis!
No último dia 8 de abril, atendendo a Mandado de Segurança encaminhado pelos Senadores Alessandro Vieira e Jorge Kajuru (ambos do Cidadania), o Ministro Luís Roberto Barroso determinou que o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, intalasse uma CPI da Covid-19. O presidente do Senado afirmou que isso seria um “ponto fora da curva” e que podia provocar “o coroamento do insucesso nacional no enfrentamento da pandemia”. Evidente que por mais pura e honesta que sejam as intenções dos peticionários e dos Senadores que assinaram o requerimento para essa instalação (eu continuo sendo um otimista ingênuo), há alguma possibilidade de que as audiências da CPI antecipem a corrida às eleições de 2022 e transformem-se em um palanque eleitoral.
O Ministro Barroso submeteu sua decisão para a análise do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou, por dez votos a um, a instalação da CPI. Apenas o decano da corte, Marco Aurélio Mello, votou contrário e criticou a celeridade da decisão. Para Marco Aurélio, a decisão teria de ser encaminhada ao colegiado, e não decidido por um ministro em liminar.
Assim determinado, assim cumprido. O Presidente da Senado instalou a CPI e acolheu os nomes dos integrantes indicados pelos Partidos, como determinado pelo Regimento Interno. Através de acordo entre os membros, foi escolhido para presidi-la o Senador Omar Aziz (PSD / AM). Não foi um bom caminho. Citado Senador foi alvo de uma operação do Ministério Público Federal chamada “Maus Caminhos”. Sua Excelência é investigado por desvios de recursos para a área da saúde quando foi Governador do Amazonas. Em julho de 2019, a Polícia Federal prendeu a Sra. Nejmi Aziz, esposa do Senador e seus irmãos Amim, Murad e Mansour, entre outros. Essa ação foi executada pelo desdobramento da Operação Maus Caminhos, sob as acusações de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, que desviou milhões de reais da saúde do estado.
Uma vez empossado como Presidente da CPI, o Senador (como previsto no Regimento Interno) nomeou o Senador Renan Calheiros (MDB / AL) para Relator. Com relação ao Senador Renan, em 2017 o STF abriu o 18º inquérito para investigá-lo. Com efeito: "O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) se tornou alvo de mais um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Essa já é a 18ª investigação contra o peemedebista em tramitação na Corte, sendo que ele já é réu em uma delas – que apura recebimento de propina em troca da apresentação de emendas parlamentares em favor da empreiteira Mendes Júnior." (Leia "Semelhantes se atraem?" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/09/semelhantes-se-atraem.html)
As comissões parlamentares de inquérito têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, podendo:
— realizar diligências que julgar necessárias;
— convocar Ministros de Estado;
— tomar o depoimento de qualquer autoridade;
— inquirir testemunhas, sob compromisso;
— ouvir indiciados;
— requisitar de órgão público informações ou documentos de qualquer natureza; e
— requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de inspeções e auditorias que entender necessárias.
Uma vez aprovado o relatório feito pelo Relator, suas conclusões, se for o caso, serão encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
O Objeto dessa CPI é investigar ações e omissões no combate à pandemia pelo poder público federal, bem como a fiscalização dos recursos da União repassados aos demais entes federados para as ações de prevenção e combate à pandemia. Se eu não acreditasse definitivamente na honestidade de propósitos dos componentes do Congresso Nacional, especialmente dos Senadores Renan Calheiros e Jáder Barbalho, membros da CPI, eu diria que ambos deveriam considerar-se impedidos de participar. Renan é pai do governador de Alagoas, Renan Filho, e Jader é pai do governador do Pará, Helder Barbalho. Investigar repasses de verbas federais aos estados é um dos objetivos da comissão. Mas eu creio na imparcialidade e na retidão de caráter que como magistrados deverão comportar-se na condução dos trabalhos dessa Comissão Parlamentar de Inquérito.
terça-feira, 27 de abril de 2021
... e o STF julgou!
O mês de abril que ora termina trouxe decisões jurídicas importantes que podem influenciar nos destinos do País. Interessa-me discorrer sobre duas delas, principalmente, para tentar esclarecer exatamente o que foi julgado e tirar do imaginário popular o que eventualmente tenha sido uma compreensão equivocada.
1 - "Lula foi julgado inocente" - Não, mil vezes não. No julgamento do habeas corpus 193.726, impetrado em 3.11.2020 em favor de Luiz Inácio Lula da Silva, no qual os requerentes afirmam que “não há correlação entre os desvios praticados na Petrobras e o custeio da construção do edifício ou das reformas realizadas no tal tríplex, feitas em benefício e recebidas pelo Paciente”, o Ministro Fachin apenas reconhece que não há provas de que foi o dinheiro do desvio da Petrobrás que financiou "o custeio da construção do edifício ou das reformas realizadas no tal tríplex".
Em nenhum momento o Ministro Relator afirma que as reformas para beneficiar o Paciente não foram feitas, nem que não eram para beneficiar o ex-Presidente. Da mesma forma, os próprios advogados de Lula questionam apenas a falta de conexão entre o roubo da Petrobrás e as reformas do tríplex. Ora, a ideia era declarar a incompetência da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba para o julgamento, uma vez que conforme esse entendimento, Sérgio Moro não seria o Juiz Natural do feito. Dessa forma e segundo o entendimento do Ministro Fachin, o julgamento foi anulado e o processo remanejado para a Justiça Federal do Distrito Federal, onde Lula será julgado. Nada impede que o ex-Presidente seja considerado inocente ou condenado novamente.
2 - "O Pleno do STF julga favorável à suspeição de Moro" - Mais uma vez, não. Não era isso que estava em julgamento. O que se julgava era o AgR no HC 193.726, que questionava se o Pleno do Supremo tinha autoridade para mudar o entendimento da Turma, essa sim que pelos votos dos Ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e a estranha mudança de entendimento de Cármen Lúcia na 2ª Turma, em placar de 3 a 2, havia julgado pela suspeição do ex-Juiz Sérgio Moro. Portanto o que estava em julgamento era muito mais abrangente e profundo do que a simples suspeição de um Juiz de Primeira Instância. Reafirmando que o que se julgou foi a soberania da decisão da Turma, portanto não passível de reforma pelo Pleno.
Isso dito, pergunta-me um amigo: você acredita na imparcialidade dos três juízes da 2ª Turma? E eu respondo, candidamente: "Ali existem contorcionismos jurídicos para todos os gostos, mas ao contrário de mentes maldosas, eu acredito na pureza de intenções de todos os Ministros e que registraram seus votos segundo a interpretação imparcial do dispositivo constitucional." (Leia "Pureza de intenções" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/12/pureza-de-intencoes.html)
domingo, 25 de abril de 2021
Tasso 2022
O ano era 1990. O mês provavelmente era março quando a lei estabelecia que o individuo detentor de mandato tinha o prazo limite para mudar de Partido. Num determinado dia, faltando dois dias para esse prazo limite, recebo um telefonema do Secretário do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Governo Tasso, Dr. Adolfo Marinho. Adolfo era um amigo querido, ex-colega na Escola de Engenharia, extremamente inteligente, culto e acima de tudo excelente caráter. Convidava-me para ir à sede da Secretaria para tratarmos um assunto de extrema importância.
Naquele momento eu exercia o mandato de Deputado Estadual, líder de oposição, crítico mordaz ao Governo a quem eu combatia sem trégua. Argumentei com meu amigo que nos quase quatro anos de mandato nunca tinha ido à sua Secretaria para poupá-lo de constrangimento. Dada a nossa amizade, dispensá-lo da tristeza de não poder me atender em um eventual pleito. Mas teria muito prazer em recebê-lo no meu gabinete na Assembléia. Ele gentilmente comentou que não seria conveniente sua presença na sala de um adversário tão ferrenho. Combinamos um almoço no Restaurante Trapiche, na Beira Mar.
O Restaurante Trapiche era "uma das primeiras casas climatizadas na área, manteve-se ao longo de dez anos como ponto de excelência da culinária litorânea, graças à qualidade das peixadas, das lagostas e camarões frescos." Ali encontrei meu amigo Adolfo que sem mais delongas foi direto ao assunto. Havia participado na noite anterior de uma reunião na casa do Secretário de Governo Sérgio Machado, com a presença do Governador, Assis Machado, Ciro Gomes, além do próprio anfitrião. Fora convidado para ser candidato a Deputado Estadual e declinara do convite, sob o argumento que política não "casava" com seu perfil extremamente técnico e seu temperamento reservado. (Posteriormente foi eleito Deputado Federal - 1998, desempenhando com brilhantismo seu mandato).
Continuando a conversa, disse-me que alguns nomes haviam sido analisados para receber o apoio do Governo Tasso em Fortaleza e Região Metropolitana, onde sua Secretaria exercia forte influência, e meu nome tinha surgido. Ele, pela ligação de amizade comigo, havia sido encarregado de fazer o convite. A única exigência era que eu trocasse o PDS pelo PSDB, partido recém-criado e que se estava consolidando a partir das lideranças de São Paulo (Franco Montoro, Sérgio Motta, Fernando Henrique Cardoso, Mario Covas, José Serra) e no Ceará pelo Governador Tasso Jereissati. Argumentou que com a morte do grande comandante da legenda Virgílio Távora dois anos antes, a tendência do PDS era ser extinto no Ceará e que várias lideranças desse Partido já haviam migrado para outras legendas. Respondi-lhe que eu seria o último a deixar o Partido, nao sem antes agadecer a generosidade do seu gesto. Conversamos amenidades, almoçamos e depois fomos cada um para seu destino.
O resultado da minha não aceitação foi uma perseguição implacável aos meus potenciais votos. O operador Sergio Machado, naturalmente com a anuência do Governador, competentemente derrotou todos os que se propuseram a fazê-lo (Franzé Morais, Narcelio Limaverde, Agacir Fernandes, Barros Pinho, Aquiles Peres Mota, Humberto Macário e eu). Isso teria sido mais do que suficiente para que eu nunca mais votasse em Tasso ou em candidatos indicados por ele. Não se faz política "com o fígado", ensinava Virgílio. Já votei nele para Senador. Mesmo estando aposentado, guardando da política apenas doces e amargas lembranças, ainda sou eleitor. E como eleitor posso externar minha opinião (leia "Do direito de manifestar opiniões" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/05/do-direito-de-manifestar-opinioes.html).
Apenas em exercício inóquo de futurologia, imaginemos candidatos à presidência em 2022, Lula, Bolsonaro, Tasso e outros. Não dá para votar em Lula. Apenas por amor ao debate, acreditemos que Lula foi traído e não sabia de nada no Mensalão (para ficar apenas nesse "mal feito"), como ele mesmo afirmou em cadeia de rádio e TV ("Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país.") Alguém tem dúvida de que em um eventual governo petista, voltarão Zé Dirceu, Dilma, Vaccari, Delúbio, João Paulo Cunha et caterva? Que provavelmente voltaremos a financiar obras em países "amigos"? Que é possível que voltemos a ter um "diálogo cabuloso" com o crime organizado? Que as empresas estatais sejam rateadas novamente entre os Partidos com as consequências já vividas?
Bolsonaro traz consigo alguns fatos que o comprometem, principalmente na negação do que foi "vendido" na campanha. A ideia era eleger um Presidente que perseguisse sem tréguas a corrupção, o crime organizado e que não esquartejasse o Governo, entregando cargos aos Partidos Políticos indiscriminadamente. Infelizmente a demissão do Ministro Sergio Moro apenas desnudou a verdadeira face do Governo. A interferência aberta em órgãos de controle e na Polícia Federal, sinalizavam para uma tentativa de proteger familiares e amigos de investigações. O acordo com o Centrão e a letargia no ataque à pandemia completam o quadro de decepção submetida aos seus admiradores. Não o credenciam para uma reeleição.
O espectro político de centro democrático busca desesperadamente um nome que possa fazer frente à polarização que se desenha entre os extremos. Por que não Tasso Jereissati? Tem experiência comprovada pelas suas passagens no Governo do Ceará e maturidade suficiente (dois mandatos de Senador) para lidar com o Congresso Nacional. Uma chapa Tasso/Moro ou Moro/Tasso poderia ser a pedra de toque buscada por quase 40% de brasileiros (conforme algumas pesquisas) que não estão dispostos a aceitar o pensamento conceitualmente binário de direita e esquerda (leia "A cegueira ideológica assassina a verdade e a razão" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/12/a-cegueira-ideologica-assassina-verdade.html)
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Vergonha alheia
O cenário era o julgamento online pelo Pleno do STF, de Agravo Regimental da defesa do ex-presidente Lula que questionava a decisão monocrática do Ministro Fachin na afetação ao Plenário de Recursos quando decretou a incompetência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba para julgar processos envolvendo o ex-presidente Lula, anulando assim as condenações do petista.
Não devo entrar no mérito dos votos e da decisão final do colegiado. Não sou um Operador do Direito. Sou apenas um cidadão interessado em acompanhar os julgamentos da Suprema Corte que de resto impactam a vida de todos os brasileiros.
Sentir vergonha alheia, por algo que você viu alguém fazer. Foi meu sentimento ao ver o Ministro Ricardo Lewandowski ficar vermelho ao defender desesperadamente o ex-presidente Lula. Também ao ver o Ministro Gilmar Mendes falar por algo em torno de 10 minutos, apreciando enfaticamente o que ele chamou de “lealdade constitucional”.
Há quem descreva "vergonha alheia" como um gesto de empatia na direção daquele(s) que comete(m) a ação que lhe causa vergonha. Não creio que essa interpretação seja válida em todas as situações. Envergonhei-me pelos citados senhores e confesso que não nutro por eles nenhuma empatia.
Deus, tende piedade do nosso país!!
segunda-feira, 12 de abril de 2021
O Conspiracionismo e o Covid-19
Confesso humildemente que teorias conspiratórias nunca foram do meu agrado. Prefiro ficar com o pensamento da romancista britânica Agatha Christie: “A explicação mais simples é sempre a mais provável.”
Algumas teorias da conspiração, largamente aceitas por grande parte da população, chegam a ser risíveis. "A nova ordem mundial", onde um seleto grupo de multimilionários e políticos da elite internacional controla e manipula os governos, indústria e organizações de mídia em todo o mundo; "Michael Jackson está vivo", alguns teóricos fervorosos acreditam que Jackson forjou sua morte para fugir da pesada carga de acusações feitas contra ele; "A morte da Princesa Diana foi planejada", um grupo de teóricos alega que Diana foi assassinada pela família real para impedi-la de divulgar uma série de informações sigilosas e comprometedoras sobre seu ex-marido, o príncipe Charles; "Área 51", área restrita no deserto de Nevada, EUA, é um dos locais de testes militares mais bem protegidos do planeta. Há relatos de que os EUA tinham contactos com vida extraterrestre, e até mantinham alienígenas naquele cativeiro. Discos voadores, autópsias em corpos de seres extraterrestres, tudo existia na Área 51; "O vírus Sars-CoV-2 foi criado em laboratório", alguns teóricos dessa conspiração acreditam que foi uma tentativa humana de criar um vírus como um meio para reduzir a população mundial. Essa teoria tem conexão com "A nova ordem mundial", que teria planejado o vírus com a anuência do Governo Chinês.
Quando se observa os números de casos e mortes (por hum milhão de habitantes) atribuídos ao Covid 19 em nível planetário, dá-nos uma sensação de que a assimetria entre a China e diversos países (os mais importantes) do Ocidente tem algo de muito estranho. Veja abaixo:
Reino Unido ......................... 1906
Italia ..................................... 1838
Estados Unidos ................... 1689
Portugal .............................. 1654
Espanha .............................. 1607
Mexico ................................ 1593
Brasil .................................. 1541
França ................................. 1439
Suécia ................................. 1400
China .................................. 3
Independente do tipo de governo existente na China (consta que as ditaduras costumam mascarar suas informações), tive a curiosidade de pesquisar os dados de diversos países do Leste Asiático. Encontrei descrições interessantes, tais como:
1. "As máscaras, que já eram comuns em vários países do Leste Asiático antes da pandemia, agora se tornaram onipresentes como uma simples medida contra o vírus."
2. "Países com grande resiliência ao Covid 19, a maioria experimentou um surto em grande escala de algum tipo de doença infecciosa no século 21. China, Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Vietnã, por exemplo, tiveram dezenas a centenas de casos da síndrome respiratória aguda grave (SARS) - mais de 5.000 casos na China, o epicentro - no início dos anos 2000."
3. "Claramente, alguns países asiáticos se beneficiaram das estruturas existentes projetadas para prevenir surtos de tuberculose, cólera, febre tifóide, HIV / AIDS e outras doenças infecciosas. Por exemplo, em 2014, o Japão tinha 48.452 enfermeiras de saúde pública (PHNs) das quais 7.266 lotadas em centros de saúde pública, enquanto na Inglaterra apenas 350 a 750 PHNs atenderam 11.000 pacientes em 2014. (A população da Inglaterra é aproximadamente metade do tamanho do Japão)."
4. "Políticas específicas, como o fechamento rápido de fronteiras e a suspensão de viagens internacionais. A proteção de lares e outras instalações para idosos - especialmente em países (notadamente Japão e Coréia do Sul) com uma alta proporção de pessoas com mais de 65 anos."
Esses são alguns fatos que contribuem para essa assimetria entre o Leste da Ásia e o Ocidente de uma maneira geral, independente de crermos ou não nos números divulgados pelo Governo Chinês. Com efeito, para ficarmos apenas nos três países mais importantes daquela região (excluindo-se a China e a Coréia do Norte, esta última por ausência de dados conhecidos), o número de mortes por hum milhão de habitantes, conforme o Coronavirus Resource Center da Johns Hopkins University:
Japão .............................. 74
Coréia do Sul .................. 34
Taiwan ............................. 0,47
Pelo exposto, anota-se que o Ocidente, e não apenas o Brasil, tem muito a aprender com o Leste Asiático no quesito pandemia. E que Deus nos livre e guarde de outra tragédia dessas, pelo menos nos próximos cem anos.
domingo, 4 de abril de 2021
O Reino Unido e o Covid 19
Em 19 de janeiro de 2021 morreram 1359 pessoas no Reino Unido, infectadas pelo Covid 19. Foi o pior dia desde o início da pandemia. No dia 25 do mesmo mês (janeiro/2021), o Primeiro Ministro britânico Boris Johnson, em rede nacional de televisão, anunciou que haviam atingido 100.000 mortes pelo vírus, fazendo um apelo à união nacional. O Reino Unido era então o primeiro na Europa e o quinto no planeta a ultrapassar a simbólica marca de 100,000 mortos, vindo depois dos Estados Unidos, Brasil, India e México.
No início de janeiro, mesmo antes do dia 19, o Sr. Johnson também em rede nacional de televisão, afirmou: "Com o país inteiro já sob medidas extremas, está claro que precisamos fazer mais, juntos, para manter essa variante sob controle enquanto nossas vacinas são distribuídas. Nós precisamos fazer um lockdown nacional que seja duro o suficiente para conter essa variante". Referia-se a uma nova variante do vírus, surgida no sudeste da Inglaterra, cerca de 70% mais contagiosa. Consolidou então o terceiro e muito mais restritivo lockdown em todo território do Reino Unido.
A reputação da Grã-Bretanha para lidar com a epidemia de coronavírus teve um tratamento severo por parte da mídia. A imprensa mundial já há muito era amarga com os britânicos sobre a ineficiente luta (até janeiro de 2021) contra o Covid 19. Ainda em maio de 2020, pinçamos:
Do jornal alemão Die Zeit: “Na Grã-Bretanha, a infecção se espalhou sem controle por mais tempo do que deveria."
Na Itália, o Corriere della Sera apontou: “Na noite passada, em um discurso televisionado para a nação, Boris Johnson anunciou o progressivo - mas ainda lento e gradual - relaxamento do 'lockdown': a mensagem do governo vai de 'fique em casa' para 'fique alerta'. No entanto, as outras regiões do país não concordam: Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte continuarão a pedir aos seus cidadãos que não saiam de casa."
O jornal espanhol El País noticiou que a estratégia do governo do Reino Unido gerou confusão e raiva entre cidadãos, empresários e autônomos.
Em um editorial, o Le Monde, o principal diário francês, afirmava que o Reino Unido registrava os piores índices de mortalidade na Europa e acrescentou: "Apesar da pior mortalidade da Europa, provavelmente entrada tarde demais no confinamento e uma flagrante falta de preparação, os britânicos até agora apoiaram Johnson."
O jornal holandês de Volkskrant registrou: “De acordo com muitos, testar, testar, testar é o lema. Isso dificilmente acontecia no Reino Unido há semanas, perdendo-se de vista a propagação do vírus. Essa lacuna mostra que os britânicos não estavam suficientemente preparados para a pandemia, apesar da presença de especialistas nessa área. O país está se recuperando nas últimas semanas. Muito do mal já foi feito.”
Seguiram-se noticiários negativos durante todo o ano de 2020 culminando com o anúncio das 100.000 mortes em janeiro do corrente ano. A partir daí, e na vanguarda dos países com mais mortes por hum milhão de habitantes, o Governo Johnson resolveu apostar em duas vertentes para dominar a pandemia: 1. um lockdown muito mais duro do que as já medidas extremas existentes; 2. vacinacão em massa ("Até o dia 15 de abril o Reino Unido pretende ter dado uma dose de vacina para toda a sua população com mais de 50 anos de idade. A meta é vacinar todos os adultos até 31 de julho.")
A estratégia teve um resultado de enorme sucesso. Em pouco mais de dois meses, saíram de 1329 mortes em 19 de janeiro para apenas 10 (isso mesmo, uma dezena) no dia 3 de abril último. Brevemente o Reino Unido deixará a incômoda posição abaixo:
Número de mortes por hum milhão de habitantes:
Reino Unido ......................... 1906
Italia ..................................... 1838
Estados Unidos ................... 1689
Portugal .............................. 1654
Espanha .............................. 1607
Mexico ................................ 1593
Brasil .................................. 1541
França ................................. 1439
Suécia ................................. 1400
Argentina ............................ 1244
Alemanha ............................ 926
Russia .................................. 680
Diz-se que De Gaulle chamava o fato de Sua Excelència ou como diriam os espanhóis, "hechos son los hechos". O aqui descrito são fatos, são verdades que não podem ser transformadas. Resta aos países que continuam sofrendo com a pandemia, sorverem a experiência britânica.
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