terça-feira, 23 de julho de 2019

Welcome, Mr. Johnson!




Desde a surpreendente vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, alinhado ao setor mais conservador e nacionalista do partido Republicano, há uma flagrante tendência mundial de uma guinada à direita. Com efeito, foram eleitos:

1 - Na Polônia, o (PiS) partido conservador de direita Lei e Justiça, governa o país do Leste Europeu com maioria absoluta no Parlamento, na pessoa do primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki.

2 - Em dezembro de 2017, a Áustria elegeu o chanceler federal Sebastian Kurz, da legenda conservadora ÖVP, em coalizão ao populista de direita FPÖ (Partido da Liberdade da Áustria), do vice-chanceler Heinz-Christian Strache.

3 - O partido italiano de extrema direita - A Liga, apesar de não ter sido majoritário na eleição, conseguiu formar um Governo com o partido antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) para governar a Itália. O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, é um político sem partido,mas quem geralmente fala pelo Governo é o vice-ministro e líder da Liga, Matteo Salvini.

4 - Na Suiça, o populista de direita Partido Popular Suíço (SVP) é a legenda com maior número de assentos nas duas câmaras do Parlamento do país desde as eleições de 2017.

5 - Na Dinamarca, a retórica direitista se tornou cada vez mais aceitável na política do país nos últimos anos, principalmente com a ascensão do populista de direita Partido Popular Dinamarquês (DF). A legenda se alçou à segunda maior força do Parlamento dinamarquês nas eleições de 2017 e passou a fazer parte do governo, em aliança com os liberal-conservadores, que ficaram em minoria.

6 - "Rodrigo Duterte foi eleito presidente das Filipinas com a promessa de acabar com o tráfico de drogas no país – e tem se esforçado para cumpri-la, mesmo que por meio de execuções extrajudiciais. Desde que assumiu o poder, em junho de 2016, ele tem travado uma sangrenta batalha que já deixou milhares de mortos em operações antidrogas em todo o país."

7 - "Na Turquia o presidente Recep Tayyip Erdogan adota cada vez uma linha populista de direita, principalmente depois que conseguiu trocar o sistema de governo da Turquia de parlamentarista para presidencialista e elevar os poderes presidenciais."

8 - "Na Noruega, o Partido do Progresso (FrP), anti-imigração e populista de direita, integra o governo minoritário ao lado dos conservadores e liberais. Assim como outros partidos populistas da Escandinávia, o FrP aposta numa política fortemente anti-migratória, que torna mais difícil para os refugiados trazerem seus familiares para o país, por exemplo."

9 - Na eleição de 2018, e depois de uma década e meia de Governos de centro esquerda, o Brasil entregou seus destinos a um grupo formado por Conservadores e Liberais, com uma sociedade dividida. O Presidente eleito é abertamente admirador de Donald Trump, tendo espelhado seu comportamento interno e sua política externa num alinhamento sem precedentes.

Por último, mas não menos importante, o ex-ministro do Exterior britânico Boris Johnson foi eleito hoje, terça-feira (23/07), como sucessor da premiê Theresa May na liderança do Partido Conservador e, por consequência, será o novo chefe de governo do país.

Johnson foi escolhido ao final de uma votação realizada nas últimas quatro semanas entre 160 mil afiliados da legenda. Johnson promete levar o Reino Unido para fora da União Europeia (UE) em 31 de outubro, com ou sem acordo e será o novo morador da Downing Street,10 na capital inglesa.

Welcome, Mr. Johnson!

segunda-feira, 22 de julho de 2019

De tsunamis e tsunamis




Em 26 de dezembro de 2004 ocorreu o tsunami mais destrutivo da história, atingindo a costa da Sumatra, na Indonésia. A partir de um terremoto em Sumatra, a 30 quilômetros de profundidade, originou-se o tsunami com 1300 quilômetros de comprimento e ondas até 50 metros de altura. Morreram 230 mil pessoas.

Recentemente, a partir de uma declaração do Presidente Bolsonaro "escapada" de um microfone aberto, um furacão tomou conta das redes sociais. O Presidente teria dito (para mim, disse efetivamente) que "... entre os governadores paraiba, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada pra esse cara". Ao que me consta, não houve mortes causadas por esse furacão. No entanto, uma onda de revolta entre os adversários do Governo ocupou os espaços online.

Essa declaração "vazada" gerou, além da revolta nas redes sociais, uma carta aberta dos Governadores do Nordeste em desagravo a Flávio Dino, Governador do Maranhão. Cogita-se em algum documento também gestado em Assembléias da região. Alguém chegou mesmo a aventar a possibilidade de um processo de impeachment do Presidente.

Entendo que essa exploração pelos adversários é perfeitamente normal e faz parte do jogo político. O que não é normal são as sucessivas declarações de um Chefe do Poder Executivo, numa demonstração clara de incontinência verbal, criando ruídos interpessoais, intersetoriais e mesmo interregionais, absolutamente desnecessários. E não me refiro à declaração em análise, porque feita "ao pé do ouvido" de um dos seus Ministros, portanto que não deveria tornar-se pública. Remeto-me às declarações emitidas "de caso pensado" em situações anteriores. É muita energia e capital político gastos por questões menores, quando o que precisamos é todo o foco nas reformas urgentes clamadas pelo país.

Pessoalmente não me sinto humilhado pela declaração do Presidente. Não faço parte da falange do "quanto pior, melhor". Entendo que a declaração apenas substituiu o genérico. Mas com isso dificulta o andamento do Governo. Ministros como Guedes, Moro, Tarcisio, que já têm demonstrado quanto estão comprometidos com o melhor para o país, vêem suas tarefas dificultadas eventualmente.

Habitualmente não tenho indignação seletiva. O fato de considerar o Governador do Maranhão o pior dos "governadores paraibas" e que "tem que ter nada pra esse cara", não necessariamente configura um crime. Pode ser apenas uma opinião, desde que não descrimine o Estado. Estou certo, no entanto, que a República andaria melhor se o Chefe do Poder Executivo falasse menos.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

A entrevista de Ciro




Em entrevista publicada no site do Jornal Digital GauchaZH, o candidato derrotado ao Planalto em 2018, Ciro Gomes, dirigiu suas baterias contra os membros mais preeminentes do Governo Bolsonaro. Ciro está "farejando" que seu principal adversário em 2022 será o Presidente ou membro do seu Governo. Não está fazendo fé em um candidato do PT.

Na eleição de 2018, por um diagnóstico equivocado, apostou que seu principal adversário era Bolsonaro (e perdeu). Se em vez de tentar desidratar o atual Presidente, tivesse voltado seu esforço e energia contra o candidato do PT, poderia ser hoje o Presidente da República ou pelo menos teria disputado o segundo turno.

Na entrevista citada acima, Ciro Gomes afirma que "Sergio Moro é um canalha, não é nada mais, nada menos do que isso". É uma afirmação muito forte. Parece-me que o ex-Governador do Ceará aposta num crescente desgaste do Ministro Moro, desidratando portanto o Presidente. Ou eventualmente, numa possibilidade ainda remota de que ele seja (se não cair do Ministério) um possível candidato, no mínimo a Vice-Presidente, em 2022.

Em outra passagem, usa palavras também fortes (como é do seu feitio) contra o Ministro Augusto Heleno, outra figura emblemática do atual Governo. Diz que “esse babaca desse [Augusto] Heleno, que pensei que seria uma figura diferente, é um merda também".

O mais poupado, mas ainda assim criticado, foi o Ministro Paulo Guedes. “O poder real não está na Presidência, mas no setor financeiro. O que o setor quiser, tem mais potencial de passar no Congresso. Pouco importam as habilidades, grossuras e incapacidades do governo. Paulo Guedes é um enclave do setor financeiro nas instituições brasileiras. A reforma tributária que poderia fazer alguma coisa pelo Brasil aponta para cima, para os ricos, com tributos sobre heranças mais progressivos e sobre lucros e dividendos. Aí o baronato não quer, então não vai aprovar”. “Ninguém sabe quem é o Guedes. O que foi eleito foi o antipetismo, mais claro de ser entendido. Essa é a grande fragilidade do Bolsonaro. Ele está fidelizando um núcleo duro, que são obscurantistas, xenófobos, misóginos, um movimento internacional que se replica no Brasil”.

Ciro Gomes começou a fazer suas apostas. Penso que se espelha na trajetória de Lula, que foi candidato por quatro vezes até conseguir ser eleito. Vai acertar? Só o tempo dirá.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os esquadrões da morte de Maduro.




A chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, emitiu relatório ontem (04/07/2019) afirmando que forças de segurança da Venezuela estão enviando esquadrões da morte para assassinar homens jovens e forjar as cenas para parecer que as vítimas resistiram à prisão.

"Números do governo mostraram que as mortes atribuídas a criminosos que resistiram à prisão alcançaram 5.287 no ano passado e 1.569 até 19 de maio deste ano. O relatório da ONU disse que muitas delas parecem ter sido execuções extrajudiciais."

O relatório afirma que mascarados das Forças de Ação Especial da Venezuela (FAES) vestidos de preto, chegam nas casas e separam homens jovens de outros familiares antes de baleá-los, levam pertences e agridem mulheres e meninas, às vezes arrancando suas roupas.

"Em todos os casos, testemunhas relataram como o FAES manipulou a cena do crime e as provas. Eles plantavam armas e drogas e disparavam contra as paredes ou para o alto para insinuar um confronto e para mostrar que a vítima 'resistiu à autoridade', diz o relatório.

Para observadores mais próximos do país, isso não configura nenhuma surpresa. Já vinha sendo denunciado desde 2016. O inusitado da questão é que a responsável direta pelo relatório é Michelle Bachelet. Para quem não lembra, antes de ser a chefe de direitos humanos da ONU, a senhora Bachelet que é uma política chilena notoriamente de esquerda (filiada ao Partido Socialista Chileno), foi Ministra da Saúde e também Ministra da Defesa Nacional, elegendo-se posteriormente Presidente do Chile.

Quando esteve visitando o país no mês passado, a senhora Bachelet foi recebida efusivamente pelo ditador Maduro, tendo inclusive dado coletiva de imprensa após reunir-se com o presidente venezuelano, em Caracas, na Venezuela.

O fortíssimo relatório chancelado pela Organização das Nações Unidas (ONU), apenas confirma o entendimento de diversos países filiados àquele organismo internacional de que o Governo Maduro não passa de uma sanguinária ditadura responsável por crimes contra a humanidade.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Quem é Palocci?




Antonio Palocci Filho é médico, nascido em Ribeirão Preto em 1960. "Na juventude, militou em diversas correntes radicais de esquerda, destacando-se a sua participação na Libelu, corrente trotskista. Foi fundador do Partido dos Trabalhadores e presidente do PT-São Paulo (1997-1998)."

A ascensão política de Palocci foi meteórica. Em 1988 foi eleito vereador de Ribeirão Preto. Em 1990 interrompeu o mandato elegendo-se deputado estadual. Ficou apenas dois anos no cargo vencendo a eleição para a prefeitura de Ribeirão Preto, em 1992. Em 1998 elegeu-se Deputado Federal, "deixando o cargo em 2000 depois de ser eleito novamente para a prefeitura de Ribeirão Preto, cargo do qual se licenciou em 2002 para se dedicar a campanha presidencial de Lula e depois para coordenar a equipe de transição governamental e assumir o cargo de Ministro da Fazenda, para o qual foi nomeado no ano seguinte. Foi um dos ministros mais influentes do governo Lula", responsável pelo programa que manteve o país economicamente estável.

Preeminente membro da coordenação nacional da campanha de Dilma Rousseff, líder da equipe de transição, assumiu o cargo de Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência. Ninguém foi mais forte e influente no Governo Dilma do que o Ministro Antônio Palocci.

Essa trajetória no Partido dos Trabalhadores e junto aos governos petistas, o credencia a ser provavelmente o indivíduo que mais conhece as entranhas do poder nesse período.

Ontem, em depoimento sigiloso na CPI que apura Práticas Ilícitas no Âmbito do BNDES na Câmara Federal, consta que o ex-tudo do PT, Antônio Palocci, finalmente esclareceu todas as transações que direcionaram bilhões de reais para ditaduras amigas, aprovaram 500 bilhões de reais para empresas do esquema, tendo com isso "ganho" 300 milhões de reais de propina.

Segundo declarações de Deputados que participaram da reunião, Palocci confirmou que Lula operou pessoalmente para essas transações, tendo inclusive determinado que a nota de risco de Angola fosse rebaixada para permitir que o BNDES aumentasse o volume de empréstimos. Os valores teriam rendido mais de R$ 60 milhões ao PT.

As mesmas informações já teriam sido repassadas à Procuradoria Geral da República (PGR), através de um anexo intitulado "Negócios em Angola".

Depois de tudo isso, fica difícil debitar todo o calvário da elite dirigente do PT ao ex-Juiz e atual Ministro Sergio Moro. Há de reconhecer que assassinou a esperança que havia alimentado no coração e mente dos brasileiros.

Recuperar a confiança do eleitorado vai demandar uma nova agenda de propostas. Encontrar novas lideranças sem envolvimento com o passado, reconectar-se com programas, propostas e ideologia que abandonou para venerar seu líder a qualquer custo. Um altíssimo custo, diga-se!

quarta-feira, 3 de julho de 2019

O PT escolheu o alvo errado




O grupo de deputados do PT e puxadinhos deu ontem uma demonstração inequívoca de falta de educação e inigualável agressividade. Na seção marcada para ouvir o Ministro Moro sobre os vazamentos de supostas conversas do aplicativo Telegram, esses deputados substituíram o objetivo legítimo de ouvir o Ministro por um festival de agressões pessoais. Como pano de fundo a tentativa contínua e desesperada de criar uma ecologia favorável à libertação do ex-presidente Lula.

Na minha avaliação o PT escolheu o adversário errado. Sua renitente tentativa de colar no Ministro a figura de um juiz parcial, não tem sortido o efeito desejado. Ao contrário, tem fortalecido junto à opinião pública a imagem de paladino da justiça daquela autoridade. E construindo um eventual adversário político que hoje é disparadamente o mais popular cidadão brasileiro.

O PT paga um alto preço pelos erros de um passado recente. Enroscou-se na lama da corrupção juntamente com seus parceiros de “governo de coalizão”. Sob o manto da governabilidade, rateou a administração pública entre agentes políticos do seu partido e de partidos coligados.

É normal o “jus sperniandi” de alguém acusado por qualquer “malfeito”. A tentativa de desqualificar ações e pessoas é comum nessas situações. Por enquanto não adianta tentar incriminar o ex-juiz. Esse expediente só prevalece no meio daqueles que já são fiéis seguidores dos partidos de esquerda. Para os demais, o Ministro Moro é aquele indivíduo que mesmo atacado, pressionado, ameaçado, resistiu e continua resistindo aos grupos que têm interesse em liquidar a Lava Jato, impedir a continuação das investigações e na libertação dos presos pela Operação.

Uma coisa está intrigando a opinião pública: há cerca de 60 dias e por muito menos, por inspiração do Ministro Toffoli e execução do Ministro Alexandre de Moraes, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em oito lugares, inclusive na residência do General Paulo Chagas, apenas porque criticaram o Supremo Tribunal Federal nas redes sociais. O jornalista americano Glenn Greenwald tem usado veículos de circulação nacional da grande mídia para vazar supostas conversas entre autoridades do Poder Judiciário, com o claro objetivo de desacreditar a maior operação de combate a corrupção de todos os tempos. Qual o problema de exigir do jornalista que comprove a veracidade dos documentos, mantido o sigilo da fonte?

A sociedade brasileira encontra-se irremediavelmente dividida. Há divisão nas famílias, em grupos sociais, no clube, no trabalho, nos colegiados. Isso é ruim, muito ruim! Estamos quase no ponto de não retorno. Há uma crescente ecologia de inevitável rompimento da legalidade. Cabe aos principais atores políticos fazer o que deve ser feito olhando apenas para o futuro da nação.