sábado, 2 de agosto de 2025

Não combinaram com os russos


Havia quase uma unanimidade entre jornalistas e analistas políticos: o confronto comercial com os Estados Unidos, protagonizado pelo governo brasileiro, seria o ponto de inflexão na curva descendente de aprovação do presidente Lula. Munido da bandeira simbólica da "defesa da soberania nacional", provavelmente articulada por seu marqueteiro Sidônio Palmeira, hoje elevado à posição de Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, o embate tarifário parecia ter chegado em hora perfeita, como um presente do destino para reposicionar Lula no tabuleiro político.

A estratégia era clara: desgastar a oposição, atribuindo-lhe a responsabilidade pelo tarifaço, e, em simultâneo, fortalecer a imagem de um Lula firme, defensor intransigente dos interesses do país. Tudo alinhado. Mas, como diria Garrincha na célebre anedota do futebol: “só esqueceram de combinar com os russos”. No caso, com o povo brasileiro.

Na virada de julho para agosto, o Datafolha divulgou uma nova pesquisa de opinião pública, realizada presencialmente com 2.004 eleitores em 130 cidades nos dias 29 e 30 de julho. Era o auge da disputa tarifária com os EUA, e o momento parecia ideal para uma virada positiva nos índices de popularidade do presidente. A expectativa era de substancial melhora.

Contudo, para surpresa quase geral entre observadores da cena política, os números permaneceram absolutamente inalterados. A avaliação negativa do governo Lula segue em 40%, e a positiva continua restrita a 29%. Nenhum avanço, nenhum recuo — um impasse congelado, em plena ebulição política.

Há uma única explicação plausível para essa estagnação: a sucessão incessante de denúncias de corrupção, que semanalmente explodem nas redes sociais. Mesmo com o esforço de parte da imprensa tradicional para minimizar ou omitir, os brasileiros têm acesso irrestrito à informação. E o que antes podia ser abafado com manchetes convenientes, hoje se espalha como fogo em roça de capim seco.

Difícil apagar da memória popular o escândalo do "Aposentão", esquema de fraudes bilionárias no INSS que atingiu milhões de aposentados e pensionistas, sem punições até o momento e sem recuperação dos valores desviados. Soma-se a isso o fato amplamente conhecido de que José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente, ocupa posição de destaque em uma das associações investigadas por facilitação de acesso indevido aos sistemas de desconto dos beneficiários.

Outros casos se avolumam: o orçamento secreto que favoreceu prefeituras aliadas com emendas sem transparência, acompanhado de alegações de superfaturamento em ambulâncias e tratores; as extravagantes viagens do presidente e da primeira-dama; o uso abusivo dos jatos da Força Aérea Brasileira; e a gastança obscura nos cartões corporativos da Presidência, que consumiram mais de R$ 55 milhões entre 2023 e abril de 2025, 99,55% desse valor mantido sob sigilo, bloqueando qualquer fiscalização efetiva.

Ainda que o IBGE insista em publicar, mês após mês, dados econômicos supostamente promissores, de credibilidade cada vez mais contestada, a população segue atenta. Sejam pelas redes, pelas conversas nas ruas, ou pelo impacto direto nas gôndolas dos supermercados, a percepção é outra: o país não está bem. E ninguém mais consegue esconder isso.

O desgaste político parece irreversível. Ainda que o governo siga institucionalmente em funcionamento, sua legitimidade perante a população sofre corrosão contínua. O cenário é de descrença generalizada, e arrisca-se dizer que, independente dos eventos que ainda virão, o governo Lula 3 chegou ao fim e de forma melancólica.

Que Deus tenha piedade do povo brasileiro!

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