Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
sexta-feira, 23 de maio de 2025
Os capangas do Mato Grosso...
A Ação Penal 470, popularmente conhecida como "mensalão", foi o processo que julgou os envolvidos em um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do Brasil. O caso girava em torno do pagamento mensal a deputados federais em troca de apoio em votações no Congresso Nacional. As sessões do Supremo Tribunal Federal foram todas televisionadas — e eu, confesso, tornei-me completamente viciado nelas. Não perdia uma sequer. Interrompia qualquer atividade para assistir, fascinado, às defesas muitas vezes surreais dos réus, que se esforçavam em vão para livrá-los de condenações mais que merecidas.
Na presidência da Corte estava o ministro Joaquim Barbosa, o primeiro negro a ocupar uma cadeira no plenário do STF. Indicado em 2003, Barbosa fez história. Polêmico, direto, fluente em quatro idiomas e doutor em Direito Público pela Universidade de Paris II, ele impôs um novo ritmo ao tribunal, ao mesmo tempo em que provocava admiração e controvérsias. Sua atuação no julgamento do mensalão foi marcada por firmeza, impaciência com o juridiquês e uma coragem incomum para afrontar colegas — inclusive os mais poderosos.
Um dos momentos mais memoráveis — e constrangedores — do julgamento foi sua troca de farpas com o ministro Gilmar Mendes. Em meio a uma discussão acalorada, Barbosa elevou o tom e disparou: "Vossa Excelência não está na rua, não. Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso. [...] Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. O senhor respeite." A frase, até hoje lembrada, cristalizou não apenas o clima tenso do julgamento, mas também a personalidade explosiva e intransigente de Barbosa.
Lembrei-me desse episódio ao ver a recente notícia de que o ministro Gilmar Mendes teria reagido à possibilidade de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes. Ao ler, não resisti ao pensamento irônico: é melhor que o Presidente Donald Trump e o Secretário de Estado, Marco Antonio Rubio, tomem cuidado — vai que o ministro Gilmar resolve convocar os “capangas do Mato Grosso”…
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