segunda-feira, 19 de maio de 2025

Portugal Vira à Direita


A eleição legislativa de 18 de maio de 2025 representou uma guinada histórica no cenário político português. O Partido Socialista (PS), principal força da esquerda desde a Revolução dos Cravos de 1974, sofreu sua pior derrota eleitoral em décadas. Acostumado a ocupar o centro do poder — com mais de 41% do tempo à frente do governo em períodos majoritários e diversas participações em coalizões —, o PS viu-se superado por uma nova realidade política marcada pela ascensão da direita tradicional e o fortalecimento da direita alternativa.

O vencedor da disputa foi a coligação de centro-direita Alternativa Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, atual primeiro-ministro. Com 32,7% dos votos e 89 deputados eleitos, a AD consolidou-se como a força dominante no Parlamento, mas sem alcançar a maioria absoluta exigida para governar com estabilidade (116 assentos). Em paralelo, o fenômeno eleitoral mais surpreendente foi o desempenho do partido Chega, fundado apenas em 2019 por André Ventura, que conquistou 58 cadeiras — disputando voto a voto o segundo lugar com o PS e firmando-se como uma das peças-chave da nova correlação de forças.

Diversos fatores explicam o colapso do Partido Socialista: crises internas de liderança, escândalos de corrupção, perda de conexão com as bases populares, e o impacto de uma mudança no clima político global, que tem enfraquecido partidos de esquerda em diversos países. A eleição portuguesa de 2025, portanto, não foi um evento isolado, mas parte de um movimento mais amplo de reposicionamento do eleitorado europeu — hoje mais desconfiado das promessas ideológicas do passado e exigente quanto à eficácia política e econômica dos governos.

Diante do Parlamento fragmentado que emergiu das urnas, Luís Montenegro enfrenta agora o desafio de formar um governo estável. A possibilidade mais natural — do ponto de vista ideológico — seria uma aliança com o Chega, o que garantiria 147 assentos e maioria confortável. No entanto, a rejeição pública e reiterada da AD a qualquer acordo com Ventura torna essa solução praticamente inviável no curto prazo. A alternativa mais provável, embora frágil, é a tentativa de aproximação com o Iniciativa Liberal, partido que elegeu 8 deputados. Mesmo assim, a base somada ainda seria insuficiente para garantir maioria absoluta.

Uma coalizão entre a AD e o PS, que daria 147 cadeiras, resolveria o impasse numérico, mas é politicamente impensável dadas as profundas diferenças ideológicas e a rivalidade histórica que separa as duas legendas. Com isso, Portugal entra em um novo ciclo político: a esquerda enfraquecida, a direita em ascensão e um Parlamento sem maioria clara, onde o equilíbrio de poder dependerá da capacidade de diálogo, da renúncia a posturas radicais e, sobretudo, da maturidade das lideranças políticas diante de um eleitorado cada vez mais exigente e polarizado.

A eleição de 2025 marca não apenas a derrota de um partido, mas o fim de uma era de hegemonia ideológica. Resta saber se a nova direita portuguesa conseguirá transformar esse momento em estabilidade, crescimento e representatividade — ou se, como a esquerda, cairá no erro de se isolar de quem a colocou no poder: o povo.

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