quinta-feira, 22 de maio de 2025

Inteligência Artificial


Recebi do meu amigo Engº Adolfo de Marinho Pontes, uma instigante entrevista de Marcelo Tas com o cientista e professor Anderson Soares. O tema central: Inteligência Artificial. A conversa, lúcida e provocadora, despertou em mim o desejo quase urgente de escrever — registrar sentimentos contraditórios que emergem quando olho para trás, ao longo dos 76 anos do exercício intenso do viver.

Sou, antes de tudo, um bem-aventurado. Desde muito jovem as oportunidades me sorriram o que me fez alimentar uma imagem de robusta autoestima. Nas escolas que frequentei, nos concursos que enfrentei, tive a felicidade de sempre estar entre os primeiros e isso de certa forma consolidou essa certeza: eu era "o fodinha". Até que encontrei a Escola de Engenharia, ou melhor dizendo, até que a Escola de Engenharia me atropelou. Ali, mais do que ser engenheiro, aprendi a ter o mínimo de humildade. Encontrei colegas de mentes brilhantes "com capacidade cognitiva tão alta que não importa quanto me esforce, não vou conseguir atingi-los". 

Sinto-me um privilegiado por testemunhar uma era de transformações profundas. Iniciei minha trajetória profissional ainda nos primórdios da computação, quando as máquinas ocupavam salas inteiras e pareciam falar uma língua indecifrável. Domá-las era um desafio quase épico — uma arte entre técnica e instinto, como quem doma cavalos bravos. Fazer parte do seleto grupo de "geniosinhos" que operavam essas caixas enigmáticas foi, admito, combustível para cultivar meu pecado capital predileto: a vaidade.

Mas a velocidade assustadora com que a tecnologia avança e a preguiça mental (ou quem sabe a inaptidão crescente para aprender devido o avançar da idade), esmagam qualquer tentativa de acompanhamento. Agora, vejo-me a braços com essa desafiadora novidade chamada "Inteligência Artificial". Aonde vamos parar? Quais são os limites éticos e técnicos para a criação de IA generalista (AGI)? A IA pode substituir completamente profissões criativas, como arte, música e literatura? A IA pode criar uma nova forma de consciência ou inteligência não humana? Qual é o risco de uma "singularidade tecnológica" descontrolada? Essas são questões que me angustiam. Não apenas pela complexidade que carregam, mas pela sensação avassaladora de impotência que provocam.

Talvez seja esse o desfecho possível: a consciência de que, por mais que tenhamos domado máquinas, o futuro jamais será completamente domável.

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