domingo, 8 de dezembro de 2024

"A água bateu na bunda"


A expressão popular "a água bateu na bunda" descreve uma situação de urgência iminente de ação, em que a realidade impõe uma resposta rápida e inadiável.

Durante as eleições de 2022, a grande mídia brasileira, tradicionalmente vista como imparcial ou moderada em seus editoriais, adotou um tom marcadamente crítico ao então presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. O Estado de S. Paulo e a Folha de S.Paulo, dois dos principais jornais do país, publicaram editoriais que explicitamente favoreciam a alternância de poder, criticando Bolsonaro e suas políticas.

Em outubro de 2022, o Estadão publicou o Editorial "Bolsonaro Contra a Democracia", criticando duramente as tentativas do presidente Bolsonaro de questionar o sistema eleitoral, classificando essas iniciativas como ataques à democracia. A busca por maior transparência nas eleições foi interpretada como um esforço para minar a legitimidade do processo democrático. Publicado em setembro de 2022, o editorial da Folha "Eleição de 2022" apontou riscos autoritários no governo Bolsonaro e defendeu a alternância de poder como essencial para a saúde da democracia brasileira. O texto também denunciou o que considerou "ataques às instituições democráticas" pelo então presidente.

No entanto, o cenário mudou. A postura das mesmas instituições midiáticas em relação ao atual governo de Lula e ao STF sugere que, para elas, "a água começou a bater na bunda". Recentemente, o Diretor-Geral da Polícia Federal convocou uma entrevista coletiva e deliberadamente excluiu a Folha de S.Paulo, recusando-se a explicar o motivo. Por outro lado, o Estadão tem publicado editoriais críticos à gestão fiscal do governo Lula e à estreita colaboração entre o Executivo e o STF, um "consórcio" que, segundo o jornal, compromete o equilíbrio institucional.

O STF consolidou um papel expansivo e ativo na política nacional. Os ministros têm tomado decisões que extrapolam sua função original de guardião da Constituição. Essa mudança de postura é amplamente respaldada por um discurso de que a democracia precisa ser protegida a qualquer custo — mesmo que isso signifique agir fora das balizas constitucionais.

Essa atuação gerou questionamentos sobre o equilíbrio entre os Poderes. Contudo, qualquer tentativa de controle externo sobre o STF, como um processo de impeachment contra um de seus ministros, parece improvável. O "esprit de corps" e o medo do efeito dominó — a queda de um ministro podendo levar à queda de outros — blindam a Corte de qualquer responsabilização mais severa.

A expressão "a água bateu na bunda" ilustra bem o dilema enfrentado por essas instituições. Enquanto a grande mídia agora tenta criticar os excessos do governo Lula e do STF, seu papel nas eleições de 2022 pode ter contribuído para o fortalecimento dessas mesmas dinâmicas que hoje denuncia. Por outro lado, o STF, ao se empolgar com sua missão de "recivilizar o país", corre o risco de se afastar de seu papel constitucional, alimentando percepções de abuso de poder.

Nesse cenário, o Brasil permanece em uma encruzilhada institucional. A mídia busca redefinir sua postura, o STF insiste em expandir suas atribuições, e o equilíbrio entre os Poderes segue ameaçado. Deus se apiade do Brasil, porque o caminho da redenção institucional parece cada vez mais distante.

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