segunda-feira, 12 de setembro de 2022

"Cesta de deploráveis" e a Ku Klux Klan




Na eleição para Presidente dos Estados Unidos em 2016, a candidata Democrata Hillary Clinton, estava em média 10 pontos percentuais à frente do seu principal oponente, o candidato Republicano Donald Trump.

Em discurso proferido em um evento de arrecadação de fundos para a campanha (reuniões comuns nos embates políticos americanos) em 9 de setembro daquele ano, Hillary disse o seguinte:

"...você poderia colocar metade dos apoiadores de Trump no que eu chamo de cesta de deploráveis. Certo? Eles são racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos, islamofóbicos – você escolhe."

A repercussão foi imediata e a reação por parte da equipe de Trump, avassaladora:

- "Enquanto minha oponente os calunia como deploráveis e irredimíveis, eu os chamo de patriotas americanos trabalhadores que amam seu país" (Donald Trump em discurso no dia seguinte em Des Moines, Iowa. Durante o resto da eleição, Trump continuamente convidou "americanos deploráveis" ao palco, para não deixar esquecer a "derrapada" da candidata Democrata).
- O candidato a vice-Presidente de Trump, Mike Pence, declarou em uma reunião no Capitólio: "Para Hillary Clinton expressar tanto desdém por milhões de americanos é mais uma razão que a desqualifica para servir no mais alto cargo".
- A principal coordenadora de campanha de Trump, Kellyanne Conway, divulgou uma declaração no Twitter, afirmando: "Um dia depois de prometer ser aspiracional e inspiradora, Hillary insulta milhões de americanos".

A própria Hillary admitiu em seu livro de 2017 "What Happened" que esse episódio foi um dos fatores para sua derrota.

Naquela oportunidade, assim como no Brasil de hoje, havia uma grande preocupação da sociedade americana com o profundo esgarçamento do tecido social do país (ver meu artigo "O desafio de unir uma nação dividida" - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/02/o-artigo-ii-secao-3-da-constituicao-dos.html). No segundo debate presidencial em outubro de 2016, o moderador do debate, Anderson Cooper, perguntou a Hillary: "Como você pode unir um país se você descartou dezenas de milhões de americanos?" Hillary respondeu à pergunta de Cooper dizendo: "Meu argumento não é com seus apoiadores, é com ele e com a campanha odiosa e divisiva que ele fez".

Nesse ponto, transporto-me para o Brasil de hoje e sua campanha presidencial. Assim como no gigante do Norte, nosso país também se encontra irremediavelmente dividido. E como a candidata Hillary de 2016, o candidato Lula de 2022 fez uma declaração extremamente desastrada, para dizer o mínimo. Em comício na cidade de Nova Iguaçu, na noite de quinta-feira (8 de setembro), afirmou que o presidente Jair Bolsonaro fez dos atos do 7 de Setembro uma “festa pessoal” e comparou os eventos com uma “reunião da Ku Klux Klan”.

“...fez da festa do nosso país uma festa pessoal. Aliás, Dilma, eu não sei se você viu na televisão. Foi uma coisa muito engraçada, que no ato do Bolsonaro parecia uma reunião da Ku Klux Klan. Só faltou o capuz, porque não tinha negro, não tinha pardo, não tinha pobre, não tinha trabalhador”.

A exemplo de Hillary Clinton, o candidato Lula também tentou tangenciar o episódio, explicando de forma semelhante. Aquela disse que "Meu argumento não é com seus apoiadores, é com ele e a campanha..."; este tentou consertar, direcionando a afirmação ao palanque de Bolsonaro, não aos milhões de brasileiros no ato de 7 de setembro, como segue:

- "O palanque aqui de Copacabana, pela fotografia que eu vi, e eu só vi na televisão, era supremacia branca no palanque. Eu até comparei que parecia um pouco a Ku Klux Klan. Só faltou o ‘capucho’, só faltou a máscara. Porque era isso o palanque. É o palanque de uma elite, que tinha um cidadão vestido de Louro José, que era o artista principal da festa, ele pulava, ele gritava, ele animava, ele aplaudia". Sintomático o número de vezes que o ex-Presidente cita a palavra "palanque", numa tentativa exdrúxula e inverossímil de redirecionar seu alvo.

Não é a primeira vez que Lula dá munição aos adversários que gritam em uníssono: "Deixem o Lula falar!"

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