segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A Curva ABC




Normalmente quando publico algo, envio a meia dúzia de amigos que considero suficientemente íntimos com liberdade para criticar/corrigir, além de expor seus pontos de vista sobre o objeto. São indivíduos cultos, bem informados, estudiosos e sem compromisso ideológico.

Recentemente publiquei um artigo intitulado "O 'Senso de proporção' ou Bolsonaro é um tosco!" (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2022/08/o-senso-de-proporcao-ou-bolsonaro-e-um.html). Recebi em retorno ao envio para aqueles amigos, uma observação que me fez refletir e remeteu-me aos tempos em que eu era Analista de Sistemas de Computação. Um dos citados amigos lembrou-me que o conteúdo aproximava-se muito da teoria da Curva ABC. Lembrei de quando eu era gerente do Centro de Processamento de Dados de uma rede de supermercados com 14 lojas e um depósito de distribuição. Era a maior rede do Estado e a empresa necessitava de algo que gerenciasse seu estoque, especialmente no seu depósito central.

O desenvolvimento do software de controle de estoque e de identificação do ponto de ordem de compra foi, para mim, um dos momentos mais desafiadores e gratificantes da minha coexistência com essas máquinas maravilhosas denominadas de computadores e com seus mágicos programadores. O controle sobre a movimentação de produtos, sobre as preferências dos clientes e a escolha matemática de quanto e em que momento fazer pedidos de reposição, era algo que me fascinava.

Para desenvolver esse software, utilizei a teoria da Curva ABC que anteriormente havia tido boa familiarização quando ainda trabalhava na IBM. A análise ABC, também conhecida como análise de Pareto, é um método usado para categorizar algo de acordo com sua importância ou valor em um determinado contexto. Essa prática é normalmente usada em tecnologia da informação e desenvolvimento de negócios para tornar eficientes recursos em áreas como compras, gerenciamento de estoque, negociação com fornecedores etc.

Ao receber o comentário desse meu amigo intelectual respeitável sobre meu despretensioso artigo, pensei: por que não? Por que não poderíamos nós utilizarmos o Teorema de Pareto para escolhermos nosso candidato a Presidente do Brasil? Em um exercício de abstração do verdadeiro objetivo da teoria do economista italiano Vilfredo Pareto ("onde ele percebeu que 80% das consequências acontecem devido a 20% das causas"), poderíamos por exemplo estabelecer "pesos" para os"malfeitos" de cada candidato, principalmente em um eventual segundo turno da eleição. Evidente que não seria fácil quantificar, por exemplo, afirmações como "...a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher" ou "Cadê as 'mulher de grelo duro' lá do nosso partido?"; "...prefiro filho morto em acidente a um homossexual" ou "Pelotas é polo exportador de viados". Mas há algo que é facilmente quantificável: "rachadinhas versus mensalão"; "queiroz versus palocci"; "imóveis versus Odebrecht", ainda que a "apuração" feita pela Folha de São Paulo haja envolvido pessoas que eram apenas agregados (e já não são há muito tempo) durante longos 30 anos e tenha estabelecido uma controvérsia sobre o significado de "moeda corrente nacional" enquanto o escândalo da Petrobrás é bem mais concentrado no tempo, nos agentes, em disparadamente maior volume e não há dúvida de que foi em "dinheiro em espécie".

Anteriormente já externei a opinião de que quem rouba um milhão é tão culpado quanto quem rouba um trilhão (com 't' de tapioca para usar uma expressão muito ao gosto de um candidato a Presidente, amigo de infância de Lula da Silva e recém eleito seu desafeto predileto). O que diferencia a gravidade do crime é a dosimetria da pena.

No caso em espécie, cabe a máxima popular "na falta do melhor, escolha o menos ruim" e não deixe, por omissão, que os mais "espertos" escolham por você. Reafirmo que é essencial que os brasileiros usemos o "senso de proporção" para nossas escolhas em 2022.

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