Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
quinta-feira, 5 de maio de 2022
"Vai ser um ditadorzinho dos diabos!"
Era início de abril de 1986. Viajávamos, o Senador Virgílio Távora e eu para Lavras da Mangabeira em um Cessna Bimotor. A justificativa era uma palestra que Virgílio daria sobre a Constituinte que se instalaria em fevereiro de 1987, mas que já polarizava as atenções do país. Virgílio sempre havia sido membro preeminente do Senado e não surpreendia que ele fosse procurado diariamente por seus pares, lideranças diversas, imprensa etc, para comentar sobre o processo constituinte.
O assunto podia ser importante para a sociedade lavrense, mas eu não estava interessado no que diria o Senador. Eu era candidato a Deputado Estadual e tinha tido dificuldade de aproximar-me do Prefeito de Lavras, Chico Aristides. Era uma grande liderança na região e seu apoio significaria muito para mim. Não apenas pelos votos que ele conduziria no seu município, mas pela repercussão que causaria nos municípios vizinhos. Eu sabia da atenção e amizade que Chico nutria por Virgílio e liguei para o Senador. Expliquei-lhe que havia feito contacto com o Prefeito mas ele disse-me que ainda ia resolver em quem votar, que aquele município era extremamente conveniente para mim pela fronteira com Várzea Alegre, onde eu estava montando um expressivo grupo de apoio e que os votos de Lavras da Mangabeira provavelmente consolidariam uma presença forte do grupo virgilista que eu representaria naquela região.
Voltemos ao voo do Cessna. Virgílio pedira-me para marcar uma palestra dele em Lavras que ele falaria com o Prefeito. E estávamos então voando com esse objetivo: a palestra do Senador e como pano de fundo, não transparente para o resto da humanidade, a ajuda do líder político a um dos muitos que o procuravam para ter a sua benção. Durante o voo o Senador lia o Jornal "O Estado" que trazia notícias sobre a próxima campanha para Governador. O PMDB acabara de escolher seu candidato, o empresário Tasso Jereissati, por inspiração do então Governador Gonzaga Mota e apoiado pelo presidente do Partido, Mauro Benevides. Em determinado momento o Senador fecha o jornal e dirigindo-se a mim, afirma: "Nilo, se esse doutorzinho se eleger governador, vai ser um ditadorzinho dos diabos!".
O resultado da viagem e da eleição poderei elaborar em outro momento. Saltemos 35 anos no tempo. As candidaturas para Presidente estão (quase) postas. Mas como "o Brasil não é para amadores", os candidatos estão em campanha mas não podem dizer que são candidatos (são pré-candidatos) nem podem pedir votos (a não ser cantoras de sucesso da Bahia). Imaginemos o seguinte cenário: Lula perde a eleição para Bolsonaro ou desiste de sua candidatura e lança um poste qualquer (estou apostando em Boulos, Jaques Wagner, Haddad ou Gleise). Bolsonaro reelege-se Presidente e no seu vácuo elege-se Tarcísio em São Paulo, reelege-se Zema em Minas e mais uma dezena de Governadores alinhados com o bolsonarismo. Essa ecologia remete-me à frase premonitória do grande Virgílio Távora: "Nilo, esse doutorzinho vai ser um ditadorzinho dos diabos!"
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário