quinta-feira, 26 de maio de 2022

"A Esperança venceu o Medo" ou Porquê não voto em Lula - Capítulo I




O segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentou uma série de crises, crises internacionais e crise energética e uma crise cambial que desaguou em desemprego, aumento da dívida pública e queda na taxa de crescimento. Isso abriu espaço para a quarta tentativa do líder sindical, Lula da Silva, em busca do cargo de Presidente da República em 2002.

Com 61,27% dos votos válidos no segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva venceu o candidato do PSDB, José Serra, que conseguiu apenas 38,73% dos votos. O país celebrou sob uma grande festa e uma enorme esperança, a eleição de um operário migrante nordestino de origem muito pobre, em uma legenda partidária que havia sido criada sob o figurino da decência.

Em seu discurso de posse, calou profundamente na sociedade a afirmação de que “o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo”. Era o Brasil em lua de mel com seu novo Presidente.

Em junho de 2005, Maurício Marinho, chefe do departamento de Contratação dos Correios, foi flagrado recebendo propina de três mil reais supostamente para o deputado federal Roberto Jefferson (PTB). Divulgado o vídeo, o Deputado Roberto Jefferson em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 6 de junho de 2005, afirmou que o Partido dos Trabalhadores (PT) pagou a vários deputados 30 mil reais por mês para votar a favor de legislação do interesse do governo. O escândalo consistiu nos repasses de fundos de empresas, que faziam doações ao Partido dos Trabalhadores (PT) para conquistar o apoio de políticos. O esquema de corrupção começou em 2003 e só em 2005 foi descoberto.

Estabelecida a crise no coração do governo, o Deputado Federal e todo poderoso Ministro da Casa Civil José Dirceu, acusado de chefiar a organização do esquema de propina, anunciou o seu pedido de demissão. Em entrevista coletiva com a imprensa, acompanhado de outros ministros, amigos e companheiros de trabalho, anunciou a volta ao cargo de deputado federal para atuar em defesa do governo e do PT. Era uma tentativa de debelar a crise que se aprofundava, especialmente no Congresso com ameaças de Impeachment do Presidente.

Após a delação de Maurício Marinho, sobre os detalhes do "Mensalão" que envolvia não apenas os Correios e o PTB, mas também o PT, o Presidente Lula convocou pronunciamento em rede nacional de TV (12/08/2005), afirmou que foi traído e pediu desculpas à nação; ""Quero dizer com toda franqueza que me sinto traído por práticas inaceitáveis, das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado com as revelações que aparecem a cada dia e que chocam o país". Sua Excelência confirmava assim o escândalo do "Mensalão", gestado e operado no âmago do seu primeiro governo.

Naquele momento, provavelmente haveria condições favoráveis para um pedido de impeachment do Presidente. O PSDB e o DEM, partidos mais robustos de oposição, em estratégia depois constatada completamente equivocada, decidiram continuar denunciando os "malfeitos" do Governo Lula e do PT para fazê-lo "sangrar" até a eleição de 2006. Esqueceram da generosidade e ingenuidade do povo brasileiro, de que Lula é "um encantador de serpentes e mentiroso" (royalties para Ciro Gomes) e do poder da caneta do Executivo.

Apesar da cassação de José Dirceu pela Câmara e pelo desenrolar do que se convencionou chamar de "Escândalo do Mensalão" - Ação Penal 470 julgada no STF condenou 24 políticos, empresários, banqueiros etc (entre eles José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e João Paulo Cunha), em entrevista ao Programa Roda Viva de 07 de novembro de 2005 (portanto pouco menos de um ano para a eleição de 2006), o Presidente Lula começou o processo de negação do "Mensalão" e de um sem número de denúncias que pairavam sobre ele e seu Governo.

Sobre o "Mensalão", afirmou: "Eu tenho certeza que não teve. Isso me cheira a folclore dentro do Congresso Nacional". Sobre Roberto Jefferson ter-lhe avisado e que ele teria chorado, disse não lembrar do choro mas confirmou a informação do Deputado e que ele teria mandado auxiliares seus apurarem e a denúncia não foi confirmada. Sobre José Dirceu: "Eu sou defensor dele porque não sei qual é a acusação contra o José Dirceu. A tese original era de dinheiro público nas contas do PT e até agora não tem comprovação. Não posso dar essas denúncias como verdade, porque estaria cometendo uma injustiça". Sobre o suposto financiamento de Cuba para sua campanha eleitoral em 2002: "Eu não posso acreditar que Cuba tenha passado dinheiro para campanhas eleitorais. Eu sei o 'miserê' que Cuba vive". Sobre o assassinato de Celso Daniel: "A Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Federal deram o crime como caso comum. Eu acho engraçado que, toda vez que chega perto de ano eleitoral, tentam transformar a vítima em algoz". Sobre a afirmação de Duda Mendonça de que foi pago com dinheiro depositado em contas no exterior, Lula disse que o publicitário é que deve dar explicações. Quando perguntado sobre os recursos irregulares (caixa dois) usados na sua campanha, disse que o dinheiro irregular pode ter sido usado nas campanhas para prefeito, mas não na campanha para Presidente.

Pouco tempo depois do início da campanha de negação dos escândalos frequentes em seu Governo, em março de 2006, veio a público a denúncia de que seu superministro, Antônio Palocci, teria chefiado um esquema de corrupção na prefeitura de Ribeirão preto. "Palocci teria cobrado 'mesadas' de até R$ 50 mil mensais de empresas que prestavam serviços à prefeitura destinados aos cofres do PT, para financiar campanhas eleitorais e fraudar a democracia."

Como afirmei anteriormente, a generosidade e ingenuidade do povo brasileiro, apesar de tudo que está descrito neste texto, concedeu-lhe a oportunidade de redimir-se dos "malfeitos" do seu primeiro termo. Infelizmente, seu segundo mandato serviu para montar as bases do maior escândalo de corrupção de que se tem notícia em países ocidentais: o "Petrolão".

Fim do Capítulo I.

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