sábado, 29 de janeiro de 2022

A inflação norte-americana




No final da primeira quinzena de Janeiro corrente, a sociedade americana foi surpreendida com o anúncio da inflação de 7% em 2021, número maior dos últimos 39 anos. Com efeito, no ano de 1982 a inflação nos Estados Unidos chegou a alcançar a inacreditável (para eles) taxa de 8,39%.

Debita-se a maior parte do índice à alta constante de alimentos, energia, aluguel e veículos em meio a gargalos persistentes na cadeia de suprimentos e escassez de trabalhadores. A variante ômicron de rápida disseminação do COVID-19 além das tempestades de inverno, provavelmente intensificaram os aumentos de preços gerando mais ausências de trabalhadores nas redes globais de entrega. Esse cenário há provocado ausência de alguns produtos e prateleiras vazias em supermercados.

No ano passado, a gasolina na bomba subiu 49,6%, as tarifas hoteleiras 23,9%, carros usados e caminhões 37,3%. Os preços aumentaram 11,8% ao ano para carros novos, 7,4% para móveis domésticos, 5,8% para vestuário e 6,3% para mantimentos. Os preços de frango e peixe subiram 10,4% e 8,4%, respectivamente. A carne bovina subiu 13% e a suína, 15,1%.

A economia forçada pelo "lockdown" para atender à proteção da pandemia, os trilhões de dólares em economias adicionais com cheques de estímulo federal e benefícios de desemprego aprimorados, surpreenderam uma rede de suprimentos ainda prejudicada pela pandemia que não estava preparada para a farra de compras. A rara colisão de demanda robusta e oferta insuficiente desencadeou escassez generalizada de produtos e preços mais altos.

É extremamente complicado para o americano médio compreender inflações descontroladas como tivemos no Brasil no final da década de 1980 e início da década de 1990. Em março de 1990 tivemos a maior inflação mensal de toda a história da nossa nação: 80%.

No final do ano de 1991, em viagem de férias fui visitar a Família Burton na cidade de Boise capital do Estado do Idaho, nos Estados Unidos. A visita justificava-se porque eles haviam recebido e hospedado durante um ano meu filho mais velho, Nilo Júnior, para cumprir programa de intercâmbio estudantil.

Formam uma família bem estruturada nos moldes da tradicional família norte-americana, com seus valores calcados no conservadorismo ético protestante. Some-se a isso, o Idaho encontrar-se na região do país mais tardiamente colonizada - o oeste bravio.

Gary Burton, o cabeça do casal, é economista por profissão, tendo seu próprio negócio de investimentos. Numa conversa amistosa com Gary, disse-lhe que o Brasil havia passado há pouco por um período de hiperinflação e que recentemente tínhamos tido uma inflação mensal de 80%. No primeiro momento ele achou que eu havia me enganado com os números, por estar falando em um idioma que não era o meu de origem. Quando reafirmei o percentual, ele insistiu que eu devia estar enganado. E afirmou com a convicção que sua profissão autorizava: "Nenhum país do mundo sobrevive a uma inflação de 80% ao mês!"

Na época eu não conhecia a frase: "O Brasil não é para amadores!"

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Atualizado em 07/02/2022 ás 06:57h

(https://monitormercantil.com.br/inflacao-na-europa-bate-recorde-de-25-anos/)

Inflação na Europa bate recorde de 25 anos. Gás deve subir 50% no Reino Unido. Preços de commodities agrícolas aumentaram 28% ano passado.

A inflação na Zona do Euro atingiu 5% em dezembro, informou o órgão estatístico da União Europeia, o Eurostat. É o nível mais alto desde que os registros começaram, em 1997. Em novembro a inflação já havia chegado a 4,9%.

O aumento deveu-se principalmente ao custo da energia, que disparou novamente em dezembro, e subiu a uma taxa anual de 26%, um pouco menor do que no mês anterior.

A alta tem atingido todos os países. Os preços do gás no atacado na Grã-Bretanha permanecem mais de quatro vezes acima do que no mesmo período do ano passado, as famílias em todo o país enfrentam um aumento na conta de energia em 2022.

O teto do preço deva ser revisado pelo regulador de energia da Grã-Bretanha, o Office of Gas and Electricity Markets (Ofgem), em fevereiro. Os especialistas esperam um aumento de cerca de 50% nas contas de energia dos consumidores até abril, elevando a inflação para 6,2%.

A pressão não vem só da energia. Abdolreza Abbassian, economista sênior da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), disse em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira que, em 2021, o Índice de Preços de Alimentos da FAO foi 28,1% mais alto do que em 2020. Os preços globais dos cereais estavam em seu nível mais alto desde 2012, em média 27,2% acima dos preços de 2020.

A alta nos alimentos agrícolas levou a Índia, no final de 2021, a suspender por um ano as negociações de contratos futuros de commodities agrícolas. O País é o maior importador mundial de óleos vegetais e grande produtor de trigo e arroz.

A decisão tenta limitar a especulação, um dos motores das altas de preços, que vêm provocando a inflação e aumentando a transferência de renda e a desigualdade.

No setor de petróleo, instrumentos especulativos reforçam a alta de preços. Os chamados Wall Street refiners transacionam volumes maiores de papéis do que o volume físico do produto. Quanto maior a volatilidade, como atualmente, mais operações são realizadas.

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Atualizado em 10/02/2022 às 12:15h

Inflation just came in at 7.5%

Price increases over last year (CPI report)
Used Cars: +40.5%
Gasoline: +40.0%
Gas Utilities: +23.9%
Meats/Fish/Eggs: +12.2%
New Cars: +12.2%
Electricity: +10.7%
Overall CPI: +7.5%
Food at home: +7.4%
Food away from home: +6.4%
Transportation: +5.6%
Apparel: +5.3%
Shelter: +4.4%

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Atualizado em 11/04/2022 às 10:15h

Taxa de inflação dos Estados Unidos
Dados de março de 2022 - Histórico de 1914-2021 -

A taxa de inflação anual nos EUA acelerou para 8,5% em março de 2022, a maior desde dezembro de 1981. Incrementada a partir de de 7,9% em fevereiro. Os números estão em linha com as previsões de mercado de 8,4%.

Os preços da energia aumentaram 32%, nomeadamente gasolina (48%) e óleo diesel (70,1%) na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia. Além disso, os preços dos alimentos subiram 8,8%, o maior aumento desde maio de 1981. Enquanto isso, a inflação também acelerou para imóveis (5% vs 4,7% em fevereiro) e veículos novos (12,5% vs 12,4%), mas diminuiu para carros usados e caminhões (35,3% vs 41,2%).

Excluindo as categorias voláteis de energia e alimentos, o IPC subiu 6,5%, o maior em 40 anos, mas ligeiramente abaixo das previsões de 6,6%. Muitos analistas esperam que março marque o pico da inflação, embora a guerra na Ucrânia esteja longe de terminar, os gargalos da cadeia de suprimentos persistam e a demanda do consumidor permaneça elevada, o que provavelmente pesará sobre o IPC por mais tempo.

( fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics)

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Atualizado em 13/07/2022 ás 10:07h

🇺🇸 A inflação ao consumidor dos Estados Unidos medida pelo CPI avançou 1,3% em junho com relação ao mês anterior, superando as expectativas, que indicavam alta de 1,1%.

No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação sobe 9,1%.

A disparada dos preços na maior economia do mundo dá forças às apostas em uma nova elevação de 0,75 ponto percentual dos juros na próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc, o comitê de política monetária dos EUA), e reforça a perspectiva de recessão global.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A CPI contra Moro




Intensa movimentação nos bastidores da política. Esquerda e direita juntos, petistas e bolsonaristas excitados com a ideia de criar uma CPI contra o ex-Juiz Moro.

A "brilhante" ideia foi gestada nos esgotos do PT, parte por medo do crescimento de Moro nas pesquisas, parte pelo rasteiro sentimento de vingança, por ter o ex-Juiz condenado em primeira instância (confirmada em segunda e pelo STJ), grande parte de dirigentes da sigla, inclusive seu líder e chefe inconteste.

De pronto, o movimento foi endossado pelo Ministro Chefe da Casa Civil do Governo Bolsonaro, o Sr. Ciro Nogueira. Em seguida, o aliado do Presidente e seu indicado para a Presidência da Câmara, Arthur Lira, acena com o aval para a instalação da malfadada CPI.

Como o TCU, numa ação meramente política e usando um membro da cozinha de Renan Calheiros, não conseguiu saber quanto o ex-Ministro ganhou de honorários da empresa para a qual deu assessoria durante alguns meses, os bandidos de esquerda e direita unem-se para instalar essa comissão tendo como objeto apurar "prejuízos ocasionados aos cofres públicos pelas operações supostamente ilegais dos membros da Lava Jato de Curitiba e do ex-Juiz Sérgio Moro".

Quando da decisão do Dr. Sérgio Moro de tornar-se candidato a Presidente da República, confesso que temia que não haveria espaço para tal. A sociedade está tão binariamente dividida que era difícil acreditar numa quebra dessa polarização. Neste momento já não penso da mesma forma. A estrutura de pesquisas internas de um Partido poderoso como o PT é bastante respeitável. Da mesma forma, os órgãos de inteligência do Governo devem ter informações que os comuns dos mortais não temos. Resta-nos a nós, pessoas da massa amorfa que forma a sociedade brasileira, inquirirmos por que duas forças tão antagônicas, que ocupam todo o seu tempo por acusarem-se na mídia tradicional e principalmente nas redes sociais, juntam-se em um esforço político na mesma direção? Por que algo gestado nos porões do PT é prontamente celebrado pelo Chefe da Casa Civil do Governo e recebido com endosso pelo maior aliado do Presidente no Legislativo Federal?

A sabedoria popular nos ensina que "Ninguém atira pedras em árvore que não dá frutos", ou ainda "O inimigo não estaria te atacando, se você não tivesse algo de muito bom dentro de você. Ladrões não tentam roubar casas vazias".

Quero pedir mil perdões aos meus três leitores por recorrer à expressão chula, mas eu acho que os candidatos grandões "tão se cagando de medo" da candidatura do Dr. Sérgio Moro!

domingo, 23 de janeiro de 2022

Amnésia coletiva?




Hoje, 23/01/2022, o jornal O Estado de São Paulo emite editorial de opinião sob o título "O mal que Lula faz à democracia". "As sondagens de intenção de voto mostram que parte do eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém recordar o que o PT fez em sua passagem pelo poder. Considerando tudo o que o PT fez e deixou de fazer ao longo de seus 40 anos de existência – especialmente no período em que Lula e Dilma estiveram no Planalto –, uma nova candidatura petista à Presidência da República não deveria suscitar entusiasmo na população."

Ora, o ciclo dos governos do PT resume-se a 4880 dias de escândalos e corrupção e muitos bilhões de dinheiro desviados do bolso dos brasileiros para enriquecimento pessoal e a perpetuação de um projeto de poder. Apesar de pairarem suspeitas sobre algumas das pesquisas divulgadas ultimamente, há que se considerar que parte da sociedade brasileira ainda pretende votar no candidato do PT. O Partido, ajudado pela militância que aparelhou as redações da grande mídia e pelos blogs amestrados movidos a "ardor cívico" ($), soube desde o primeiro momento estabelecer um consenso argumentativo para tentar neutralizar as exaustivamente comprovadas acusações contra o PT e o ex-Presidente ("o PT não inventou a corrupção e Lula foi condenado sem provas"). Repetido milhões de vezes, o argumento finda por criar dúvida e arrefecer a censura aos comprovados "mal feitos" (outro eufemismo criado com o mesmo objetivo) cometidos pelo Partido e suas lideranças.

Ainda na mesma linha de raciocínio, desde o anúncio da eventual candidatura do ex-Ministro Sérgio Moro, toda a força bolsonarista nas redes sociais tem trabalhado para desacreditar o Dr. Moro. Difícil fazê-lo sem que para isso beneficie de alguma forma o ultra-adversário Lula da Silva. Mesmo a divulgação de uma pouco provável proposta ao Presidente ("você me indica para o STF e depois troca o Superintendente da PF") não atingiu o objetivo esperado pelos estrategistas presidenciais, mas forneceu munição para a candidatura petista.

Unindo-se a persistência da militância petista com a "ajuda" proporcionada pelo recente empenho dos bolsonaristas, é razoável que se reconheça que um percentual de brasileiros ainda aceitem uma candidatura do PT. Não creio, no entanto em um esquecimento coletivo. E por isso mesmo, não acredito na candidatura do Sr. Lula da Silva.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Cenas da pré-campanha




O cenário de pré-campanha dos presidenciáveis 2022 tem trazido situações as mais diversas. Algumas hilárias, outras constrangedoras, umas poucas substantivas quando os candidatos acenam para seus programas de governo etc.

As primeiras estratégias estão sendo delineadas de tal sorte que pouco a pouco sinalizações são feitas para as direções nas quais as campanhas vão navegar. Pelo menos nesse primeiro momento.

O pré-candidato Lula buscou a proximidade com Geraldo Alckmin, seu algoz de 2018, como um recado ao mercado. Seria a "Carta aos brasileiros" de 2022. O Senhor Alckimin, que consta teria hoje a preferência para o Governo de São Paulo, precisa ficar atento. Consulte o também presidenciável Ciro Gomes sobre sua mudança de domicílio eleitoral por inspiração de Lula, levando seu título de eleitor de Sobral para São Paulo. Quais compromissos, posteriormente não cumpridos, envolviam aquela movimentação? Segundo o eterno candidato de Sobral, em declaração registrada em vídeo e amplamente divulgada em redes sociais, o Lula é "um malaca, encantador de serpentes, um mentiroso". Esses são os mais brandos títulos com os quais ele homenageia o ex-Presidente. Há emitido acusações muito mais graves também em público. Imagine o que não deve dizer no privado!

Do mesmo modo o pré-candidato do PT vem evitando circular em público, dando preferência a reuniões fechadas, apesar de a mídia dia sim e outro também divulgar pesquisas nas quais Sua Excelência ganharia a eleição no primeiro turno. Do ponto de vista da Economia em seu eventual Governo, a sinalização foi forte e definitiva. Atendendo a convite da Folha de São Paulo para que os diversos pré-candidatos indicassem assessores para delinear diretrizes econômicas para o país, ele nomeou o Sr. Guido Mantega, ex-Ministro de seus Governos e dos Governos Dilma. O Senhor Mantega é aquele mesmo que ficou conhecido no Departamento da Propina da Odebrecht como o "Pós-Itália" (leia artigo "A Volta do Pós-Itália" em https://nilosergiobezerra.blogspot.com/.../a-volta-do-pos...).

O pré-candidato Ciro Gomes continua seu périplo de entrevistas e palestras, atirando para todos os lados. Seu brilhante marqueteiro parece ainda não ter estabelecido o alvo para seu início de campanha, de tal sorte que em determinado momento ele agracia o ex-Presidente Lula, a quem serviu como Ministro e a quem seguiu com fidelidade canina por cerca de 20 anos, com a adjetivação exposta acima. No momento seguinte, pede o impeachment do Presidente Bolsonaro e o ameaça (a ele e à família) com cadeia quando largar o mandato. Afirma que tem provas da corrupção do Presidente desde quando Deputado Federal de quem foi colega, onde ele "praticava a rachadinha com os funcionários e roubava até a gasolina da Câmara". Mas impagável mesmo é seu vídeo desafiando o ex-Ministro Sérgio Moro para um debate. Primeiro ele simula uma "voz" de pato para em seguida largar um "vem, fuleragem!". Se meus três leitores ainda não viram esse vídeo, não deixem de buscar no YouTube. Vale a pena! Tenho 100% de certeza de que não foi aprovado pelo competente João Santana.

O ex-Ministro e provável candidato da terceira via, Sérgio Moro, deu uma largada animadora com dois dígitos de intenção de votos em pesquisas recentes. É uma pena que estejam sendo tão questionadas essas pesquisas por grande parte de analistas. De fato, quando uma pesquisa coloca um percentual maior ou igual para um candidato, na pergunta livre em relação à estimulada, perde completamente a credibilidade. E isso aconteceu em recente pesquisa divulgada por veículos de comunicação dos maiores. De todo modo, o Dr. Sérgio Moro tem o respeito e admiração de grande parte da população. Mas ganha a eleição quem tem mais votos, e o ex-Juiz deve pelo menos até maio atingir os quinze ou dezesseis por cento de intenção de votos, de preferência tirando do Presidente Bolsonaro, para acenar com a viabilidade de sua candidatura. Do contrário, a polarização que se desenha será consolidada, inviabilizando a sua e qualquer outra candidatura que deseje ocupar a dita terceira via.

O Presidente Bolsonaro, pré-candidato à reeleição, não foge à sua característica. Todo dia cria um novo desafeto ou realimenta desafetos já estabelecidos. O Presidente está conseguindo a incrível proeza de ressuscitar a esquerda brasileira que jazia putrefata em um canto qualquer da história, como escrevi há quase dois anos (em 4 de abril de 2020) em artigo intitulado "O Estalo de Vieira" - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/.../o-estalo-de.... Dois episódios recentes, a meu juízo, podem ter prejudicado eleitoralmente o Presidente: a carta que (consta) o ex-Presidente Temer escreveu e ele assinou, para mim uma desmedida capitulação e humilhação, e a Nota do Presidente da Anvisa - um primor de texto na forma e no conteúdo. Se Sua Excelência não tinha o menor indício de corrupção ou mesmo de interesse não republicano naquele órgão, não devia ter "cutucado a onça com vara curta". Recentemente voltou a acusar os Ministros Barroso e Alexandre de Morais de agirem politicamente na Suprema Corte. É bem verdade que muitas das decisões dos citados Ministros são estranhamente heterodoxas, para dizer o mínimo. Mas o Chefe do Poder Executivo tem instrumentos e dispositivos legais para questionar decisões, sem que para isso precise "bater boca" com autoridades através da mídia ou de redes sociais.

Nos últimos dias, Bolsonaro tem centrado suas baterias contra o ex-Ministro Sérgio Moro. Certamente o aparato de inteligência do Governo identificou alguma migração de votos do Presidente para o pré-candidato da terceira via. De sorte que o Presidente, em uma das suas já famosas "lives" das quintas-feiras, ocupou boa parte do tempo mostrando quanto foi solidário com o ex-Ministro quando do vazamento dos supostos documentos pelo "The Intercept". O objetivo era claramente mostrar um Moro ingrato e traidor. Não creio que a maioria da população "comprou" a ideia. Há uma afirmativa do Presidente, no entanto, que me causa um verdadeiro incômodo. Quando tento montar a imagem mental do episódio, ela não se estabelece convincentemente. Pelo perfil dos persongens, algo não está casando. Sua Excelência afirmou que quando instado a trocar o Superintendente da Polícia Federal, o Ministro Moro teria dito: "você me indica para o STF em setembro e depois troca". Desculpe, Presidente, mas minha mente cartesiana não consegue deglutir a história como contada por você. Tenho a vaidade de conhecer um pouco da alma humana, mesmo à distância. Não, Presidente. Não dá para acreditar. Quer dizer que você acha que o Presidente está mentindo, poderia me perguntar um dos meus parcos leitores. E eu responderia: acho! Não devia ser assim, mas em política tudo é permitido. Já se dizia desde o início dos tempos que em política o feio é perder.

Em tempo: eu não creio que Lula será candidato. Desistirá antes de consagrado na convenção do seu Partido.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A volta do "Pós-Itália"




As apurações de corrupção pela "Operação Lava Jato" descobriram um tal Departamento da Propina da Odebrecht e dentro dele o que se convencionou chamar de Lista de Fachin. Essa lista nada mais era do que a relação de políticos e autoridades da República que recebiam propina originária de recursos desviados dos cofres públicos de diversas maneiras.

Essa lista ficou famosa, seja pela importância dos personagens participantes, seja pela criatividade nos apelidos que identificavam esses personagens. Constavam alcunhas como: "Amante" (Gleisi Hoffmann), "Amigo do meu pai" (Lula), "Atleta" (Renan Calheiros), "Belém" (Geraldo Alckmin), "Botafogo" (Rodrigo Maia), "Cavanhaque" (Hélder Barbalho), "Drácula" (Humberto Costa), "Guerrilheiro" (Zé Dirceu), "Italiano" (Antônio Palocci), "Mineirinho" (Aécio Neves), "Polo" (Jaques Wagner), "Pós Italiano" ou "Pós-Itália" (Guido Mantega) e muitos outros menos votados.

O Sr. Guido Mantega é um economista nascido na Itália e naturalizado brasileiro. Foi Ministro do Planejamento, Presidente do BNDES e Ministro da Fazenda nos dois mandatos do Presidente Lula e Ministro da Fazenda no período Dilma. Essa ativa participação nos Governos do PT e sempre em cargos de primeiro escalão, tornaram-no réu/investigado em alguns processos de corrupção ativa, passiva, formação de quadrilha, gestão fraudulenta e práticas contra o sistema financeiro nacional.

O Jornal Folha de São Paulo abriu espaço para a publicação de artigos dos assessores econômicos dos principais candidatos a Presidente. Dessa forma, já encaminharam seus textos os assessores de Ciro Gomes - Nélson Marconi, João Dória - Henrique Meireles, Sergio Moro - Afonso Celso Pastore e pasmem, Lula da Silva indicou o Sr. Guido Mantega.

Apesar dessa forte e clara sinalização, aliados do petista afirmam que a escolha não envolve a campanha do ex-presidente e que Lula “nem anunciou candidatura”.

"Esses mesmos interlocutores afirmam que Lula e Mantega têm contatos frequentes, mas que não significa nenhuma sinalização em relação a uma possível candidatura". Essas afirmações de pessoas próximas do ex-presidente permitem duas leituras: não quer se comprometer publicamente com o Sr. Mantega pelo seu envolvimento com a justiça ou não quer afirmar definitivamente que é candidato. Ou ambos. A verdade é que vai ser difícil para Lula, se realmente confirmar sua candidatura, encontrar auxiliares com a ficha limpa para montar sua equipe de campanha.

O descrito acima é muito grave, mas não é tudo. Como bem registrou o colunista Ricardo Rangel na edição de hoje (04/01/2022) da Folha, "Mantega foi o ministro da Fazenda mais longevo da história do país e se existe alguém que personifica a desastrosa política econômica do PT — essa excrescência a que se deu o pomposo e pretensioso nome de “Nova Matriz Econômica” —, esse alguém é ele. A Nova Matriz Econômica derrubou o PIB em mais de 8% e fez disparar o desemprego, a inflação e os juros. É a incompetência de Bolsonaro e Guedes que nos impede de sair no buraco, mas quem nos jogou no buraco não foram eles. Foram Lula, Dilma e Mantega."

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Atualizado em 05/01/2022 às 12:16h.

Moro ironiza artigo de Mantega: “Impressão minha ou Pós-Itália omite a grande recessão?”

Ciro Gomes:
"A síntese do pensamento econômico do lulismo, pobre e cinicamente produzida por Guido Mantega, hoje na Folha, é uma das peças mais hipócritas e ambíguas já vistas. É uma mistura de "Carta aos Brasileiros" envergonhada e nacional desenvolvimentismo de araque."

Do Radar Econômico da Veja:
"Guido Mantega 'esquece' Dilma Rousseff em artigo para Lula. Ex-ministro faz releitura conveniente das gestões petistas e brinca com o calendário."

De Fernando Castilho no UOL:
"Mantega na economia assusta mercado, mas Lula e PT sempre atuam assim. No ministério da Fazenda, Mantega mudou despesas e receitas dentro das empresas estatais para apresentar um resultado positivo nas contas."