quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Bate-boca no Salão Oval




O Congresso dos Estados Unidos está na reta final de aprovação do orçamento 2019. Para discutir isso e tentar um entendimento, o Presidente Trump convidou opositores, Nancy Pelosi e Chuck Schumer, lideres democratas da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente. A reunião foi no Salão Oval, que se tornou mundialmente conhecido e tristemente famoso no Governo Clinton, no lamentável episódio Monica Lewinsk.

"A melhor maneira de entender a abordagem de Donald Trump à presidência, é pensar nele como o que ele era antes da política: a estrela e produtor de um reality show. Trump está sempre programando o show - também conhecido como Casa Branca e o país - de maneira que ele acha que vai entreter, provocar e surpreender o público", diz a CNN. Para a reunião com a oposição, Trump surpreendeu ao convidar a imprensa para participar. A avaliação geral, no entanto é que o tiro saiu pela culatra. Trump perdeu politicamente na sua própria arena, ao tornar pública a discussão.

O Presidente dos Estados Unidos é definitivamente conhecido como um político de "pavio curto". Não está acostumado a ser contrariado ou a ouvir o que não quer. Desde a gestão nas suas empresas, ou no seu programa de televisão, e agora na Casa Branca, ele é cercado principalmente por membros da família e funcionários que, em geral, dizem a ele o que ele quer ouvir. Os líderes oposicionistas souberam tirar proveito desse traço do temperamento.

Schumer zombou de Trump por elogiar o ganho de duas cadeiras no Senado pelos republicanos na eleição recente ("Quando o presidente se vangloria ter ganho em Dakota do Norte e Indiana, ele está em apuros") e Pelosi o repreendeu por questionar sua liderança na bancada Democrática da Câmara (Nancy Pelosi será provavelmente a Presidente da Câmara a partir de janeiro de 2019, uma vez que os Democratas alcançaram a maioria na renovação dos mandatos)

Trump não suporta ser contrariado e não está acostumado com isso. E reagiu mal frente às câmeras de televisão e aos 325 milhões de americanos. Perdeu a paciência. Deixou Schumer responsabilizá-lo por uma possível paralisação do governo. E por que isso é importante? Durante toda a campanha, uma das principais bandeiras do candidato era a construção de um muro na fronteira com o México, "para proteger o povo americano da invasão de imigrantes marginais, drogados, assassinos, etc". De início vendeu a ideia de que faria com que o governo mexicano pagasse a construção do malfadado muro. Foi prontamente desmentido pelo México e desde que assumiu insiste em incluir no orçamento a bagatela de CINCO BILHÕES DE DÓLARES para essa construção. Os Democratas argumentam que o país tem outras prioridades e que há outros instrumentos de proteção da fronteira. Com isso, o Presidente ameaçou publicamente paralisar o governo se não fosse aprovado o crédito solicitado.

Tanto no período que antecede como após as paralisações do governo, ambas as partes trabalham muito, muito arduamente para culpar o outro lado. A razão é simples: as pessoas detestam Washington e tudo que a capital americana representa em termos políticos. Acham que ali não se trabalha pelo bem comum. (Qualquer semelhança com a capital de um certo país sul-americano, é mera coincidência.) Quando acontece a paralisação - shutdown - e os serviços públicos são literal e completamente interrompidos, todos os piores medos são realizados. Na prática, os funcionários públicos ficam sem trabalhar ou sem pagamento até o Congresso definir o orçamento. Isso pode gerar consequências graves: funcionários dos serviços de inteligência não trabalharão mesmo com as tensões elevadas com o Irã. Importantes pesquisas de saúde pública serão interrompidas. Veteranos militares assistiriam, impotentes, seus processos de pedido de auxílio, suspensos. Centenas de pacientes não podem se inscrever para triagens clínicas nos Institutos Nacionais de Saúde. Todo o contingente militar continua a postos, mas grande parte dos 800 mil funcionários civis do Departamento de Defesa são colocados sob licença não-remunerada. É o caos.

Não ha explicação para a doentia insistência do Presidente pelo muro. Ser capaz de grave perda política de um governo que já tem baixos índices de aceitação, de desagradar grande parte dos americanos, de paralisar serviços essenciais, para caprichosamente chantagear o Congresso é algo absolutamente inexplicável.

O truculento Presidente Trump recebeu agora um pequeno exemplo do que terá que enfrentar a partir de janeiro, quando os Democratas terão o domínio da Câmara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário