terça-feira, 6 de agosto de 2024

"Aproveita enquanto Brás é tesoureiro"


A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" possui três possíveis origens, cada uma com contextos históricos e culturais distintos. Vamos explorar essas três versões em detalhes:

Versão 1: Origem em Portugal, Século XVIII

A primeira versão remonta à primeira metade do século XVIII, em Portugal, especificamente em Póvoa de Varzim. Nessa versão, os sobrinhos e afilhados de um pároco local, conhecidos por serem inescrupulosos e pródigos, aproveitavam-se da influência do tio ou padrinho para convencer o tesoureiro da freguesia, Antônio Brás, a pagar por seus gastos excessivos. Brás usava de artimanhas contábeis para justificar essas despesas aos órgãos estatais. Assim, a expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" surgiu como um conselho para aproveitar enquanto Brás estava no cargo e podia manipular as contas para beneficiar os parentes do pároco.

Versão 2: José Brás, Fundador do Bairro do Brás em São Paulo

A segunda versão identifica Brás com o fundador do bairro do Brás em São Paulo, o português José Brás. Proprietário de uma chácara na região, José Brás construiu a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e foi designado como responsável pela arrecadação e guarda dos impostos e taxas devidos ao erário. Seus familiares, conhecidos por serem perdulários e ambiciosos, aproveitavam-se de sua posição de poder para obter benefícios. A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" era usada entre seus parentes para indicar que deveriam tirar proveito da situação enquanto José Brás estava no controle dos recursos.

Versão 3: Brás Cubas, Personagem de Machado de Assis

A terceira versão é literária, vinculada ao personagem Brás Cubas, do romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) de Machado de Assis. No romance, Brás Cubas narra suas memórias de maneira cínica e crítica, aproveitando as oportunidades enquanto tinha poder e recursos. A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" reflete a atitude do personagem em tirar o máximo proveito de sua posição, muitas vezes de forma moralmente questionável.

Essas três versões ilustram como uma mesma expressão pode ter múltiplas origens, refletindo diferentes contextos históricos e culturais. Se por um lado a versão portuguesa retrata a esperteza contábil em uma paróquia, a versão paulistana reflete a dinâmica de poder e influência de um líder comunitário. Já a versão literária enfatiza o uso cínico e oportunista das posições de poder.

Cada versão da origem da expressão oferece uma rica perspectiva sobre como frases e ditados populares podem emergir e se consolidar no imaginário coletivo, adaptando-se a diferentes épocas e circunstâncias.

A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" encapsula a ideia de aproveitar oportunidades enquanto elas estão disponíveis. Seja na Póvoa de Varzim do século XVIII, no bairro do Brás em São Paulo ou na obra de Machado de Assis, a essência do ditado permanece a mesma: o tirar proveito das circunstâncias favoráveis enquanto se pode, ainda que utilizando de estratégias desonestas, eticamente e socialmente reprováveis.

Em tempo: o que provocou a lembrança do ditado popular título deste artigo e a necessidade da pesquisa, foi a divulgação da notícia abaixo:

"Estatais federais têm rombo de R$ 2,9 bi no 1º semestre de 2024.

Há uma piora de R$ 9,4 bilhões na comparação com o mesmo período em 2022, segundo dados do Banco Central"

https://www.poder360.com.br/poder-economia/estatais-federais-tem-rombo-de-r-29-bi-no-1o-semestre-de-2024/

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