Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
domingo, 25 de agosto de 2024
Donald Trump X Kamala Harris
A eleição de 2024 nos EUA está prestes a ser um momento decisivo na história americana, refletindo as profundas divisões e visões conflitantes para o futuro do país. Com Kamala Harris assumindo como candidata democrata após a retirada de Joe Biden, a dinâmica da corrida mudou significativamente. Harris, como a primeira mulher negra a ser indicada presidencial de um grande partido, traz uma perspectiva única para a campanha, apelando a uma ampla coalizão de eleitores, incluindo minorias, mulheres e gerações mais jovens.
Por outro lado, Donald Trump continua sendo uma figura dominante no Partido Republicano, apesar de enfrentar vários desafios legais. Sua influência contínua destaca a profunda lealdade que ele comanda dentro de sua base, que continua sendo uma força poderosa na política americana. A campanha de Trump provavelmente se concentrará em temas de nacionalismo econômico, lei e ordem, e uma rejeição ao que ele percebe como o alcance excessivo do governo, particularmente em resposta à pandemia de COVID-19 e políticas subsequentes.
A eleição está ocorrendo em um cenário de ambiente político polarizado, onde os eleitores estão profundamente divididos em questões-chave. A economia provavelmente será um foco central, com debates sobre política tributária, criação de empregos e desigualdade econômica em primeiro plano. A saúde continua sendo uma questão controversa, com os democratas defendendo acesso expandido e os republicanos pressionando por soluções baseadas no mercado.
A mudança climática é outra questão crítica, com os democratas enfatizando a necessidade de ação agressiva para reduzir as emissões de carbono e transição para energia renovável. Em contraste, os republicanos podem priorizar a independência energética e as implicações econômicas das políticas climáticas, defendendo uma abordagem mais gradual.
A política de imigração continua sendo um ponto crítico, com diferenças gritantes entre os partidos em questões como segurança de fronteira, políticas de asilo e caminhos para a cidadania para imigrantes sem documentos. Esta questão tem implicações significativas não apenas para a política interna, mas também para as relações dos Estados Unidos com seus vizinhos, particularmente na América Latina.
A política externa também desempenhará um papel significativo na eleição, enquanto os EUA lutam com sua posição no cenário global. O resultado da eleição pode determinar o futuro das alianças dos EUA, sua abordagem a desafios globais como proliferação nuclear e terrorismo, e sua postura em relação a grandes potências como China e Rússia.
A eleição de 2024 provavelmente influenciará não apenas a direção dos Estados Unidos nos próximos anos, mas também seus relacionamentos e posição no mundo. Os riscos são imensos, e o resultado refletirá os valores e prioridades do eleitorado americano em um momento de profunda mudança e incerteza.
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Pronto para conviver com uma Inteligência Artificial que supere a inteligência humana?
Estamos diante de um desafio: alguns especialistas, pesquisadores e desenvolvedores acreditam que estamos perto de alcançar o que se convencionou chamar de Inteligência Artificial Geral (AGI sigla em inglês), considerada de “nível humano” e o passo seguinte seria o desenvolvimento da "Superinteligencia", ou ASI, "capaz de superar a inteligência humana, tomar as próprias decisões e executar tarefas que nem os humanos são capazes de fazer."
A pergunta que se coloca é se os humanos estamos realmente preparados para a ideia de viver em um mundo onde a Inteligência Artificial (IA) supera a inteligência humana. Embora a IA tenha um potencial extraordinário para impulsionar o avanço tecnológico e solucionar problemas complexos, ela também levanta preocupações éticas, sociais e existenciais que não podem ser ignoradas.
É essencial que o desenvolvimento e a aplicação da IA sejam orientados por princípios éticos sólidos e que estejam em consonância com os valores humanos. Isso inclui a prevenção de usos indevidos, além de garantir que as práticas de IA sejam justas, transparentes e responsáveis.
A criação de normas e regulamentos internacionais é crucial para evitar potenciais consequências negativas e assegurar que os benefícios da IA sejam distribuídos de forma que favoreça toda a humanidade.
Em vez de encarar a IA como uma substituição para o ser humano, pode ser mais eficaz buscar uma parceria, onde a IA potencializa as habilidades humanas e ajuda a enfrentar desafios que atualmente estão fora do nosso alcance.
Para impedir o agravamento das desigualdades interpessoais, intersetoriais e interregionais, é importante que os frutos da IA sejam compartilhados de maneira justa e acessível.
É necessário um planejamento cuidadoso e uma reflexão profunda para reduzir os riscos de a IA ultrapassar o controle humano. Isso inclui a criação de protocolos de segurança e medidas de contingência. Não seria absurdo temer o desenvolvimento desse tipo de tecnologia que tenha autonomia total para tomar decisões contrárias à segurança da raça humana.
Embora a possibilidade de a IA superar a inteligência humana seja tanto fascinante quanto preocupante, a preparação responsável, o planejamento ético, o estabelecimento de protocolos de segurança e medidas de contingência já citados e o trabalho conjunto são fundamentais para lidar com esse futuro de maneira equilibrada e segura.
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
A desvirginada gritante
Reportagem divulgada pela Folha de S.Paulo nesta 3ª feira (13.ago.2024) expõe o juiz instrutor Airton Vieira, principal assessor do Ministro Alexandre de Moraes do STF (Supremo Tribunal Federal), "planejando uma estratégia a fim de não tornar públicos os pedidos extraoficiais do ministro. Eles consistiam na elaboração de relatórios no inquérito das fake news contra bolsonaristas em 2022".
A divulgação surpreendeu o mundo político e o segmento jurídico brasileiro. Porque a coisa soou como um escândalo, os colegas, amigos e admiradores do Ministro, apressaram-se em divulgar afirmações em sua defesa na imprensa e nas diversas redes sociais.
"O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira (14) que as acusações contra o ministro Alexandre de Moraes sobre uso de formas não oficiais para solicitação de informações não podem ser relacionadas com os métodos da Operação Lava Jato. Segundo o ministro, comparações são tentativas desesperadas de desacreditar o STF".
O Ministro Flávio Dino afirmou que o 'crime' do colega é cumprir 'seu dever' e disse não ver violação da ordem jurídica.
O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que comparar a atuação do Ministro à de integrantes da operação Lava Jato é de “uma infelicidade e de uma irresponsabilidade enorme”.
O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias — o Bessias, divulgou: "O ministro Alexandre de Moraes sempre se destacou por seu compromisso com a justiça e a democracia. Do mesmo modo, tem atuado com absoluta integridade no exercício de suas atribuições na Suprema Corte. Suas decisões contaram com a fundamentação e regularidade próprias de uma conduta honesta, ética e colaborativa que merece nossa admiração e apoio".
No X (Twitter), o Senador Humberto Costa postou: "É absolutamente desprovida de base essa acusação de atos 'fora do rito' praticados pela Justiça Eleitoral. O ministro Alexandre de Moraes, como qualquer juiz eleitoral, tinha poder de polícia para conduzir investigações, sem rito específico, como estabelece a própria lei".
O Presidente do STF, Ministro Barroso, afirmou que não viu nas mensagens publicadas pelo Jornal Folha de São Paulo, em uma primeira análise, nenhuma "ilegalidade gritante".
No meu semi-analfabetismo, eu raciocinava que uma ação era legal ou ilegal. Ponto. Comparava com a constatação popular de que uma mulher seria virgem ou desvirginada. Não existiria meio-termo. Mas agora acho que entendi: a mulher pode perder a virgindade gritando, ou apenas gemendo ou ainda silente. Será que há alguma correlação?
EM CISMAR, SOZINHO, À NOITE
“[...] ele cismou com isso aí.
// [...] ele cismou.
Quando ele cisma, é uma tragédia."
(AÍRTON VIEIRA, desembargador, juiz instrutor, assessor do ministro ALEXANDRE DE MORAES / STF)
***
Por essas coincidências que só (re)afirmam a crendice, o dia 13 -- e, mais ainda, 13 de agosto --, para um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal brasileiro), passa a ser um dia infeliz. Um dia, como qualificavam os latinos, “nigro notanda lapillo”, ou seja, um dia que deve ser marcado com uma pedra preta.
Mas a vida é como os registros contábeis escriturados com as chamadas partidas dobradas: se há um lançamento no débito, há que haver outro no crédito. Desse modo, a uma coisa ruim corresponde uma boa: para algumas pessoas, para diversas pessoas, para muitas pessoas, o 13 de agosto de 2024 será um dia feliz, ou, como diziam os latinos, um dia “albo notanda lapillo”, que deve ser marcado com uma pedra branca. O enorme escritor e dramaturgo francês Honoré de Balzac (1799—1850) utiliza esta segunda expressão no original latino em “Modesta Mignon”, romance que completa em 2024 exatos 180 anos de publicação e é parte das “Cenas da Vida Privada” da monumental “A Comédia Humana”, constituída de mais de 90 livros.
Mas, tornando ao 13 de agosto, diz a antiga sabedoria popular que desgraça pouca é bobagem e que, às vezes, além da queda vem o coice -- vale dizer, o 13 de agosto apenas abriu as portas do inferno astral que, ao que tudo indica, se reserva para um ministro da Alta Corte Constitucional do Brasil.
A primeira de várias, senão muitas, reportagens que, em série, foi publicada no 13 de agosto pelo jornal paulista “Folha de S. Paulo” já foi suficiente, ela sozinha, para levar o próprio jornal e um grandíssimo número de outros veículos de Imprensa, entidades, políticos e as denominadas mídias sociais digitais a avaliarem como “fora do rito”, ilegais, criminosos etc. etc. os atos, atitudes, manifestações e ordens ou determinações do ministro Alexandre de Moraes e o cumprimento das ordens, comentários dos assessores que materializavam as ordens, enfim, os feitos e desfeitos e até os (documentos) refeitos por esses subordinados, pois senão o ministro poderia ele mesmo produzir os textos e/ou documentos (claro que isso dificilmente ocorreria, haja vista a decantada estrutura de recursos humanos e logísticos que se diz terem os senhores ministros e mais a relação de subordinação e dependências dos subordinados).
Evidentemente, para “compensar” as investidas dos muuuuitos que querem a cabeça do ministro, está comparecendo um razoável número de pessoas físicas e jurídicas que afirmam a inocência do togado e a regularidade de seus atos -- incluindo os dos assessores também, é claro.
Já dei aulas de Jornalismo em Universidade pública -- disciplinas “Assessoria de Imprensa” e “Entrevista, Pesquisa e Reportagem”. Tanto pelo mister desse magistério quanto pelos “mistérios” do ofício de (bem) informar, posso assegurar que vem coisa no mínimo “mais pesada” nos próximos dias em desfavor do ministro. As reações, notas, palavras em seu favor logo após a primeira reportagem são apressadas, mas de todo modo natural, próprias do calor do momento. O também jurista Aulus Gellius, que viveu no segundo século depois de Cristo, escreveu em suas “Noites Áticas” que “a verdade é filha do tempo” (“Veritas temporis filia”).
Ora, diz e repete a Imprensa que o material que recebeu, de modo lícito, ocupa mais de 6 (seis) gigabytes de memória. São mensagens por escrito e por áudio, além de arquivos de imagens e de vídeos, tudo trocado via WhatsApp, este aplicativo multiplataforma que, neste ano em que debuta (completa 15 anos), já fez muito bem aos seus criadores e alguns males para muitos de seus confiados usuários... O material nas mãos dos jornalistas da “Folha de S. Paulo” diz respeito a apenas 10 (dez) meses, os cinco últimos de 2022 e os cinco primeiros do ano seguinte, portanto, de agosto de 2022, após ter iniciada a campanha eleitoral e durante toda ela, até maio de 2023, já no novo Governo eleito e empossado.
Mas, sobretudo para o ministro e para os que correram em sua defesa, cabe perguntar: Alguém acha que os jornalistas e o jornal publicariam o pior desses seis gigabytes logo no primeiro dia? Claro que não! Isso não é da lógica humana nem muito menos do ofício jornalístico. A conta-gotas, homeopaticamente, vão-se depositando palavras, imagens e sons (áudios das conversas) no papel do jornal, no e-mundo digital e tal e tal. Aí, feitas as primeiras publicações, jornal e jornalistas esperam as reações, sobretudo as que tentam negar ou justificar os atos do ministro e seus assessores. Avaliadas, pesadas e ponderadas essas reações, o jornal e seus jornalistas produzem e lançam mais algumas “bombas”, isto é, um conjunto de informações que, estas sim, reforçam a publicação anterior e até agravam a situação dos personagens das matérias, as quais, para piorar ainda mais, fragilizam e/ou invalidam as defesas adredemente feitas. É tortura chinesa (dizem), em que pingos d’água caem por horas ou dias sobre a testa ou na moleira de indivíduos amarrados. Ou pode ser a “gota tártara”, tortura inventada pelos russos, onde a pessoa nua sofre pelo menos 40 horas com um fio d’água -- geladíssima!... -- lhe infernizando o corpo e a mente.
Dá para imaginar o que ainda vem por aí? Serão noites insones e dias trombones...
Tentemos ver o que pode vir. Os próprios grupos de comunicação – Folha, Globo... -- reafirmam nas matérias que, repita-se, “são mais de 6 gigabytes” de gravações, arquivos, o que seja.
Para você ter uma ideia, vamos falar um pouco sobre o que é a capacidade de armazenamento de informações ou processamentos de dados em um computador, “tablet”, celular, “pen-drive” etc. Assim como o quilograma é para massa (peso), o litro para capacidade (líquidos e gases), o metro para comprimento, o “byte” (baite) é a medida para a capacidade de armazenamento de dados. O byte é formado por uma unidade menor, chamada “bit”.
A palavra “byte” é originada do inglês “bite” (mordida). A palavra “bit” é formada pela união das duas primeiras letras de “binary” com a última de “digit” -- é “binary digit” (dígito binário) porque, como se sabe, as informações no computador são representadas por dois algarismos, o 0 [zero] e o 1 [um]. São necessários oito “bits” para formar um “byte” e cada letra ou caractere que você está vendo aqui corresponde a um “byte”. Assim, como se fora o “Bolero” de Ravel e seu crescendo musical progressivo, a capacidade de armazenamento de dados também vai crescendo: da menor unidade, o “bit”, vai-se ao “byte”; deste ao “kilobyte” (ou mil “bytes”), ao “megabyte” (mil “kilobytes”), chega-se ao “gigabyte” (mil “megabytes”) e, também mil vezes mais, o “terabyte” – e já existem o “petabyte”, o “exabyte”, o “zettabyte” e o “yottabyte”, este por enquanto o de maior capacidade, equivalente 1 (um) quatrilhão de “megabytes” ou um trilhão de “gigabytes”.
Vamos voltar aos “mais de seis ‘gigabytes’” de mensagens e outros arquivos em só dez meses de conversas e trocas de postagens entre o ministro e seus subordinados, em um grupo de WhatsApp denominado “Inquéritos”. A Ciência (da Computação) diz que CADA “GIGABYTE” corresponde a 6,5 milhões de páginas de documentos. Por escrito: 1 “gigabyte” armazena SEIS MILHÕES E QUINHENTAS MIL páginas cheinhas de letras e/ou imagens. Como são “MAIS DE SEIS ‘GIGABYTES’”, a multiplicação é simples: 6,5 milhões X 6 “gigabytes” = 39 (TRINTA E NOVE) MILHÕES DE PÁGINAS. E ainda tem o sobejo, o resto, pois são “MAIS” de seis “gigabytes”. Ou seja: o jornal “Folha de S. Paulo” e seus dois jornalistas estão com, potencialmente, QUARENTA MILHÕES DE PÁGINAS de documentos (e seus conteúdos) para serem vazados sob forma de reportagens, todo dia, sem falar nas reações e outras repercussões e o que de fatos novos podem ocorrer, em razão da publicação em série. Por exemplo: a vida, a profissão, o passado, as amizades sensíveis, as sentenças que prolatou (para quem foi juiz de Direito), os textos que publicou, os lugares que visitou, pessoas que ofendeu ou fisicamente maltratou, eventuais movimentações financeiras, os bens (patrimônio) que acumulou, os vícios a que se entregou, e uma lista (grande) de “otras cositas más” poderão -- e serão -- pesquisadas, investigadas, na surdina, em segredo, com discrição... e, localizado algo jornalisticamente interessante, une-se ao material e reúne-se o conjunto de evidências, provas etc. para sustentar a fidedignidade e profissionalismo do trabalho da Imprensa e a incolumidade dos profissionais envolvidos, em especial a liberdade, a honra e o patrimônio.
Volte-se a repetir: ainda que também contenha imagens estáticas, imagens em movimento (vídeos), documentos, áudios, além das mensagens escritas, seis “gigabytes” é muita coisa. Evidentemente, esses dados foram recebidos já há algum tempo. Tempo suficiente para leitura, corte e costura dos dados, pesquisas, entrevistas, reuniões com o setor Jurídico e a Alta Direção do jornal, sopesamento das consequências (inclusive econômicas) para o veículo de Imprensa...
É claro que os seis “gigabytes” de informações não foram recebido dia 12 ou dia 10 ou neste mês de agosto... Uma montanha -- na verdade, uma cordilheira -- de dados desses não se formou nem foi escalada agora; não com a hipersensibilidade de que essas informações potencial e explicitamente se revestem, com as implicações e implicâncias políticas, jurídicas, profissionais e até humanas que ela suscita e já está suscitando.
*
Falta explicar a razão do título -- “EM CISMAR, SOZINHO, À NOITE”.
Há 181 anos, precisamente no mês de julho de 1843, o advogado, cientista e escritor Antônio Gonçalves Dias, meu conterrâneo de Caxias (MA), escreveu o poema que é quase um segundo hino nacional, a “Canção do Exílio”. Não há quem não lhe saibam os versos iniciais: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá”. Seis versos depois destes, está a linha inicial da terceira estrofe: “Em cismar, sozinho, à noite”. (Este mesmo verso retorna na estrofe seguinte da “Canção”).
O principal assessor do ministro Alexandre de Moraes, também juiz e desembargador, na boquirrotice das conversas e mensagens via WhatsApp, disse que o ministro estava “esses [aqueles] dias sem sessão”; assim, estava “com tempo para ficar procurando”. Ele fazia isso inclusive à noite, em casa, já que estava em recesso (de férias) do trabalho. Assim, haja enviar mensagens, arquivos para a assessoria, com instruções de fazer -- e fazer logo, e fazer bem feito. Ou, como falou o assessor: ”Quem mandou isso aí, exatamente agora, foi o ministro e mandou dizendo: Vocês querem que eu faça o laudo? Ele tá assim, ele cismou com isso aí.”
Isso mesmo: “[...] ele cismou com isso aí. // [...] ele cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia."
A palavra “cisma” é bissexual, assume dois gêneros. Como substantivo masculino, denomina a separação de um grupo de pessoas de uma coletividade. Também significa desacordo, dissidência de opiniões.
Como palavra feminina, “cisma” é velha conhecida nossa e ela se torna talvez o único (para utilizar a terminologia do assessor ministerial) “mínimo múltiplo comum” com o Sr. Alexandre de Moraes, que sabe ficar cismado que nem gente comum. Desde o tempo das aulas de Matemática do Ensino Fundamental (ou foi do Médio?) que eu não mais tinha ouvido falar em Mínimo Múltiplo Comum (ou MMC) e Máximo Divisor Comum (ou MDC). Como já disse: “cisma” não é só coisa de gente de toga, não.
Cisma -- está no “Houaiss” -- é mania; produto da fantasia, da utopia. Em sua rica semântica, cisma é teima, é capricho, é ideia fixa, é hostilidade um tanto gratuita.
Desde que foi registrada a primeira vez em Língua Portuguesa, há 631 anos (1393), a palavra “cisma” não imaginava que estaria, em suas flexões verbais, três vezes na boca de gente importante para qualificar (!) gente mais importante ainda...
Isso é o que dá cismar sozinho e à noite.
Serve para fazer grandes versos.
Serve para dizer coisas pequenas...
EDMILSON SANCHES
PALESTRAS – CURSOS - CONSULTORIA
Administração (Pública e Empresarial) - Biografias - Comunicação - Desenvolvimento - História – Literatura
CONTATO: edmilsonsanches@uol.com.br
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domingo, 11 de agosto de 2024
Olimpíada
A análise da participação do Brasil nas Olimpíadas de Paris revela uma realidade que exige reflexão profunda e ações concretas. O desempenho do Brasil, quando comparado a potências esportivas como os Estados Unidos, destaca a necessidade de reavaliarmos nosso planejamento e investimento no esporte de alto rendimento. Os Estados Unidos, com apenas 1,5 vezes mais habitantes que o Brasil, conquistaram 6,3 vezes mais medalhas no total e 13,3 vezes mais medalhas de ouro. Essa disparidade não é apenas numérica, mas também estrutural, refletindo diferenças profundas em políticas esportivas, apoio governamental, infraestrutura, e desenvolvimento de talentos.
Em relação à nossa própria história recente, o desempenho em Paris foi inferior ao de Tóquio 2021, com menos da metade de medalhas de ouro e uma medalha a menos no total. Essa regressão é preocupante e sugere que o país não apenas falhou em avançar, mas também em manter o nível de competitividade que havia sido atingido.
Para aqueles que consideram desigual a comparação com os Estados Unidos, é importante lembrar que a verdadeira ambição esportiva deve mirar no alto. Comparar-nos com nações que conquistaram apenas uma medalha de bronze, como Peru, Cabo Verde, Catar, Singapura e Eslováquia, é uma estratégia de autoengano. Essas nações, com populações e recursos significativamente menores, podem celebrar cada medalha como um feito extraordinário, mas o Brasil, com sua dimensão continental e recursos disponíveis, não pode se contentar com resultados tão modestos.
Esse "fiasco", como alguns podem considerar, deve ser um chamado à ação. Não podemos continuar a subestimar o impacto do esporte no desenvolvimento social e na projeção internacional do Brasil. É necessário um compromisso sério, com políticas públicas que incentivem a prática esportiva desde a base, passando por escolas, clubes, forças armadas e comunidades, até chegar ao alto rendimento. Além disso, o apoio a treinadores, atletas e a melhoria das infraestruturas esportivas são imperativos.
A falta de continuidade nos investimentos e de visão de longo prazo são entraves que precisam ser superados. O esporte deve ser visto como uma prioridade nacional, não apenas como uma ferramenta de lazer ou entretenimento, mas como uma plataforma para o desenvolvimento humano, social e econômico do país. Ações isoladas ou de curto prazo não serão suficientes; é preciso um esforço coordenado, envolvendo governo, iniciativa privada e sociedade civil.
Em suma, a participação do Brasil nas Olimpíadas de Paris não deve ser esquecida como um simples fracasso, mas como um ponto de inflexão. Se o país quer se destacar no cenário esportivo mundial, é necessário que essa reflexão se transforme em um planejamento robusto e em um compromisso real com o esporte em todas as suas dimensões. O futuro do esporte brasileiro depende das decisões que tomarmos agora.
Por último, mas não menos importante, um palpite: apesar de a próxima Olimpîada estar programada para Los Angeles em 2028, em pleno território americano, é possível que a China tome definitivamente a hegemonia esportiva no mundo.
terça-feira, 6 de agosto de 2024
"Aproveita enquanto Brás é tesoureiro"
A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" possui três possíveis origens, cada uma com contextos históricos e culturais distintos. Vamos explorar essas três versões em detalhes:
Versão 1: Origem em Portugal, Século XVIII
A primeira versão remonta à primeira metade do século XVIII, em Portugal, especificamente em Póvoa de Varzim. Nessa versão, os sobrinhos e afilhados de um pároco local, conhecidos por serem inescrupulosos e pródigos, aproveitavam-se da influência do tio ou padrinho para convencer o tesoureiro da freguesia, Antônio Brás, a pagar por seus gastos excessivos. Brás usava de artimanhas contábeis para justificar essas despesas aos órgãos estatais. Assim, a expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" surgiu como um conselho para aproveitar enquanto Brás estava no cargo e podia manipular as contas para beneficiar os parentes do pároco.
Versão 2: José Brás, Fundador do Bairro do Brás em São Paulo
A segunda versão identifica Brás com o fundador do bairro do Brás em São Paulo, o português José Brás. Proprietário de uma chácara na região, José Brás construiu a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos e foi designado como responsável pela arrecadação e guarda dos impostos e taxas devidos ao erário. Seus familiares, conhecidos por serem perdulários e ambiciosos, aproveitavam-se de sua posição de poder para obter benefícios. A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" era usada entre seus parentes para indicar que deveriam tirar proveito da situação enquanto José Brás estava no controle dos recursos.
Versão 3: Brás Cubas, Personagem de Machado de Assis
A terceira versão é literária, vinculada ao personagem Brás Cubas, do romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) de Machado de Assis. No romance, Brás Cubas narra suas memórias de maneira cínica e crítica, aproveitando as oportunidades enquanto tinha poder e recursos. A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" reflete a atitude do personagem em tirar o máximo proveito de sua posição, muitas vezes de forma moralmente questionável.
Essas três versões ilustram como uma mesma expressão pode ter múltiplas origens, refletindo diferentes contextos históricos e culturais. Se por um lado a versão portuguesa retrata a esperteza contábil em uma paróquia, a versão paulistana reflete a dinâmica de poder e influência de um líder comunitário. Já a versão literária enfatiza o uso cínico e oportunista das posições de poder.
Cada versão da origem da expressão oferece uma rica perspectiva sobre como frases e ditados populares podem emergir e se consolidar no imaginário coletivo, adaptando-se a diferentes épocas e circunstâncias.
A expressão "Aproveita enquanto Brás é tesoureiro" encapsula a ideia de aproveitar oportunidades enquanto elas estão disponíveis. Seja na Póvoa de Varzim do século XVIII, no bairro do Brás em São Paulo ou na obra de Machado de Assis, a essência do ditado permanece a mesma: o tirar proveito das circunstâncias favoráveis enquanto se pode, ainda que utilizando de estratégias desonestas, eticamente e socialmente reprováveis.
Em tempo: o que provocou a lembrança do ditado popular título deste artigo e a necessidade da pesquisa, foi a divulgação da notícia abaixo:
"Estatais federais têm rombo de R$ 2,9 bi no 1º semestre de 2024.
Há uma piora de R$ 9,4 bilhões na comparação com o mesmo período em 2022, segundo dados do Banco Central"
https://www.poder360.com.br/poder-economia/estatais-federais-tem-rombo-de-r-29-bi-no-1o-semestre-de-2024/
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