quarta-feira, 27 de setembro de 2023

“One World, No Border”



Há cerca de 15 anos, encontrei-me imerso na utopia de um mundo sem fronteiras, um anseio alimentado por uma viagem reveladora à Europa. Testemunhar estações de controle de entrada entre países completamente desativadas me fez exultar e inspirou a redação à época do artigo “One World, No Border” (Um Mundo Sem Fronteiras). Na minha infantil ingenuidade sonhava com um planeta onde a circulação humana não fosse barrada por limites geográficos, permitindo a todos buscar o melhor lugar para viver.

Essa visão romântica de um planeta unificado enfrentou, recentemente, a crua realidade das ruas do Condado de Los Angeles, na Califórnia. Nas últimas três semanas tenho encontrado um cenário de profunda tristeza e desalento. Centenas de pessoas vagavam sem destino como zumbis, muitas dominadas por substâncias ilícitas ostentando sinais claros de insanidade, enquanto outras encontravam-se em um estado de indigência, sem um teto para chamar de lar.

A paisagem urbana de Los Angeles, nesse aspecto, revelou-se dolorosamente similar à cracolândia de São Paulo de meses atrás. O paralelo entre essas duas metrópoles destaca a universalidade da crise social e a necessidade de soluções abrangentes. Simultaneamente, relatos indicam que mais de 100 mil pessoas, migrantes ilegais indocumentados, ingressaram no território americano apenas nos últimos vinte dias.

A multiplicidade e complexidade desses desafios fazem-me repensar a viabilidade de um mundo sem fronteiras. As questões que emergem dessa reflexão vão além da mobilidade humana, abrangendo desigualdades socioeconômicas, disparidades de oportunidades e a urgência de políticas inclusivas e humanitárias.

A violência em geral e as guerras em particular, além das desigualdades globais são catalisadores potentes de movimentos migratórios. Um mundo sem barreiras geopolíticas necessitaria, primeiramente, abordar as raízes desses problemas.

A atratividade de nações com sistemas robustos de bem-estar social não pode ser subestimada. No entanto, a integração controlada e efetiva dos migrantes é um desafio colossal, demandando políticas bem estruturadas em áreas como habitação, saúde, educação e empregabilidade.

Enfrentar as causas dos deslocamentos e as disparidades globais demanda uma ação coletiva. A cooperação internacional e a coordenação de políticas globais são essenciais para abordar esses desafios de maneira eficaz.

Confrontado com a crise social evidente em cidades como Los Angeles e São Paulo, e ponderando sobre as questões intricadas da migração, inclino-me a reconsiderar minha antiga visão. Talvez um mundo sem fronteiras seja, na prática, um ideal distante ou mesmo inatingível.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A greve das montadoras



O United Auto Workers (UAW) é um sindicato internacional que representa trabalhadores nos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico. É um dos maiores e mais diversificados sindicatos da América do Norte, com membros em praticamente todos os setores da economia. Os locais de trabalho representados pelo UAW variam desde corporações multinacionais, pequenos fabricantes e governos estaduais e locais até faculdades e universidades, hospitais e organizações privadas sem fins lucrativos. O UAW tem mais de 400 mil membros ativos e mais de 580 mil membros aposentados.

No último dia 15 de setembro o UAW entrou em greve contra a General Motors, Ford e Stellantis (sucessora da Fiat Crysler nos Estados Unidos). Esta é a primeira vez na história do sindicato que atinge todos os três fabricantes de automóveis sindicalizados da América ao mesmo tempo. A greve começou após o sindicato não ter conseguido garantir um acordo de última hora antes do prazo final da meia-noite. A greve direcionada do UAW a três fábricas, uma de cada montadora, começou em Missouri, Michigan e Ohio.

Hoje, dia 25 de setembro, a greve dos trabalhadores do setor automotivo expandiu, envolvendo 38 centros de distribuição de peças operados pela General Motors e pela Stellantis, proprietária da Jeep and Ram, em 20 estados. A Ford foi poupada da expansão porque a empresa atendeu a algumas das demandas do sindicato durante as negociações da semana passada.

Em vez de visar mais fábricas na sexta-feira, o UAW buscou centros distribuidores de peças aos departamentos de serviço das concessionárias de automóveis. Isso fatalmente arrastará os consumidores para o miolo do furacão, se os revendedores ficarem sem peças. Estima-se que as montadoras GM, Ford e Stellantis perderam a produção de mais de 16.000 veículos até o momento, com perdas econômicas de mais de US$ 1,6 bilhão.

As montadoras e alguns de seus fornecedores demitiram cerca de 6 mil trabalhadores em ações que dizem estar relacionadas à greve. A GM fechou uma fábrica no Kansas que dependia de peças estampadas na fábrica de Wentzville.

Mesmo com a expansão, os grevistas representam apenas pouco mais de 10% dos 146.000 membros do sindicato. O restante continua trabalhando normalmente, mas contribuindo para o enorme fundo de greve de 825 milhões de dólares do sindicato, o que permite o pagamento semanal de 500 dólares a cada grevista.

Os trabalhadores reinvindicam aumento salarial de 36% escalonado em quatro anos, reposição anual da inflacão, planos de pensões de benefício definido para todos os empregados, limitação da utilização de trabalhadores temporários, semana de trabalho de quatro dias com remuneração de cinco dias e mais proteções trabalhistas, incluindo o direito de greve em caso de fechamento de fábricas.

Enquanto não houver acordo e o fundo de greve durar, esse processo vai arrastar-se. É assim que a banda toca por aqui.

domingo, 24 de setembro de 2023

Ceará



O torcedor de futebol vive uma montanha-russa de emoções a cada partida, a cada temporada. Nos bons momentos, o estádio reverbera em cânticos de glória, enquanto nos maus, o silêncio ou os suspiros de desalento tomam conta. Nesse contexto, o Ceará Sporting Clube atravessa um período de penúria relativo a resultados, um cenário que leva os alvinegros a uma profunda reflexão sobre lealdade e paixão.

A saudade dos ídolos de antanho é quase palpável entre os torcedores. Harry Carey, William, Alexandre, Gildo, Zé Eduardo – nomes que, um dia, fizeram o coração do torcedor bater mais forte e os olhos brilharem com a esperança de vitória. Nos últimos tempos, Magno Malta também entrou para essa lista, honrando a camisa alvinegra e fazendo história.

Esses ídolos, com suas jogadas inesquecíveis e gols memoráveis, escreveram seus nomes na história do clube, deixando um legado de paixão e dedicação. São lembranças como essas que mantêm viva a chama da esperança nos corações dos torcedores, mesmo em períodos de dificuldades e escassez de triunfos.

No entanto, mesmo diante das adversidades, é notável perceber que em nenhuma segmento da atividade humana há maior fidelidade, uma fidelidade mais fiel, do que a que é vista nos estádios de futebol. O torcedor, esse incconsequente, pode trocar de carro, de casa, de emprego e até de parceiro(a), mas jamais trocará seu clube do coração. O amor ao clube, às cores da camisa, vai além dos resultados em campo. É uma paixão que se renova a cada partida, que se fortalece a cada desafio, independentemente das circunstâncias.

Os torcedores do Ceará Sporting Clube, assim como de tantos outros times ao redor do mundo, demonstram uma resiliência e uma devoção inabaláveis. Eles são a prova viva de que, no futebol, a lealdade resiste, persiste e se fortalece, mesmo nos momentos mais sombrios. A esperança por dias melhores, por novos ídolos e por vitórias memoráveis, permanece sempre acesa no peito de cada torcedor.

E assim, entre saudades e esperanças, os alvinegros seguem apoiando seu time, na certeza de que o futebol é feito tanto de glórias quanto de desafios, e que a verdadeira paixão se prova não nos momentos de festa, mas nos de luta e perseverança. O sofrimento do torcedor é real, mas é também o que alimenta a magia e a beleza desse esporte apaixonante.

sábado, 23 de setembro de 2023

Para o bem do STF, da Democracia e do Brasil



O Supremo Tribunal Federal (STF) é uma das instituições mais importantes do Brasil, sendo o guardião da Constituição e exercendo um papel vital na manutenção do Estado Democrático de Direito. Diante de sua importância, propõe-se uma série de reformas para aprimorar ainda mais sua atuação, visando sempre o bem comum e a justiça.

Critérios para Nomeação:
A primeira proposta é estabelecer critérios mais rigorosos para a nomeação dos ministros do STF. Um desses critérios seria a exigência de que o indicado seja um juiz de carreira, com vasta experiência no judiciário e um histórico de decisões equilibradas e justas. Esse critério asseguraria que apenas profissionais com profundo conhecimento do Direito e da prática judicial ocupassem o cargo, contribuindo para a qualidade das decisões do tribunal.

Mandato com Prazo de 8 anos:
Atualmente, os ministros do STF são nomeados para mandatos vitalícios, sujeitos à aposentadoria compulsória aos 75 anos. Propõe-se a alteração desse regime para um mandato fixo de 8 anos, sem possibilidade de recondução. Essa mudança visa a renovação constante da Corte, permitindo a entrada de novas ideias e perspectivas, e reduzindo o risco de decisões excessivamente influenciadas por visões individuais de longo prazo.

Extinção das Decisões Monocráticas:
As decisões monocráticas, nas quais um único ministro tem o poder de decidir sobre determinadas matérias, têm sido alvo de críticas. Propõe-se a extinção desse tipo de decisão, garantindo que todas as deliberações sejam colegiadas, ou seja, tomadas pelo conjunto dos ministros. Esse formato asseguraria maior debate e reflexão sobre cada caso, resultando em decisões mais bem fundamentadas e equilibradas.

Limitar o STF a ser apenas Corte Constitucional:
Uma reforma fundamental seria limitar o papel do STF a ser exclusivamente uma Corte Constitucional, focada na interpretação e guarda da Constituição. Isso reduziria a sobrecarga de processos e permitiria aos ministros dedicar mais tempo e atenção a questões verdadeiramente constitucionais, garantindo a qualidade e a profundidade das decisões.

Fim do Foro Privilegiado:
Por fim, defende-se o fim do foro privilegiado, uma prerrogativa que permite a determinadas autoridades serem julgadas apenas por tribunais superiores. Essa mudança visa a promover a igualdade de todos perante a lei, garantindo que ninguém esteja acima do sistema judicial e reforçando a confiança da sociedade nas instituições de justiça.

Cada uma dessas propostas, pensada de maneira cuidadosa, tem o potencial de fortalecer o STF, tornando-o mais justo, eficiente e alinhado com os princípios democráticos que norteiam nossa nação. A implementação dessas reformas exigiria um amplo debate público e o envolvimento de todos os poderes da República, refletindo o compromisso coletivo com um Judiciário mais forte e uma democracia mais sólida.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A crise migratória no Sul dos Estados Unidos



Anteontem o Prefeito da pequena cidade de Eagle Pass (30 mil habitantes) no Texas, do mesmo Partido do Presidente Biden, deu um desesperado grito de pedido de ajuda: “Nós estamos abandonados aqui. Nós estamos na fronteira, nós estamos pedindo socorro. Isso é inaceitável.”

Com efeito, nas últimas três semanas a pressão migratória cresceu de forma assustadora. Estima-se que nesse período, 100 mil migrantes ilegais tenham entrado nos Estados Unidos, a maioria deles nos Estados do Texas, Califórnia e Arizona.

Esses Estados enfrentam desafios de integração relacionados à imigração ilegal, como aumento da concorrência por empregos e recursos, segregação social e cultural além do aumento da criminalidade.

Na pequena Eagle Pass, quase 6.000 migrantes cruzaram do México para os EUA em dois dias, o que levou as autoridades de imigração dos EUA a fechar uma das duas passagens fronteiriças oficiais da cidade. As passagens de fronteira foram fechadas recentemente por motivos semelhantes em San Diego na Califórnia e El Paso no Texas.

O Departamento de Segurança Interna disse na quarta-feira que concederia o Status de Proteção Temporária a cerca de 472 mil venezuelanos que estavam nos EUA em 31 de julho, facilitando os caminhos para autorização de trabalho. Isso se soma aos 242.700 venezuelanos que já se qualificaram para o Status Temporário.

Além disso, a administração também está enviando 800 soldados militares em serviço ativo para a fronteira, somando-se aos 2.500 membros da Guarda Nacional. Está expandindo as instalações de detenção fronteiriças em 3.250 pessoas, para quase 23.000, e alargando a vigilância a todo o país para famílias que aguardam exames iniciais de asilo.

O aumento da pressão migratória recente, na avaliação de observadores, deve-se ao fato de que famílias percebem que alguns migrantes conseguem permanecer nos EUA, então decidem tentar a sorte.

A Patrulha da Fronteira dá aos migrantes pulseiras coloridas de marcação para determinar sua data de chegada para decidir quem será transportado primeiro para um local de processamento.

Diante desse quadro, o governo tem enfrentado o desafio de balancear a segurança na fronteira com os direitos humanos dos migrantes, muitos dos quais fogem de situações de extrema vulnerabilidade e violência em seus países de origem. Há uma crescente preocupação com o tratamento dispensado a essas pessoas, principalmente no que se refere às condições nas instalações de detenção e aos procedimentos para a solicitação de asilo.

Por outro lado, a administração tem a responsabilidade de zelar pela segurança nacional, combatendo a entrada irregular e gerenciando de forma eficaz o fluxo migratório. O envio de tropas adicionais e a expansão das instalações de detenção são medidas necessárias que visam fortalecer o controle fronteiriço e a segurança interna do país.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

11 de Setembro: Uma Cicatriz na História Mundial



Há 22 anos, em 11 de setembro de 2001, o mundo parou diante das imagens chocantes das Torres Gêmeas do World Trade Center sendo atingidas por aviões e, consequentemente, desmoronando em uma nuvem de poeira e escombros. Mais de 3.000 inocentes perderam suas vidas em um ataque que não apenas alterou a paisagem de Nova York, mas também a consciência global.

Eu morara durante 6 anos nos Estados Unidos e chegado há pouco, trabalhava no gabinete do Senador Luiz Pontes no Senado Federal. Assisti ao vivo à queda das Torres Gêmeas no monitor do meu computador. Como era possível tal atrocidade acontecer? Os Estados Unidos, considerado um bastião da democracia e do poder, havia sido vulnerável a um ataque dessa magnitude em seu próprio solo. O choque e o horror que se seguiram tornaram-se universais, ligando povos de todas as nações em solidariedade e luto.

A tragédia do 11 de setembro não foi apenas um ataque a um país, mas uma afronta à humanidade. Os perpetradores desse atentado não apenas almejavam semear o terror nos corações dos americanos, mas também enviar uma mensagem de medo para o mundo inteiro. Em uma era de globalização e interconexão, a dor de uma nação tornou-se rapidamente a dor de todas as nações.

Para aqueles que haviam vivido ou viajado para os Estados Unidos, o ataque assumiu uma dimensão ainda mais pessoal. Edifícios que eram ícones, lugares que haviam sido visitados ou mesmo cotidianos, agora eram escombros e memórias de desespero. O céu claro daquele dia de setembro foi ofuscado por uma nuvem de incerteza e medo.

Mas a resposta global ao 11 de setembro também foi um testemunho da resiliência humana. Nações de todo o mundo se uniram em condenação ao terrorismo e em apoio aos Estados Unidos. As semanas e meses que se seguiram viram um surto de solidariedade, com países reforçando seus compromissos com a paz e a segurança globais.

Entretanto, não se pode negar que o mundo pós-11 de setembro tornou-se mais cauteloso, mais desconfiado e, em muitos aspectos, mais dividido. A "Guerra ao Terror", que se seguiu, trouxe consigo novas complexidades geopolíticas e desafios éticos. As tensões entre as nações aumentaram e a busca pela segurança muitas vezes se equilibrou precariamente com os direitos individuais e as liberdades civis.

No entanto, o legado mais duradouro do 11 de setembro pode ser a lembrança coletiva da vulnerabilidade humana e da capacidade da humanidade de se unir em face da adversidade. A tragédia nos lembrou da importância da compreensão mútua, da cooperação internacional e da busca constante pela paz.

Hoje, ao refletirmos sobre aquele dia sombrio, é imperativo que honremos aqueles que perderam suas vidas, reconhecendo que a memória deles é um chamado à ação - um chamado para construir um mundo mais justo, mais seguro e mais unido.

domingo, 10 de setembro de 2023

O corpo incorrupto e o milagre do Missouri



A incorruptibilidade dos corpos de certos santos e beatos é um fenômeno fascinante tanto para os fiéis quanto para os curiosos. Na tradição católica, a incorruptibilidade é vista como um sinal de santidade, mas é importante notar que não é um requisito para a canonização. Muitos santos têm corpos que se decompuseram normalmente após a morte.

O conceito de incorruptibilidade refere-se à preservação notável de um corpo após a morte, sem o auxílio de métodos modernos de preservação, como o embalsamamento. Os corpos incorruptos permanecem flexíveis, e a pele mantém uma aparência de frescor e cor natural.

A descoberta de um corpo incorrupto muitas vezes fortalece a fé dos fiéis e é vista como um testemunho tangível da santidade da pessoa em questão. Por outro lado, do ponto de vista científico, as causas da incorruptibilidade são debatidas. Como mencionado, fatores como o ambiente em que o corpo foi enterrado, condições climáticas, tipos de solo e até mesmo as roupas usadas pelo falecido podem contribuir para a preservação do corpo.

Porém, em muitos casos de incorruptibilidade, as circunstâncias não se alinham com explicações puramente naturais. Alguns corpos foram exumados de locais úmidos e em condições que normalmente acelerariam a decomposição, mas ainda assim permaneceram notavelmente preservados.

É válido dizer que, enquanto muitos católicos veem a incorruptibilidade como uma manifestação da graça de Deus, a Igreja é geralmente cautelosa ao se pronunciar oficialmente sobre esses casos. Ela realiza extensas investigações antes de declarar um corpo como incorrupto de forma oficial.

Independentemente da causa, a incorruptibilidade continua a ser um fenômeno interessante que desafia nossa compreensão da decomposição e nos lembra da natureza misteriosa da vida, da morte e da santidade.

Estima-se que haja mais de 100 exemplos de incorruptíveis no mundo. No entanto, não há um número exato conhecido, pois o fenômeno é raro e não há um consenso científico sobre sua causa.

Alguns exemplos de incorruptíveis incluem:

- Santa Bernadette Soubirous, uma freira francesa que morreu em 1879. Seu corpo foi encontrado incorrupto em 1909.

- Santa Teresa de Ávila, uma freira espanhola que morreu em 1582. Seu corpo foi encontrado incorrupto em 1585.

- São Francisco de Assis, um santo italiano que morreu em 1226. Seu corpo foi encontrado incorrupto em 1230.

Na cidade de Gower de cerca de 1.500 habitantes, localizada nas colinas ao norte de Kansas City no Estado de Missouri, está a Abadia de Nossa Senhora de Éfeso que hospeda a Ordem Beneditinas de Maria, Rainha dos Apóstolos.

A Ordem foi fundada pela Irmã Wilhelmina Lancaster, uma pequena freira descendente de escravos católicos. Ela pertenceu a uma ordem de freiras tradicionalmente negra por 50 anos, as Irmãs Oblatas da Providência. Desiludida com o que considerava um afrouxamento dos padrões de adoração e dos estilos de vestuário, fundou a nova ordem tradicionalista na década de 1990.

A Irmã Wilhelmina Lancaster morreu aos 95 anos em 2019. Quatro anos depois de enterrada num simples caixão de madeira num canto da propriedade, as irmãs decidiram transferir os restos mortais para um lugar de honra habitual dentro da sua igreja. Exumaram o corpo em 18 de maio último e ao abrirem o caixão encontraram o inesperado: seu corpo parecia notavelmente bem preservado.

Essa pequena comunidade tornou-se um centro de romaria. Enormes multidões – as irmãs dizem que pelo menos 25 mil pessoas – afluíram à abadia durante o fim de semana do Memorial Day para ver o corpo, tocá-lo e rezar.

O prefeito de Gower, Ken Pike, trabalhou com as autoridades de dois condados e com a patrulha rodoviária estadual para planejar o fluxo de visitantes, transformando temporariamente a estrada de duas pistas que leva à abadia em uma rota de mão única.

Numa época em que a população de freiras e padres nos Estados Unidos está a envelhecer e a diminuir, contudo, os Beneditinos de Maria estão entre as poucas ordens que estão a crescer.

Independente de que haja ou não uma explicação científica para o caso, o importante é que esse episódio tem fortalecido a fé dos indivíduos, tornando-os mais unidos, inspirados e reafirmando suas crenças e valores espirituais em um mundo tão complexo e desafiador.