sexta-feira, 17 de abril de 2020

De Moinhos de Vento e Cloroquina




Enquanto o Papa João Paulo II escreveu que o homem não pode viver sem amor (lato sensu), o escritor português José Saramago afirmou que a religião não pode viver sem a morte. É conhecido de todos, no livro "Dom Quixote de la Mancha" do escritor espanhol Miguel de Cervantes, o episódio de sua luta contra os moinhos de vento que se transformam em gigantes cruéis e em seguida voltam a ser moinhos. O cavaleiro andante parte pelo mundo em busca de escrever sua própria história. Depreende-se do clássico da literatura mundial que o fidalgo castelhano Dom Quixote, ao perder a razão, não podia viver sem um inimigo.

Estamos vivendo tempos estranhos. Um pouco como Dom Quixote, creio que o Presidente Bolsonaro não pode viver sem um inimigo. Nem bem se desfaz do Ministro Mandetta, que se caracterizara como seu grande desafeto público nas últimas semanas, ainda no mesmo momento Sua Excelência em entrevista a uma rede de televisão abre suas incontidas baterias verbais contra o Presidente da Câmara Federal.

Preciso estabelecer claramente que não morro de amores pelo Deputado Rodrigo Maia. Ao contrário, tenho-o como representante-mor do que se convencionou chamar de velha política, daquilo que há de mais rasteiro e abjeto na atividade pública. Mas há o respeito exigido pela majestade do cargo que ele ocupa. Mais do que respeito pela instituição, há a necessidade de uma convivência urbana, se não pela carência de aprovação das diversas reformas que o país tanto precisa, pelo menos para atender à Constituição - “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Tenho me perguntado continuadamente nos últimos dias quando teremos períodos de paz na sociedade brasileira, excluindo naturalmente aquilo que não podemos evitar. A energia extraordinária que o país há despendido e haverá de despender muito mais no controle dessa tragédia que se abateu sobre o planeta, esse tal de COVID 19, exige de cada cidadão o melhor dos seus esforços para a superação da inesperada doença. Momento mais do que perfeito para esquecermos quaisquer outros desencontros, menores ou maiores, para focarmos na preservação da saúde dos indivíduos.

É absolutamente imperdoável o comportamento mesquinho de segmentos da sociedade em torno do uso ou não de determinada substância que pode eventualmente minorar o sofrimento de milhares de pessoas, ou mesmo salvar suas vidas. Tenho visto nas redes sociais, incontidas manifestações de júbilo, quando não explícitas muita vez apenas sinalizadas a cada aumento de infectados ou mortos. É a insensatez do ser humano, a face mais perversa do indivíduo acometido das piores paixões.

Neste momento, prefiro concordar com o cientista francês DIDIER RAOULT, na entrevista que concedeu ao Jornal Le Parisien (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/03/quando-o-cientista-fala.html):

LE PARISIEN: O governo autorizou um grande ensaio clínico para testar o efeito da cloroquina no coronavírus. É importante para você ter obtido isso?

DIDIER RAOULT. Não, eu não ligo. Eu acho que existem pessoas vivendo na Lua que comparam os testes terapêuticos da AIDS com uma doença infecciosa emergente. Eu, como qualquer médico, uma vez demonstrado que um tratamento é eficaz, acho imoral não administrá-lo. É simples assim.

LE PARISIEN: O que você diz aos médicos que pedem cautela e estão reservados quanto aos seus testes e ao efeito da cloroquina, especialmente na ausência de mais estudos?

DIDIER RAOULT. Entenda-me bem: sou um cientista e penso como um cientista com elementos verificáveis. Eu produzi mais dados sobre doenças infecciosas do que qualquer pessoa no mundo. Sou médico, vejo pessoas doentes. Eu tenho 75 pacientes hospitalizados, 600 consultas por dia. Então as opiniões de todos, se você soubesse como eu não me importo. Na minha equipe, somos pessoas pragmáticas, não pássaros de programa de TV.

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