"Milhares de pessoas se reuniram em frente à casa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Os manifestantes chegaram por volta das 15h e a avenida Lúcio Costa, onde fica o condomínio onde ele mora, foi fechada por volta das 16h"
O povo comemorou nas ruas a vitória de Bolsonaro. Era uma catarse coletiva, o desabafo popular contra um segmento do espectro político que dezesseis anos antes assumira o poder prometendo “o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública como objetivos centrais e permanentes do meu governo” (do discurso de Lula no Congresso Nacional, na posse do seu primeiro mandato). Ao Contrário o que se viu foi uma sucessão de escândalos, roubalheira desenfreada, desvios de dinheiro público "nunca antes vistos na história deste país".
Como prometera em campanha, o Presidente montou sua equipe de Governo praticamente sem conceder audiência aos políticos e Partidos, despejando das suas hospedarias permanentes, preeminentes políticos do cenário nacional. Quem não viu nos noticiários ao longo do tempo que a área de energia era do Sarney, a Transpetro era do Renan Calheiros, as Docas de Santos pertenciam ao Michel Temer, até mesmo ao maior adversário - Aécio Neves - o Presidente Lula entregara Furnas, para citar apenas alguns. Quem não se recorda de episódio que ficou famoso, do Presidente da Câmara Severino Cavalcante indicando apadrinhado para "a Diretoria que fura poço na Petrobrás", por ser aquela que detinha 60% do orçamento de investimentos da maior empresa nacional, cerca de 32 bilhões de dólares à época.
O povo brasileiro estava cansado dessa ecologia política e entregou suas esperanças nas mãos do novo Presidente. Até compreendeu (o povo não é bobo) quando a quase totalidade dos veículos de comunicação iniciaram uma campanha permanente contra o Governo. Afinal, Bolsonaro instalara um torniquete para estancar a hemorragia do dinheiro do país para as "redes globos" e que tais. A propósito, vale a pena revisitar meu artigo de 26 de março de 2019 - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/03/nao-por-coincidencia-os-editorias-de.html.
Com pouco mais de seis meses de Governo, começaram a vazar "desconfortos" entre o Presidente e sua equipe de Ministros, reconheça-se de primeiro nível, devidamente explorados largamente (por razões óbvias) por redes de televisão, jornais e revistas de circulação nacional. Em agosto de 2019 o Presidente desautoriza em público seu Ministro mais popular, o Ministro Sérgio Moro, e circula a notícia de que ele seria demitido. Na oportunidade escrevi: "A sociedade brasileira ainda vê no Ministro Moro (para ódio da esquerda) um paladino da justiça, o símbolo daquilo que ela mais deseja - que ninguém esteja acima da lei. Não à-toa, em todas as pesquisas de opinião o ex-Juiz Moro pontifica como o mais acreditado e confiável. Enfraquecer o Ministro como ultimamente faz o Presidente, é enfraquecer o próprio Governo." (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/08/demita-o-moro-presidente.html)
Em outubro daquele mesmo ano, os órgãos de divulgação veiculam ruídos no relacionamento entre o Ministro Paulo Guedes e o Presidente, tendo este feito reuniões com profissionais da área econômica privada sem a presença do Ministro. Este o segundo mais acreditado e popular da sua equipe.
A regra repete-se. Na condução do trato desse desastre que acomete o planeta, o Ministro Mandetta tem sido de um profissionalismo que o fez admirado pela sociedade brasileira. O Presidente devia tirar proveito dessa popularidade do membro da sua equipe e creditar-se por escolher ministério tão competente. O que se vê é a repetição de episódios anteriores, já acontecidos com outros Ministros. É a desautorização pública do seu auxiliar e ameaça velada de demiti-lo. Cabe novamente a frase: "Enfraquecer o Ministro como ultimamente faz o Presidente, é enfraquecer o próprio Governo".
Reza a lenda que o escritor e magnífico orador português Padre Antônio Vieira, quando ainda estudante, tinha uma expressiva deficiência de inteligência. Sua dificuldade de clareza de entendimento e agudeza de memória traziam-lhe um extremo sofrimento. Era, no entanto, um fervoroso devoto da Virgem Maria, a quem sempre pedia "que lhe fosse concedido o saber e o entendimento que não possuía."
"Deu-se, então, que um dia, rezando para Ela e inflamado pelo desejo do saber, o jesuíta sentiu uma espécie de estalo, tão forte, que teria experimentado um tipo de agonia, como se fosse desfalecer. Mas em seguida, viu-se com o sentido desembotado, adquirindo, instantaneamente, 'clareza de entendimento, agudeza de engenho e sagacidade de memória', como afirma um de seus biógrafos, André de Barros."
Pois bem! Estou convencido de que o Presidente Bolsonaro, com ou sem a interferência da Virgem Maria, sofreu um "estalo de Vieira" ao contrário. Que estúpida mania de humilhar publicamente membros da sua equipe, comentar com grosserias públicas eventuais discordâncias de ações ministeriais (que deveriam esgotar-se em reuniões internas) e fazer ameaças infantis como se estivesse tratando com crianças ou jovens imberbes.
Assim como Jesus ressuscitou Lázaro ("Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias"), o Presidente Bolsonaro está conseguindo a incrível proeza de ressuscitar a esquerda brasileira que jazia putrefata em um canto qualquer da história.