sábado, 18 de abril de 2020

"Maia oferece e oposição escolhe cinco MPs para caducar"




No dia em que as Trends do Twitter registram quase dois milhões da hastag "#ForaMaia", o Presidente da Câmara Federal reune-se "com todos os líderes partidários da oposição" para oferecer-lhes cinco Medidas Provisórias do Governo Federal para caducarem. 

Estamos em pleno período de uma tragédia planetária, somente comparada na história moderna da humanidade à segunda guerra mundial. É natural então que a quase totalidade das Medidas Provisórias que dormitam nas gavetas da Presidência da Câmara, digam respeito ao combate à proliferação do SARS-CoV-2, o popular CoronaVírus. O deixar caducar Medidas Provisórias, que mais do que do interesse do Chefe do Poder Executivo são necessárias para o cuidado da saúde do povo brasileiro e à manutenção dos empregos, é uma atitude irresponsável e imoral.

Paralelo a isso, o Presidente da outra casa legislativa - o Senado da República - ao mesmo tempo decide retirar de pauta a MP 905 (já aprovada na Câmara), popularmente conhecida como MP da Carteira Verde e Amarela. Essa MP deveria ter sido votada hoje, uma vez que sua validade expira no próximo dia 20 (segunda feira), devendo portanto caducar. A MP prevê, se aprovada, a facilitação da criação de empregos para jovens de 18 a 29 anos (o foco no primeiro emprego) e trabalhadores com mais de 55 anos e desempregados há mais de 12 meses. As regras serão aplicáveis inclusive para o trabalho rural. "O governo espera incentivar a geração de cerca de 4 milhões de empregos ao longo de três anos com o Trabalho Verde Amarelo, programa que será criado para estimular contratações de jovens e pessoas acima de 55 anos".

Ainda no Senado, tramita o Projeto de Lei Complementar 141/19 recentemente aprovado pela Câmara, que está na origem do recente desentendimento público entre o Presidente da Câmara e o Presidente da República. O Projeto foi gestado para compensar a queda de arrecadação do ICMS e do ISS deste ano em relação a 2019. A previsão de queda é causada pela pandemia de Covid-19. O problema é que Governo e deputados não se entendem a respeito do impacto fiscal do projeto. Não há consistência entre os números apurados pela equipe técnica da Câmara e a área econômica do Governo. Este insiste em modificar o texto aprovado pela Câmara e há alguma receptividade por parte de segmentos do Senado, que entende estar a Câmara anos luz à frente do Senado no que respeita ao protagonismo. 

A verdade é que o momento é de despir-se de vaidades pessoais e ideologias partidárias, abandonar essa disputa inconciliável de egos e atentar para a saúde e o bem estar do sofrido povo brasileiro.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

De Moinhos de Vento e Cloroquina




Enquanto o Papa João Paulo II escreveu que o homem não pode viver sem amor (lato sensu), o escritor português José Saramago afirmou que a religião não pode viver sem a morte. É conhecido de todos, no livro "Dom Quixote de la Mancha" do escritor espanhol Miguel de Cervantes, o episódio de sua luta contra os moinhos de vento que se transformam em gigantes cruéis e em seguida voltam a ser moinhos. O cavaleiro andante parte pelo mundo em busca de escrever sua própria história. Depreende-se do clássico da literatura mundial que o fidalgo castelhano Dom Quixote, ao perder a razão, não podia viver sem um inimigo.

Estamos vivendo tempos estranhos. Um pouco como Dom Quixote, creio que o Presidente Bolsonaro não pode viver sem um inimigo. Nem bem se desfaz do Ministro Mandetta, que se caracterizara como seu grande desafeto público nas últimas semanas, ainda no mesmo momento Sua Excelência em entrevista a uma rede de televisão abre suas incontidas baterias verbais contra o Presidente da Câmara Federal.

Preciso estabelecer claramente que não morro de amores pelo Deputado Rodrigo Maia. Ao contrário, tenho-o como representante-mor do que se convencionou chamar de velha política, daquilo que há de mais rasteiro e abjeto na atividade pública. Mas há o respeito exigido pela majestade do cargo que ele ocupa. Mais do que respeito pela instituição, há a necessidade de uma convivência urbana, se não pela carência de aprovação das diversas reformas que o país tanto precisa, pelo menos para atender à Constituição - “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Tenho me perguntado continuadamente nos últimos dias quando teremos períodos de paz na sociedade brasileira, excluindo naturalmente aquilo que não podemos evitar. A energia extraordinária que o país há despendido e haverá de despender muito mais no controle dessa tragédia que se abateu sobre o planeta, esse tal de COVID 19, exige de cada cidadão o melhor dos seus esforços para a superação da inesperada doença. Momento mais do que perfeito para esquecermos quaisquer outros desencontros, menores ou maiores, para focarmos na preservação da saúde dos indivíduos.

É absolutamente imperdoável o comportamento mesquinho de segmentos da sociedade em torno do uso ou não de determinada substância que pode eventualmente minorar o sofrimento de milhares de pessoas, ou mesmo salvar suas vidas. Tenho visto nas redes sociais, incontidas manifestações de júbilo, quando não explícitas muita vez apenas sinalizadas a cada aumento de infectados ou mortos. É a insensatez do ser humano, a face mais perversa do indivíduo acometido das piores paixões.

Neste momento, prefiro concordar com o cientista francês DIDIER RAOULT, na entrevista que concedeu ao Jornal Le Parisien (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2020/03/quando-o-cientista-fala.html):

LE PARISIEN: O governo autorizou um grande ensaio clínico para testar o efeito da cloroquina no coronavírus. É importante para você ter obtido isso?

DIDIER RAOULT. Não, eu não ligo. Eu acho que existem pessoas vivendo na Lua que comparam os testes terapêuticos da AIDS com uma doença infecciosa emergente. Eu, como qualquer médico, uma vez demonstrado que um tratamento é eficaz, acho imoral não administrá-lo. É simples assim.

LE PARISIEN: O que você diz aos médicos que pedem cautela e estão reservados quanto aos seus testes e ao efeito da cloroquina, especialmente na ausência de mais estudos?

DIDIER RAOULT. Entenda-me bem: sou um cientista e penso como um cientista com elementos verificáveis. Eu produzi mais dados sobre doenças infecciosas do que qualquer pessoa no mundo. Sou médico, vejo pessoas doentes. Eu tenho 75 pacientes hospitalizados, 600 consultas por dia. Então as opiniões de todos, se você soubesse como eu não me importo. Na minha equipe, somos pessoas pragmáticas, não pássaros de programa de TV.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O "mau caratismo" de Ciro Gomes




O jornalista Leandro Fortes, criador da Agência PT de Notícias e que coordenou as redes sociais do Partido dos Trabalhadores durante a campanha eleitoral de 2014, escreveu quinta feira última (09/04/2020) no blog panfletário Brasil247: "Ciro usa de mau caratismo ao falar do PT e de Lula". Não entrarei no mérito do que pensa o jornalista e a quase totalidade dos militantes petistas sobre o ex-Governador do Ceará, apesar de Ciro Gomes dizer que "eu apoiei Lula todos os dias sem faltar nenhum ao longo dos últimos 16 anos". Eles "que são brancos" que se entendam.

Gostaria, no entanto, de comentar apenas um trecho do artigo do Sr. Fortes que no meu entender carece de honestidade intelectual. Diz o jornalista: "Na falta de um Fernando Collor, a classe dominante pensou em colocar na Presidência da República um boneco inanimado como Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, do PSDB. O retorno dos tucanos, sonho dourado de banqueiros, barões da imprensa, grandes empresários e especuladores do mercado financeiro se transformou no pesadelo chamado Jair Bolsonaro."

Como pode o retorno dos tucanos ser o sonho dourado dos banqueiros se o próprio ex-Presidente Lula afirmou durante discurso na avenida Paulista em março de 2016, que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como durante o mandato dele. Com efeito, a Revista Veja de 12 de setembro de 2014, em profunda e circunstanciada reportagem, estabelece que "Bancos lucraram 8 vezes mais no governo de Lula do que no de FHC".

Por que os barões da imprensa desejariam o retorno dos tucanos se o PT foi o mais pródigo e perdulário em gastos com publicidade? O jornalista Fernando Rodrigues publica em 29 de junho de 2015 que "No seu primeiro mandato (2011-2014), a presidente Dilma Rousseff gastou 23% a mais com propaganda do que seu antecessor, o petista Luiz Inácio Lula da Silva". Essa despendeu 9 bilhões no seu primeiro mandato enquanto aquele teria gasto 7,3 bilhões no segundo mandato. O falecido jornalista Paulo Henrique Amorim, titular do insuspeitíssimo blog "Conversa Afiada", em reportagem publicada em 21/03/2017, relata o seguinte:

"Na campanha presidencial de 2010, Dilma Rousseff visitou a sede de Rede Record, em São Paulo, na companhia de seu futuro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Diretores da Record, entre eles o diretor de Jornalismo Douglas Tavolaro, e alguns jornalistas, entre eles o ansioso blogueiro (aqui o jornalista refere-se a ele próprio), participaram de um almoço frugal.

A certa altura, alguém perguntou à candidata se, eleita, o BNDES salvaria a Globo de novo.

Ela respondeu, na lata:

- Olha aqui quem salvou a Globo! Foi ele!

E apontou para o Palocci".


Por último mas não menos importante, em 30/06/2015 a Folha de São Paulo publica reportagem com direito a chamada de primeira página, cujo título é: "TV Globo recebeu R$ 6,2 bilhões de publicidade federal com PT no Planalto".

Certamente os grandes empresários não sonham com a volta dos tucanos ao poder. Arriscaria dizer que o "sonho dourado" destes seria o retorno triunfal de Lula, ZeDirceu, Dilma et caterva ao comando do país, por razões óbvias. A figura acima ilustra bem o que foram os governos do PT para os grandes empresários. As "Campeãs Nacionais" levaram a maior parte do dinheiro do BNDES, a um custo de 7,5% e captado a 12,5% ao ano no mercado. O banco transformou-se em verdadeiro Robin Hood ao contrário.

Em 21/03/2017 o UOL Economia publica reportagem em que afirma:

"Empresas com relações com o governo têm acesso a esse mercado de juros subsidiados próximos aos 7,5% ao ano, enquanto as empresas comuns têm que buscar crédito no mercado privado com juros muito maiores. Por empresas comuns, leia-se: as micro e pequenas empresas, que são responsáveis por 84% dos empregos no país. Quase dez anos após o início da política de campeãs nacionais, os resultados são diferentes do idealizado por Lula, Luciano Coutinho e Dilma. Praticamente todas as empresas do grupo EBX pediram recuperação judicial ou foram vendidas. Eike Batista está na cadeia, acusado de corrupção. A Oi, a supertele brasileira, não conseguiu evoluir no setor e pediu recuperação judicial, assim como a LBR, outra escolhida para ser campeã na venda de laticínios." Sem considerar outras menos votadas, sabemos exatamente o que aconteceu com a BRF e JBS.

Como dizem os espanhóis, los hechos son los hechos (os fatos são os fatos), ou lembrando Dr. Ulisses Guimarães - Sua Excelência os Fatos, ou ainda, contra fatos não há argumentos. O Sr. Leandro Fortes pode escolher qualquer desses aforismos...

sábado, 4 de abril de 2020

O Estalo de Vieira

"Milhares de pessoas se reuniram em frente à casa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Os manifestantes chegaram por volta das 15h e a avenida Lúcio Costa, onde fica o condomínio onde ele mora, foi fechada por volta das 16h"


O povo comemorou nas ruas a vitória de Bolsonaro. Era uma catarse coletiva, o desabafo popular contra um segmento do espectro político que dezesseis anos antes assumira o poder prometendo “o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública como objetivos centrais e permanentes do meu governo” (do discurso de Lula no Congresso Nacional, na posse do seu primeiro mandato). Ao Contrário o que se viu foi uma sucessão de escândalos, roubalheira desenfreada, desvios de dinheiro público "nunca antes vistos na história deste país".

Como prometera em campanha, o Presidente montou sua equipe de Governo praticamente sem conceder audiência aos políticos e Partidos, despejando das suas hospedarias permanentes, preeminentes políticos do cenário nacional. Quem não viu nos noticiários ao longo do tempo que a área de energia era do Sarney, a Transpetro era do Renan Calheiros, as Docas de Santos pertenciam ao Michel Temer, até mesmo ao maior adversário - Aécio Neves - o Presidente Lula entregara Furnas, para citar apenas alguns. Quem não se recorda de episódio que ficou famoso, do Presidente da Câmara Severino Cavalcante indicando apadrinhado para "a Diretoria que fura poço na Petrobrás", por ser aquela que detinha 60% do orçamento de investimentos da maior empresa nacional, cerca de 32 bilhões de dólares à época.

O povo brasileiro estava cansado dessa ecologia política e entregou suas esperanças nas mãos do novo Presidente. Até compreendeu (o povo não é bobo) quando a quase totalidade dos veículos de comunicação iniciaram uma campanha permanente contra o Governo. Afinal, Bolsonaro instalara um torniquete para estancar a hemorragia do dinheiro do país para as "redes globos" e que tais. A propósito, vale a pena revisitar meu artigo de 26 de março de 2019 - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/03/nao-por-coincidencia-os-editorias-de.html.

Com pouco mais de seis meses de Governo, começaram a vazar "desconfortos" entre o Presidente e sua equipe de Ministros, reconheça-se de primeiro nível, devidamente explorados largamente (por razões óbvias) por redes de televisão, jornais e revistas de circulação nacional. Em agosto de 2019 o Presidente desautoriza em público seu Ministro mais popular, o Ministro Sérgio Moro, e circula a notícia de que ele seria demitido. Na oportunidade escrevi: "A sociedade brasileira ainda vê no Ministro Moro (para ódio da esquerda) um paladino da justiça, o símbolo daquilo que ela mais deseja - que ninguém esteja acima da lei. Não à-toa, em todas as pesquisas de opinião o ex-Juiz Moro pontifica como o mais acreditado e confiável. Enfraquecer o Ministro como ultimamente faz o Presidente, é enfraquecer o próprio Governo." (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/08/demita-o-moro-presidente.html)

Em outubro daquele mesmo ano, os órgãos de divulgação veiculam ruídos no relacionamento entre o Ministro Paulo Guedes e o Presidente, tendo este feito reuniões com profissionais da área econômica privada sem a presença do Ministro. Este o segundo mais acreditado e popular da sua equipe.

A regra repete-se. Na condução do trato desse desastre que acomete o planeta, o Ministro Mandetta tem sido de um profissionalismo que o fez admirado pela sociedade brasileira. O Presidente devia tirar proveito dessa popularidade do membro da sua equipe e creditar-se por escolher ministério tão competente. O que se vê é a repetição de episódios anteriores, já acontecidos com outros Ministros. É a desautorização pública do seu auxiliar e ameaça velada de demiti-lo. Cabe novamente a frase: "Enfraquecer o Ministro como ultimamente faz o Presidente, é enfraquecer o próprio Governo".

Reza a lenda que o escritor e magnífico orador português Padre Antônio Vieira, quando ainda estudante, tinha uma expressiva deficiência de inteligência. Sua dificuldade de clareza de entendimento e agudeza de memória traziam-lhe um extremo sofrimento. Era, no entanto, um fervoroso devoto da Virgem Maria, a quem sempre pedia "que lhe fosse concedido o saber e o entendimento que não possuía."

"Deu-se, então, que um dia, rezando para Ela e inflamado pelo desejo do saber, o jesuíta sentiu uma espécie de estalo, tão forte, que teria experimentado um tipo de agonia, como se fosse desfalecer. Mas em seguida, viu-se com o sentido desembotado, adquirindo, instantaneamente, 'clareza de entendimento, agudeza de engenho e sagacidade de memória', como afirma um de seus biógrafos, André de Barros."

Pois bem! Estou convencido de que o Presidente Bolsonaro, com ou sem a interferência da Virgem Maria, sofreu um "estalo de Vieira" ao contrário. Que estúpida mania de humilhar publicamente membros da sua equipe, comentar com grosserias públicas eventuais discordâncias de ações ministeriais (que deveriam esgotar-se em reuniões internas) e fazer ameaças infantis como se estivesse tratando com crianças ou jovens imberbes.

Assim como Jesus ressuscitou Lázaro ("Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias"), o Presidente Bolsonaro está conseguindo a incrível proeza de ressuscitar a esquerda brasileira que jazia putrefata em um canto qualquer da história.