quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Não saia, Moro!




Em recente programa de televisão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falando sobre Sérgio Moro, afirmou: "Se eu estivesse lá, me demitiria". Não é o que eu penso. Com a autoridade de quem escreveu ainda em 30 de outubro de 2018, (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2018/10/diga-nao-moro.html) "Diga 'não', Moro" e em seguida, 7 de dezembro de 2018, (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2018/12/eu-te-disse-moro.html) "Eu te disse, Moro", se eu estivesse lá não me demitiria.

Está mais que claro que o Presidente tem percorrido caminhos que sinalizam para forçar o pedido de demissão do seu Ministro. Aqui cabem duas leituras: o Presidente, para proteger seu primogênito de uma investigação sobre "rachadinhas" na Assembleia do Rio de Janeiro, tem tentado interferir na Polícia Federal, o que desagrada em muito o Ministro Moro. Afinal, todos que ali estão foram escolhidos por ele. Uma segunda leitura remete às pesquisas de opinião. Enquanto o Governo (e o próprio Bolsonaro) percorrem uma curva descendente, o Ministro Moro, apesar de todo o desgaste provocado pelas mensagens do Intercept, da falta de recursos, das desautorizações públicas do Presidente (algumas até de forma grosseira), permanece como a figura pública mais admirada e o Ministro melhor avaliado.

No primeiro caso, são grandes os indícios de desconforto de Bolsonaro com órgãos diretamente relacionados à investigação do Queiroz, tais como COAF (que terminou em degredo no Banco Central), a Receita Federal e a própria Polícia Federal. O Presidente não se sentiu incomodado com a troca de onze Superintendentes Regionais da PF, mas na do Rio de Janeiro quer alguém indicado por ele. Ora, o Rio de Janeiro é a base eleitoral do Senador Flávio Bolsonaro e do próprio Presidente. Fácil entender a razão do seu interesse. Diante de uma pronta reação do Ministro e da Corporação, e para mostrar quem manda e desautorizar mais uma vez seu Ministro, resolveu substituir o Diretor-Geral. São péssimos sinais de leniência com a corrupção.

No segundo caso, o Ministro Moro é potencialmente um fortíssimo candidato a Presidente na eleição de 2022, disputando o espaço no espectro político hoje ocupado por Bolsonaro. Não é apenas um "ciuminho" de imagem. O ex-Deputado Federal de tantos mandatos é um animal com acurado faro político. Ele sabe que ao ver seu Governo desgastado a cada dia, o "Establishment" sem nenhum remorso migrará para um candidato viável que ocupe o mesmo segmento ideológico. O Ministro Moro está prontinho, embalado em papel de presente e com um lacinho em cima.

Portanto, Ministro, não siga o conselho de FHC. Resista, continue seu bom trabalho à frente do Ministério e deixe o ônus da demissão para o Presidente. Ele que arque com o desgaste de dispensar o trabalho de quem já demonstrou que pode fazer o melhor para o Governo e para o Brasil.

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