Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
De Várzea Alegre a Viena
Datando de cinco séculos antes de Cristo, a região onde hoje floresce Viena integrava a rota do imponente Rio Danúbio. No entanto, foi apenas no século VIII da nossa era que passou a ser oficialmente chamada assim. Atualmente, Viena abriga cerca de dois milhões de habitantes, com um setor de serviços robusto e um expressivo polo industrial.
Cheguei ao hotel após uma noite inesquecível: um concerto de clássicos como Mozart, Bach e Vivaldi na Saint Peter's Catholic Church, uma igreja barroca construída no início dos anos 1700. Confesso que não fui educado a admirar música erudita. Ainda assim, não sei se pela majestade do local ou pela beleza intocável das melodias, senti-me profundamente emocionado — tanto quanto me emocionava, na juventude, ouvindo os boleros extraídos do acordeon de Chico de Amadeu e as baladas românticas no saxofone do inesquecível Mestre Chagas.
Durante o concerto, reparei que a igreja mantinha a tradição de cobrir as imagens dos santos com tecidos roxos quando da Semana Santa. Isso me transportou diretamente à minha infância, à igreja matriz de São Raimundo Nonato, em Várzea Alegre. Não sei se lá ainda se cultiva essa bela tradição católica, mas a lembrança ficou muito viva.
Descobri, ao longo do dia, que Viena não compartilha com minha terra apenas a inicial do nome ou a fé católica de seus habitantes. Há algo mais profundo. A Ringstrasse, sua principal avenida, abriga a Prefeitura (Rathaus), a Universidade de Viena, o Parlamento Austríaco e o famoso Burgtheater. Curiosamente, em Várzea Alegre, a então Rua Major Joaquim Alves (hoje Deputado Otacílio Correia), onde eu nasci, também concentrava símbolos de vida cívica e cultural: a Prefeitura Municipal, o Educandário Santa Inês de dona Eliza Gomes Correia, o Cine Odeon e, até há pouco tempo, a Câmara Municipal — nosso Parlamento varzealegrense, plantado diante da Praça dos Motoristas.
Outro elo invisível une as duas cidades. Viena possui o lago Alte Donau (Velho Danúbio), muito querido pelos vienenses. Embora não seja natural — é um antigo braço do Rio Danúbio — suas águas são límpidas, ideais para nadar, remar, velejar ou simplesmente andar de pedalinho. Várzea Alegre, por sua vez, tem a Lagoa de São Raimundo. Ainda que parcialmente aterrada para dar lugar a um moderno polo de lazer, no inverno, acredito que ela ainda ressurge, como nos tempos da minha infância. Talvez não tão limpa, talvez ainda sem pedalinhos — mas é nossa lagoa, espelho das nossas lembranças, enlevo da meninice.
Enfim, se você ainda não conhece nenhuma das duas, recomendo: conheça ambas. Mas vá primeiro à Várzea Alegre — porque é mais alegre e mais próxima. Depois, então, venha a Viena. Ela o receberá com violinos e muita história.
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