sábado, 29 de junho de 2024

O Fórum Jurídico de Lisboa


O IDP - Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa com sede em Brasília, foi criado em 1998 pelo já Ministro do STF, Gilmar Mendes, em parceria com o hoje Procurador Geral da República, Paulo Gonet Branco. O Instituto oferece cursos presenciais e on-line de graduação, pós-graduação e extensão em diversas áreas.

Na última semana do mês de junho, o IDP realizou, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, o Fórum Jurídico de Lisboa. Sobre o evento, a BBC Brasil escreveu: "A décima segunda edição do Fórum Jurídico de Lisboa terminou na última sexta-feira (28/6) com um saldo de mais de 300 palestrantes e 50 mesas de discussões, de acordo com a programação oficial. Mas com poucas respostas sobre o custo do evento, seu financiamento e os limites éticos de um encontro que reuniu, ao longo de três dias, a cúpula do Judiciário, da política e do empresariado brasileiro."

Em novembro de 2022, através da Operação Sofisma, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar eventuais fraudes em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro que teriam sido cometidos pela Fundação Getúlio Vargas. No mesmo novembro, poucos dias depois, o Ministro Gilmar Mendes suspendeu essa operação sobre corrupção e fraude na FGV, ainda criticou a atuação da Justiça Federal no Rio de Janeiro, bem como o uso da delação do ex-governador Sérgio Cabral e as provas para embasar as buscas e apreensões da operação.

A convite e patrocínio da FGV, o Diretor Geral da Polícia Federal viajou para Lisboa para participar do Fórum. Passagens e hospedagem da autoridade máxima da PF teriam sido pagas pela FGV. Sobre o convite da FGV ao chefe da Polícia Federal para participação do evento, a assessoria da PF afirmou que a organização do Fórum Jurídico de Lisboa foi responsável por custear passagens e hospedagem. Além disso, segundo o jornal Folha de S.Paulo, Andrei foi acompanhado por seguranças e recebeu diárias do governo federal.

Evidente que não posso e nem devo pôr em dúvida a honestidade de propósitos desse emaranhado de acontecimentos envolvendo IDP, FGV e PF. O que surpreende é a especulação de parte da imprensa sobre o evento. Do portal "O Antagonista", extraimos: "O lobby em torno do 'Gilmarpaloosa'. Coquetéis em Lisboa reúnem ministros do STF e do STJ, parlamentares e donos de grandes empresas com interesses nos tribunais superiores e no Congresso". Ou do Terra Brasil: "O colunista do Terra em Brasília, Guilherme Mazieiro, participou do Terra Agora desta quinta-feira, 27, e explicou como funciona o fórum promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, em Lisboa. 'Prato cheio para lobistas', diz colunista sobre 'Gilmarpalooza' promovido pelo ministro do STF".

"A falta de transparência em relação aos custos, aliada ao fato de o evento abarcar empresários ou representantes de empresas que, em alguns casos, estão com processos tramitando no STF, suscitaram um debate sobre a criação de um código de conduta para a corte, além de questionamentos sobre quem poderia questionar a instância máxima brasileira", registra a BBC Brasil.

E assim o Brasil segue seu ritmo!

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Uma avaliação do debate Biden X Trump


No debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Joe Biden, o desempenho de ambos os candidatos pode ser analisado sob diversas perspectivas.

Donald Trump, com sua abordagem combativa e direta, conseguiu explorar bem o tema da imigração, um assunto sensível e polarizador, especialmente entre os eleitores indecisos e conservadores. Ele acusou Biden de ser leniente e permissivo com a imigração ilegal, o que poderia potencialmente enfraquecer a segurança e a economia dos Estados Unidos. Essa linha de ataque foi bem recebida por seu eleitorado base e também pode ter ressoado com eleitores preocupados com a segurança nacional e a integridade das fronteiras.

Além disso, Trump tentou capitalizar sua administração econômica, argumentando que suas políticas econômicas antes da pandemia tinham levado a uma economia robusta, com baixos níveis de desemprego e crescimento vigoroso. Ele usou esses pontos para contrastar com a administração de Biden, tentando pintar um quadro de incompetência e má gestão por parte de seu adversário. Conseguiu com êxito responsabilizar Biden pela enorme despesa americana nas guerras em andamento, principalmente na ajuda á Ucrânia.

No entanto, Trump também tinha questões delicadas a enfrentar, como seus problemas legais e os eventos de 6 de janeiro, quando uma multidão de seus apoiadores invadiu o Capitólio. Apesar disso, ele conseguiu sair relativamente ileso dessas questões durante o debate, desviando habilmente ou minimizando essas controvérsias e mantendo o foco nos ataques a Biden.

Por outro lado, Joe Biden teve um desempenho que pode ser descrito como aquém das expectativas. Desde o início, sua postura e tom de voz foram vistos como pouco enérgicos, o que pode ter dado a impressão de falta de entusiasmo e vigor. Essa percepção foi exacerbada por momentos em que Biden vacilou na condução de seus argumentos, falhando em articular claramente suas ideias e respostas.

Biden também não conseguiu explorar eficazmente as fragilidades de Trump, como suas questões legais e a polêmica em torno do 6 de janeiro. Esses eram pontos onde ele poderia ter pressionado mais, mas optou por uma abordagem mais defensiva. Em várias ocasiões, ele parecia hesitante e tímido ao defender seu legado e as realizações de sua administração, perdendo a oportunidade de destacar suas conquistas e contrastá-las com as falhas de Trump.

Em resumo, o debate mostrou Trump em uma posição de ataque, explorando temas favoráveis e minimizando suas próprias vulnerabilidades, enquanto Biden apresentou um desempenho considerado fraco, sem a energia ou clareza necessárias para capturar a atenção e o apoio dos eleitores indecisos. Este contraste pode ter tido um impacto significativo na percepção dos eleitores sobre os dois candidatos e suas capacidades de liderança.

Confesso que se eu fosse um dos dirigentes do Partido Democrata nos Estados Unidos, eu estaria profundamente preocupado.

Hoje tem debate: Biden X Trump


O presidente Biden e o ex-presidente Donald Trump farão o primeiro debate presidencial das eleições de 5 de novembro, esta noite em Atlanta. O debate acontecerá nos estúdios da CNN e será moderado pelos jornalistas da rede, Jake Tapper e Dana Bash. O início está previsto para as 22h, horário de Brasília (9 p.m. ET), e transcorrerá por 90 minutos.

O debate rompe com a tradição de campanhas anteriores, ocorrendo meses antes do habitual e com um novo conjunto de regras com as quais ambos os candidatos concordaram, incluindo a proibição de audiência ao vivo. Os brasileiros poderemos assistir na CNN e na plataforma de streaming Max, anteriormente conhecida como HBO. Os espectadores não assinantes por cabo, podem assistir no site da CNN.

Biden e Trump são os únicos candidatos presidenciais qualificados para a fase de debate. O candidato independente Robert F. Kennedy Jr. não conseguiu atingir o limite, que exigia que os candidatos aparecessem com 15% ou mais em quatro pesquisas nacionais. O evento acontecerá sob regras diferentes de eleições passadas que ocorriam diante de um público ao vivo, muitas vezes em um espaço para eventos em um campus de faculdade ou universidade.

Além dos respectivos dramas jurídicos recentes de ambos os candidatos e a idade de Biden e sua capacidade de cumprir um segundo mandato, espera-se que os candidatos discutam o estado da economia e a política de imigração, uma vez que ambas são questões consistentemente importantes para os eleitores nas sondagens nacionais. Também é possível que os candidatos esclareçam suas posições relativas à política internacional, uma vez que os eleitores continuam divididos sobre se os EUA deveriam enviar ajuda militar à Ucrânia e a Israel nas suas respectivas guerras.

Trump e Biden debaterão pela segunda vez em 10 de setembro.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Eleições Americanas e Elon Musk


Elon Musk, frequentemente descrito como o cidadão privado mais poderoso dos Estados Unidos, parece estar prestes a lançar sua mais ousada e controversa aposta até hoje. Mais arriscado do que suas empreitadas na SpaceX, Tesla, ou suas iniciativas em inteligência artificial e neurotecnologia, Musk está supostamente preparando um ato de vingança massiva contra a campanha de reeleição do presidente Joe Biden. Essa ação, que poderia ser um discurso de apoio a Trump durante a Convenção Nacional do Partido Republicano em 18 de julho, pode ter implicações profundas para o futuro político dos Estados Unidos.

Para compreender o potencial impacto de Elon Musk nas eleições, é crucial reconhecer o vasto alcance de seu poder. Musk controla 3.395 satélites orbitando a Terra, mais do que os governos dos Estados Unidos e da China juntos. Além disso, ele tem desempenhado um papel vital na preservação da Primeira Emenda para milhões de americanos, desafiando governos considerados tirânicos (Austrália e Brasil, por exemplo) e enfrentando grandes empresas de mídia e tecnologia nos tribunais. Através da revolução robótica com seus robôs Optimus e sua influência no setor de energia com a Tesla, Musk se tornou um dos principais guardiões da informação na América do Norte.

A relação entre Elon Musk e o governo Biden tem sido marcada por tensões e conflitos. A administração Biden tem adotado uma postura combativa contra as empresas de Musk, promovendo uma agenda radical que Musk abertamente despreza. Esse contexto de antagonismo político fornece a base para a suposta vingança de Musk. Apesar de suas diferenças com Donald Trump ao longo dos anos, Musk parece acreditar que Trump é uma escolha melhor para os interesses do país mais poderoso do mundo e, consequentemente, para os seus próprios interesses empresariais.

A próxima eleição presidencial americana está se configurando menos como uma disputa para ganhar e mais como uma batalha para evitar a derrota. Os eleitores de Biden e de Trump estão profundamente polarizados, com fortes sentimentos de aversão pelo candidato oposto. Nesse cenário, a influência de Elon Musk pode ser um fator decisivo. Seu controle sobre a informação e sua capacidade de mobilizar recursos tecnológicos e midiáticos podem alterar drasticamente a dinâmica eleitoral.

Enquanto o mundo aguarda os desdobramentos dessa possível intervenção de Musk nas eleições, uma coisa é certa: seu envolvimento intensificará a já fervente arena política americana. Seja como um defensor da liberdade de expressão ou um magnata tecnológico com interesses pessoais em jogo, Elon Musk continua a ser uma figura central, capaz de moldar não apenas indústrias, mas também o futuro político de uma nação. E que nação!

Artigo de Fernando Schüler


Comentei com uma amiga jornalista que ia escrever sobre o caso do Filipe Martins. Ela foi rápida: ‘Não faz isso’, disse ela, com jeito querido. ‘Por quê?’, perguntei, já antevendo a resposta. ‘Porque esse treco de prisões e censura da ‘direita’ não tem jeito. É como aquela traição sobre a qual o casal não fala. Tem muita coisa errada, mas é melhor empurrar para debaixo do tapete.’ Achei criativo. É isso mesmo. Mas resolvi escrever. Talvez eu seja meio implicante. Ou seja o gosto pela filosofia. Na minha intuição, o país precisa tratar das coisas complicadas. E uma delas é esse ‘treco’ da prisão provisória e aparentemente infinita do Filipe Martins.

Ele era assessor do Bolsonaro e me lembro de uma imagem dele apertando a mão do Trump, no Salão Oval. Sua prisão já vai para mais de quatro meses.

O mandado dizia que sua localização era ‘incerta’, que poderia ter havido ‘burla do sistema migratório’, e por isso seria ‘necessária a decretação da prisão cautelar’. Dizia também que ele constou na lista de passageiros daquele voo do Bolsonaro para Orlando, no finalzinho de seu governo. O que ‘poderia indicar que tenha se evadido do país’, para fugir da Justiça. Tudo 100% errado.

O sujeito não fugiu, a localização não era incerta, morava com a namorada, em Ponta Grossa. E já provou inúmeras vezes que não ‘se evadiu’. Para encurtar a conversa, sua prisão é um completo nonsense. O absurdo a fogo brando, com o qual há muito parece que já fomos nos acostumando.

No Brasil de hoje é assim. Viramos colecionadores de absurdos.

Um que está na minha lista dos top 10 é o da Debora. Ela estava lá, nas invasões do 8 de Janeiro. Cabeleireira de São Caetano, mãe de dois guris de 6 e 9 anos. No dia do ‘golpe’ escreveu ‘perdeu, mané’, com batom vermelho, naquela estátua de pedra da Justiça, na frente do STF. Andava com a frase debochada do ministro Barroso na cabeça, foi lá e escreveu. O batom acabou saindo com um pouco de detergente, mas sua imagem está lá. Foi um repórter que flagrou. Ela ali sentada, calmamente, rabiscando a frase terrível, com um ‘sorriso no rosto’, como leio numa reportagem. Achei que tinha lido ‘sorriso golpista’, mas foi imaginação. O fato é que ela está presa há mais de um ano. E pelo jeito será condenada a mais uns quinze ou dezessete. Nossa Suprema Corte acha que ela estava dando um ‘golpe de Estado’ naquele domingo. É possível.

Quem sabe ela poderia realmente ter tomado o poder, se não tivesse perdido tempo com a maldita frase. Cresci com as imagens do golpe de 1964, dos tanques descendo a Presidente Vargas, no Rio, as baionetas, a tropa na rua. E agora aquele batom? Algum plano? Algum apoio militar? Alguma arminha, mesmo que de brinquedo? Esquece. Isso é ou não é um “experimento popperiano”, me diz um conhecido. Não é possível provar ou refutar coisa nenhuma. Há uma tese, produzida em última instância e apoio no mundo da opinião. É o que basta, no Brasil de hoje. A maior chance é que os guris cresçam sem Debora. No último Natal o mais novo foi para o canto da sala e chorou. Disse que, sem a mãe, nada daquilo tinha graça. Todos choraram. E o Natal se foi. Perdeu, manezinho. A frase nua e crua que faltou alguém escrever naquela estátua.

Dói um pouco mergulhar nessas histórias. Mas é necessário. É o jeito de entender o que se passa no país, um pouco abaixo da pele retórica das redes, do bate-boca político. Reconheço que há uma impertinência nisso.

Tempos atrás me perguntaram por que presto tanto atenção a certos ‘detalhes’. Onde está o crime, qual a acusação, onde está escrito na lei tal e tal coisa. Fiquei pensando nisso. No fim me dei conta que é exatamente dessa intransigência em relação a direitos individuais que é feita a tradição liberal. Mas isso não respondia à pergunta.

Há um lado pessoal nisso tudo. Por alguma razão, fui aprendendo na vida a desconfiar da narrativa política. Qualquer narrativa. E criando também um enorme asco pelo abuso de poder. E é com isso que estamos lidando no Brasil.

Se a censura prévia não existe na lei brasileira, mas uma autoridade empurra goela abaixo a censura prévia, o que exatamente isso significa?

Se alguém é preso, por razões inexistentes, no mundo real, estamos ou não falando de abuso de poder?

Tempos atrás também me perguntaram se fazia sentido questionar decisões judiciais.

Na visão do meu interlocutor, não fazia.

Se um ministro manda prender ou manda soltar, dizia ele, ou manda qualquer coisa, é a regra do jogo. Ponto. O raciocínio tinha lá seu apelo, mas era falso como uma nota de 3 reais.

Uma República se define precisamente pelo fato de que ninguém, nem mesmo a mais alta autoridade, está acima das leis e da Constituição. De modo que decisões judiciais estão aí para serem obedecidas. Mas jamais para pedir que os cidadãos deixem de pensar com a própria cabeça.

O gosto pela impertinência vem da história. Voltaire talvez tenha sido o grande mestre, e suas histórias sempre me cativaram. Uma delas é a de Jean Calas, o comerciante de Toulouse queimado na fogueira, em 1762, acusado de matar o filho por motivos de religião.

Voltaire agarrou aquele caso com as unhas. Escreveu, apelou a Paris, aos tribunais, ao rei. E virou o jogo.

A outra história é ainda mais reveladora. Sua defesa do jovem Jean-François de La Barre, acusado de profanar um crucifixo e debochar da religião. La Barre era um tipo iconoclasta, e se recusou a tirar o chapéu numa procissão, e isso era coisa pesada à época. Possivelmente bem mais do que pintar uma estátua com batom, em Brasília. La Barre terminou na fogueira, como Calas. Foi o último francês queimado por blasfêmia. Voltaire mergulhou naquela história, quis saber da culpa, das provas, do trabalho dos juízes. E novamente virou o jogo. Note-se que ele nem sequer conhecia La Barre ou Calas. Sabia apenas que aquilo não era justo, que os juízes eram enviesados, que o devido processo tinha sido atropelado e a excitação religiosa havia ‘tomado o lugar da prova’. E que aquilo ofendia não apenas a memória daqueles dois franceses manés, mas a todos os franceses, que viviam sob as mesmas leis. Mais do que isso, ofendia a própria ideia de justiça. E que por isso era preciso ser intransigente.

Nossa época é muito diferente daquela de Voltaire. O fanatismo religioso foi substituído pela paixão política, e somos mais civilizados. Não queimamos ninguém na fogueira, o que nos dá uma certa vantagem. Mas nosso rastro de pequenos e grandes abusos já vai longe. Na França de La Barre e Calas ainda havia os tribunais, em Paris, e depois o rei, a quem se podia recorrer. E por fim havia a letra de Voltaire. Ele e sua impertinência. No Brasil não temos nada disso. O que temos é um país que vai se acostumando. Empurrando certas histórias para debaixo de um imenso tapete. Até quando? Não faço a menor ideia.

Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

domingo, 23 de junho de 2024

A Imparcialidade e a Justiça


Blaise Pascal foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês. A citação “Nem ao homem mais imparcial do mundo é permitido que se torne juiz em seu próprio caso”, oferece uma visão clara sobre a falibilidade humana e os limites da imparcialidade.

A imparcialidade é um pilar fundamental da justiça. O sistema judicial moderno é construído sobre a premissa de que julgamentos devem ser feitos sem preconceitos ou interesses pessoais. A afirmação de Pascal ressalta a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de alcançar uma verdadeira imparcialidade quando alguém está julgando a si mesmo.Os seres humanos somos, por natureza, movidos a emoções e interesses pessoais que indubitavelmente influenciam nossas decisões.

A natureza humana é intrinsecamente subjetiva. Ela é inevitavelmente influenciada por suas próprias experiências, emoções e desejos. Quando se trata de julgar a si mesmo, esses fatores se intensificam. O indivíduo tem uma tendência natural a se ver de forma mais favorável, a justificar suas ações e a minimizar seus erros.

Na prática, a sabedoria de Pascal é refletida em diversos aspectos da vida cotidiana e nos sistemas de governança. Por exemplo, em conflitos de interesse, é desejável que indivíduos em posições de poder se abstenham de decisões que possam beneficiá-los diretamente, assegurando uma avaliação mais justa e equilibrada.

A citação de Pascal também nos convida a refletir sobre a ética pessoal. Reconhecer nossas próprias limitações e admitir que não somos os melhores juízes de nossas próprias ações. Conduz-nos a uma verdade universal sobre a condição humana: nossa capacidade limitada de julgar a nós mesmos de maneira justa e imparcial. Essa compreensão não só é fundamental para a justiça e a ética, mas também um imperativo a buscar a objetividade e a humildade em nossas vidas pessoais e profissionais.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

A extração do embrião


Você que está defendendo a extração de um embrião com 5 meses e meio de concepção, e é cristão, não combina, nao casa, não dá "match". Se você é um humanista que luta pela proteção à vida dos menos favorecidos, não combina, nao casa, não dá "match". Não tem nada a ver com moralidade e religião. É humanismo mesmo.

Você sabia que aproximadamente 5% dos nascimentos são prematuros com menos de 6 meses? Para um feto com menos de seis meses de gestação (ou seja, antes de 24 semanas), alguns dos principais sinais vitais e marcos de desenvolvimento são os seguintes:

O coração do embrião começa a bater por volta de 5 a 6 semanas de gestação. Movimentos espontâneos podem começar já por volta de 7 a 8 semanas de gestação. Movimentos respiratórios rítmicos podem ser observados a partir de cerca de 20 semanas. O sistema nervoso central começa a se formar nas primeiras semanas da gestação. Atividade cerebral pode ser detectada por eletroencefalograma (EEG) a partir de aproximadamente 20 semanas. Reflexos primitivos, como o reflexo de sucção e de preensão, começam a se desenvolver antes das 24 semanas. O embrião se desenvolve rapidamente nas primeiras semanas. Até as 12 semanas, os principais órgãos e sistemas corporais estão formados.

Entre 12 e 20 semanas, o feto começa a ganhar uma aparência mais humana, com desenvolvimento dos membros, rosto, e órgãos internos. Portanto, não é questão religiosa nem moral nem legal, mas humanista, ciência pura. Se a mulher pode extrair um embrião do seu corpo com essas características, é justo que as pessoas que defendem isso, também defendam a pena de morte para criminosos "indesejados" pelo organismo social!

Em tempo: usei a expressão "extração do embrião" para não chocar sua sensibilidade, mas o correto mesmo é "assassinato da criança"!

domingo, 16 de junho de 2024

Tretas & Mutretas no País da Ratolândia


Era uma vez um país chamado Ratolândia. Governado sob um sistema presidencialista e possuindo uma Suprema Corte influente, Ratolândia era um lugar onde os ratos comuns viviam sob a sombra de complexas tretas e mutretas que favoreciam os ratos gordos – a elite roedora.

Em Ratolândia, o Presidente era o chefe do Executivo, eleito para liderar e tomar as decisões mais importantes para o país. No entanto, a real dinâmica do poder era muito mais complicada. A Assembleia dos Ratos, composta por representantes eleitos, e a Suprema Corte, uma entidade poderosa e reconhecidamente apoiadora dos ratos gordos, jogavam um papel crucial na manutenção do status quo.

O Presidente Ratuis foi eleito prometendo mudanças e combate à corrupção. Contudo, uma vez no poder, ele rapidamente percebeu que as tretas políticas e as alianças com os ratos gordos eram necessárias para manter seu cargo. A Assembleia dos Ratos, dominada por interesses econômicos e políticos dos ratos gordos, controlava grande parte da agenda legislativa.

Para aprovar qualquer medida, Ratuis tinha que negociar com líderes influentes da Assembleia, muitas vezes cedendo a pressões e aceitando compromissos que beneficiavam apenas a elite roedora. Tretas políticas eram frequentes, com traições e conspirações que deixavam a governança instável e repleta de escândalos.

A Suprema Corte de Ratolândia, teoricamente independente, era conhecida por suas decisões que invariavelmente favoreciam os ratos gordos. Composta por juízes que eram frequentemente indicados por presidentes em troca de favores e lealdade, a Corte servia como um baluarte de proteção para os interesses da elite.

Casos de corrupção que envolviam ratos gordos eram frequentemente arquivados ou recebiam sentenças leves. Qualquer tentativa de reforma judicial ou investigação profunda sobre os ratos gordos era rapidamente bloqueada, ou desacreditada pela Suprema Corte.

Enquanto as tretas políticas dominavam o cenário do poder, as mutretas econômicas e sociais continuavam a corroer a base de Ratolândia. Os ratos gordos, através de suas conexões e influência, desviavam recursos públicos para seus próprios interesses. Projetos de infraestrutura eram superfaturados, contratos governamentais eram concedidos sem licitação, e os fundos destinados ao bem-estar dos ratos comuns eram sistematicamente esvaziados.

Os ratos comuns viviam em condições cada vez mais precárias. A promessa de prosperidade e igualdade parecia uma piada cruel enquanto a desigualdade aumentava. As mutretas dos ratos gordos não eram apenas toleradas, mas muitas vezes facilitadas pela legislação e pela falta de fiscalização efetiva.

A insatisfação entre os ratos comuns crescia a cada dia. Liderados por um rato determinado chamado Ratair, eles começaram a se organizar para exigir mudanças reais. Ratair denunciava as tretas e mutretas, convocando manifestações e pressionando por reformas.

Ratair e seu movimento ganharam força, utilizando redes subterrâneas de comunicação para mobilizar os ratos comuns. Eles exigiam transparência, justiça e uma distribuição mais equitativa dos recursos de Ratolândia. As tensões aumentavam, e as manifestações se tornavam mais frequentes e numerosas.

Diante da pressão crescente, o Presidente Ratuis se viu em uma encruzilhada. Ele poderia continuar a proteger os ratos gordos e arriscar uma revolta maior, ou poderia apoiar as demandas dos ratos comuns e enfrentar a resistência da Assembleia dos Ratos e da Suprema Corte.

Optando pela primeira alternativa, Ratuis recebeu a benção da Suprema Corte e o apoio da Assembleia dos Ratos.

Apesar da resistência, a pressão popular liderada por Ratair forçou o governo a ceder. Novas eleições foram convocadas, e muitos dos ratos gordos foram substituídos por representantes mais alinhados com os interesses dos ratos comuns. A Suprema Corte, agora sob escrutínio público, começou a sofrer mudanças estruturais para garantir mais independência e justiça.

Ratolândia começou a mudar lentamente. As tretas e mutretas ainda existiam, mas a vigilância e a participação ativa dos ratos comuns tornaram mais difícil para a elite manter seus privilégios injustos. A sociedade de Ratolândia se movia, mesmo que lentamente, rumo a um futuro mais justo e transparente.

A história de Ratolândia é um reflexo das complexidades e desafios que muitas sociedades enfrentam. Tretas e mutretas são difíceis de erradicar, mas a união e a determinação do povo podem provocar mudanças significativas. Em Ratolândia, a luta dos ratos comuns mostrou que é possível caminhar para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, mesmo diante de um sistema profundamente enraizado em privilégios e corrupção.

Evidentemente a história da Ratolândia é pura ficção e qualquer eventual semelhança com algum país contemporâneo, é mera coincidência.

terça-feira, 4 de junho de 2024

O tumulto no Aeroporto de Roma


Em julho de 2023 o Ministro Alexandre de Moraes estava na Itália para fazer uma palestra na Universidade de Siena. No dia 14 daquele mês, voltando com sua família, o Ministro foi hostilizado segundo várias testemunhas, por um grande número de brasileiros presentes no Aeroporto Internacional de Roma — Leonardo da Vinci, também conhecido como Aeroporto Fiumicino.

Ao chegar ao Brasil no dia seguinte, 15 de julho, foi determinado à Polícia Federal que identificasse os agressores e abrisse inquérito para investigar o caso. A mídia nacional divulgou que o filho de Alexandre de Moraes que o acompanhava na viagem, chegou a ser agredido por um dos envolvidos.

A Polícia Federal identificou apenas três "agressores" que seriam uma mulher Andréia Mantovani e dois homens: o empresário do interior de São Paulo Roberto Mantovani Filho e Alex Zanatta, todos membros da mesma família. Os acusados poderiam responder por agressão, ameaça, injúria e difamação.

No dia 18 de julho, 4 dias após o episódio do Aeroporto, a Procuradoria-Geral da República enviou documento ao STF afirmando que "as agressões sofridas pelo ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma pode configurar grave ameaça ao livre exercício das funções constitucionais". A manifestação da PGR embasou a decisão da ministra Rosa Weber, então Presidente do STF, autorizando a realização de buscas e apreensões na casa da família acusada.

Os três acusados também tiveram que depor na PF. “O que ocorre é que no local havia de 10 a 15 pessoas na entrada daquela sala VIP e, sim, havia algumas pessoas se manifestando relativamente ao ministro. Mas ela, pessoalmente, nega em absoluto qualquer ofensa", diz Ralph Tórtima Stettinger Filho, advogado de Roberto e de Andréia Montovani.

O inquérito arrastou-se durante alguns meses, na espera pelas imagens de câmera de segurança a serem enviadas ao Brasil pelas autoridades italianas. Recebidas as imagens, o relator do inquérito, Ministro Dias Toffoli, decidiu mantê-las sob sigilo.

De posse das imagens, a Polícia Federal emitiu relatório afirmando que Roberto Mantovani Filho, um dos investigados, “aparentemente” bateu nos óculos de Alexandre Barci de Moraes, advogado e filho do ministro. As autoridades italianas têm uma versão diferente sobre o episódio, em relatório que acompanhou o envio das imagens. Afirmam que, pela análise do vídeo, Mantovani encostou “levemente” nos óculos do advogado durante uma troca de agressões mútuas.

“Às 18h39, repara-se o único contato físico digno de nota, ocorrido entre Roberto Mantovani e o filho da personalidade (Alexandre de Moraes). Nessa circunstância, esse último, provavelmente exasperado pelas agressões verbais recebidas, estendia o membro superior esquerdo, passando bem perto da nuca do antagonista, que, em simultâneo, fazia a mesma ação utilizando o braço direito, impactando levemente os óculos de Alexandre Barci de Moraes”, diz o documento da polícia italiana.

Em 9 de fevereiro de 2024, o Delegado da Polícia Federal Hiroshi de Araújo Sakaki (responsável pelo caso) concluiu as investigações sem indiciar nenhum dos envolvidos e enviou ao Ministro Dias Toffoli (relator do processo no STF) o seu relatório final.

Em 23 de fevereiro, julgando recursos da defesa dos acusados e da própria PGR, o Plenário Virtual do STF formou maioria para manter sob sigilo o vídeo das câmeras de segurança do aeroporto de Roma que mostram supostas agressões sofridas por Alexandre de Moraes e seus familiares.

Em 21 de março último, quando a Polícia Federal já havia dado o caso como encerrado e apresentado as conclusões do inquérito, o Ministro Toffoli determinou a “complementação” da investigação, o que, na prática reabre a fase de diligências. Nessa oportunidade, o inquérito foi assumido pelo Delegado Thiago Severo de Rezende.

Ontem, segunda-feira, 03 de junho de 2024, a Polícia Federal numa verdadeira cambalhota processual, voltou atrás e decidiu indiciar a família que supostamente ofendeu o ministro Alexandre de Moraes em 2023 no Aeroporto de Roma.

Eis a íntegra da nota divulgada pela defesa dos indiciados nesta 2ª feira, 03 de junho:

“Causa perplexidade e enorme surpresa a nova manifestação da Polícia Federal, agora pelo indiciamento dos investigados. Recorde-se que ela nasce da mesma Polícia Federal que, não faz muito, opinou expressamente pelo arquivamento das investigações! Destaque-se: essa drástica mudança acontece sem que nada de novo, nenhuma outra prova, tenha sido juntada aos autos. Este inquérito, que já havia sido relatado, lamentavelmente tem se revelado um verdadeiro 'vale tudo'. Nele só não vale o respeito aos princípios mais sagrados do Direito. Lamentável sob todos os títulos!”.

É óbvio que a nomeação do Delegado responsável pela 2ª parte do inquérito, para exercer o cargo de oficial de ligação junto à Europol (Agência da União Europeia para a Cooperação Policial), em Haia, na Holanda, por um período de 2 anos, nada tem a ver com sua decisão de indiciar os acusados de agredir o Ministro Alexandre de Moraes e seus familiares. A indicação de indiciamento foi absolutamente técnica e calcada na complementação da investigação determinada pelo Ministro Dias Toffoli

Thiago Rezende foi designado para a função na Europol menos de 3 semanas antes de decidir indiciar a família do empresário que xingou o ministro em Roma.