quinta-feira, 3 de março de 2022

Um Governo de 48 horas!




Antes de Constituição Estadual de 1989, a linha de sucessão estadual era, pela ordem: o Vice-Governador, o Presidente da Assembléia, o 1º Vice-Presidente da Assembléia e o Presidente do Tribunal de Justiça (essa sequência foi modificada na Constituição de 1989 por uma emenda do Deputado Francisco José de Figueiredo Correia que priorizava o Presidente da Assembléia e em seguida o Presidente do Tribunal de Justiça do Ceará - Art. 62).

Na renovação da Mesa Diretora da Assembléia, em 1989, o PDS cujo Presidente era Aécio de Borba, fez acordo com o PSDB de Tasso Jereissati contra a postura das lideranças do interior do Estado e a maioria da bancada de Deputados. Esse acordo foi costurado em Brasília por Mauro Benevides e Aécio e ficou conhecido como o acordo dos cunhados. Eu era líder da bancada do PDS e certamente o Deputado que mais agressivamente criticava o Governo. Era uma violência contra tudo que eu havia feito e defendido no exercício do meu mandato.

Na véspera da eleição da Mesa Diretora passei a noite em claro. Literalmente. Lá pelas tantas da madrugada, decidi que ia pedir a palavra no início da sessão, renunciar à liderança do Partido e anunciar meu voto no candidato da oposição. O Presidente Aécio de Borba havia marcado uma reunião, um café da manhã, com toda a bancada no apartamento do Deputado Antônio Jacó. Nessa madrugada eu também decidira não comparecer à reunião.

Aécio era um craque na política e sabia quanto era custoso para mim, acatar aquele acordo. Sabia também da gratidão e admiração que eu nutria pelo recém-falecido Virgílio Távora. Quando eu me preparava para sumir até a hora da votação, liga o porteiro do condomínio onde eu morava dizendo que o Deputado Carlos Virgílio estava subindo. Era pouco mais de 6:00 horas da manhã. Pedi à secretária de casa para preparar um café enquanto tomava um banho rápido. Seguiu-se um dos momentos mais difíceis de todo aquele período. Carlos Virgílio discorreu sobre a credibilidade de um Partido que fazia acordos e os cumpria, argumentou que o candidato que o PDS estava apoiando (Deputado Pinheiro Landim) não era o candidato "in pectore" do Governador Tasso Jereissati, etc. Foi mais de uma hora de um processo argumentativo veemente. Por fim ele me fez a seguinte pergunta: "você acha que se o papai fosse vivo pediria para você apoiar o candidato de Totó (Gonzaga Mota)?" Isso me desmoronou por inteiro.

A verdade é que fui ao café da manhã com Aécio, saí de lá 1.º Vice-Presidente da Assembléia e graças a isso, futuro Governador por 48 horas. O Governo mais profícuo, correto e equilibrado que este Estado já presenciou. Não demiti nem admiti ninguém, não persegui adversários nem beneficiei correligionários, comandei um Governo de paz e prosperidade. Mas esta é outra história que contarei oportunamente.

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