O ano era 1992. A NEC japonesa convidou alguns dirigentes de empresas de telecomunicações do Brasil para visitar plantas industriais da companhia naquele país. No momento eu ocupava o cargo de Diretor Financeiro da Teleceará e juntamente com o Presidente Tarcísio Faria, fiz a viagem. Eram companheiros também o Presidente da Embratel, o Presidente da Telemig, Djalma Morais, que posteriormente foi Ministro das Comunicações no Governo Itamar Franco e mais meia dúzia de executivos das empresas brasileiras do ramo.
A NEC Corporation é uma empresa multinacional, parte do grupo japonês Sumitomo, com atuação nas áreas de Tecnologia da Informação, Soluções de Rede, Equipamentos e Serviços de Telecomunicações. Uma gigante da tecnologia mundial.
Fomos acompanhados durante toda a viagem por um engenheiro japonês que morara no Brasil (em São Paulo) durante seis anos e comunicava-se razoavelmente bem em português. A programação de uma semana, previa visitas e palestras na sede em Tóquio e a quatro fábricas na capital, em Yokohama e Sendai. Havia também um dia dedicado às compras nesse enorme shopping a céu aberto que são alguns bairros essencialmente comerciais de Tóquio.
Reservo alguns momentos na memória extremamente interessantes dessa viagem:
1 - O futurista prédio sede da companhia foi construído alicerçado em gigantescas esferas de aço, para suportar os frequentes terremotos e tufões que ali acontecem. O Japão é um dos países mais bem preparados para enfrentar desastres naturais, e ainda assim já foi devastado pela força da natureza algumas vezes. A maior tragédia natural acontecida no Japão foi o terremoto de março de 2011, que deixou 15 894 mortos confirmados, 6 152 feridos e cerca de 2 562 desaparecidos.
2 - A viagem de trem entre Tóquio e Sendai, de cerca de 370 km, no trem-bala japonês denominado Shinkansen, que em alguns momentos chegava a alcançar a velocidade de 300 km/h. O respeito demonstrado pela vendedora de chocolates, sucos, refrigerantes e chás ao entrar no vagão com o seu carrinho, numa reverência respeitosa às pessoas, e do mesmo modo a saída do vagão com a mesma reverência e sempre de frente para os passageiros.
3 - A resposta do engenheiro japonês que nos ciceroneava quando lhe perguntei de que ele tinha saudade do Brasil: "saudade da caipirinha, da feijoada e daquela esculhambacion!"
4 - O jantar que nos foi oferecido pelo vice-Presidente da NEC para a América Latina. Numa sala reservada para o nosso grupo, não éramos mais que 10 pessoas. O restaurante era uma construção muito antiga, paredes decoradas com alguns mapas e uns poucos quadros representativos da cultura japonesa. Durante o jantar, foi-nos oferecida uma apresentação de música tocada em um instrumento que segundo o anfitrião tinha mais de mil anos. Esse instrumento que me lembrou o pau do galamarte que eu construía em Várzea Alegre quando criança, ou ainda um banco de tronco de árvore que ainda hoje encontramos no interior do Ceará, com duas ou três cordas, na horizontal, era manuseado com maestria por uma mulher vestida e pintada a caráter, como aquelas imagens de gueixa que vemos no cinema.
No decorrer do jantar, a conversa resvalou para a remuneração de executivos. O anfitrião começou a discorrer sobre como eram montados os salários no Japão, e citou como exemplo a sua empresa, na qual a diferença entre o menor e o maior salário era apenas oito vezes. Num paralelo com o Brasil, era como se um funcionário mais humilde ganhasse o salário mínimo e o Presidente da empresa apenas oito salários mínimos. E dizia ele que realmente os salários japoneses, em regra, não eram altos. Nesse momento eu perguntei quem ganhava os maiores salários no Japão, e ele respondeu com a maior naturalidade: "Os professores universitários. Porque estão preparando o Japão do futuro".
Portanto, amigos, não é à-toa que "A economia do Japão é a terceira maior do mundo por PIB nominal, é o segundo maior país desenvolvido do mundo e é o maior país credor do mundo, geralmente tendo um superavit comercial anual e tendo um considerável excedente internacional de investimentos".
Viva o Japão!
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