
Em 30 de outubro de 2018, portanto antes do Presidente Bolsonaro assumir, escrevi: (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2018/10/diga-nao-moro.html)
- O Juiz Moro tem uma tarefa que está sendo cumprida com a admiração e aplauso da grande maioria dos brasileiros. Ninguém, além do Lula de 2010, chegou tão próximo da unanimidade nacional. Fazer parte do ministério do presidente recém-eleito, certamente abrilhantaria aquele colegiado. No entanto, agora que muitos dos implicados na operação lava jato perderam o foro privilegiado, ausentar-se seria no mínimo alimentar uma forte decepção na sociedade brasileira. Apesar da sabedoria popular estabelecer que "o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis", a justiça precisa da sua mão firme e correta em defesa dos valores e leis nacionais. Ademais, vamos combinar que o Executivo pode não ser a "sua praia". Seguindo carreira no Judiciário, você terá eternamente o reconhecimento de (quase) todos. Você destemidamente deu início a esse processo de expurgo e exorcismo dos "mal feitos" dos poderosos.
Pouco mais de um mês depois, quando a imprensa já noticiava as "peripécias" do famoso Queiroz, voltei a abordar o tema do Ministério, uma vez que o ex-Juiz já aceitara o convite. (https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/09/nao-saia-moro.html)
- Não tenho dúvida de que o Dr. Moro é um homem de bem. De que está dedicando sua vida para tentar fazer o seu melhor pelo país. Mas todo ser humano tem fraquezas. O que me inquieta é até que ponto estaria o Dr. Moro disposto a sacrificar mais de duas décadas de uma carreira brilhante no Judiciário (uma vez que já pediu exoneração do cargo de Juiz Federal) e de uma eventual indicação para o Supremo Tribunal Federal oportunamente, para manter fidelidade aos seus princípios. Suspeito que se o Dr. Moro desconfiasse de longe que esses episódios iam "pipocar", ele jamais teria aceitado o honroso convite.
Nada melhor do que o tempo ("o tempo é o senhor da razão", frase de autor desconhecido que o escritor francês Marcel Proust usou há 100 anos e o ex-Presidente Collor tratou de popularizar na década de 90) para estabelecer verdades e aclarar fatos. Ainda que alguns analfabetos funcionais, apaixonados políticos ou desonestos intelectuais teimem em desidratar a admiração que a sociedade brasileira ainda nutre por Sérgio Moro, "los hechos son los hechos" (os fatos são os fatos). Quando em dezembro de 2018 duvidei da firmeza de Moro, de sua coragem de largar tudo mesmo com enorme prejuízo pessoal para manter fidelidade aos seus princípios, eu estava errado. Alguns duvidaram que o ex-Ministro estava indo (como afirmara) para o Governo com o objetivo único de ter "a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado", "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior". Também estavam errados.
Dispam-se do vírus ideológico, da antipatia pessoal ou do regozijo pelo sentimento de vingança e façam uma análise fria e objetiva dos episódios últimos. Como teria sido muito mais fácil, muito menos conflitante, disparadamente mais confortável e conveniente que Sérgio Moro acedesse aos desejos do Presidente. Ficaria no Ministério e ter-se-ia credenciado para uma das duas vagas do STF a serem preenchidas neste quadriênio. Poderia até funcionar como advogado do Presidente como aconteceu em Governo recente e tudo indica já está acontecendo agora.
"Fazer a coisa certa sempre" é um princípio. São poucos os indivíduos para os quais os princípios e o caráter são valores inegociáveis. E a estes a história fará justiça.