
“We weaken our greatness when we confuse our patriotism with tribal rivalries that have sown resentment and hatred and violence in all the corners of the globe. We weaken it when we hide behind walls, rather than tear them down, when we doubt the power of our ideals, rather than trust them to be the great force for change they have always been.” — Senator John McCain (2018).
Um dos meus prazeres quando visito os Estados Unidos é conversar com o americano de classe média das mais diversas tendências. Ouvir o Republicano, o Democrata, o Independente e mesmo o apolítico, fornece-me elementos para filtrar uma opinião.
Ouvi de um amigo, “baby boomer” americano (geração Woodstock), que desde a década de 1960 não havia visto a sociedade americana tão dividida. Naquela década, foram assassinados o Presidente John Kennedy, seu irmão e Senador Robert Kennedy, o líder religioso e maior expressão contra o apartheid Marthin Luther King Jr, entre outros. Era o auge da Guerra do Vietnam, o maior desastre bélico dos Estados Unidos e que encontrava enorme resistência do seu povo, principalmente dos jovens.
Nos dias atuais, a nação parece irrevogavelmente fraturada entre - republicano / democrata, elefante / burro, liberal / conservador, vermelho / azul, etc. O convite para o jantar de Ação de Graças (Thanksgiving - tradicional jantar anual da família americana) vem sempre acompanhado de uma recomendação para ser evitada a discussão de política ou religião.
Ainda que aparentemente não se debite a divisão à ideologia, a crescente polarização entre Republicanos e Democratas tem sido determinante, haja vista sua diferença na condução das políticas relacionadas à discriminação racial, imigração, diplomacia internacional, ajuda governamental aos mais necessitados, para citar apenas as mais importantes.
Uma outra maneira de analisar-se essa fragmentação social, é através de duradouro estudo de 2012 do professor de ciência política da Universidade de Stanford, Shanto Iyengar. No estudo, a polarização política foi analisada de diferente ângulo - não de como o indivíduo se posiciona em questões políticas, mas como eles se sentem sobre os adversários. "A partir de dados de pesquisas que duraram várias décadas, o estudo descobriu que os sentimentos daqueles que se associam como democratas ou republicanos em relação aos membros do partido adversário, tornaram-se cada vez mais negativos desde o final dos anos 80. O padrão geral de antipatia foi espelhado por outras métricas específicas de 'distância social' - desaprovação do filho de se casar com alguém do partido adversário, bem como a atribuição de estereótipos negativos (por exemplo, mente fechada, hipócrita, egoísta). Curiosamente, essa 'polarização do afeto' não estava tão relacionada à ideologia (ou seja, onde alguém se posicionava sobre questões políticas) quanto à identidade partidária em si."
Em estudo recém publicado, “Ideólogos sem problemas: as conseqüências polarizantes das identidades ideológicas” (“Ideologues Without Issues: The Polarizing Consequences of Ideological Identities”), a professora da Universidade de Maryland, Lilliana Mason, ampliou as descobertas de Iyengar abordando dois aspectos distintos da ideologia política - “baseada em questões” (definida por o que se acredita sobre as questões) e “baseado na identidade” (definido pela identidade social de afiliação partidária). Ao examinar os dados das pesquisas da Dra. Liliana, o fator mais importante da distância social foi a ideologia baseada na identidade - como o americano define-se como democrata ou liberal, em oposição ao republicano ou conservador - não como encaram as diversas questões.
Essa conclusão ajuda-nos a compreender campanhas e posicionamentos políticos de hoje, por exemplo, como os políticos posicionam-se e por que a hipocrisia parece ser tão comum. Para a maioria do eleitorado, o filiar-se a uma corrente política não é tanto sobre as questões, mas para fazer parte do "azul" ou "encarnado". Assim, o oposto entre "nós" e "eles", transforma "liberais" em "comunistas" e “conservadores” tornam-se “fascistas”.
É diante dessa ecologia social que transcorrerá a eleição presidencial americana de 2020. Enquanto os Republicanos não encontraram ninguém para desafiar o desejo à reeleição de Donald Trump, os Democratas debatem-se em pre-candidaturas (eram 22 pretendentes, já resumidos a uma dezena) em busca não do seu melhor candidato, mas daquele que mais facilmente possa derrotar o Presidente Trump.
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