terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Bernie Sanders again!




Bernie Sanders (Senador pelo Estado de Vermont, o segundo menor em população e essencialmente rural) acaba de anunciar sua disposição de submeter-se novamente às Primárias do Partido Democrático americano, com vista à eleição presidencial de 2020.

Se lembram, o Senador Sanders foi, entre todos os concorrentes em 2016, aquele que mais próximo esteve de derrotar Hillary Clinton dentro do Partido Democrata. Sua inserção no eleitorado, principalmente entre os mais jovens, foi de tal sorte que a consagrada candidata Democrata teve que fazer algumas concessões no seu programa de governo para acomodar bandeiras defendidas pelo Senador.

O Senador Sanders representa a ala mais à esquerda no espectro político, dentro do Partido Democrata. Para a próxima eleição presidencial, deverá disputar a indicação com pelo menos mais nove candidatos já em campanha e um total de vinte e quatro especulados. O animador para ele é que dentre as pesquisas apuradas no momento, posiciona-se em segundo lugar na preferência dos eleitores para ser o candidato Democrata, perdendo apenas para Joe Biden, que tem grande recall por ter sido Vice-Presidente de Barack Obama durante seus oito anos de mandato.

Em seu anúncio de candidatura às Primárias Democratas, o Senador praticamente repetiu suas bandeiras da eleição anterior.

Em 30 de agosto de 2018, avaliando o quadro político americano naquele momento, ousei escrever:

Sanders fez sua campanha defendendo saúde e educação gratuitas para todos, aumento (para o dobro) do salário mínimo, diminuição da desigualdade interpessoal, maior controle sobre a função social das empresas, flexibilização da imigração etc. Uma pauta mais que liberal, com um viés claramente socialista, e diametralmente oposta à pauta conservadora de Trump. Quando o Senador Sanders perdeu a indicação, sua contendora e correligionária Hillary Clinton absorveu algumas das bandeiras (lembro-me bem de dobrar o salário mínimo durante sua gestão e um movimento em direção às ideias imigratórias de Sanders, que já tinham sua simpatia), mas não foram suficientes para sensibilizar parte do jovem eleitorado de Sanders. Além da disputa das primárias ter sido muito renhida, ela representava a política tradicional com todos os seus defeitos e pecados.

Ouso dizer que nos próximos anos, no berço da democracia mais liberal do mundo, deverá nascer um forte Partido Socialista (talvez a recriação do Socialist Party of America, que cessou atividades na década de 70), ou quem sabe sejam eles os hegemônicos dentro do Partido Democrata.


Para saber as possibilidades de Sanders como candidato, e mais que isso seu sucesso para ser Presidente, devemos primeiro responder à pergunta que não quer calar: está a conservadora sociedade americana preparada para eleger um presidente com propostas tão progressistas quanto Sanders? O tempo dirá. Dependerá também do resultado da gestão conservadora atual, com quem o candidato Democrata deverá disputar a eleição, uma vez que ainda não apareceu no seio Republicano ninguém que possa disputar a indicação com o Presidente Trump.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Investigações sobre Trump




É verdade, não chega a ser um powerpoint. Mas que o nosso companheiro do norte anda meio enrolado, lá isso anda! Antes mesmo dos Democratas conseguirem a maioria na Câmara (House), já havia a investigação (entre outras) sobre o possível conluio entre sua equipe de campanha e o Governo Russo, através de um Promotor Independente e o uso da inteligência do FBI. Essa, parece-me, a mais grave de todas as investigações que rondam o Presidente.

Para agravar a situação, um largo número de membros de escalões superiores do Governo foram demitidos ou pediram demissão, além da inusitada quantidade de indivíduos próximos ao Presidente, já declarados culpados ou que se declaram culpados (dispositivo legal que ameniza a pena) dos mais diversos delitos, criam um futuro desconfortável para Donald Trump, para dizer o mínimo.

Não satisfeito com esse nebuloso quadro, o Presidente no afã de construir esse muro na fronteira com o México, decreta uma Emergência Nacional (National Emergency) que não tem nada de emergencial. Por conta disso, sem prejuízo para as providências em contrário do Congresso Nacional, está sendo processado pelos Governos Estaduais de pelo menos uma dúzia de Estados além de Organizações da Sociedade Civil e "otras cositas más".

E você a pensar que há crises apenas no Governo Brasileiro...


sábado, 16 de fevereiro de 2019

O muro de Trump




Durante a campanha para Presidente dos Estados Unidos em 2016, o candidato Donald Trump exibiu como uma das suas bandeiras que se vitorioso construiria um muro na fronteira do país com o México. Na verdade, complementaria um muro já iniciado décadas atrás. Mais que isso, que o governo mexicano pagaria por esse muro. Ele foi desautorizado de pronto pelo Presidente mexicano, mas continuou insistindo na mensagem. Eis que ganha o Sr. Trump. Ora de cumprir as promessas.

Na confecção do orçamento para 2019, o Executivo fez a previsão de 5.7 bilhões de dólares para a construção do tal muro. O Congresso não aceitou essa rubrica, excluiu-a, não votou o orçamento e o governo paralizou grande parte de suas atividades mais de duas dezenas de dias (shutdown). Centenas de milhares de funcionários públicos em casa, sem receber salários e muitas das atividades privativas da administração pública paralizadas.

Depois de exaustivas negociações, o Congresso votou o orçamento incluindo "apenas" 1.375 bilhões de dólares para a defesa de fronteiras. Pois bem: o Presidente concordou com o orçamento aprovado, mas ao mesmo tempo decretou Emergência Nacional (National Emergency), o que lhe permite fazer manobras no orçamento sem ouvir o Congresso. Ora, o entendimento da esmagadora maioria é que não há uma emergência que justifique tal medida. Mesmo assim, o Presidente Trump já remanejou quase 8 bilhões de dólares de três fontes distintas.

A queda de braço entre o Presidente Trump e o Congresso está longe de terminar. A maioria dos Democratas da House (Câmara) já prepara um Projeto de Lei para tornar sem efeito o Decreto de Emergência Nacional do Executivo. Esse Projeto teria que ser aprovado pelas duas casas legislativas, o que é improvável uma vez que os Republicanos detêm a maioria do Senado. Mesmo que seja aprovado, o Presidente teria direito ao veto que só seria rejeitado por dois terços do Congresso, o que é uma missão quase impossível. Mas resta a Suprema Corte e eu não tenho dúvida de que a Presidente da Câmara (House Speaker) e líder Democrata Nancy Pelosi recorrerá a essa instância legal, tão logo esgotem-se as providências em nível legislativo. Tudo isso tem um pano de fundo: a eleição presidencial de 2020. A corrida já começou.