Um velho engenheiro aposentado que combate o ócio tentando escrever textos inspirados nos acontecimentos do cotidiano. Autor dos livros “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 1” , “INQUIETAÇÕES NOTURNAS, REFLEXÕES NAS MADRUGADAS” e “… E A VIDA ACONTECEU! FASE 2”.
domingo, 13 de novembro de 2022
O pintor e o sapateiro
“Ne sutor ultra crepidam judicaret” é uma expressão latina que significa literalmente "Não deve o sapateiro julgar além da sandália".
Não se sabe se história real ou lenda, mas há o registro de que na antiguidade, o famoso pintor grego Apeles pintava os seus quadros e habitualmente expunha-os ao público, ficando escondido para ouvir as diversas opiniões. Um belo dia, expôs a pintura de uma mulher. Do seu esconderijo ouviu o comentário da costureira do local:
- Linda imagem, mãos maravilhosas, quase perfeita. Faria apenas um pequeno reparo na roupa: "o botão de cima está muito perto do queixo, com dois botões seria muito melhor."
Apeles ouviu e registrou.
Ao passar um cabeleireiro, admirou e elogiou a obra, não sem fazer a observação de que "O alfinete do lado esquerdo do penteado deveria estar um pouco mais para trás, isso deixaria o retrato perfeito."
Apeles anotou a observação do profissional.
Por último, chega o sapateiro que ficou deslumbrado com a beleza do retrato. E comentou:
- Para tornar-se perfeita apenas precisa colocar fivelas nos sapatos.
O pintor recolheu o seu quadro, levou-o para o atelier e atendeu às observações dos três profissionais. Uma vez concluído o retoque, voltou a expor o quadro no mesmo lugar. Escondido, como de hábito, ouviu o comentário da costureira: "Agora está perfeito!". Em seguida, o cabeleireiro passando surpreendeu-se com o quadro reformado e exclamou: "Sem mais reparos. Impecável!" Finalmente, o sapateiro ao passar e encontrar o retrato, olhou-o longamente e exclamou: "Os sapatos ficaram ótimos com a mudança, mas o vestido…".
Ouvindo o comentário do sapateiro, o pintor Apeles sai furioso do seu esconderijo e grita: "Não passes além dos sapatos!"
Passei grande parte da minha vida profissional trabalhando na área de Tecnologia da Informação, que no meu tempo era Processamento de Dados. Analista de Sistemas da IBM; Professor (concursado) de Ciência da Computação na Universidade Federal do Ceará; Sócio Administrador e responsável pela operação de duas empresas da área (Processa e Digital); Presidente de Empresa Pública Estadual de Processamento de Dados. Ainda hoje, apesar de aposentado, costumo mexer um pouco com essas novas tecnologias, ainda que a minha expertise em programação seja limitada à linguagem mais simples - HTML - que adquiri de forma autodidata.
Nas últimas semanas tenho encontrado nas redes sociais um vendaval de comentários, artigos, posts, "palpites" sobre o sistema de processamento de apurações de eleições adotado no Brasil. Mesmo com esse longo histórico profissional, ando longe de ser capaz de oferecer uma opinião. Seja por estar afastado dessa atividade há já algum tempo, seja por desconhecimento do sistema.
O que me surpreende é que analfabetos e não estou falando de desconhecedores da Tecnologia da Informação apenas, falo de analfabetos funcionais, tenham a ousadia de "palpitar" sobre o assunto, tangidos de um lado e outro pela ideologia. Juro que a exemplo do pintor Apeles, diante de tanto despautério, sinto ânsia de sair do meu esconderijo aqui no Cocó e gritar a plenos pulmões: "Não passes além dos sapatos!".
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ÊITA SERGIN DANADO! 🤗
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