segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Onde erramos?




Qualquer que seja o resultado do pleito presidencial de 2022, todos nós já perdemos, o Brasil já perdeu. Tínhamos um razoavelmente largo cardápio de candidatos e resolvemos mandar ao segundo turno o atual Presidente, Sr. Jair Bolsonaro, um tosco, um incontinente verbal. Seu linguajar não guarda harmonia com o alto cargo que ocupa. Como Chefe de Estado, muita vez não atende à liturgia e majestade do cargo, sendo feito de simbolismos no comportamento. Conduz ainda alguns episódios mal explicados, tais como seu relacionamento com o Queiroz e os cheques depositados na conta-corrente de sua esposa; a mudança das chefias da Polícia Federal para "não esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha"; a negligência, ou melhor dizendo, a má vontade no trato das coisas da pandemia; o insistente modelo de administrar gerando crises dentro e fora do Governo, especialmente entre Poderes da República e eventualmente "otras cositas más".

Como explicar que 50% (talvez um pouco mais, talvez um pouco menos) dos 215 239 074 (População brasileira projetada às 17:00:06 de 25/10/2022), ou melhor dizendo dos exatos 156.454.011 eleitores aptos a votar em 2022, venham a escolher a pior opção que lhes foi oferecida no menu de candidatos? Esta não é apenas a minha opinião. Veja abaixo:

"Nos 13 anos em que gerenciou o Brasil, o Partido dos Trabalhadores (juntamente com seus associados) foi responsável pelos maiores desmandos (ou "mal feitos" como preferem alguns) já noticiados em um membro da comunidade ocidental. Nas palavras do Ministro Fux, Presidente do Supremo Tribunal Federal, "decisões sobre casos de corrupção foram anuladas na Lava Jato, mas dinheiro desviado era real" (https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2022/06/10/ministro-fux-diz-que-decisoes-sobre-casos-de-corrupcao-foram-anuladas-na-lava-jato-mas-dinheiro-desviado-era-real.ghtml); O ex-Presidente Fernando Henrique Cardos afirmou que "nunca se roubou tanto neste país" (https://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/fernando-henrique-diz-que-nunca-antes-se-roubou-tanto-neste-pais.html). No dizer do Filósofo brasileiro Professor de Harvard e Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República nos Governos Lula e Dilma, Roberto Mangabeira Unger, "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional" (https://www.sedep.com.br/artigos/afirmo-que-o-governo-lula-e-o-mais-corrupto-de-nossa-historia-nacional/). "O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil/Governos Lula e Dilma) aponta uma sucessão de ilícitos e propinas, que chegam a R$ 333,59 milhões" (https://exame.com/brasil/delacao-de-palocci-relata-propinas-de-r-333-milhoes-ao-pt/). "O empresário Marcelo Odebrecht confirmou ontem o acerto de propinas ao PT em favor de Luiz Inácio Lula da Silva, relacionados a financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)" (https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/10/08/interna_politica,1090974/odebrecht-confirma-propinas-para-o-pt.shtml). "As seis empreiteiras acusadas de cartel e corrupção na Operação Lava Jato que pagaram, direta e indiretamente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são suspeitas de terem dado um prejuízo de R$ 20 bilhões para a Petrobras, entre 2004 e 2014" (https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2016/09/21/interna_politica,806340/lava-jato-estima-que-prejuizo-com-empreiteiras-foi-de-r-20-bilhoes.shtml)".

Como chegamos a permitir esse intensíssimo ativismo judicial, indivíduos não eleitos que fazem leis em vez de interpretá-las e segui-las? O sistema de direito romano ou civil limita estritamente o papel dos juízes na interpretação do texto. Juízes fazendo leis é antidemocrático. As leis devem ser feitas pelo poder legislativo. Nos últimos tempos juízes estão usurpando seu próprio papel em uma democracia, fazendo com que seja agredida a história do nosso sistema legal, um produto de juízes famintos de poder ultrapassando seus limites.

Por que nossa sociedade, apesar da queda percentual de quase 30% nos últimos seis anos, continua matando seus filhos? 47 mil brasileiros morreram de morte violenta no ano de 2021. Isso é uma tragédia maior do que uma guerra, mais dolorosa do que a soma de todos os mortos por atos terroristas no mundo nos últimos três anos. O que fazer para parar a violência? Existem exemplos de sucesso no mundo, como Nova Iorque nos anos 1980 com a política inspirada no conceito de "segurança pública tolerância zero da teoria das Janelas Quebradas, um texto publicado em 1982 pelo cientista político James Q. Wilson e o psicólogo criminalista George L.Kelling, na revista Atlantic Monthly." Ou um pouco mais tarde, na década de 90, a cidade de Medellín, que de metrópole mais violenta do mundo, em 2013 foi eleita a cidade do ano. Altos investimentos em inteligência, em equipamento e treinamento da polícia e forte presença de serviços do poder público nas comunidades mais pobres.

Por último, mas não menos importante, como não se preocupar com a escalada da crise moral enfraquecendo valores sociais e familiares? Relativizar os escândalos de corrupção, de desvio de dinheiro público, aceitar como normal a presença cada dia mais constante e ousada de cenas de sexualidade na sua mais ampla abordagem em horários inadequados através da televisão, contribuem para a decadência e destruição da tessitura social.

Todos os assuntos aqui abordados, bem como alguns eventualmente esquecidos, devem ser objeto de profunda reflexão dos brasileiros. É chegado o momento de decidirmos que país queremos deixar para nossos filhos e netos.

Que Deus tenha piedade do Brasil!

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A eleição em meio à crise




No próximo dia 8 de novembro, nos Estados Unidos estarão acontecendo "The midterm elections" - as eleições intercalares ou eleições de meio de mandato. São as eleições gerais realizadas ao final do segundo ano do mandato de quatro anos do presidente. Neste ano, tais eleições são particularmente importantes porque o Partido Democrata detém, além da Presidência da República, também o controle das duas casas legislativas - o Senado e a Câmara Federal (Senate and House of Representatives).

Nessa eleição, estarão em disputa todas as 435 cadeiras da Câmara e 34 (de 100 - 2 por Estado) cadeiras no Senado, como acontece a cada 2 anos (o mandato de Deputado Federal é de 2 anos enquanto o de Senador é de 6 anos. A cada 2 anos, renovam-se todas as vagas da Câmara e um 1/3 das vagas do Senado). O Partido do Presidente no cargo tende a perder terreno durante as eleições de meio de mandato: desde a Segunda Guerra Mundial, o Partido do Presidente perdeu uma média de 26 cadeiras na Câmara e uma média de 4 cadeiras no Senado.

Porque ainda na reeleição de Barak Obama cadastrei meu endereço de e-mail na base de dados democrata, recebo com frequência mensagens da assessoria das lideranças desse Partido. Invariavelmente pedindo doações para as mais variadas causas. Como parte dessa campanha, recebi ontem e-mail do Partido Democrata assinado pelo Presidente Joe Biden. Além do pedido de doação, chamou-me a atenção a frase seguinte:

"What’s happening in the country today is not normal. MAGA (Make America Great Again) Republicans represent an extremism that threatens the very foundations of our republic."

Numa tradução muito fiel, isso significa - "O que está acontecendo no país hoje não é normal. MAGA (Faça a América Grande Novamente) dos republicanos representa um extremismo que ameaça os próprios fundamentos de nossa república."

Se você pensa que o jogo do poder é muito selvagem no Brasil, você precisa acompanhar uma eleição presidencial nessa que é considerada a maior democracia do mundo. No momento o DOJ (Departamento de Justiça dos EUA) pressiona o "juiz neutro" Raymond Dearie para encerrar o processo de revisão dos documentos apreendidos em Mar-a-Lago (resort em Palm Beach - FL, de propriedade de Donald Trump e onde ele estabeleceu seu quartel-general). O ex-Presidente é acusado pelo FBI de ter encontrado documentos secretos em busca e apreensão em Mar-a-Lago. Em compensação, o Partido Republicano vem insistindo junto ao Departamento de Justiça para aprofundar a investigação de sua denúncia contra o Presidente Biden e seu filho Hunter Biden, por corrupção e tráfico de influência junto ao Governo da Ucrânia, quando o primeiro era Vice-Presidente.

Na publicidade paga na TV e através dos diversos canais de comunicação, os Republicanos têm acusado o Governo Biden de ter estabelecido um "Plano de Desastre". Uma saída atabalhoada do Afeganistão permitindo a morte de tropas americanas; uma crise de energia desastrosa; inflação descontrolada e a maior dos últimos 40 anos (alimentos, gasolina e muito mais); os salários reais caindo; grande escassez de carvão, papel, carros, chips de computador, eletrônicos e muito mais e a falta de capacidade para "dissuadir" a Rússia da guerra da Ucrânia. Os Democratas defendem-se afirmando que o Presidente Biden está fazendo o que é possível, diante da imprevisível devastadora pandemia, da guerra na Europa oriental, etc. Esse é um resumo do que tenho ouvido do motorista do aplicativo Lyft, do indiano que faz minhas loterias (mega millions e power ball), do garçon do restaurante, da psicóloga canadense que mora há mais de 20 anos nos Estados Unidos, do médico nativo judeu, etc.

É muito provável que os Republicanos recuperem o controle pelo menos da House nessa eleição de novembro. E o gigante do norte continuará um país profundamente dividido (veja "The midterm elections", publicado em 7 de novembro de 2018 - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2018/11/the-midterm-elections.html)